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Porque praticar uma alta ingestão de proteínas


Lucas

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Postado
28 minutos atrás, CarlosP disse:

Hoje em dia, existem estudos para sustentar qualquer tese vindos de qualquer idiota que queira viver num mundo ficionado.

Discordo.

 

Há sim estudos com diferentes resultados, mas sempre com diferentes variáveis em jogo. Deve-se saber avaliar o nível de importância de cada um, a partir de aspectos como: nível de treinamento do participante; se obeso ou não; se diabético ou não; se os participantes são homens ou mulheres, adultos ou idosos; tamanho da amostra.

 

Outros aspectos, como nível de controle do experimento, devem ser levados em consideração. Alguns estudos nutricionais usam câmaras metabólicas, por exemplo - nível de controle altíssimo. Outros fornecem toda a comida que os participantes ingerem. Outros apenas pedem que os participantes preencham diários - o que é sabidamente impreciso. Alguns não controlam nada, apenas indicam algum comportamento, como em alguns estudos low carb x high carb, o que deixa mtas variaveis de lado e pode gerar conclusões erradas.

 

Há também o nível de tecnologia utilizado pra avaliar os resultados. Alguns estudos medem as variações dos percentuais de gordura usando bioimpedância (notadamente impreciso), outros o fazem através de ressonância, ultrassom e outros métodos mais avançados e precisos.

 

Então sim, há resultados apontando pra lados diversos, mas temos que saber avaliar cada caso. Fato é que um único estudo conta apenas parte da história. Pra afirmar algo categoricamente o ideal é ter um corpo de estudos (que costuma consistir em diversos estudos, cada um com suas falhas, limitações e imperfeições).

 

Nesse sentido existem reviews e meta-análises, que costumam ser capazes de nos trazer um norte mais preciso. 

 

Portanto, é avaliando o corpo de estudos, bem como seus reviews e meta-análises, que podemos tirar as conclusões precisas.

 

(Vale ressaltar que a hipótese levantada no tópico não passa disso: uma hipótese. Não há um corpo de estudos que leve a essa conclusão, apenas alguns indicios que apontam pra alguns benefícios de uma altíssima (>3g/kg) ingestão de proteínas - há claros benefícios de uma alta ingestão, algo em torno dos 2g/kg comumente pregados. Diferentemente, nas questões relacionadas à saúde, parece já haver uma consolidação maior.)

 

Abraços

Postado

Post do Nuckols (relacionado ao que foi dito acima):

 

Citar

Two things that bug me the most about how scientific research is shared and discussed on social media:

1) When people act as if a study proves something, and that it's the final word on a particular topic.

Studies don't prove anything.  They lend probabilistic support to a given position within the context of the population being studied.  All studies have limitations, all studies have limits regarding how much they can (or at least should) be generalized, all studies have a chance of error (that's often higher than most people realize), most studies deal with averages (so their results may not hold for all people and in all circumstances), and all studies need to be understood as a piece of the puzzle in light of the rest of the research in a field (not taken in isolation).

2) When people completely disregard a study because they don't like one small aspect of it.

Anyone can take pot shots at a study's sample size (before you do this, please do a power calculation; if you don't know what that is, don't criticize the sample size), the population being studied (it's hard to recruit world-class athletes with 10+ years of training experience), or the controls (and maybe, just maybe, keep in mind that a slight decrease in internal validity often comes with an increase in ecological validity, which is probably more important to a practitioner anyways).  Those things SHOULD affect how much confidence you put in a study's results, and affect how you interpret it, but they (generally) don't give you legitimate grounds to disregard it entirely.

These two responses are on polar opposite ends of the spectrum, and unfortunately they tend to be the two most common responses I see.

Avoid being either completely uncritical or overly critical.

 

Postado
1 hora atrás, Shrödinger disse:

 

 

Pense nisto como um bolo com várias fatias. Você retira só as que interessam.

 

 

 

Postado
11 horas atrás, Torf disse:

Amigo, esse texto acima para mim näo ficou bem claro. Acho que é algo que eu näo encontro uma explicacäo que seja clara. Por exemplo o que é uma "proteína degradada"? É rejeito que vai embora na urina ou nas fezes?

 

 

Fala Torf, o Lucas já respondeu mas...

 

Proteína degrada, seria proteína digerida, transformando-a em aminoácidos, que é o que nosso corpo usa 

 

11 horas atrás, Torf disse:

Mas, enfim, essa frase ficou meio difícil de ser compreendida:

Proteína näo vira gordura mais favorece o armazenamento de gordura por parte do corpo? Ou seja, ela näo vira, mas faz com que o corpo acumule mais?

 

Acho que precisaríamos pegar o contexto todo pra entender esta frase que você destacou 

 

"Já em uma situação de superávit calórico, com bom aporte de carboidratos, o excesso de proteínas pode virar gordura ou ser usado como fonte de energia. Excesso de proteína na dieta (acima de 1,5-2,0 g/kg) também pode gerar hipertrofia muscular, desde que haja estímulo do treinamento (musculação) e um ambiente hormonal favorável (testosterona, GH, insulina). Na verdade, dificilmente proteína vira gordura, pois essa via não é favorecida bioquimicamente. Nesse tipo de situação o corpo prefere usar carboidratos e proteínas como fonte de energia, reduzindo a queima de gordura e favorecendo seu armazenamento. "

 

Em vermelho a parte que você destacou e em negrito a parte complementar. E em azul o "link" entre as duas

 

Ele diz "nesse tipo de situação" que, pelo que eu entendi, seria superavit (bulk). Minha interpretação: proteína dificilmente vira gordura, porque bioquimicamente não compensa, e a pessoa estando em bulk subentende-se que ela esta consumindo quantidades consideráveis de carbo e gordura, então o corpo já tem nutrientes para armazenar a gordura (carbo e gordura). Entendi que, não seria a proteína em si que favoreceria o acumulo, e sim o superavit.

 

Estando em BULK o corpo não precisa usar proteína pra armazenar gordura, ele vai usa-la como fonte de energia e recuperação muscular, isso poupa a gordura já existente, reduzindo a queima da mesma, e pelo excesso de nutrientes e kcals o armazenamento é favorecido 

 

Abraços 

Postado
18 minutos atrás, CarlosP disse:

Pense nisto como um bolo com várias fatias. Você retira só as que interessam.

 

Você se refere à viés de confirmação?

  • 4 semanas depois...
Postado

A High Protein Diet Has No Harmful Effects: A One-Year Crossover Study in Resistance-Trained Males

 

Citar

Abstract

The purpose of this investigation was to determine the effects of a high protein diet over a one-year period. Fourteen healthy resistance-trained men completed the study (mean ± SD; age  yr; height  cm; and average years of training  yr). In a randomized crossover design, subjects consumed their habitual or normal diet for 2 months and 4 months and alternated that with a higher protein diet (>3 g/kg/d) for 2 months and 4 months. Thus, on average, each subject was on their normal diet for 6 months and a higher protein diet for 6 months. Body composition was assessed via the Bod Pod®. Each subject provided approximately 100–168 daily dietary self-reports. During the subjects’ normal eating phase, they consumed (mean ± SD)  kcals/kg/day and  g/kg/day of protein. This significantly increased () during the high protein phase to  kcals/kg/day and  g/kg/day of protein. Our investigation discovered that, in resistance-trained men that consumed a high protein diet (~2.51–3.32 g/kg/d) for one year, there were no harmful effects on measures of blood lipids as well as liver and kidney function. In addition, despite the total increase in energy intake during the high protein phase, subjects did not experience an increase in fat mass.

 

https://www.hindawi.com/journals/jnme/2016/9104792/

 

Um ano de alta ingestão de proteína e nenhuma alteração negativa. Além disso, teve o desappearing protein, já que novamente, mesmo com aumento nas calorias, os caras não ganharam peso.

  • 2 semanas depois...
Postado

Boa tarde, vi dois artigos (inclusive um deles aqui no site hipertrofia) dizendo que pessoa que esta acima do peso deve calcular a quantidade de proteína em cima do peso que deseja alcançar ou então em cima do índice de MM, procede isso?

Postado
5 minutos atrás, Z.F.N.A disse:

Boa tarde, vi dois artigos (inclusive um deles aqui no site hipertrofia) dizendo que pessoa que esta acima do peso deve calcular a quantidade de proteína em cima do peso que deseja alcançar ou então em cima do índice de MM, procede isso?

Sim. Se o BF estiver muito alto, pode pensar em g de proteínas por kg de mm.

Postado
1 minuto atrás, Shrödinger disse:

Sim. Se o BF estiver muito alto, pode pensar em g de proteínas por kg de mm.

 

Entendi, e a ideia de calcular a quantidade de proteina em cima do peso que se deseja alcançar, por exemplo 2g x 95kg?

Postado
5 minutos atrás, Z.F.N.A disse:

 

Entendi, e a ideia de calcular a quantidade de proteina em cima do peso que se deseja alcançar, por exemplo 2g x 95kg?

 

2 gramas de proteína por cada quilograma de massa magra corporal.

 

Exemplo:

Um indivíduo possui 100kg e 15% de bf.

Sua MM é de 85kg.

85 x 2 = 170g de proteína por dia.

 

 

 

Entretanto, não há problema em calcular sua ingestão ideal de proteínas baseado em sua massa gorda também. Bons motivos não faltam, e esse tópico é prova disso rsrs...

Postado
20 minutos atrás, pedroferraz disse:

 

2 gramas de proteína por cada quilograma de massa magra corporal.

 

Exemplo:

Um indivíduo possui 100kg e 15% de bf.

Sua MM é de 85kg.

85 x 2 = 170g de proteína por dia.

 

 

 

Entretanto, não há problema em calcular sua ingestão ideal de proteínas baseado em sua massa gorda também. Bons motivos não faltam, e esse tópico é prova disso rsrs...

 

Verdade, esse topico já diz que não há problema nenhum, mas como eu disse tem uma outra parte do artigo que li que fala sobre o calculo em cima do peso a ser atingido. O que acham sobre isso??

Postado
1 minuto atrás, Z.F.N.A disse:

 

Verdade, esse topico já diz que não há problema nenhum, mas como eu disse tem uma outra parte do artigo que li que fala sobre o calculo em cima do peso a ser atingido. O que acham sobre isso??

Isso aí é pra calcular as calorias a serem ingeridas. É a sugestão do Alan Aragon no The Lean Muscle Diet. Vc estabelece um peso alvo e calcula as calorias pra se manter naquele peso. Assim, quando atingir a meta não vai ter dificuldade em se adequar, já que já estará praticando uma ingestão adequada (redundante essa última parte kkk).

Postado
31 minutos atrás, Shrödinger disse:

Isso aí é pra calcular as calorias a serem ingeridas. É a sugestão do Alan Aragon no The Lean Muscle Diet. Vc estabelece um peso alvo e calcula as calorias pra se manter naquele peso. Assim, quando atingir a meta não vai ter dificuldade em se adequar, já que já estará praticando uma ingestão adequada (redundante essa última parte kkk).

 

Então vou refazer os calculos em cima da minha MM usando low carb

  • 5 semanas depois...
Postado
Em 19/08/2016 at 10:59, Shrödinger disse:

Depois o mesmo José Antônio fez um follow-up também em pessoas treinadas, mas com ingestão de 3,4g/kg:

 

https://jissn.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12970-015-0100-0

O Lucas já colocou isso no primeiro post, mas vale a pena um resumo no melhor estilo "t-nation", saiu ontem hehehehe

Fonte: https://www.t-nation.com/diet-fat-loss/tip-eat-more-protein-to-lose-fat

 

O estudo

- Um estudo de 8 semanas realizado com 48 atletas recreacionais (com experiência de treino). Inicialmente foram 73, mas só esses 48 terminaram;

- Cada um informou consumir pelo menos 2g/kg de proteína todo dia pelos últimos anos;

- 2 grupos foram criados: 1 permaneceu com a mesma quantidade de proteína (NP) o outro passou para um intake de 3.4g/kg por dia;

- Todos os indivíduos fizeram o mesmo programa de treino

 

Resultados

- O grupo NP acabou consumindo uma quantidade de proteína um pouco acima do que deveria (de 2 para 2.3g/kg)

- Ambos os grupos ganharam a mesma quantidade de MM;

- O grupo de maior consumo de proteína perdeu mais gordura, mesmo consumindo ~400kcal a mais por dia;

- O grupo NP perdeu ~0.3kg de gordura, o grupo de HP perdeu ~1.6kg;

- O grupo NP baixou o BF em 0.6%, o grupo HP baixou o BF em 2.4%;

 

Discussão

- Os pesquisadores especulam que os resultados tenham haver com o TEF da proteína (no grupo HP o total calórico das proteínas representava 45%, e o TEF era 30% maior que o grupo NP);

- Pode ter sido uma combinação do TEF, NEAT e AEE (activity related energy expenditure, seria o TEA);

 

Principais descobertas

1 - É bem improvável que o aumento calórico através da proteína cause algum ganho de BF (na verdade parece reduzi-lo);

2 - É errado concluir que consumir qualquer coisa acima de 1.5-2g/kg de proteína é perda de tempo (na verdade de $$ - creio que o contrário também pode ser dito);

3 - Exames de sangue confirmaram que o aumento das proteínas não ferrou com os rins ou outros parâmetros de saúde

 

 

Para fechar, alguns blá blá blá

Bem, levemos em consideração que foi analisado com diários de alimentação, então as margens de erro podem estar no parâmetro céuXinferno, mas se levar em consideração que esse diário foi feito por pessoas experientes que já treinavam e mantinham um controle alimentar adequado por alguns anos, então isso torna-se mais confiável. No aguardo de trabalhos futuros do Jose Antonio.

 

 

 

Postado
49 minutos atrás, Ricardo Queiroz disse:

No aguardo de trabalhos futuros do Jose Antonio.

 

Já teve esse aqui:

 

Postado
6 minutos atrás, Shrödinger disse:

 

Já teve esse aqui:

 

Esse aí eu já vi também, estou mesmo é esperando um nesse estilo aqui XD: "Future work should examine very highly trained athletes who undergo cycles of varying protein intake over a period of several months or years. This would at least provide information in terms of whether the highly trained respond more so to a change in training stimulus, diet or a combination of both."

Quero os caras altamente treinados com um controle laboratorial hu3hu3hu3

Postado
1 minuto atrás, Ricardo Queiroz disse:

Esse aí eu já vi também, estou mesmo é esperando um nesse estilo aqui XD: "Future work should examine very highly trained athletes who undergo cycles of varying protein intake over a period of several months or years. This would at least provide information in terms of whether the highly trained respond more so to a change in training stimulus, diet or a combination of both."

 

Esse aí vai ser top!

Postado

Só para acrescentar mais um item nessa discussão. Mas o estudo foi feito com RATOS!

 

Researchers may have found how high-protein diets cause weight loss

https://www.endocrinology.org/press/press-releases/researchers-may-have-found-how-high-protein-diets-cause-weight-loss/

 

Um produto final comum da proteína digerida - fenilalanina - desencadeia hormônios que diminuem a fome dos roedores e leva à perda de peso, de acordo com um novo estudo apresentado hoje na Conferência Anual da Sociedade de Endocrinologia Britânica, em Brighton. Uma melhor compreensão do mecanismo pelo qual as dietas proteicas causam perda de peso pode levar ao desenvolvimento de drogas e dietas que lidam com a crescente epidemia de obesidade.

 

Hormônios direcionam nosso apetite, dizendo-nos quando estamos com fome, e quando estamos cheios. Grelina é um hormônio que nos diz quando estamos com fome. Em contraste, altos níveis do hormônio GLP-1 (Peptídeo Semelhante a Glucacon -1) nos dizem quando já tivemos comida suficiente e dizem a nossos corpos para pararem de comer. Compreender os mecanismos pelos quais os hormônios afetam nossos padrões de alimentação pode ajudar a identificar novas maneiras de tratar ou prevenir a obesidade. Estudos anteriores demonstraram que as dietas ricas em proteínas estimulam a perda de peso, fazendo com que as pessoas se sintam mais cheias, embora essas dietas sejam difíceis de aderir e os mecanismos pelos quais isso acontece sejam desconhecidos.

Neste estudo, os pesquisadores Mariana Norton e Amin Alamshah do Imperial College de Londres realizaram uma série de experimentos em ratos. No primeiro experimento, deram a 10 ratos e camundongos uma dose única de fenilalanina, um produto químico produzido no intestino quando nosso corpo decompõe alimentos ricos em proteínas, como carne, peixe, leite e ovos. No segundo experimento, ratos obesos induzidos por dieta, que são tipicamente usados como um modelo de obesidade humana, receberam fenilalanina repetidamente ao longo de sete dias. Ambos os experimentos compararam seus resultados com o mesmo número de roedores que não receberam fenilalanina.

 

Os pesquisadores descobriram que a dose única de fenilalanina reduziu a ingestão de alimentos, aumentou os níveis de GLP-1 e diminuiu os níveis de grelina. A administração repetida também causou perda de peso nos ratos obesos. Os pesquisadores também observaram que os ratos estavam se movendo mais, o que poderia encorajá-los a perder peso.

 

Para entender os mecanismos pelos quais a fenilalanina poderia estar estimulando esses hormônios, os pesquisadores realizaram uma experiência final estudando células intestinais em uma placa de Petri. Eles descobriram que a fenilalanina interagiu com um receptor chamado receptor de detecção de cálcio (CaSR), e que foi CaSR, por sua vez, que levou ao aumento dos níveis de GLP-1 e diminuição do apetite.

 

"Nosso trabalho é o primeiro a demonstrar que ativar CaSR pode suprimir o apetite", disse o principal autor do estudo Mariana Norton. "Ele destaca o potencial uso de fenilalanina ou outras moléculas que estimulam CaSR - como drogas ou componentes de alimentos - para prevenir ou tratar a obesidade."

De acordo com a Srta. Norton, os mecanismos precisos pelos quais a fenilalanina suprime o apetite e o peso corporal ainda precisam ser determinados, e provavelmente haverá mecanismos adicionais que também estão envolvidos nos efeitos benéficos de uma dieta rica em proteínas.


 

 

 

Postado (editado)
Postado

Enquanto não sai o novo e desejado estudo do Jose Antonio, traduzi o último, que achei bem interessante. O foco aqui são os marcadores de saúde, e busca responder aquela velha balela: muita proteína vai acabar com seus rins!

Não consegui inserir as tabelas, então quem quiser vê-las pode acessar o link original, assim também para as referências.

Uma dieta de alta proteína não tem efeitos nocivos: crossover study de um ano com homens treinados, by Jose Antonio.

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5078648/pdf/JNME2016-9104792.pdf1.

 

Introdução

Tem sido postulado que o consumo de uma dieta de proteína alta pode causar efeitos nocivos, particularmente nos rins. Aproximadamente um século atrás, os pesquisadores descobriram alguns "danos renais em um pequeno grupo de ratos em uma dieta rica em proteínas em que um rim tinha sido removido” [1]. Outros trabalhos sobre roedores não encontraram evidência de danos renais; entretanto, eles descobriram que ratos recebendo uma dieta rica em proteínas experimentavam hipertrofia renal [2]. Não obstante, um estudo mais recente com ratos relatou que 30 dias de dieta com suplementação muita alta de whey protein (i.e., equivalentes a 6 doses de 20 g por dia em humanos) não afetou negativamente o sangue e / ou os marcadores histológicos de saúde do fígado ou dos rins e, em vez disso, melhoraram a saúde do fígado quando comparado aos ratos que não recebem a proteína [3].

O desafio para a determinação dos efeitos de dietas altas em proteína sobre os marcadores de saúde é a falta de concordância com o que constitui uma "alta" ingestão de proteína. Pelo menos em populações atléticas, a posição da Sociedade Internacional de Nutrição sobre proteína afirma que "a ingestão de proteína de 1,4-2,0 g / kg / dia para indivíduos fisicamente ativos não é apenas seguro, mas pode melhorar as adaptações ao treinamento"[4]. Entretanto, os cientistas tem usado diferentes definições de  ingestão "elevada de proteínas”. Por exemplo, ingestão de proteína superior a 15-16% da energia total, ou tão alta quanto 35% de calorias totais, ou ingestões que excedem o IDR foram postuladas como atingindo o limiar do que constitui uma dieta de "alta proteína" [5]. Gostaríamos de postular que basear uma dieta em percentagens é enganosa. Ou seja, se alguém consumisse uma dieta hipocalórica de 1000 kcal em que 35% das calorias fossem derivadas de proteínas, isso equivaleria a 87,5 gramas de proteína. Em vez disso, dietas ricas em proteínas devem ser definidas como a quantidade de proteína consumida por peso corporal unitário. É nossa afirmação que dietas ricas em proteínas devem necessariamente exceder 2,0 g / kg / d. Em nossas pesquisas anteriores, descobrimos que um período de oito semanas de treinamento de resistência combinado com alto consumo de proteína (>3,0 g / kg / d) resulta em melhorias na composição corporal [6]. Além disso, pelo menos no curto prazo, essa ingesta não teve efeitos colaterais nocivos [6, 7]. No entanto, faltavam estudos longitudinais de longo prazo sobre os efeitos de dietas com alta ingestão de proteínas.  Assim, o objetivo desta investigação foi analisar os efeitos do consumo elevado de proteínas num grupo de homens jovens experientes em treinamento de resistência durante o período de 1 ano.


2. Métodos e Materiais

2.1.Participantes.

Quatorze sujeitos do sexo masculino foram voluntários para esta investigação (perfil racial / étnico: 10 brancos, 3 negros e 1 insular das Ilhas do Pacífico). Os sujeitos participaram de um ensaio cruzado randomizado em que consumiram a sua proteína habitual (isto é, proteína normal) ou proteína elevada durante dois e quatro meses, respectivamente. A ordem em que consumiram as suas ingestões normais ou de alta proteína foi randomizado. Os indivíduos seguiram seu consumo normal e elevado de proteínas durante um total de 6 meses, por 2 vezes, totalizando um ano. Os sujeitos vieram ao laboratório em cinco ocasiões. Eles foram testados antes do experimento e, então 2 vezes em cada período seguindo a respectiva dieta. A proteína extra consumida por cada indivíduo foi obtida principalmente a partir de whey protein, que foi fornecido gratuitamente a cada sujeito (Dymatize ISO-100 com 25 g de proteína, 1 g de carboidrato e zero g de gordura por porção de uma colher). Contudo, os sujeitos não eram obrigados a consumir a proteína extra como pó; em vez disso, eles poderiam consumir qualquer fonte de proteína extra que eles preferissem.

2.2 Diário de Alimentação

Os indivíduos mantiveram um diário (isto é, três dias por semana durante um ano) do seu consumo via MyFitnessPal, igualando 150 registros diários de alimentos no período de tratamento. O uso de aplicativos móveis para a auto-relatórios já havia sido utilizado anteriormente [6-9]. Cada sujeito tinha experiência anterior com este aplicativo para dispositivos móveis. O MyFitnessPal App é uma base de dados composta por mais de 5 milhões de alimentos que foram fornecidos pelos utilizadores através da introdução de dados manualmente ou digitalizando o código de barras de mercadorias embaladas. Assim, os próprios dados são derivados principalmente dos rótulos dos alimentos (i.e., do painel de informações nutricionais), que por sua vez derivam da base de dados da USDA.

2.3. Composição corporal

A altura foi medida usando a antropometria padrão e o peso corporal total foi medido uma balança calibrada. A composição corporal foi avaliada por densitometria corporal total usando deslocamento de ar através do Bod Pod (COSMED USA, Concord, CA). Todos os testes foram feitos de acordo com as instruções do fabricante. Os sujeitos foram instruídos a fazer um jejum de 3 horas e não praticar nenhum exercício 24 horas antes da avaliação. Os indivíduos foram testados usando apenas roupas de banho e um uma máscara de mergulho acrílica. Os sujeitos foram instruídos a usar a mesma roupa em todos os testes. O volume de gás torácico foi estimado para todos os sujeitos usando uma equação integral preditiva do software Bod Pod. Cada indivíduo foi testado pelo menos duas vezes por visita. Dados do Bod Pod incluem peso corporal, percentagem de gordura corporal, gordura livre, massa magra e massa gorda. Todos os testes foram feitos com cada indivíduo aproximadamente à mesma hora do dia para cada uma das cinco sessões de testes. Embora o estado de hidratação não tenha sido avaliado, cada um deles foi testado da mesma forma durante a investigação. O Bod Pod foi calibrado na manhã da sessão de teste, bem como entre cada sujeito.

2.4. Análise de sangue: painel metabólico abrangente e perfil lipídico

Os indivíduos se apresentaram em estado de jejum na Quest Diagnostics em cinco diferentes ocasiões. Foram realizados exames de perfil lipídico e metabólico. Foram feitos os seguintes exames: glicose, nitrogênio ureico no sangue (BUN), creatinina, taxa de filtração glomerular, proporção BUN / creatinina, sódio, potássio, cloro, dióxido de carbono, cálcio, proteína total, albumina, globulina, razão albumina / globulina, bilirrubina, fosfatase alcalina, alanina transaminase, aspartato transaminase, colesterol total, LDL, trigliceridios, HDL, e razão colesterol total/HDL.

 

2.5. Programa de treinamento.

Cada sujeito seguiu seus próprios programas de condicionamento e força. Os investigadores mantiveram contato regular com cada sujeito para assegurar que cada um
deles realizasse seu registro de treinamento. A tonelagem (i.e., o peso total levantado por semana) foi determinada para cada período de tratamento.

2.6. Estatísticas.

Uma análise de variância de 2 vias (ANOVA) foi utilizada para analisar os dados com p<0,05 considerado como significativo. Os dados comparados foram dados iniciais e a média do período de tratamento normal [combinação de 2 meses e 4 meses de tratamento], bem como a média do período de tratamento de alta proteína [combinação de 2 meses e 4 meses de tratamento]. Os dados são expressos como a média ± SD. A análise estatística foi concluída usando o Prism 6 GraphPad Software (La Jolla, Califórnia).

3. Resultados

Os dados para a composição corporal são mostrados na Tabela 1. Os dados nutricionais são apresentados na Tabela 2. Os sujeitos consumiram mais calorias absolutas e relativas e proteína durante a fase de alta proteína (p <0,05). Não houve diferenças significativas entre os grupos normais e altos em qualquer medida de saúde ou composição corporal (Tabelas 3 e 4).

4. Discussão

Este é o primeiro estudo randomizado controlado que examina os efeitos de uma dieta rica em proteínas em indivíduos treinados durante um período de tratamento de 1 ano. Em resumo, não encontramos nenhum efeito deletério de uma dieta rica em proteínas (2,51-3,32 g / kg / d) durante um período de 1 ano. O trabalho anterior do nosso laboratório mostrou que consumir uma dieta rica em proteínas no curto prazo não tem efeitos nocivos em qualquer medida clínica (isto é, perfil lipídico ou metabólico) [6, 7].
Os sujeitos da presente investigação alternaram entre a sua ingestão normal ou habitual de proteínas e uma alta ingestão de proteína. Deve notar-se, no entanto, que mesmo a ingestão normal de proteínas seria considerada alta por outros investigadores [5, 11, 12]. Assim, nosso estudo não sustenta a tese de que a ingesta de proteínas em quantidades  3-4 vezes maior do que a das recomendações dietéticas possa causar quaisquer efeitos nocivos. Além disso, a quantidade de fibra dietética consumida pelos participantes foi de cerca de 30gramas por dia. Em comparação com o consumo médio de fibra nos Estados Unidos de 16 gramas por dia [13]. Assim, é uma falsidade promover a ideia de que dietas proteicas são mutuamente exclusivas com uma dieta que também é ricas em fibras. Nossos sujeitos não mostraram nenhum efeitos nocivo decorrente de uma dieta rica em proteínas hipercalórica, e isto (isto é, lípidos sanguíneos, função renal e hepática, etc.) podem ter sido parcialmente em função da ingestão de fibras. Sabe-se que uma alta ingestão está associado com um menor risco de doença cardiovascular, câncer e todas as causas de mortalidade [14-16]. Por outro lado, a ingestão de colesterol em nossos participantes foi duas vezes maior do que a recomendação típica de 300 mg por dia [17]. A noção de que o consumo elevado de colesterol tem um efeito deletério nos marcadores lipídicos sanguíneos para doenças cardiovasculares não é suportado por nossos dados.

Trabalhos anteriores de nosso laboratório mostraram que consumir proteínas (2,3-3,4 g / kg / d) em quantidades que são 3-4 vezes maiores do que o IDR resulta em um aumento similar de MM tanto no grupo normal quanto no de alta proteína [6]; no entanto, o grupo de alta proteína perdeu mais massa gorda em comparação com o grupo de proteínas normais, apesar de consumirem na média 400 kcals mais por dia durante o período de tratamento. Isto contrasta com o estudo atual que não mostrou nenhuma alteração na composição corporal. A principal diferença entre o presente estudo e o acima mencionado é que os sujeitos no presente estudo não alteraram propositadamente seu programa de treinamento. Por outro lado, os sujeitos do nosso estudo anterior foram submetidos a diferentes estímulos de treinamento (i.e., programa de treino de resistência periodizado) em comparação ao que estavam habituados. Na medida em que o foco deste trabalho foi sobre os marcadores de saúde, os sujeitos no atual estudo foram instruídos a não alterar seu regime de treinamento. O exame da tonelagem mostra que não fizeram alterações significativas no volume de treinamento. Assim, poder-se-ia especular que, sem alterações significativas no estímulo de treinamento, a mera provisão de proteína extra provavelmente não levará a alterações na composição corporal. Por outro lado, a mera adição de calorias extra de proteína também não vai levar a ganhos de massa gorda.

4.1. Limitações.

Poder-se-ia especular que uma limitação desta investigação é que os sujeitos eram jovens do sexo masculino que tinham anos de experiência em treinamento de resistência e já consumiam regularmente uma dieta rica em proteínas no início do estudo. Contudo, o fato de que eles aumentaram a ingestão de proteínas em 32% e ainda assim não teve efeitos colaterais deletérios é mais uma evidência de que uma dieta rica em proteínas para indivíduos treinados é segura. O pequeno tamanho da amostra também pode impedir a extrapolação dos resultados deste estudo a outras populações (homens ou mulheres sedentários). No entanto, nós poderíamos argumentar que as únicas populações que consumem regularmente uma dieta de proteína alta são atletas (por exemplo, atletas de resistência e força). Assim, a necessidade de aplicar os nossos dados a outras populações pode ser um ponto discutível.

5. Conclusões

Em indivíduos do sexo masculino com vários anos de treinamento de resistência, consumo crônico de uma dieta proteína não teve efeitos nocivos sobre quaisquer marcadores de saúde. Além disso, não houve alteração no peso corporal, massa gorda, ou massa corporal magra apesar de comerem mais calorias totais e proteína. Contrariamente à crença popular, o consumo de altas quantidades de proteína na dieta não é mutuamente exclusivo com uma dieta alta em fibras, nem o consumo de colesterol acima da recomendação padrão resultam em efeitos adversos. Esta é a primeira investigação longitudinal de um ano em homens treinados que demonstra ausência de dano causado por uma dieta rica em proteínas.

 

  • 2 semanas depois...
Postado
Em 14/12/2016 at 09:27, Ricardo Queiroz disse:


 

Impressão minha, ou o povo do HP já era maior e mais magro, com BF mais baixo e mais MM do que o NP antes do experimento?

Isso poderia ter algum impacto nos resultados??

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