Ir para conteúdo
  • Cadastre-se

Ginecomastia Induzida Por Anti-Histamínicos


Posts Recomendados

Achei interessante será que cetotifeno que muitos utilizam pode causar ginecomastia? Você teve ginecomastia quando era adolescente e utilizava anti alérgicos? antialérgico [inibidor dos receptores H1 da histamina; anti-histamínico].

Ginecomastia induzida por anti-histamínicos no tratamento da urticária crônica



RESUMO

Os anti-histamínicos são drogas muito usadas na prática do dermatologista, sendo a primeira escolha no tratamento da urticária crônica. Os efeitos colaterais mais comuns são os relacionados ao sistema nervoso central. A ginecomastia é decorrente de várias causas, entre elas a indução por drogas. Apresenta-se caso de ginecomastia induzida por anti-histamínico H1,em paciente em tratamento de urticária crônica. A investigação laboratorial e radiológica descartou outras causas para a ginecomastia, que involuiu com a retirada da medicação. Objetiva-se discutir os efeitos colaterais dos anti-histamínicos e apresentar caso de ginecomastia induzida por drogas.


INTRODUÇÃO

Define-se urticária crônica pela presença de urticas de tamanhos e formatos diversos, com duração inferior a 24 horas, diárias ou quase diárias, por período superior a seis semanas. A urticária crônica pode ser de causa física, alérgica, pseudo-alérgica, infecciosa ou relacionada a drogas, sendo denominada idiopática se nenhuma dessas causas for identificada. Cerca de um terço dos pacientes com urticária crônica idiopática apresenta auto-anticorpos liberadores de histamina contra o receptor de alta afinidade de IgE (FceRI) ou diretamente contra a IgE, o que indica um subgrupo de etiologia auto-imune.1 A histamina é o principal mediador da urticária, e a ativação do receptor H1 causa o prurido e o edema cutâneo característicos, enquanto os receptores H2 têm papel menor na formação das urticas. Assim, os antagonistas de receptores H1, chamados anti-histamínicos, são a medicação de primeira escolha para o tratamento da urticária crônica, com eficácia e segurança indiscutíveis.2

Pela semelhança com a molécula de histamina, os anti-histamínicos competem e bloqueiam os receptores H1. São rapidamente absorvidos no trato gastrointestinal e atingem picos de concentração plasmática em duas ou três horas, com tempo médio de ação de quatro a seis horas. São classificados em anti-histamínicos de primeira ou segunda geração segundo sua capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica. Os de primeira geração, chamados sedantes (hidroxizine, dexclorfeniramina, cipro-heptadina), apresentam efeitos colaterais como sedação, tontura, tinitus, incoordenação motora, diplopia e visão turva. Essas reações adversas desaparecem com a descontinuação do tratamento, porém tolerância à medicação é usual, não sendo necessária a suspensão da droga4. Sintomas de excitação do sistema nervoso central, como euforia, nervosismo, insônia e tremores, são incomuns, sendo mais descritos em crianças. Boca seca, retenção urinária, disúria e tosse são efeitos decorrentes de sua ação anticolinérgica. O uso dos anti-histamínicos de primeira geração tem sido limitado por seus efeitos colaterais, e sua indicação como monoterapia tende a ser evitada. Atualmente a segunda geração de anti-histamínicos H1, chamados não sedantes (cetirizina, loratadina, desloratadina, fexofenadina, rupatadina, ebastina), é o tratamento preferencial para a urticária. Apresentam como principal vantagem baixa sedação nas doses recomendadas, além de mínimos efeitos anticolinérgicos.

Os esquemas de tratamento são variados, e recomenda- se iniciar o tratamento com anti-histamínicos H1 não sedantes ou minimamente sedantes.5 A adição de anti-histamínico H1 sedante pode ser benéfica em pacientes ansiosos ou para os quais a sedação noturna é desejada. É prática comum o uso de altas doses de anti-histamínicos H1 sedantes e não sedantes, acima das recomendadas pelos fabricantes, em pacientes gravemente afetados, visando a benefício adicional com o bloqueio total dos receptores H1.6 A adição de um antagonista de receptor H2 (ranitidina, cimetidina) ao tratamento pode ser útil para maximizar os efeitos antihistamínicos. 7 É preferível o uso da ranitidina à cimetidina, visto que a última apresenta em usos prolongados e em altas doses efeitos colaterais antiandrogênicos. Ao estimular a produção de prolactina e inibir o citocromo P450, a cimetidina promove o aumento da concentração plásmatica do estradiol em homens, levando à perda da libido, impotência sexual e ginecomastia. 8

A ginecomastia é o aumento benigno da mama masculina pela proliferação do tecido glandular. Freqüentemente o aumento é assimétrico ou unilateral e deve ser distinguido daquele decorrente da obesidade (pseudoginecomastia) e de tumores mamários (carcinoma, <1% na população masculina). As causas são múltiplas, incluindo idiopática (25%), de caráter benigno, como as decorrentes da puberdade (25%) e senilidade, ou secundárias a doenças renais (1%), hepáticas (8%) e endócrinas (11%) como hiperprolactinemia, hipertireoidismo, hipogonadismo e síndrome de Klinenfelter. A ginecomastia pode ser o primeiro sinal de neoplasias extramamárias (3%) como tumores testiculares, adrenais, o carcinoma broncogênico e hepatocelular. 9 Causa freqüente é a ginecomastia induzida por drogas (10-20%), que involui após a retirada da droga. Podem-se citar: hormônios andrógenos e esteróides anabólicos, gonadotrofina coriônica, estrógenos; antiandrogênicos como ciproterona e flutamida; antibióticos, antifúngicos e antiparasitários como isoniazida, cetoconazol e metronidazol; antiulcerosos como cimetidina, omeprazol e ranitidina; agentes quimioterápicos como ciclofosfamida; drogas de ação cardiovascular como amiodarona, captopril, digitoxinas, enalapril, metil-dopa, nifedipina, reserpina, verapamil; drogas psicoativas como diazepam, haloperidol, fenotiazinas, antidepressivos tricíclicos; drogas de abuso como anfetaminas, heroína, maconha; drogas anti-histamínicas como hidroxizine, cetirizina e loratadina e outras como penicilamina, fenitoína e antiretrovirais.


RELATO DO CASO

Paciente do sexo masculino, 32 anos, procurou o Serviço de Dermatologia do Hospital São Paulo com história de lesões pruriginosas pelo corpo há um ano, com duração de cerca de 24 horas. Apresentava ao exame dermatológico placas e pápulas eritêmato-edematosas de formatos diversos com distribuição difusa na face, no tórax e nos membros (Figura 1). Negava quaisquer fatores desencadeantes. Foi feita hipótese diagnóstica de urticária crônica idiopática, cuja biópsia de pele foi compatível (urticária eosinofílica). Foi prescrito hidroxizine 50mg/dia e fexofenadina 180mg/dia por três meses, sem controle do quadro de forma satisfatória. Assim, optou-se pelo aumento gradativo da dose do hidroxizine de 50mg para 75mg e, então, para 100mg/dia, além da troca da fexofenadina pela desloratadina 5mg/dia.

a07fig01.jpg

Cerca de três meses após a troca, observou-se aumento do volume mamário bilateral, assintomático (Figura 2 A e B). Foi suspenso o uso do hidroxizine e da desloratadina com substituição por cipro-heptadina 4mg/dia. Em três semanas não se observou involução da ginecomastia nem melhora do quadro urticariforme, assim, substituiu-se a cipro-heptadina pelo maleato de dexclorfeniramina 8mg/dia.

a07fig02a.jpg

a07fig02b.jpg

O paciente foi encaminhado ao setor de mastologia e realizou mamografia, que indicou a presença de tecido fibroglandular na região retroareolar bilateral, compatível com ginecomastia (Figura 3). Exames gerais como hemograma, perfil hepático e renal, dosagens hormonais de prolactina, progesterona, estradiol, testosterona livre e total e perfil tireoideano apresentavam-se normais. Radiografia de crânio mostrou sela túrcica normal, descartando etiologia tumoral e endócrina. Assim, a equipe de mastologia considerou o diagnóstico de ginecomastia induzida por drogas o mais provável.

a07fig03.jpg

A involução do volume mamário ocorreu cerca de nove meses após a descontinuação do hidroxizine e da desloratadina, em uso do maleato de dexclorfeniramina. Esse, pelo insucesso no controle das lesões cutâneas, foi substituído pela fexofenadina 180mg/dia, droga que o paciente já havia utilizado sem apresentar qualquer efeito colateral, porém sem melhor resultado.
Introduziu-se corticoterapia oral (30mg/dia), porém a regressão da dose levou à recrudescência das lesões. Outros tratamentos, como metotrexate 15mg/semana por seis meses e dapsona 100mg/dia por cinco meses, tampouco promoveram controle da urticária.


DISCUSSÃO

Na literatura médica, existem relatos de caso de ginecomastia induzida por inúmeras drogas, entre elas a cimetidina, o hidroxizine10, a cetirizina11 e a loratadina. No caso relatado não foram encontradas outras causas para a ginecomastia, que regrediu nove meses após a retirada da desloratadina, do hidroxizine e da cipro-heptadina. Durante o uso do hidroxizine associado à fexofenadina não ocorreu aumento do volume mamário; esse se desenvolveu três meses após a associação da desloratadina ao hidroxizine. A involução da ginecomastia deu-se em vigência do uso do maleato de dexclorfeniramina, e o posterior uso da fexofenadina, em monoterapia, não desencadeou crescimento mamário.

A ginecomastia surgiu durante a associação do hidroxizine com a desloratadina. Não é possível distinguir qual droga especificamente ocasionou a ginecomastia, uma vez que nenhuma dessas teve seu uso experimentado isoladamente antes ou após a regressão da ginecomastia. Pode-se questionar se o sinergismo entre essas drogas e o uso de doses acima das preconizadas, no caso do hidroxizine, foram os responsáveis pela ginecomastia.

O hidroxizine é anti-histamínico muito utilizado na prática dos autores no ambulatório de urticária do Hospital São Paulo. É freqüentemente prescrito em doses acima das preconizadas pelos fabricantes ou associado a outras drogas anti-histamínicas não sedantes, e, até então, nenhum caso de ginecomastia, associado a seu uso, havia sido observado. Na literatura encontraram-se artigos que apenas citam esse efeito adverso e que não fornecem mais detalhes sobre a citação.12 A desloratadina é um novo anti-histamínico de segunda geração, sendo o metabólito ativo primário da loratadina. Estudos recentes têm demonstrado que a desloratadina é cerca de 10 a 20 vezes mais potente na ligação com o receptor H1 que a loratadina in vitro, com maior potência anti-histamínica e bom perfil de segurança.13 Não há relatos de ginecomastia descritos com seu uso.

O paciente relatado apresenta quadro de urticária crônica idiopática, de provável etiologia autoimune, com difícil controle e sem resposta aos antihistamínicos H1, assim como ao metotrexate e dapsona. O uso de corticosteróide oral propicia o melhor resultado, porém o paciente já apresenta efeitos colaterais do uso crônico.

Objetivou-se discutir os efeitos colaterais dos anti-histamínicos e apresentar um efeito adverso pouco descrito, a ginecomastia secundária ao seu uso. E ainda frisar a dificuldade no manejo terapêutico de um quadro de urticária crônica com o uso restrito desse grupo de drogas.

Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0365-05962007000300007&lang=pt

Editado por KawaNx
Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Publicidade

Caralho, interessantíssimo isso!

Eu sou alérgico desde nascido. Tenho rinite alérgica. Quem acompanha meu diário sabe que no ano passado eu tive uma bronquite asmática, ou seja, tenho princípio de asma e, desde então, fui receitado o uso de um corticoide em baixa quantidade (medicamento de nome Foraseq). Mas isso não tem a ver com o que quero chegar.

Como, desde pequeno, eu sou alérgico, eu tinha crises respiratórias com as mudanças climáticas e contato com fatores alérgenos (poeira, animais, ácaros) e, desde pequeno, tive de usar tanto corticoides (outros diferentes desse que estou tomando agora) e anti-histamínicos. Porque um dos efeitos da alergia é a produção pelas vias respiratórias daquele muco incolor que fica saindo pelo nariz, que é pelo efeito da histamina produzida pelo corpo. Quando eu tinha meus 10~13 anos eu ganhei muito peso em pouco tempo.

Acredito que pelo combo de remédios que usava (não era sempre, só nas crises, mas elas eram frequentes, principalmente nos meses mais frios) e pela má alimentação na época. Para vocês terem uma ideia eu não gostava de tirar a camisa em público porque tinha "tetinhas", uma pequena ginecomastia/lipomastia. Na real, eu tenho até hoje. Acredito que seja bem semelhante ao caso relatado. Nunca fui ao mastologista, pretendo ir um dia, justamente para fazer uma cirurgia (acredito que seja caso cirúrgico). Mas, por hora, a musculação deu uma boa melhorada nesse quesito.

Mas, porra, reconfortante ler um caso que acho que pode ter relação com minha experiência de vida. Excelente conteúdo. Vou "curtir" amanhã porque minha cota hoje estourou, haha! :D

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Achei muito interessante também por que meu caso foi quase parecido com o seu, Tinha asma quando criança ainda tenho sinusite e renite leves e tomava uma caralhada de antialergicos e desenvolvi ginecomastia "Ja tirei na faca", Depois de ler essa pesquisa vou pensar duas vezes antes de tomar qualquer antialergico

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Eu só vivia usando antialergco durante a adolescência, ainda bem q não tive gineco, mas com certeza tive ganho de gordura com ele... abandonei de vez. Tenho crise de alergia mas não uso essa merda. Ainda bem q tenho poucas vezes no mês a alergia

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Crie uma conta ou entre para comentar

Você precisar ser um membro para fazer um comentário

Criar uma conta

Crie uma nova conta em nossa comunidade. É fácil!

Crie uma nova conta

Entrar

Já tem uma conta? Faça o login.

Entrar Agora
×
×
  • Criar Novo...