Antonio Pezão
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011 - 18:27:51 Por Guilherme Cruz
Antônio Pezão já sofreu muito na vida. Depois de encarar problemas de visto na Europa, lutas canceladas, problemas com doping e falta de contratos, o atleta chegou ao topo do mundo no último sábado, nas quartas-de-final do GP do Strikeforce. Fedor Emelianenko não era mais o número um da categoria, mas o paraibano ainda o considera o melhor de todos os tempos. Em entrevista exclusiva à TATAME, Pezão comentou a luta, revelou o pedido que fez a Fedor após a luta e deu seus palpites para o torneio, deixando-se à disposição para ajudar nos treinos de Fabrício Werdum para Alistair Overeem. Confira:
Saiu tudo conforme o planejado em sua luta com o Fedor? A estratégia era trocar no primeiro round, depois quedar e trabalhar por cima?
A estratégia era basicamente essa, mas não era para ficar tanto em pé no primeiro round, apenas uns dois minutos e depois tentar colocar para baixo, mas eu estava bem confortável em pé. Tomei alguns socos deles e vi que eram muito fortes, mas consegui absorver bem. Quando entrou no segundo round, o (André) Benkei olhou para mim e me perguntou: “você quer ganhar? Não é o seu sonho estar aqui? Então vai lá e ganha desse bicho”. Aí eu já entrei condicionado a botar pra baixo, consegui e pude usar o ground and Pound, que foi o que eu mais treinei.
O que você acha que faltou para conseguir a queda no primeiro round, então?
Eu me senti bem em pé, estava com a cabeça boa e sabia que quando eu fosse tentar a queda iria conseguir. Fizemos também uma estratégia de colocar ele na grade para ele gastar alguma força, já que a diferença de peso era bem considerável. Só não o derrubei antes, mas a estratégia que eu tracei consegui colocar em prática e deu tudo certo.
Você acha que os médicos acertaram em parar a luta?
Muitos disseram que dava para ele voltar para o terceiro round, mas vou te dizer uma coisa... Pela raça do Fedor e pela atitude que ele tem como profissional, ele teria voltado com certeza, mas sem condições de lutar, pois se ele voltasse teria perdido o olho, pois com certeza eu iria mirar naquele olho o tempo todo. Os médicos estão ali para isso, para conservar o atleta e não deixar que ele se machuque. Eu estava no hotel e ele chegou às cinco horas da manhã acredito que com alguma fratura porque ele estava com a cara muito feia, com o olho muito roxo. Pelo atleta que ele é, acho que ele teria voltado, mas poderia se complicar muito mais e eu estava preparado para lutar o terceiro round. Quando eu recebi a notícia de que ele não iria voltar para o terceiro round, eu me emocionei e passou um filme na minha cabeça, de onde eu vim, da onde eu estou, e eu tive que segurar o choro. A respiração ficou ofegante, mas eu estava doido para lutar no terceiro round.
Você acredita que a diferença de peso foi determinante ou a parte técnica?
Depois da luta, vi muita gente falar sobre a questão do peso, mas nenhum profissional é obrigado a pegar uma luta sem querer. Se você aceitou você sabe quem é o atleta, o peso e o estilo de luta, e o empresário dele aceitou. O Fedor já lutou com o Zuluzinho, o Brett Rogers, Hong Man Choi e uns até mais pesados, mas procuro trabalhar diferente. Não acho que tem essa história de diferença de peso, não influencia em nada. As pessoas não podem esquecer o mérito que eu tive, até porque ele já lutou vários GPs sem limite de peso no Japão. Muita gente também gosta de falar que o cara acabou... Ele tem apenas 34 anos, é novo e tem um potencial, vem batendo em todo mundo há dez anos. Só porque ele perdeu duas querem dizer que acabou. E o mérito de quem ganhou dele? Não tem?
Você ainda considera o Fedor o maior peso pesado de todos os tempos do MMA?
Para mim, o Fedor é o Pelé do MMA, além de ser um cara muito humilde. Quando ele chegou do hospital às 5h da manhã, eu estava no hall e falei com ele e pedi para ele não deixar de lutar porque ele ainda tem muito a mostrar ao público e as pessoas queriam ver ele dentro do cage. E depois disso a atitude do cara foi dar um beijo na minha cabeça, entendeu? Ele é um cara maravilhoso, e todo mundo quer bem e é o melhor de todos. Ele é um poço de humildade.
Você passou por muitas coisas ao longo de sua carreira. Teve problemas com o visto na Inglaterra e o Minotauro te ajudou, teve o problema do doping no EliteXC, quando você conquistou o cinturão o evento faliu, teve que voltar para o Japão para continuar lutando... Como é poder voltar a lutar e brilhar?
Deus escreve certo por linhas tortas, tudo tem o seu momento. Há muito tempo atrás era para ter havido essa luta com o Fedor, mas a equipe dele não aceitou, pois disse que eu não tinha nome na época. Acredito que o meu momento foi esse e eu estou com a cabeça muito diferente, pois já passei por muita coisa e estou mais experiente. Acredito que se essa luta tivesse acontecido antes eu não teria tido esse resultado.
Você era o azarão dessa luta e o Fedor, o favorito para conquistar o GP. Como você vê a situação agora, se considera o favorito?
Eu falei antes que se ganhasse essa luta seria o campeão do GP, era como se fosse uma final, mas não posso me esquecer de todos os lutadores que estão nesse GP, e que são tops. Agora vai ter o Overeem e o Werdum, quem passar vai lutar comigo, e qualquer um dos dois que passe vai ser uma luta duríssima. Mas acho que agora sou um grande candidato. Essa vitória me deu mais motivação para vencer e vou treinar igual ou mais para minha próxima luta.
Você e o Werdum se tornaram grandes amigos. Como vai ser se tiver que enfrentá-lo nessa semifinal?
Eu e o Werdum rimos muito, a gente sacaneou todo mundo, não tenho nem palavras para dizer como ele é uma pessoa tão maravilhosa. Ele é muito gente boa, a gente se dá muito bem e toda vez que a gente se vê é uma festa. A gente almoçou, jantou, sai pra fazer compras, quando estava no quarto liguei pra ele para nós irmos dar uma corridinha na academia, mas nós somos profissionais. Eu tenho a minha família, minhas duas filhas, e ele tem a esposa dele, a filha, e se a gente se enfrentar vai ser só pelo business. Não podemos deixar de nos enfrentar porque somos amigos. Dois amigos se enfrentam no futebol, dois irmãos, até pai e filho e não vai ser diferente agora no MMA porque é um esporte como outro qualquer. Se a gente lutar, depois vamos sentar juntos e comer um bocado de pizzas, como foi agora, e garanto a você que quem passar para a final, o outro vai estar lá de dedos cruzados, rezando e torcendo para que o Brasil seja campeão. O negócio é o Brasil ser campeão, é isso o que importa.
Passa pela sua cabeça ajudar o Werdum nessa preparação para a luta com o Overeem?
Se o Werdum precisar, eu vou lá e o ajudo. Treino é treino, e hoje nós somos muito profissionais, e quem treina junto termina se encontrando, é assim a vida profissional. É claro que não posso ver a estratégia dele para a minha luta, mas para outro lutador ter ajuda é tranquilo. Se ele precisar eu ajudo e depois a gente luta, uma coisa é treino e outra é luta.
Qual recado gostaria de deixar para os fãs que torceram por você? O que eles podem esperar de você nesse GP?
Quero agradecer as orações que todos fizeram, a vocês da TATAME, a energia positiva que todos fizeram por mim. Os que não fizeram, faz parte da vida. Nós temos que fazer por onde conseguir a confiança das pessoas, e eu acho que estou conseguindo. Muita gente que não torcia por mim, tenho certeza que vai passar a torcer agora e podem esperar que eu vou treinar muito e dar o meu melhor. Se Deus quiser, vou estar nessa final e conquistar esse GP para o Brasil.