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Essa é uma questão que me faz pensar bastante.. Como garantir um mercado livre das mãos do governo com tantas empresas que já foram beneficiadas pelo estado? Seria uma concorrência desleal e os pequenos negócios simplesmente quebrariam.

É injusto, essas empresas deveriam devolver esse dinheiro, mas isso dificilmente aconteceria...

O que poderia acontecer é o seguinte: Essas empresas começariam a oferecer produtos/ serviços de boa qualidade a um preço mais baixo, e assim ocorreria um "monopolismo bom", caso contrário, e considerando um ambiente de livre mercado, claro, os concorrentes passariam a oferecer seus produtos/ serviços de mais qualidade/ mais barato, e assim ganhariam mercado aos poucos

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se não consegue competir com o comércio internacional, então vaza... nosso país é gigante e tem potencial tranquilo para ser de primeiro mundo, então nunca vai faltar mão-de-obra e com certeza dominaremos alguns mercados

Concordo, mas uma vez beneficiadas as estrangeiras, o protecionismo é necessário para igualar competitividade.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/05/140519_produtividade_porque_ru.shtml

Produtividade do trabalhador brasileiro 10,8 obama/hora, saiu as pesquisas e gerou a maior discussão não sei se tu acompanhou;

Mão de obra pode não faltar, mas é isso o que os de 1º mundo detém? Operários fazem um país de 1º mundo?

Ensino de qualidade, incentivo ao empreendedor não conta?

Cara, se não me engano aqui é aonde as montadoras mais lucras por carro, inclusive foi o que ajudou muitas em épocas de crise.

55%, e ainda tem mané que ganhar 1500 por mês e compra carro novo.

TAbela FIPE maior farsa, ta comprada descaradamente.

O Brasileiro tem realmente esse mentalidade de que "se é caro é bom", mas isso é porque muitos produtos importados são de fato de boa qualidade e são caros por causa do protecionismo, mas no momento que isso é retirado e seus preços "reais" chegam para nós, daí passa a popularizar e então perde todo esse status

Então o negócio é operacionalizar nosso pais e deixar as multinacionais dominarem? Dá incentivos fiscais, e vamos trabalhar pra eles?

Os EUA estão muito na frente, produzem quase que toda a própria tecnologia, fazem guerra pra conseguir grande quantidade de insumos, aproveitam bem a extensão territorial, importam aquilo que o mundo tem de melhor na agropecuária, detem infinitas patentes.

Como fazer algo parecido com o brasil?

___________

Lí hoje mais cedo esse artigo que o Danilo postou, mto bom, recomendo a leitura... Lembra um pouco tbm daquilo que o Frederic Bastiat fala "do que se vê e o que não se vê"

Essa é uma questão que me faz pensar bastante.. Como garantir um mercado livre das mãos do governo com tantas empresas que já foram beneficiadas pelo estado? Seria uma concorrência desleal e os pequenos negócios simplesmente quebrariam.

Isso que eu quis dizer. Aqui no escritório, TODAS as empresas abertas ano passado faliram. TODAS.

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Isso que eu quis dizer. Aqui no escritório, TODAS as empresas abertas ano passado faliram. TODAS.

Será que elas faliram justamente por causa de todos esse intervencionismo estatal ou não?

"A palavra "capitalismo" é utilizada de duas maneiras contraditórias. Em algumas ocasiões, ela é utilizada com o intuito de denotar um mercado livre e desimpedido, ou laissez-faire. Em outras ocasiões, ela é utilizada para denotar exatamente o arranjo atual em que vive o mundo, uma economia mista em que o governo intervém para privilegiar grandes empresas, criando monopólios e oligopólios.

Logicamente, "capitalismo" não pode ser ambas as coisas. Ou os mercados são totalmente livres, ou o governo os controla. Não é possível ter os dois arranjos ao mesmo tempo.

Mas a verdade é que não há um mercado genuinamente livre em nenhum país do mundo. As regulamentações governamentais, as tarifas, os subsídios, os decretos e as intromissões são generalizados, variando apenas o grau de intensidade com que ocorrem em cada país. Sendo assim, o termo "capitalismo" denotando mercados livres não pode ser aplicado nos dias de hoje.

O que existe é um capitalismo mercantilista, um capitalismo de compadrio, um capitalismo regulado em prol dos regulados e dos reguladores, e contra os consumidores.

O que seria esse capitalismo mercantilista? Trata-se de um sistema econômico no qual o mercado é artificialmente moldado por uma relação de conluio entre o governo, as grandes empresas e os grandes sindicatos. Neste arranjo, o governo concede a seus empresários favoritos uma ampla variedade de privilégios que seriam simplesmente inalcançáveis em um genuíno livre mercado, como restrições de importação, subsídios diretos, tarifas protecionistas, empréstimos subsidiados feitos por bancos estatais, e agências reguladoras criadas com o intuito de cartelizar o mercado e impedir a entrada de concorrentes estrangeiros. Em troca, as empresas beneficiadas lotam os cofres de políticos e reguladores com amplas doações de campanha e propinas.

O capitalismo mercantilista é tão antigo, que Adam Smith já o criticava — e combatia — no século XVIII. Atualmente, não é necessário procurar muito para se encontrar exemplos deste tipo de capitalismo. Basta olhar para o seu próprio país. Todos os cartéis, oligopólios e monopólios que você conhece estão em setores altamente regulados pelo governo, como o setor bancário, o setor aéreo, o setor de transportes terrestres, o setor de transportes aquaviários, o setor de telecomunicações, o setor elétrico, o setor energético (petróleo, postos de gasolina), o setor minerador, o setor farmacêutico etc.

Quem cria cartéis, oligopólios e monopólios é e sempre foi o estado, seja por meio de regulamentações que impõem barreiras à entrada da concorrência no mercado (agências reguladoras), seja por meio de altos tributos que impedem que novas empresas surjam e cresçam, seja por meio da burocracia que desestimula todo o processo de formalização de empresas, seja por meio da imposição de altas tarifas de importação que encarecem artificialmente a aquisição de produtos importados (pense nas fabricantes de automóveis).

Um capitalismo de livre mercado é um sistema em que os lucros e os prejuízos são privados. Já um capitalismo mercantilista é um arranjo em que os lucros são privados, mas os prejuízos são socializados. Quando são bem-sucedidas, as empresas mantêm seus lucros; quando sofrem prejuízos, recorrem ao governo em busca ou de pacotes de ajuda ou de novas medidas que restrinjam a concorrência. No extremo, pedem ao governo para jogar a fatura do prejuízo sobre os pagadores de impostos.

O papel das regulamentações em um capitalismo mercantilista não é corretamente entendido pelos intervencionistas. Eles genuinamente acreditam que as regulamentações são uma forma de o governo subjugar e domar as grandes corporações. Só que, historicamente, as regulamentações sempre foram uma maneira tida como lícita de determinadas empresas (geralmente as grandes e bem-conectadas politicamente) ganharem vantagens à custa de outras, geralmente menos influentes.

Por exemplo, em teoria, agências reguladoras existem para proteger o consumidor. Na prática, elas protegem as empresas dos consumidores. Por um lado, as agências reguladoras estipulam preços e especificam os serviços que as empresas reguladas devem ofertar. Por outro, elas protegem as empresas reguladas ao restringir a entrada de novas empresas neste mercado. No final, agências reguladoras nada mais são do que um aparato burocrático que tem a missão de cartelizar os setores regulados — formados pelas empresas favoritas do governo —, determinando quem pode e quem não pode entrar no mercado, e especificando quais serviços as empresas escolhidas podem ou não ofertar, impedindo desta maneira que haja qualquer "perigo" de livre concorrência.

Em seu cerne, a regulação é anti-livre iniciativa, anti-livre mercado e anti-concorrência. A regulação não se baseia nas preferências dos consumidores e nem nos valores subjetivos dos consumidores em relação aos bens e serviços ofertados. Ao contrário, ela faz com que as empresas ajam como se fossem ofertantes monopolistas, de modo que os preços passam a ser determinados pelos custos de produção das empresas e não pela preferência dos consumidores.

Mas isso é apenas o primeiro passo: uma empresa regulada pode encontrar várias maneiras de fazer as regulações funcionarem em proveito próprio e contra os interesses dos consumidores.

Por exemplo, não é incomum que grandes empresas façam lobby para criar regulamentações complicadas e onerosas sobre seu próprio setor. Por que elas fazem isso? Para dificultar uma potencial concorrência de empresas novas, pequenas e com pouco capital. Empresas grandes e já estabelecidas têm mais capacidade e mais recursos para atender regulações minuciosas e onerosas. Empresas pequenas, que querem entrar naquele mercado mas que ainda não possuem muitos recursos financeiros, não têm essa capacidade. Empresas grandes podem contratar lobistas (ou podem simplesmente subornar políticos) para elaborar padrões de regulação que elas já atendem ou que podem facilmente atender, mas que são impossíveis de serem atendidos por empresas pequenas e recém-criadas.

O livro "The Big Ripoff: How Big Business and Big Government Steal Your Money", de Timothy Carney, explica em detalhes como a própria Phillip Morris estimulou a "guerra contra o tabaco" para se beneficiar, como a própria General Motors agitou pela aprovação de rígidas legislações ambientalistas nos EUA (cujas restrições mais rígidas afetariam a concorrência), e como a poderosa megacorporação Archer Daniels Midland se beneficia dos subsídios para o etanol (algo adorado pelos ambientalistas).

O apoio das grandes empresas às regulamentações criadas pelos governos não apenas não é algo raro, como, na realidade, sempre foi a norma.

Caso ainda não esteja convencido, apenas faça a si mesmo a seguinte pergunta: Qual destas tem uma maior probabilidade de ser afetada por vigorosas regulamentações: grandes corporações com boas conexões políticas e com enormes departamentos jurídicos e contábeis, ou micro e pequenas empresas ainda incipientes e em processo de formalização?

Regulamentações aniquilam a concorrência — e as empresas já estabelecidas adoram que seja assim.

Este arranjo de economia mista é também, como já explicado, ótimo para os governos. Políticos e burocratas adquirem poderes sobre as empresas e, com tais poderes, garantem que seus cofres estejam sempre cheios. Políticos ganham generosas doações de campanha e reguladores ganham fartas propinas. Ambas essas contribuições são feitas pelas grandes empresas e pelos grandes sindicatos em troca da promessa de novas regulamentações que irão lhes favorecer e afetar a concorrência.

Trata-se de uma mistura de socialismo em um arranjo basicamente capitalista, uma mistura suficiente para manter fluidas as receitas do governo e garantir a continuidade dos assistencialismos sociais e corporativos. A porção capitalista dessa economia mista possibilita um confortável estilo de vida para políticos e para milhões de funcionários públicos.

Defensores das regulações não percebem que elas são essencialmente uma forma de controle estatal. É por isso que todos os partidos políticos atuais endossam agências reguladoras e todo o seu aparato burocrático. Afinal, qual político não gostaria de comandar amplos setores da economia?

Em vez de proteger os inocentes e incautos, regulações estimulam os escroques e incentivam as grandes empresas a manipular o sistema com o intuito de aumentar sua própria fatia de mercado e seus lucros. Como sempre ocorre com todas as interferências governamentais nas questões econômicas e sociais, a regulação gera o efeito exatamente oposto do seu proclamado objetivo. E o pior: em um esforço para se tentar corrigir as inevitáveis consequências desastrosas das regulações, mais e mais regulações vão sendo criadas, levando a um controle estatal da economia cada vez mais paralisante.

Já passou da hora de a população entender a diferença entre livre mercado, que se baseia na liberdade e na concorrência, e capitalismo mercantilista, que se baseia em privilégios concedidos pelo estado.

A conclusão é que os socialistas se reinventaram, trocaram seu rótulo para social-democratas, deixaram de lado sua ânsia de estatizar diretamente os meios de produção e optaram por um mais suave modelo fascista, no qual estado e grandes empresas atuam em conluio para se beneficiar mutuamente e prejudicar o cidadão, que tem de aceitar serviços ruins e caros, pois não há mais livre mercado. Exatamente o intuito original dos socialistas."

http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1876

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Sim, a mão-de-obra do Brasil ainda não é boa, e eu não vejo como protecionismo pode ajudar a melhorar isso, na verdade ele é uma das causas disso (querendo ou não, quando não se tem concorrente, vc não precisa se preocupar em fazer o melhor produto).

Na verdade eliminar o protecionismo não nos tornaria automaticamente desenvolvidos, é uma série de medidas. Eu defendo o Liberalismo, então seria uma série de mudanças que aconteceriam, a responsabilidade individual e a meritocracia prevaleceriam, o parasitismo diminuiria, e acredito que com o tempo nós seríamos muito mais produtivos que somos hoje, logo não teria por que temer esse domínio de multinacionais, já que nesse cenário estariamos competindo de igual com o resto do mundo. Esse texto que o danilo postou explica bem isso...

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Será que elas faliram justamente por causa de todos esse intervencionismo estatal ou não?

"A palavra "capitalismo" é utilizada de duas maneiras contraditórias. Em algumas ocasiões, ela é utilizada com o intuito de denotar um mercado livre e desimpedido, ou laissez-faire. Em outras ocasiões, ela é utilizada para denotar exatamente o arranjo atual em que vive o mundo, uma economia mista em que o governo intervém para privilegiar grandes empresas, criando monopólios e oligopólios.

Logicamente, "capitalismo" não pode ser ambas as coisas. Ou os mercados são totalmente livres, ou o governo os controla. Não é possível ter os dois arranjos ao mesmo tempo.

Mas a verdade é que não há um mercado genuinamente livre em nenhum país do mundo. As regulamentações governamentais, as tarifas, os subsídios, os decretos e as intromissões são generalizados, variando apenas o grau de intensidade com que ocorrem em cada país. Sendo assim, o termo "capitalismo" denotando mercados livres não pode ser aplicado nos dias de hoje.

O que existe é um capitalismo mercantilista, um capitalismo de compadrio, um capitalismo regulado em prol dos regulados e dos reguladores, e contra os consumidores.

O que seria esse capitalismo mercantilista? Trata-se de um sistema econômico no qual o mercado é artificialmente moldado por uma relação de conluio entre o governo, as grandes empresas e os grandes sindicatos. Neste arranjo, o governo concede a seus empresários favoritos uma ampla variedade de privilégios que seriam simplesmente inalcançáveis em um genuíno livre mercado, como restrições de importação, subsídios diretos, tarifas protecionistas, empréstimos subsidiados feitos por bancos estatais, e agências reguladoras criadas com o intuito de cartelizar o mercado e impedir a entrada de concorrentes estrangeiros. Em troca, as empresas beneficiadas lotam os cofres de políticos e reguladores com amplas doações de campanha e propinas.

O capitalismo mercantilista é tão antigo, que Adam Smith já o criticava — e combatia — no século XVIII. Atualmente, não é necessário procurar muito para se encontrar exemplos deste tipo de capitalismo. Basta olhar para o seu próprio país. Todos os cartéis, oligopólios e monopólios que você conhece estão em setores altamente regulados pelo governo, como o setor bancário, o setor aéreo, o setor de transportes terrestres, o setor de transportes aquaviários, o setor de telecomunicações, o setor elétrico, o setor energético (petróleo, postos de gasolina), o setor minerador, o setor farmacêutico etc.

Quem cria cartéis, oligopólios e monopólios é e sempre foi o estado, seja por meio de regulamentações que impõem barreiras à entrada da concorrência no mercado (agências reguladoras), seja por meio de altos tributos que impedem que novas empresas surjam e cresçam, seja por meio da burocracia que desestimula todo o processo de formalização de empresas, seja por meio da imposição de altas tarifas de importação que encarecem artificialmente a aquisição de produtos importados (pense nas fabricantes de automóveis).

Um capitalismo de livre mercado é um sistema em que os lucros e os prejuízos são privados. Já um capitalismo mercantilista é um arranjo em que os lucros são privados, mas os prejuízos são socializados. Quando são bem-sucedidas, as empresas mantêm seus lucros; quando sofrem prejuízos, recorrem ao governo em busca ou de pacotes de ajuda ou de novas medidas que restrinjam a concorrência. No extremo, pedem ao governo para jogar a fatura do prejuízo sobre os pagadores de impostos.

O papel das regulamentações em um capitalismo mercantilista não é corretamente entendido pelos intervencionistas. Eles genuinamente acreditam que as regulamentações são uma forma de o governo subjugar e domar as grandes corporações. Só que, historicamente, as regulamentações sempre foram uma maneira tida como lícita de determinadas empresas (geralmente as grandes e bem-conectadas politicamente) ganharem vantagens à custa de outras, geralmente menos influentes.

Por exemplo, em teoria, agências reguladoras existem para proteger o consumidor. Na prática, elas protegem as empresas dos consumidores. Por um lado, as agências reguladoras estipulam preços e especificam os serviços que as empresas reguladas devem ofertar. Por outro, elas protegem as empresas reguladas ao restringir a entrada de novas empresas neste mercado. No final, agências reguladoras nada mais são do que um aparato burocrático que tem a missão de cartelizar os setores regulados — formados pelas empresas favoritas do governo —, determinando quem pode e quem não pode entrar no mercado, e especificando quais serviços as empresas escolhidas podem ou não ofertar, impedindo desta maneira que haja qualquer "perigo" de livre concorrência.

Em seu cerne, a regulação é anti-livre iniciativa, anti-livre mercado e anti-concorrência. A regulação não se baseia nas preferências dos consumidores e nem nos valores subjetivos dos consumidores em relação aos bens e serviços ofertados. Ao contrário, ela faz com que as empresas ajam como se fossem ofertantes monopolistas, de modo que os preços passam a ser determinados pelos custos de produção das empresas e não pela preferência dos consumidores.

Mas isso é apenas o primeiro passo: uma empresa regulada pode encontrar várias maneiras de fazer as regulações funcionarem em proveito próprio e contra os interesses dos consumidores.

Por exemplo, não é incomum que grandes empresas façam lobby para criar regulamentações complicadas e onerosas sobre seu próprio setor. Por que elas fazem isso? Para dificultar uma potencial concorrência de empresas novas, pequenas e com pouco capital. Empresas grandes e já estabelecidas têm mais capacidade e mais recursos para atender regulações minuciosas e onerosas. Empresas pequenas, que querem entrar naquele mercado mas que ainda não possuem muitos recursos financeiros, não têm essa capacidade. Empresas grandes podem contratar lobistas (ou podem simplesmente subornar políticos) para elaborar padrões de regulação que elas já atendem ou que podem facilmente atender, mas que são impossíveis de serem atendidos por empresas pequenas e recém-criadas.

O livro "The Big Ripoff: How Big Business and Big Government Steal Your Money", de Timothy Carney, explica em detalhes como a própria Phillip Morris estimulou a "guerra contra o tabaco" para se beneficiar, como a própria General Motors agitou pela aprovação de rígidas legislações ambientalistas nos EUA (cujas restrições mais rígidas afetariam a concorrência), e como a poderosa megacorporação Archer Daniels Midland se beneficia dos subsídios para o etanol (algo adorado pelos ambientalistas).

O apoio das grandes empresas às regulamentações criadas pelos governos não apenas não é algo raro, como, na realidade, sempre foi a norma.

Caso ainda não esteja convencido, apenas faça a si mesmo a seguinte pergunta: Qual destas tem uma maior probabilidade de ser afetada por vigorosas regulamentações: grandes corporações com boas conexões políticas e com enormes departamentos jurídicos e contábeis, ou micro e pequenas empresas ainda incipientes e em processo de formalização?

Regulamentações aniquilam a concorrência — e as empresas já estabelecidas adoram que seja assim.

Este arranjo de economia mista é também, como já explicado, ótimo para os governos. Políticos e burocratas adquirem poderes sobre as empresas e, com tais poderes, garantem que seus cofres estejam sempre cheios. Políticos ganham generosas doações de campanha e reguladores ganham fartas propinas. Ambas essas contribuições são feitas pelas grandes empresas e pelos grandes sindicatos em troca da promessa de novas regulamentações que irão lhes favorecer e afetar a concorrência.

Trata-se de uma mistura de socialismo em um arranjo basicamente capitalista, uma mistura suficiente para manter fluidas as receitas do governo e garantir a continuidade dos assistencialismos sociais e corporativos. A porção capitalista dessa economia mista possibilita um confortável estilo de vida para políticos e para milhões de funcionários públicos.

Defensores das regulações não percebem que elas são essencialmente uma forma de controle estatal. É por isso que todos os partidos políticos atuais endossam agências reguladoras e todo o seu aparato burocrático. Afinal, qual político não gostaria de comandar amplos setores da economia?

Em vez de proteger os inocentes e incautos, regulações estimulam os escroques e incentivam as grandes empresas a manipular o sistema com o intuito de aumentar sua própria fatia de mercado e seus lucros. Como sempre ocorre com todas as interferências governamentais nas questões econômicas e sociais, a regulação gera o efeito exatamente oposto do seu proclamado objetivo. E o pior: em um esforço para se tentar corrigir as inevitáveis consequências desastrosas das regulações, mais e mais regulações vão sendo criadas, levando a um controle estatal da economia cada vez mais paralisante.

Já passou da hora de a população entender a diferença entre livre mercado, que se baseia na liberdade e na concorrência, e capitalismo mercantilista, que se baseia em privilégios concedidos pelo estado.

A conclusão é que os socialistas se reinventaram, trocaram seu rótulo para social-democratas, deixaram de lado sua ânsia de estatizar diretamente os meios de produção e optaram por um mais suave modelo fascista, no qual estado e grandes empresas atuam em conluio para se beneficiar mutuamente e prejudicar o cidadão, que tem de aceitar serviços ruins e caros, pois não há mais livre mercado. Exatamente o intuito original dos socialistas."

http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1876

Eu entendo. Sou a favor do livre mercado, mas como garantir uma economia livre depois de tanto intervencionismo?

Como o pequeno negócio vai competir com a empresa que antes era beneficiada pelo estado e agora produz mais, melhor e com menor preço?

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Eu entendo. Sou a favor do livre mercado, mas como garantir uma economia livre depois de tanto intervencionismo?

Como o pequeno negócio vai competir com a empresa que antes era beneficiada pelo estado e agora produz mais, melhor e com menor preço?

Seu raciocínio não faz sentindo... A sua solução para os males do intervencionismo é gerar mais intervencionismo a fim de promover uma "justiça social" com o pequeno empresário?

Você partiu do pressuposto de que o que realmente atrapalha o pequeno negócio a se alavancar é a existência de uma grande empresa com grande parte do mercado e que se houvesse o livre mercado, esse pequeno negócio não conseguiria achar meios de se desenvolver, uma vez que essa empresa já estaria em vantagem sobre o pequeno comércio.

Porém, o que na verdade dificulta o desenvolvimento de novas empresa é justamente esse intervencionismo e não o fato de existirem empresas já instaladas em um determinado local. Você falha em perceber, que as informações dispersas na economia acerca de oportunidades de lucro, tecnologia, e etc., está em constante mudança e não são dados eternos e imutáveis que sempre existiram e sempre vão permanecer no mesmo estado.

Talvez os pequenos empreendedores se reunirão e conseguirão algum meio de competir com a grande empresa... Talvez outras empresas de outros países virão ao país e fornecerão serviços melhores e com mais qualidade, uma vez que não haveria agências reguladoras controlando quem entra no mercado ou não.

Enfim, obstáculos não haveriam, e isso que faz a economia prosperar.

Outro artigo interessante sobre livre mercado e como ele afeta as economias de maneira positiva:

Por vinte anos consecutivos, o Índice de Liberdade Econômica, compilado pelo The Wall Street Journal e pela Heritage Foundation, classifica Hong Kong como a economia mais livre do mundo. Este último ranking da Heritage confirma o que o Fraser Institute, do Canadá, também afirmou em seu último Índice, o qual também classificou a economia de Hong Kong como a mais livre do mundo. O Banco Mundial, por sua vez, classifica a "facilidade de se fazer negócios" em Hong Kong como a melhor do planeta.

Embora faça parte da China desde que a Grã-Bretanha cedeu seu controle em 1997, Hong Kong é governado em termos estritamente locais. Até o momento, o governo chinês tem se mantido razoavelmente fiel à sua promessa de deixar a economia de Hong Kong em paz.

O que torna a economia de Hong Kong tão livre são aqueles detalhes que soam como música aos ouvidos de qualquer indivíduo que ama a liberdade: corrupção relativamente baixa; um judiciário eficiente e independente; respeito pleno aos direitos de propriedade; império das leis; um sistema tributário extremamente simples e com baixas alíquotas tanto para pessoas físicas quanto para jurídicas, e uma carga tributária total de apenas 14% do PIB; ausência de impostos sobre ganhos de capital, de renda de juros e até mesmo de renda obtida no exterior; ausência de impostos sobre vendas e sobre valor agregado; um aparato regulatório quase invisível; um orçamento governamental equilibrado, sem déficits, e com uma dívida pública praticamente inexistente. Ah, e tarifas de importação em praticamente zero. Isso mesmo, zero!

Dizer que uma economia é a "mais livre" é o mesmo que dizer que ela é "a mais capitalista". Capitalismo é o que ocorre naturalmente quando você permite que pessoas pacíficas cuidem de suas próprias vidas. Não é necessário elaborar nenhum mecanismo artificial comandado por burocratas de carreira confortavelmente instalados em suas torres de marfim. Não é necessário inventar nenhum esquema mirabolante e aparentemente sofisticado. Basta apenas deixar as pessoas em paz.

Se formos acreditar naquilo que dizem os críticos do capitalismo, então Hong Kong tem necessariamente de ser um inferno repleto de pobreza, exploração e desespero.

Mas não. Muito pelo contrário, aliás.

Talvez seja por isso que os socialistas não gostam de falar sobre Hong Kong: não apenas é a economia mais livre do mundo, como também é uma das mais ricas. Sua renda per capita, 2,64 vezes maior do que a média mundial, mais do que duplicou nos últimos 15 anos. As pessoas não fogem de Hong Kong; elas correm para Hong Kong. Ao final da Segunda Guerra Mundial, a população de Hong Kong era de 750.000. Hoje é quase dez vezes maior: 7,1 milhões.

A colônia

Hong Kong é um ótimo exemplo do que acontece com a economia de um local que não é explorado por políticos. Hong Kong é produto do abandono político. Isso mesmo: Hong Kong jamais teria se tornado a potência econômica que é hoje caso os políticos britânicos ou chineses tivessem demonstrado algum interesse pelo local no século XIX.

A Grã-Bretanha adquiriu a ilha de Hong Kong em 1842 (territórios adicionais viriam depois) por meio de um acordo entre um representante britânico — o capitão Charles Elliot — e um negociador chinês — o marques Ch'i-ying — como forma de solucionar um pequeno conflito que havia se iniciado em decorrência de contendas comerciais. (Uma das contendas envolvia uma compensação por causa de um confisco chinês do ópio britânico, mas a pendenga era mais ampla do que essa questão do ópio, e pesquisas recentes questionam a acurácia de se rotular toda essa questão como sendo uma mera "guerra do ópio").

O acordo resultante foi impopular tanto para a Corte Imperial chinesa quanto para o governo britânico. As autoridades chinesas não gostaram de ter de ceder um pedaço de terra para os britânicos e se preocuparam com o impacto sobre suas receitas tarifárias em decorrência da criação de um porto controlado pelos britânicos. Adicionalmente, os chineses tinham desprezo pela obsessão dos britânicos com o comércio. Já o governo britânico enxergava Hong Kong como uma localização ruim e pouco promissora em relação às possíveis alternativas, como a ilha de Formosa.

No entanto, a precária comunicação vigente no século XIX acabou forçando os dois governos a delegar a autoridade da resolução da contenda aos seus representantes locais. O resultado foi aquilo que o excelente livro de Frank Welsh, A History of Hong Kong, rotulou de "uma fonte de constrangimento e aborrecimento para seus progenitores desde seu surgimento no cenário internacional". (Doravante, todas as citações serão do livro de Welsh).

Os primórdios

As primeiras avaliações do potencial de Hong Kong foram pessimistas. O então futuro primeiro-ministro britânicoLord Palmerston, naquela que talvez seja a pior previsão já feita por um diplomata britânico, concluiu que se tratava de "uma ilha estéril e inaproveitável, a qual jamais será um pólo para o comércio". O então tesoureiro lotado em Hong Kong, Robert Montgomery Martin, que também escrevia prolificamente sobre as possessões estrangeiras britânicas, fez eco à análise de Palmerston em 1844, afirmando que "não há nenhum comércio visível em Hong Kong. . . . É difícil encontrar uma empresa na ilha. As poucas pessoas aqui se aventuraram estariam felizes se conseguissem recuperar metade do dinheiro que gastaram na ilha e fossem embora. . . . Não parece haver a mais mínima probabilidade de que, algum dia, sob quaisquer circunstâncias, Hong Kong venha a se tornar um local propício ao comércio".

No entanto, algum comércio começou a surgir em decorrência do estabelecimento de armazéns de mercadores britânicos. Mas as políticas adotadas inicialmente pela Grã-Bretanha em relação ao seu novo território quase nada fizeram para promover o crescimento econômico. Com efeito, uma investigação parlamentar de 1847 sobre a situação econômica de Hong Kong descobriu que o domínio britânico havia inicialmente levado consigo um governo empenhado em usar a ilha para coletar o "máximo possível de receitas", o que afetou severamente o comércio. E concluiu que "pode se datar desta época os reveses sofridos por Hong Kong".

Após isso, a Grã-Bretanha fez relativamente muito pouco com sua nova colônia, se concentrando apenas em manter a ordem pública e ampliar o império das leis. O resultado foi essencialmente um Porto de Tratado, muito semelhante àqueles que as potências europeias estabeleceram na China sob o Tratado de Nanquim em 1842-43. Um dos motivos para esta política relativamente sem interferências da Grã-Bretanha foi a persistência da visão adquirida pelos primeiros oficiais coloniais britânicos de que os chineses residentes em Hong Kong não queriam ou não apreciavam as legislações britânicas. Esta atitude foi ilustrada de maneira bem clara no depoimento prestado pelo Coronel John Malcolm, que estava lotado em Hong Kong, para um comitê do Parlamento britânico em meados do século XIX. Malcolm relatou que "os chineses são um povo peculiar e não gostam de sofrer interferências. Eles não nos entendem; eles não conseguem entender nossos métodos; e quando são recomendados a fazer primeiro uma coisa e só depois outra, eles se assustam e não mais nos procuram".

Se era ou não uma característica "peculiar" dos chineses não gostar de governos arbitrários, o fato é que a Grã-Bretanha parou de expedir ordens conflitantes e incompatíveis, e a tendência geral passou a ser a de deixar as pessoas em paz. Ambas estas políticas foram adotadas com o intuito de estimular. Como consequência, deram à colônia o benefício de regras claras e simples desde seus primórdios.

Um centro comercial natural?

O que a Grã-Bretanha criou em Hong Kong? A combinação entre o excelente porto e o primado das leis fez de Hong Kong um centro comercial natural. Mas Hong Kong não era o melhor local para se comercializar na China. Já no início do século XX, Xangai vinha crescendo em importância e, consequentemente, abocanhando uma fatia do comércio que até então passava por Hong Kong. Xangai possuía uma população mais educada e mais preparada, estava em uma localização mais conveniente, desfrutava uma proteção europeia por causa de tratados de concessões feitos pelo governo chinês, e sofria relativamente pouca interferência do governo chinês devido ao declínio do poder imperial.

Por volta de 1910, Xangai já havia se tornado um centro comercial significativamente mais importante do que Hong Kong. Com os britânicos optando por Cingapura — que era mais fácil de ser defendida — como centro do poder naval britânico na região, Hong Kong acabou perdendo o que restava de sua já pequena importância para o governo britânico. Como resultado, a colônia definhou e foi para o esquecimento, tornando-se mais conhecida como um centro de prostituição e de jogatina.

Mas houve algo que a Grã-Bretanha não criou em Hong Kong: um governo democrático. Ao contrário do que ocorreu na maioria das outras colônias britânicas, em Hong Kong não se permitiu que nenhuma instituição democrática local se desenvolvesse, pois os britânicos não estavam dispostos a dar à maioria chinesa uma voz na administração. Como resultado, concluiu Welsh, "Hong Kong continuaria tendo uma administração tão antidemocrática quanto qualquer governo chinês, mas com a importante diferença de que a autoridade final seria a lei, e não os caprichos de algum ditador".

O governo central imperial chinês nunca defendeu a liberdade econômica ao longo de sua história, e o período compreendido entre o final do século XIX e início do século XX não foi nenhuma exceção. À medida que o poder do governo central foi se esvanecendo, déspotas e chefes militares regionais começaram a estabelecer centros de poder rivais, mas igualmente predatórios. Os poderios europeu, americano e japonês também se expandiram na China, tentando ampliar o acesso de suas respectivas empresas ao mercado chinês. Mas tais poderios não criaram nenhuma liberdade econômica para a população chinesa dentro de suas esferas de influência.

Neste cenário, a estabilidade política de Hong Kong começou a atrair cada vez mais emigrantes que saíam da China. A população da colônia cresceu de 600.000 em 1920 para mais de um milhão em 1938. À medida que as condições foram se deteriorando na China com a invasão japonesa e com os conflitos entre os déspotas regionais, o Kuomitang (nacionalistas) e os comunistas, uma média de 5.000 migrantes por dia passou a aportar em Hong Kong.

Quando a ocupação japonesa terminou, em 1945, a economia de Hong Kong estava devastada. O golpe comunista na China, em 1949, acelerou a fuga de migrantes para Hong Kong. Em março de 1950, a cidade já tinha 2,3 milhões de pessoas.

Para piorar, embargos ao comércio com a China em 1951, durante a Guerra da Coréia, afetaram severamente a condição de entreposto comercial de Hong Kong, justamente a atividade sobre a qual se baseava uma grande fatia da economia local.

No entanto, havia um aspecto positivo: o golpe comunista na China e a consequente fuga de chineses para Hong Kong forneceu à colônia não apenas um número significativo de mão-de-obra, como também um grande capital humano, formado por empreendedores que conseguiram fugir do exército de Mao. Adicionalmente, a vitória dos comunistas na China fez com que Xangai deixasse de ser um concorrente para Hong Kong.

Superpovoada, refém de embargos comerciais, e com um contínuo influxo de refugiados, o que praticamente estrangulou a infraestrutura da colônia, Hong Kong teve de se reinventar.

A ilha passaria por uma transformação radical no início da década de 1960, com a adoção de políticas econômicas que criaram a potência econômica que Hong Kong hoje. Os detalhes desta transformação serão abordados no próximo artigo.

- http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1803

Com milhões de refugiados chineses, sofrendo com um embargo comercial e com sua infraestrutura estrangulada, a Hong Kong do início da década de 1950 parecia confirmar os prognósticos pessimistas feitos no século XIX.

No entanto, esta enxurrada de refugiados era composta por milhões de indivíduos que, embora completamente pobres, fugiram para Hong Kong em busca de liberdade. E embora Hong Kong não possuísse a infraestrutura adequada para recebê-los, ela fornecia ampla liberdade para qualquer indivíduo que quisesse colocar seus talentos empreendedoriais em ação.

Não havia na ilha as mesmas restrições cambiais vigentes no Reino Unido e em grande parte da Europa — o que significava que o dólar de Hong Kong, que era ancorado à libra esterlina, era livremente conversível em outras moedas —, e a quantidade de regulamentações sobre a economia era desprezível.

A combinação entre mão-de-obra à procura de trabalho e empreendedores com conhecimento e algum capital oriundos de Xangai — até então a grande cidade capitalista chinesa — forneceu a matéria-prima para o crescimento industrial iniciado na década de 1950. A economia começou a prosperar.

Os empreendedores de Hong Kong criaram rapidamente um número impressionante de pequenas e médias empresas durante este período, especialmente no setor têxtil. Estes empreendimentos, os quais acabaram se diversificando e se ramificando para setores como vestuário, plásticos e eletrônicos, produziam principalmente para atender a crescente demanda da Europa e dos EUA por bens manufaturados e baratos.

Essa rápida industrialização da década de 1950 foi possível porque ocorreu em condições nas quais 1) os direitos de propriedade eram respeitados, 2) o poder judiciário era independente e os tribunais, imparciais, e 3) a interferência econômica das autoridades coloniais era mínima.

Como o último governador britânico de Hong Kong, Christopher Patten, escreveu em seu livro de memórias, East and West, os refugiados do comunismo que correram para Hong Kong chegaram à única cidade livre da China; era de fato "a única sociedade chinesa que, por um breve período de 100 anos, viveu um ideal jamais vivenciado em nenhum outro momento da história da sociedade chinesa — um ideal em que nenhum homem tinha de viver com medo de uma batida à porta da sua casa à meia-noite".

Hong Kong tinha um governo limitado e competente, que se restringia a manter a lei e a ordem, e a permitir o funcionamento da economia de mercado. Era um governo que honrava completamente a filosofia confuciana: "Deixe as pessoas locais serem felizes e atraia migrantes longínquos."

Mais impressionante ainda foi o fato de que, enquanto o Reino Unido estava criando um estado altamente intervencionista e assistencialista em casa, sua colônia desfrutava uma política econômica fundamentalmente de livre mercado.

No entanto, houve um responsável pela prolongada existência desta política de livre mercado. Houve uma pessoa que seguidamente contrariou ordens do governo britânico e, com isso, permitiu a prosperidade de Hong Kong.

Sir John Cowperthwaite, o homem que permitiu a prosperidade de Hong Kong

O nome de Sir John James Cowperthwaite (1915—2006) deveria ocupar para sempre o topo do panteão dos grandes libertários. Enquanto vários de nós apenas escrevemos sobre ideias libertárias, este cidadão de fato as transformou em política pública para milhões de cidadãos.

Cowperthwaite foi nomeado secretário das finanças de Hong Kong para o período de 1961 a 1971. Escocês e discípulo fiel de Adam Smith, ele era assumidamente um economista na tradição da Escola de Manchester, ardorosa defensora do livre comércio.

Na época, com a Grã-Bretanha indo a passos firmes rumo ao socialismo e ao assistencialismo, Cowperthwaite permaneceu inflexível: Hong Kong deveria se manter fiel aos princípios do laissez-faire. Tendo praticamente controle completo sobre as finanças do governo de Hong Kong, ele se recusou a impor qualquer tipo de tarifa de importação e sempre insistiu em manter os impostos no nível mais baixo possível.

Ele era um liberal-clássico, bem ao estilo dos liberais do século XIX. Era fiel adepto da ideia de que os países deveriam se abrir unilateralmente para o comércio, sem esperar contrapartidas. Ele já estava em Hong Kong desde 1941, fazendo parte do Serviço Administrativo Colonial. Com a invasão japonesa, ele foi enviado para Serra Leoa. Ao voltar para Hong Kong, em 1946, os britânicos lhe pediram para elaborar planos e programas para que o governo pudesse estimular o crescimento econômico. Cowperthwaite apenas respondeu dizendo que a economia já estava se recuperando sem nenhuma ordem do governo.

Mais tarde, ao ser efetivamente nomeado secretário das finanças, em 1961, ele se tornou um defensor inflexível daquilo que passou a rotular de "não-intervencionismo positivo" e passou a pessoalmente controlar a política econômica da colônia.

Cowperthwaite transformou Hong Kong na economia mais livre do mundo. Durante o seu mandato, o livre comércio foi instituído plenamente, pois Cowperthwaite se recusava a obrigar os cidadãos a comprar bens caros produzidos localmente se eles podiam simplesmente importar produtos mais baratos de outros países. O imposto de renda sempre teve uma alíquota única, de 15%. A total escassez de recursos naturais em Hong Kong — havia apenas a enseada onde está o porto — e o fato de que a ilha tinha de importar até mesmo toda a sua comida tornam o sucesso de Hong Kong ainda mais fascinante.

"Para toda a nossa economia, é preferível confiarmos na 'mão invisível' do século XIX a aceitarmos que as canhestras mãos de burocratas manipulem os delicados mecanismos do mercado", declarou Cowperthwaite em 1962. "Em específico, não podemos deixar que burocratas danifiquem os principais mecanismos da economia, que são a livre iniciativa e a livre concorrência".

Ele não aceitava protecionismo nem para as chamadas "indústrias infantes": "Uma indústria infante, quando protegida e mimada, tende a permanecer infante, e jamais irá crescer e se tornar eficiente". Também acreditava firmemente que, "no longo prazo, o agregado das decisões individuais dos empreendedores, exercitando seu juízo individual em uma economia livre, mesmo cometendo erros, tende a ser bem menos danoso do que as decisões centralizadas de um governo; e certamente o eventual dano tende a ser contrabalançado mais rapidamente."

Desde os dias de John Maynard Keynes, a ciência econômica vem sendo atormentada pela ideia de que a ação humana deve ser destilada em números, os quais se transformam em uma "pretensão ao conhecimento" para aspirantes a planejadores centrais. Nas várias faculdades de economia atuais é difícil saber quando acaba a matemática e quando começa o real conhecimento econômico. Para Cowperthwaite, no entanto, a compilação de estatísticas para planejamento econômico era um anátema. Ele simplesmente se recusou a coletá-las. Quando Milton Friedman lhe questionou, em 1963, a respeito da "escassez de estatísticas", Cowperthwaite respondeu: "Se eu deixá-los coletar estatísticas, irão querer utilizá-las para planejar a economia".

Perguntado qual era a coisa mais premente que os países pobres deveriam fazer, Cowperthwaite respondeu: "Eles deveriam abolir seus institutos de estatísticas econômicas". Ele acreditava que, se estatísticas fossem coletadas em Hong Kong, elas estimulariam o governo britânico a implantar políticas supostamente corretivas, o que inevitavelmente afetaria a capacidade da economia de mercado funcionar corretamente. Isso gerou consternação no governo britânico. Uma delegação de burocratas foi enviada a Hong Kong para descobrir por que as estatísticas não estavam sendo coletadas. Cowperthwaite literalmente mandou-os de volta a Londres no primeiro avião.

O desprezo de Cowperthwaite pela teoria econômica em voga (keynesianismo) e sua abordagem não-intervencionista eram garantia de conflitos diários tanto com o governo britânico quanto com empresários. Os britânicos haviam elevado a alíquota do imposto de renda em Cingapura; quando ordenaram a Hong Kong que fizesse o mesmo, Cowperthwaite recusou. Ele era contrário a dar subsídios e a conceder benefícios especiais para empresas. Quando um grupo de empresários pediu a ele que providenciasse fundos para a construção de um túnel através da enseada de Hong Kong, ele respondeu dizendo que, se o túnel fosse economicamente sensato, o setor privado iria construí-lo. O túnel foi construído privadamente.

O legado de Cowperthwaite

Não obstante sua postura contrária, há estatísticas sobre a Hong Kong daquela época. Durante sua década como secretário das finanças, os salários reais subiram 50%, e a fatia da população vivenda na pobreza extrema caiu de 50 para 15%. O mais impressionante é que Hong Kong fez tudo isso sem contar com nenhum outro recurso que não fosse sua população. A colônia não possuía nenhuma terra agrícola e nenhum recurso natural. E até mesmo o único recurso que ela possuía — as pessoas — não era exatamente muito culto. Com efeito, a maior parte da massa de refugiados que chegou a Hong Kong na década de 1950 seria vista apenas como um fardo para o estado.

Também digno de menção é todo o contexto mundial vigente à época. A transformação de Hong Kong ocorreu exatamente quando os social-democratas controlavam a Europa e quando o democrata Lyndon Johnson e seu programa da Grande Sociedade dominava a política americana, o que refletia o consenso entre as elites políticas da Europa e dos EUA de que assistencialismo e políticas econômicas intervencionistas eram a única direção sensata para as sociedades avançadas. Mesmo nos países em desenvolvimento, políticas econômicas intervencionistas, como a industrialização por meio da substituição de importações — que se baseava na imposição de altas tarifas de importação para proteger as indústrias domésticas — eram a norma.

A pequena Hong Kong, portanto, conseguiu adotar e manter políticas de livre mercado e de livre comércio que iam totalmente contra as políticas dos governos britânico, europeus e americanos, e contra o consenso de economistas desenvolvimentistas em todo o mundo. E fez tudo isso enquanto ainda era pobre e estava perigosamente ao lado de uma poderosa e imperialista ditadura comunista.

É difícil argumentar contra o sucesso. Após a aposentadoria de Cowperthwaite, em 1971, sucessores menos adeptos aos seus princípios se mostraram mais propensos a aumentar os gastos assistencialistas, mas todos os aumentos foram financiados por meio da venda de terras, e não de aumento de impostos. As alíquotas tributárias estão hoje exatamente no mesmo valor em que Sir John James Cowperthwaite as deixou.

O avanço

As políticas de livre comércio, de não-intervenção do estado na economia, de orçamentos governamentais rigidamente equilibrados, de imposto de renda de pessoa física com alíquota única (15%), de mercado de trabalho bastante flexível, de livre fluxo de capitais, de não-restrição a investimentos estrangeiros (estrangeiros podem investir livremente em empresas locais e também deterem 100% do capital) se mantiveram inalteradas após a saída de Cowperthwaite.

Esta política econômica, a qual promoveu a concorrência e o espírito empreendedorial, criou as condições para o acelerado crescimento econômico vivenciado por Hong Kong nas décadas seguintes. Entre 1961 e 2012, o PIB real per capita de Hong Kong foi multiplicado por um fator 9. Hoje, o PIB per capita de Hong Kong, em termos de paridade do poder de compra, é o 7º maior do mundo.

Ou seja, em apenas algumas décadas, Hong Kong, sem recursos naturais, sofrendo dos mesmos problemas enfrentados por todos os outros países em desenvolvimento, e cuja renda média per capita era de apenas 28% da dos residentes do Reino Unido, deixou de ser uma favela a céu aberto e se tornou uma das economias mais ricas do mundo, superando em muito a renda média per capita de sua metrópole.

De economia industrial a uma economia de serviços

O primeiro estágio do desenvolvimento de Hong Kong baseou-se na indústria manufatureira. No entanto, as reformas econômicas feitas na China e a política de abertura ao investimento estrangeiro adotada por Deng Xiaoping a partir de 1978 alteraram profundamente a natureza da economia de Hong Kong nas décadas seguintes.

O setor manufatureiro começou a declinar e a perder peso na economia no final de década de 1970 em decorrência de aumentos nos preços da terra — uma inevitabilidade para um local tão pequeno e povoado — e nos salários. No entanto, a crescente integração econômica entre Hong Kong e China permitiu à ilha realocar sua produção para as zonas econômicas especiais na província adjacente de Guangdong, na China.

Estas zonas, que foram criadas no início de 1980, ofereceram aos investidores de Hong Kong a oportunidade de aumentar sua competitividade ao recorrerem a uma mão-de-obra barata e abundante (chinesa) ao mesmo tempo em que ainda usufruíam as mesmas condições não-intervencionistas do governo chinês quanto recebiam em Hong Kong. De 1978 a 1997, o comércio entre Hong Kong e China cresceu a uma taxa média anual de 28%. Ao final de 1997, o investimento direto feito por Hong Kong representava 80% de todo o investimento estrangeiro direto em Guangdong.

Estes novos desenvolvimentos alteraram significativamente a economia de Hong Kong. A participação da indústria na economia declinou de 31% em 1980 para 14% em 1997 e 8% em 2008; o setor de serviços, por outro lado, aumentou sua participação consideravelmente, de 68% em 1980 para 86% em 1997 e 92% em 2008.

Desde 1997, a economia de Hong Kong se tornou um pólo para serviços de alto valor agregado (finanças, administração, logística, consultoria empresarial, comércio etc.). Atualmente ela atrai tanto empresas chinesas que querem entrar no mercado internacional quanto empresas de todo o mundo que querem ter acesso aos mercados da China e do resto da Ásia.

A manutenção das instituições de livre mercado

Já no início da década de 1980, a perspectiva de uma iminente devolução de Hong Kong à soberania chinesa produziu grande incerteza com relação à manutenção das instituições que tornaram o território uma região rica e próspera. Esta preocupação, no entanto, foi rapidamente abrandada.

Na Declaração Conjunta Sino-Britânica, assinada no dia 9 de dezembro de 1984, foi estabelecido que Hong Kong deixaria de ser um território sob controle britânico no dia 1º de julho de 1997. O princípio do "um país, dois sistemas" também foi acordado nesta data. Com a exceção das relações exteriores e da defesa nacional, o acordo concedeu ampla autonomia ao território e permitiu a Hong Kong manter seu sistema capitalista e seu estilo de vida por um período de 50 anos, até 2047.

Hong Kong hoje é uma Região Administrativa Especial da República Popular da China. Ela preservou o grosso do seu sistema político, judicial, econômico e financeiro que caracterizou a colônia quando estava sob controle britânico. O poder judiciário é independente do poder político e continua a operar sob o sistema do direito consuetudinário herdado dos britânicos. Os direitos de propriedade são garantidos na Constituição da Região Administrativa Especial de Hong Kong. Seus cidadãos desfrutam amplas e fundamentais liberdades individuais.

Conclusão

Em 1960, a renda média per capita de Hong Kong era de apenas 28% da renda média per capita da Grã-Bretanha. Atualmente, é de 140%. Ou seja, de 1960 a 2012, a renda per capita de Hong Kong deixou de ser de aproximadamente um quarto da da Grã-Bretanha e passou a ser mais de um terço maior. É fácil falar destes números. Muito mais difícil é se dar conta de sua significância.

Compare a Grã-Bretanha — o berço da Revolução Industrial, a potência econômica do século XIX em cujo império o sol jamais se punha — a Hong Kong, uma mera restinga de terra, superpovoada, sem nenhum recurso natural, exceto uma enseada. No entanto, em menos de quatro décadas, os residentes desta restinga de terra alcançaram um nível de renda um terço maior do que aquele desfrutado pelos residentes de sua metrópole.

O retorno de Hong Kong à China era inevitável, assim como era inevitável a determinação do governo chinês em preservar o capitalismo de Hong Kong. O interesse da China em preservar sua galinha dos ovos de ouro era claro: a China sempre utilizou Hong Kong — a qual ela podia atacar e tomar à força a qualquer momento — como um meio de acesso aos mercados estrangeiros e também como fonte de capital. Houve épocas em que 80% das receitas externas da China entrava através de Hong Kong. A China também queria demonstrar a Taiwan que uma reunificação pacífica era possível.

O perigo sempre foi o de a liderança chinesa não entender a relação entre o hardware de Hong Kong (a economia capitalista) e o seu software (uma sociedade pluralista). É o seu software que permite que seu hardware funcione tão bem. Até o momento, os novos governantes de Hong Kong vêm se comprovando notavelmente aptos a dar continuidade ao funcionamento harmônico entre o hardware e o software. A grande questão é se isso permanecerá assim no futuro.

Não foram apenas os britânicos que fizeram de Hong Kong um sucesso. Foi principalmente a população de Hong Kong, de operários de fábricas a empreendedores, quem transformou uma ilha estéril em potência econômica. Essas pessoas foram capazes de fazer isso porque o governo de Hong Kong, na maior parte do tempo, as deixou em paz. Hong Kong está longe de ser perfeita, e longe de ser um paraíso libertário. Mas permanece sendo um dramático exemplo de como a genialidade humana e o talento empreendedorial podem trazer prosperidade a uma sociedade originalmente pobre.

Por que Hong Kong sempre foi tão livre? Em parte, Hong Kong teve a sorte de ser governada por homens que entendiam que sua função era bastante limitada. Não era exatamente o ideal liberal-clássico, mesmo sob Cowperthwaite, mas ainda assim foi a sociedade que mais significativamente se aproximou deste ideal no século XX. E a combinação entre a incapacidade do governo britânico em fornecer instituições democráticas e sua falta de interesse em Hong Kong permitiu àqueles homens manter suas políticas econômicas, mesmo enquanto sua própria Grã-Bretanha natal experimentava o desastre econômico do socialismo light dos anos 1950-70. Hong Kong também se beneficiou do exemplo das desastrosas políticas econômicas da China na década de 1960. Com tantos residentes chineses fugindo do comunismo e se refugiando em Hong Kong, a demanda por liberdade era alta.

Hong Kong é um dos mais formidáveis e conclusivos exemplos de uma sociedade que teve grande êxito em fugir do subdesenvolvimento e enriquecer recorrendo à liberdade econômica. Hong Kong teve sorte em ter tido essa liberdade. E a sua população provou que a liberdade funciona.

-http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1804

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falando em economia, me lembrei desta imagem. Phoda!

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Cara, essa piada é engraçada com exceção às menções ao Socialismo e ao Comunismo (o que faz quase parecer uma piada feita por alguém afeito à Esquerda).

O mais correto seria : "Socialismo: você tem duas vacas. O governo taxa a sua produção de leite em 60%, cria doze estatais para cuidar de vacas e leites e precisa captar dinheiro no mercado internacional para financiar seu crescente deficit fiscal. Em alguns anos, o país quebra e você não tem mais pra quem vender seu leite. Você e o resto do país morrem pobre." "Comunismo: você tem duas vacas. O governo toma as suas vacas e obriga você a comprar apenas 02 copos de leite por semana, através de cupons de consumo. O governo também estatiza todos os meios de comunicação e acaba com a instituções. Em alguns anos, diversos campos de concentração aglomeram-se pelo país lotados de "combatentes do regime". Você provavelmente fugirá em uma jangada para um país do outro lado do golfo, estará preso em um dos campos ou terá se convertido ao partido e estará gordo e corrupto bebendo Jack Daniels com seus camaradas."

Capitalismo "Neoliberal" Brasileiro:

Você tem duas vacas. O estado estatiza as duas, elas emagrecem e param de dar leite. O estado privatiza meia vaca para você pelo preço de duas vacas. Você se esforça e a vaca volta a produzir leite. O estado fica com 50% (+ impostos) do leite da vaca. Ninguém pode ter uma vaca. Um balde de leite é o preço de uma vaca. O estado te culpa por isso e todo mundo acredita. Você se acha esperto por ter meia vaca...

De onde você tirou a palavra "neoliberal"? Se existe alguma coisa que o país não é há décadas é neoliberal.

Seu raciocínio não faz sentindo... A sua solução para os males do intervencionismo é gerar mais intervencionismo a fim de promover uma "justiça social" com o pequeno empresário?

Você partiu do pressuposto de que o que realmente atrapalha o pequeno negócio a se alavancar é a existência de uma grande empresa com grande parte do mercado e que se houvesse o livre mercado, esse pequeno negócio não conseguiria achar meios de se desenvolver, uma vez que essa empresa já estaria em vantagem sobre o pequeno comércio.

Porém, o que na verdade dificulta o desenvolvimento de novas empresa é justamente esse intervencionismo e não o fato de existirem empresas já instaladas em um determinado local. Você falha em perceber, que as informações dispersas na economia acerca de oportunidades de lucro, tecnologia, e etc., está em constante mudança e não são dados eternos e imutáveis que sempre existiram e sempre vão permanecer no mesmo estado.

Talvez os pequenos empreendedores se reunirão e conseguirão algum meio de competir com a grande empresa... Talvez outras empresas de outros países virão ao país e fornecerão serviços melhores e com mais qualidade, uma vez que não haveria agências reguladoras controlando quem entra no mercado ou não.

Enfim, obstáculos não haveriam, e isso que faz a economia prosperar.

Outro artigo interessante sobre livre mercado e como ele afeta as economias de maneira positiva:

Por vinte anos consecutivos, o Índice de Liberdade Econômica, compilado pelo The Wall Street Journal e pela Heritage Foundation, classifica Hong Kong como a economia mais livre do mundo. Este último ranking da Heritage confirma o que o Fraser Institute, do Canadá, também afirmou em seu último Índice, o qual também classificou a economia de Hong Kong como a mais livre do mundo. O Banco Mundial, por sua vez, classifica a "facilidade de se fazer negócios" em Hong Kong como a melhor do planeta.

Embora faça parte da China desde que a Grã-Bretanha cedeu seu controle em 1997, Hong Kong é governado em termos estritamente locais. Até o momento, o governo chinês tem se mantido razoavelmente fiel à sua promessa de deixar a economia de Hong Kong em paz.

O que torna a economia de Hong Kong tão livre são aqueles detalhes que soam como música aos ouvidos de qualquer indivíduo que ama a liberdade: corrupção relativamente baixa; um judiciário eficiente e independente; respeito pleno aos direitos de propriedade; império das leis; um sistema tributário extremamente simples e com baixas alíquotas tanto para pessoas físicas quanto para jurídicas, e uma carga tributária total de apenas 14% do PIB; ausência de impostos sobre ganhos de capital, de renda de juros e até mesmo de renda obtida no exterior; ausência de impostos sobre vendas e sobre valor agregado; um aparato regulatório quase invisível; um orçamento governamental equilibrado, sem déficits, e com uma dívida pública praticamente inexistente. Ah, e tarifas de importação em praticamente zero. Isso mesmo, zero!

Dizer que uma economia é a "mais livre" é o mesmo que dizer que ela é "a mais capitalista". Capitalismo é o que ocorre naturalmente quando você permite que pessoas pacíficas cuidem de suas próprias vidas. Não é necessário elaborar nenhum mecanismo artificial comandado por burocratas de carreira confortavelmente instalados em suas torres de marfim. Não é necessário inventar nenhum esquema mirabolante e aparentemente sofisticado. Basta apenas deixar as pessoas em paz.

Se formos acreditar naquilo que dizem os críticos do capitalismo, então Hong Kong tem necessariamente de ser um inferno repleto de pobreza, exploração e desespero.

Mas não. Muito pelo contrário, aliás.

Talvez seja por isso que os socialistas não gostam de falar sobre Hong Kong: não apenas é a economia mais livre do mundo, como também é uma das mais ricas. Sua renda per capita, 2,64 vezes maior do que a média mundial, mais do que duplicou nos últimos 15 anos. As pessoas não fogem de Hong Kong; elas correm para Hong Kong. Ao final da Segunda Guerra Mundial, a população de Hong Kong era de 750.000. Hoje é quase dez vezes maior: 7,1 milhões.

A colônia

Hong Kong é um ótimo exemplo do que acontece com a economia de um local que não é explorado por políticos. Hong Kong é produto do abandono político. Isso mesmo: Hong Kong jamais teria se tornado a potência econômica que é hoje caso os políticos britânicos ou chineses tivessem demonstrado algum interesse pelo local no século XIX.

A Grã-Bretanha adquiriu a ilha de Hong Kong em 1842 (territórios adicionais viriam depois) por meio de um acordo entre um representante britânico — o capitão Charles Elliot — e um negociador chinês — o marques Ch'i-ying — como forma de solucionar um pequeno conflito que havia se iniciado em decorrência de contendas comerciais. (Uma das contendas envolvia uma compensação por causa de um confisco chinês do ópio britânico, mas a pendenga era mais ampla do que essa questão do ópio, e pesquisas recentes questionam a acurácia de se rotular toda essa questão como sendo uma mera "guerra do ópio").

O acordo resultante foi impopular tanto para a Corte Imperial chinesa quanto para o governo britânico. As autoridades chinesas não gostaram de ter de ceder um pedaço de terra para os britânicos e se preocuparam com o impacto sobre suas receitas tarifárias em decorrência da criação de um porto controlado pelos britânicos. Adicionalmente, os chineses tinham desprezo pela obsessão dos britânicos com o comércio. Já o governo britânico enxergava Hong Kong como uma localização ruim e pouco promissora em relação às possíveis alternativas, como a ilha de Formosa.

No entanto, a precária comunicação vigente no século XIX acabou forçando os dois governos a delegar a autoridade da resolução da contenda aos seus representantes locais. O resultado foi aquilo que o excelente livro de Frank Welsh, A History of Hong Kong, rotulou de "uma fonte de constrangimento e aborrecimento para seus progenitores desde seu surgimento no cenário internacional". (Doravante, todas as citações serão do livro de Welsh).

Os primórdios

As primeiras avaliações do potencial de Hong Kong foram pessimistas. O então futuro primeiro-ministro britânicoLord Palmerston, naquela que talvez seja a pior previsão já feita por um diplomata britânico, concluiu que se tratava de "uma ilha estéril e inaproveitável, a qual jamais será um pólo para o comércio". O então tesoureiro lotado em Hong Kong, Robert Montgomery Martin, que também escrevia prolificamente sobre as possessões estrangeiras britânicas, fez eco à análise de Palmerston em 1844, afirmando que "não há nenhum comércio visível em Hong Kong. . . . É difícil encontrar uma empresa na ilha. As poucas pessoas aqui se aventuraram estariam felizes se conseguissem recuperar metade do dinheiro que gastaram na ilha e fossem embora. . . . Não parece haver a mais mínima probabilidade de que, algum dia, sob quaisquer circunstâncias, Hong Kong venha a se tornar um local propício ao comércio".

No entanto, algum comércio começou a surgir em decorrência do estabelecimento de armazéns de mercadores britânicos. Mas as políticas adotadas inicialmente pela Grã-Bretanha em relação ao seu novo território quase nada fizeram para promover o crescimento econômico. Com efeito, uma investigação parlamentar de 1847 sobre a situação econômica de Hong Kong descobriu que o domínio britânico havia inicialmente levado consigo um governo empenhado em usar a ilha para coletar o "máximo possível de receitas", o que afetou severamente o comércio. E concluiu que "pode se datar desta época os reveses sofridos por Hong Kong".

Após isso, a Grã-Bretanha fez relativamente muito pouco com sua nova colônia, se concentrando apenas em manter a ordem pública e ampliar o império das leis. O resultado foi essencialmente um Porto de Tratado, muito semelhante àqueles que as potências europeias estabeleceram na China sob o Tratado de Nanquim em 1842-43. Um dos motivos para esta política relativamente sem interferências da Grã-Bretanha foi a persistência da visão adquirida pelos primeiros oficiais coloniais britânicos de que os chineses residentes em Hong Kong não queriam ou não apreciavam as legislações britânicas. Esta atitude foi ilustrada de maneira bem clara no depoimento prestado pelo Coronel John Malcolm, que estava lotado em Hong Kong, para um comitê do Parlamento britânico em meados do século XIX. Malcolm relatou que "os chineses são um povo peculiar e não gostam de sofrer interferências. Eles não nos entendem; eles não conseguem entender nossos métodos; e quando são recomendados a fazer primeiro uma coisa e só depois outra, eles se assustam e não mais nos procuram".

Se era ou não uma característica "peculiar" dos chineses não gostar de governos arbitrários, o fato é que a Grã-Bretanha parou de expedir ordens conflitantes e incompatíveis, e a tendência geral passou a ser a de deixar as pessoas em paz. Ambas estas políticas foram adotadas com o intuito de estimular. Como consequência, deram à colônia o benefício de regras claras e simples desde seus primórdios.

Um centro comercial natural?

O que a Grã-Bretanha criou em Hong Kong? A combinação entre o excelente porto e o primado das leis fez de Hong Kong um centro comercial natural. Mas Hong Kong não era o melhor local para se comercializar na China. Já no início do século XX, Xangai vinha crescendo em importância e, consequentemente, abocanhando uma fatia do comércio que até então passava por Hong Kong. Xangai possuía uma população mais educada e mais preparada, estava em uma localização mais conveniente, desfrutava uma proteção europeia por causa de tratados de concessões feitos pelo governo chinês, e sofria relativamente pouca interferência do governo chinês devido ao declínio do poder imperial.

Por volta de 1910, Xangai já havia se tornado um centro comercial significativamente mais importante do que Hong Kong. Com os britânicos optando por Cingapura — que era mais fácil de ser defendida — como centro do poder naval britânico na região, Hong Kong acabou perdendo o que restava de sua já pequena importância para o governo britânico. Como resultado, a colônia definhou e foi para o esquecimento, tornando-se mais conhecida como um centro de prostituição e de jogatina.

Mas houve algo que a Grã-Bretanha não criou em Hong Kong: um governo democrático. Ao contrário do que ocorreu na maioria das outras colônias britânicas, em Hong Kong não se permitiu que nenhuma instituição democrática local se desenvolvesse, pois os britânicos não estavam dispostos a dar à maioria chinesa uma voz na administração. Como resultado, concluiu Welsh, "Hong Kong continuaria tendo uma administração tão antidemocrática quanto qualquer governo chinês, mas com a importante diferença de que a autoridade final seria a lei, e não os caprichos de algum ditador".

O governo central imperial chinês nunca defendeu a liberdade econômica ao longo de sua história, e o período compreendido entre o final do século XIX e início do século XX não foi nenhuma exceção. À medida que o poder do governo central foi se esvanecendo, déspotas e chefes militares regionais começaram a estabelecer centros de poder rivais, mas igualmente predatórios. Os poderios europeu, americano e japonês também se expandiram na China, tentando ampliar o acesso de suas respectivas empresas ao mercado chinês. Mas tais poderios não criaram nenhuma liberdade econômica para a população chinesa dentro de suas esferas de influência.

Neste cenário, a estabilidade política de Hong Kong começou a atrair cada vez mais emigrantes que saíam da China. A população da colônia cresceu de 600.000 em 1920 para mais de um milhão em 1938. À medida que as condições foram se deteriorando na China com a invasão japonesa e com os conflitos entre os déspotas regionais, o Kuomitang (nacionalistas) e os comunistas, uma média de 5.000 migrantes por dia passou a aportar em Hong Kong.

Quando a ocupação japonesa terminou, em 1945, a economia de Hong Kong estava devastada. O golpe comunista na China, em 1949, acelerou a fuga de migrantes para Hong Kong. Em março de 1950, a cidade já tinha 2,3 milhões de pessoas.

Para piorar, embargos ao comércio com a China em 1951, durante a Guerra da Coréia, afetaram severamente a condição de entreposto comercial de Hong Kong, justamente a atividade sobre a qual se baseava uma grande fatia da economia local.

No entanto, havia um aspecto positivo: o golpe comunista na China e a consequente fuga de chineses para Hong Kong forneceu à colônia não apenas um número significativo de mão-de-obra, como também um grande capital humano, formado por empreendedores que conseguiram fugir do exército de Mao. Adicionalmente, a vitória dos comunistas na China fez com que Xangai deixasse de ser um concorrente para Hong Kong.

Superpovoada, refém de embargos comerciais, e com um contínuo influxo de refugiados, o que praticamente estrangulou a infraestrutura da colônia, Hong Kong teve de se reinventar.

A ilha passaria por uma transformação radical no início da década de 1960, com a adoção de políticas econômicas que criaram a potência econômica que Hong Kong hoje. Os detalhes desta transformação serão abordados no próximo artigo.

- http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1803

Com milhões de refugiados chineses, sofrendo com um embargo comercial e com sua infraestrutura estrangulada, a Hong Kong do início da década de 1950 parecia confirmar os prognósticos pessimistas feitos no século XIX.

No entanto, esta enxurrada de refugiados era composta por milhões de indivíduos que, embora completamente pobres, fugiram para Hong Kong em busca de liberdade. E embora Hong Kong não possuísse a infraestrutura adequada para recebê-los, ela fornecia ampla liberdade para qualquer indivíduo que quisesse colocar seus talentos empreendedoriais em ação.

Não havia na ilha as mesmas restrições cambiais vigentes no Reino Unido e em grande parte da Europa — o que significava que o dólar de Hong Kong, que era ancorado à libra esterlina, era livremente conversível em outras moedas —, e a quantidade de regulamentações sobre a economia era desprezível.

A combinação entre mão-de-obra à procura de trabalho e empreendedores com conhecimento e algum capital oriundos de Xangai — até então a grande cidade capitalista chinesa — forneceu a matéria-prima para o crescimento industrial iniciado na década de 1950. A economia começou a prosperar.

Os empreendedores de Hong Kong criaram rapidamente um número impressionante de pequenas e médias empresas durante este período, especialmente no setor têxtil. Estes empreendimentos, os quais acabaram se diversificando e se ramificando para setores como vestuário, plásticos e eletrônicos, produziam principalmente para atender a crescente demanda da Europa e dos EUA por bens manufaturados e baratos.

Essa rápida industrialização da década de 1950 foi possível porque ocorreu em condições nas quais 1) os direitos de propriedade eram respeitados, 2) o poder judiciário era independente e os tribunais, imparciais, e 3) a interferência econômica das autoridades coloniais era mínima.

Como o último governador britânico de Hong Kong, Christopher Patten, escreveu em seu livro de memórias, East and West, os refugiados do comunismo que correram para Hong Kong chegaram à única cidade livre da China; era de fato "a única sociedade chinesa que, por um breve período de 100 anos, viveu um ideal jamais vivenciado em nenhum outro momento da história da sociedade chinesa — um ideal em que nenhum homem tinha de viver com medo de uma batida à porta da sua casa à meia-noite".

Hong Kong tinha um governo limitado e competente, que se restringia a manter a lei e a ordem, e a permitir o funcionamento da economia de mercado. Era um governo que honrava completamente a filosofia confuciana: "Deixe as pessoas locais serem felizes e atraia migrantes longínquos."

Mais impressionante ainda foi o fato de que, enquanto o Reino Unido estava criando um estado altamente intervencionista e assistencialista em casa, sua colônia desfrutava uma política econômica fundamentalmente de livre mercado.

No entanto, houve um responsável pela prolongada existência desta política de livre mercado. Houve uma pessoa que seguidamente contrariou ordens do governo britânico e, com isso, permitiu a prosperidade de Hong Kong.

Sir John Cowperthwaite, o homem que permitiu a prosperidade de Hong Kong

O nome de Sir John James Cowperthwaite (1915—2006) deveria ocupar para sempre o topo do panteão dos grandes libertários. Enquanto vários de nós apenas escrevemos sobre ideias libertárias, este cidadão de fato as transformou em política pública para milhões de cidadãos.

Cowperthwaite foi nomeado secretário das finanças de Hong Kong para o período de 1961 a 1971. Escocês e discípulo fiel de Adam Smith, ele era assumidamente um economista na tradição da Escola de Manchester, ardorosa defensora do livre comércio.

Na época, com a Grã-Bretanha indo a passos firmes rumo ao socialismo e ao assistencialismo, Cowperthwaite permaneceu inflexível: Hong Kong deveria se manter fiel aos princípios do laissez-faire. Tendo praticamente controle completo sobre as finanças do governo de Hong Kong, ele se recusou a impor qualquer tipo de tarifa de importação e sempre insistiu em manter os impostos no nível mais baixo possível.

Ele era um liberal-clássico, bem ao estilo dos liberais do século XIX. Era fiel adepto da ideia de que os países deveriam se abrir unilateralmente para o comércio, sem esperar contrapartidas. Ele já estava em Hong Kong desde 1941, fazendo parte do Serviço Administrativo Colonial. Com a invasão japonesa, ele foi enviado para Serra Leoa. Ao voltar para Hong Kong, em 1946, os britânicos lhe pediram para elaborar planos e programas para que o governo pudesse estimular o crescimento econômico. Cowperthwaite apenas respondeu dizendo que a economia já estava se recuperando sem nenhuma ordem do governo.

Mais tarde, ao ser efetivamente nomeado secretário das finanças, em 1961, ele se tornou um defensor inflexível daquilo que passou a rotular de "não-intervencionismo positivo" e passou a pessoalmente controlar a política econômica da colônia.

Cowperthwaite transformou Hong Kong na economia mais livre do mundo. Durante o seu mandato, o livre comércio foi instituído plenamente, pois Cowperthwaite se recusava a obrigar os cidadãos a comprar bens caros produzidos localmente se eles podiam simplesmente importar produtos mais baratos de outros países. O imposto de renda sempre teve uma alíquota única, de 15%. A total escassez de recursos naturais em Hong Kong — havia apenas a enseada onde está o porto — e o fato de que a ilha tinha de importar até mesmo toda a sua comida tornam o sucesso de Hong Kong ainda mais fascinante.

"Para toda a nossa economia, é preferível confiarmos na 'mão invisível' do século XIX a aceitarmos que as canhestras mãos de burocratas manipulem os delicados mecanismos do mercado", declarou Cowperthwaite em 1962. "Em específico, não podemos deixar que burocratas danifiquem os principais mecanismos da economia, que são a livre iniciativa e a livre concorrência".

Ele não aceitava protecionismo nem para as chamadas "indústrias infantes": "Uma indústria infante, quando protegida e mimada, tende a permanecer infante, e jamais irá crescer e se tornar eficiente". Também acreditava firmemente que, "no longo prazo, o agregado das decisões individuais dos empreendedores, exercitando seu juízo individual em uma economia livre, mesmo cometendo erros, tende a ser bem menos danoso do que as decisões centralizadas de um governo; e certamente o eventual dano tende a ser contrabalançado mais rapidamente."

Desde os dias de John Maynard Keynes, a ciência econômica vem sendo atormentada pela ideia de que a ação humana deve ser destilada em números, os quais se transformam em uma "pretensão ao conhecimento" para aspirantes a planejadores centrais. Nas várias faculdades de economia atuais é difícil saber quando acaba a matemática e quando começa o real conhecimento econômico. Para Cowperthwaite, no entanto, a compilação de estatísticas para planejamento econômico era um anátema. Ele simplesmente se recusou a coletá-las. Quando Milton Friedman lhe questionou, em 1963, a respeito da "escassez de estatísticas", Cowperthwaite respondeu: "Se eu deixá-los coletar estatísticas, irão querer utilizá-las para planejar a economia".

Perguntado qual era a coisa mais premente que os países pobres deveriam fazer, Cowperthwaite respondeu: "Eles deveriam abolir seus institutos de estatísticas econômicas". Ele acreditava que, se estatísticas fossem coletadas em Hong Kong, elas estimulariam o governo britânico a implantar políticas supostamente corretivas, o que inevitavelmente afetaria a capacidade da economia de mercado funcionar corretamente. Isso gerou consternação no governo britânico. Uma delegação de burocratas foi enviada a Hong Kong para descobrir por que as estatísticas não estavam sendo coletadas. Cowperthwaite literalmente mandou-os de volta a Londres no primeiro avião.

O desprezo de Cowperthwaite pela teoria econômica em voga (keynesianismo) e sua abordagem não-intervencionista eram garantia de conflitos diários tanto com o governo britânico quanto com empresários. Os britânicos haviam elevado a alíquota do imposto de renda em Cingapura; quando ordenaram a Hong Kong que fizesse o mesmo, Cowperthwaite recusou. Ele era contrário a dar subsídios e a conceder benefícios especiais para empresas. Quando um grupo de empresários pediu a ele que providenciasse fundos para a construção de um túnel através da enseada de Hong Kong, ele respondeu dizendo que, se o túnel fosse economicamente sensato, o setor privado iria construí-lo. O túnel foi construído privadamente.

O legado de Cowperthwaite

Não obstante sua postura contrária, há estatísticas sobre a Hong Kong daquela época. Durante sua década como secretário das finanças, os salários reais subiram 50%, e a fatia da população vivenda na pobreza extrema caiu de 50 para 15%. O mais impressionante é que Hong Kong fez tudo isso sem contar com nenhum outro recurso que não fosse sua população. A colônia não possuía nenhuma terra agrícola e nenhum recurso natural. E até mesmo o único recurso que ela possuía — as pessoas — não era exatamente muito culto. Com efeito, a maior parte da massa de refugiados que chegou a Hong Kong na década de 1950 seria vista apenas como um fardo para o estado.

Também digno de menção é todo o contexto mundial vigente à época. A transformação de Hong Kong ocorreu exatamente quando os social-democratas controlavam a Europa e quando o democrata Lyndon Johnson e seu programa da Grande Sociedade dominava a política americana, o que refletia o consenso entre as elites políticas da Europa e dos EUA de que assistencialismo e políticas econômicas intervencionistas eram a única direção sensata para as sociedades avançadas. Mesmo nos países em desenvolvimento, políticas econômicas intervencionistas, como a industrialização por meio da substituição de importações — que se baseava na imposição de altas tarifas de importação para proteger as indústrias domésticas — eram a norma.

A pequena Hong Kong, portanto, conseguiu adotar e manter políticas de livre mercado e de livre comércio que iam totalmente contra as políticas dos governos britânico, europeus e americanos, e contra o consenso de economistas desenvolvimentistas em todo o mundo. E fez tudo isso enquanto ainda era pobre e estava perigosamente ao lado de uma poderosa e imperialista ditadura comunista.

É difícil argumentar contra o sucesso. Após a aposentadoria de Cowperthwaite, em 1971, sucessores menos adeptos aos seus princípios se mostraram mais propensos a aumentar os gastos assistencialistas, mas todos os aumentos foram financiados por meio da venda de terras, e não de aumento de impostos. As alíquotas tributárias estão hoje exatamente no mesmo valor em que Sir John James Cowperthwaite as deixou.

O avanço

As políticas de livre comércio, de não-intervenção do estado na economia, de orçamentos governamentais rigidamente equilibrados, de imposto de renda de pessoa física com alíquota única (15%), de mercado de trabalho bastante flexível, de livre fluxo de capitais, de não-restrição a investimentos estrangeiros (estrangeiros podem investir livremente em empresas locais e também deterem 100% do capital) se mantiveram inalteradas após a saída de Cowperthwaite.

Esta política econômica, a qual promoveu a concorrência e o espírito empreendedorial, criou as condições para o acelerado crescimento econômico vivenciado por Hong Kong nas décadas seguintes. Entre 1961 e 2012, o PIB real per capita de Hong Kong foi multiplicado por um fator 9. Hoje, o PIB per capita de Hong Kong, em termos de paridade do poder de compra, é o 7º maior do mundo.

Ou seja, em apenas algumas décadas, Hong Kong, sem recursos naturais, sofrendo dos mesmos problemas enfrentados por todos os outros países em desenvolvimento, e cuja renda média per capita era de apenas 28% da dos residentes do Reino Unido, deixou de ser uma favela a céu aberto e se tornou uma das economias mais ricas do mundo, superando em muito a renda média per capita de sua metrópole.

De economia industrial a uma economia de serviços

O primeiro estágio do desenvolvimento de Hong Kong baseou-se na indústria manufatureira. No entanto, as reformas econômicas feitas na China e a política de abertura ao investimento estrangeiro adotada por Deng Xiaoping a partir de 1978 alteraram profundamente a natureza da economia de Hong Kong nas décadas seguintes.

O setor manufatureiro começou a declinar e a perder peso na economia no final de década de 1970 em decorrência de aumentos nos preços da terra — uma inevitabilidade para um local tão pequeno e povoado — e nos salários. No entanto, a crescente integração econômica entre Hong Kong e China permitiu à ilha realocar sua produção para as zonas econômicas especiais na província adjacente de Guangdong, na China.

Estas zonas, que foram criadas no início de 1980, ofereceram aos investidores de Hong Kong a oportunidade de aumentar sua competitividade ao recorrerem a uma mão-de-obra barata e abundante (chinesa) ao mesmo tempo em que ainda usufruíam as mesmas condições não-intervencionistas do governo chinês quanto recebiam em Hong Kong. De 1978 a 1997, o comércio entre Hong Kong e China cresceu a uma taxa média anual de 28%. Ao final de 1997, o investimento direto feito por Hong Kong representava 80% de todo o investimento estrangeiro direto em Guangdong.

Estes novos desenvolvimentos alteraram significativamente a economia de Hong Kong. A participação da indústria na economia declinou de 31% em 1980 para 14% em 1997 e 8% em 2008; o setor de serviços, por outro lado, aumentou sua participação consideravelmente, de 68% em 1980 para 86% em 1997 e 92% em 2008.

Desde 1997, a economia de Hong Kong se tornou um pólo para serviços de alto valor agregado (finanças, administração, logística, consultoria empresarial, comércio etc.). Atualmente ela atrai tanto empresas chinesas que querem entrar no mercado internacional quanto empresas de todo o mundo que querem ter acesso aos mercados da China e do resto da Ásia.

A manutenção das instituições de livre mercado

Já no início da década de 1980, a perspectiva de uma iminente devolução de Hong Kong à soberania chinesa produziu grande incerteza com relação à manutenção das instituições que tornaram o território uma região rica e próspera. Esta preocupação, no entanto, foi rapidamente abrandada.

Na Declaração Conjunta Sino-Britânica, assinada no dia 9 de dezembro de 1984, foi estabelecido que Hong Kong deixaria de ser um território sob controle britânico no dia 1º de julho de 1997. O princípio do "um país, dois sistemas" também foi acordado nesta data. Com a exceção das relações exteriores e da defesa nacional, o acordo concedeu ampla autonomia ao território e permitiu a Hong Kong manter seu sistema capitalista e seu estilo de vida por um período de 50 anos, até 2047.

Hong Kong hoje é uma Região Administrativa Especial da República Popular da China. Ela preservou o grosso do seu sistema político, judicial, econômico e financeiro que caracterizou a colônia quando estava sob controle britânico. O poder judiciário é independente do poder político e continua a operar sob o sistema do direito consuetudinário herdado dos britânicos. Os direitos de propriedade são garantidos na Constituição da Região Administrativa Especial de Hong Kong. Seus cidadãos desfrutam amplas e fundamentais liberdades individuais.

Conclusão

Em 1960, a renda média per capita de Hong Kong era de apenas 28% da renda média per capita da Grã-Bretanha. Atualmente, é de 140%. Ou seja, de 1960 a 2012, a renda per capita de Hong Kong deixou de ser de aproximadamente um quarto da da Grã-Bretanha e passou a ser mais de um terço maior. É fácil falar destes números. Muito mais difícil é se dar conta de sua significância.

Compare a Grã-Bretanha — o berço da Revolução Industrial, a potência econômica do século XIX em cujo império o sol jamais se punha — a Hong Kong, uma mera restinga de terra, superpovoada, sem nenhum recurso natural, exceto uma enseada. No entanto, em menos de quatro décadas, os residentes desta restinga de terra alcançaram um nível de renda um terço maior do que aquele desfrutado pelos residentes de sua metrópole.

O retorno de Hong Kong à China era inevitável, assim como era inevitável a determinação do governo chinês em preservar o capitalismo de Hong Kong. O interesse da China em preservar sua galinha dos ovos de ouro era claro: a China sempre utilizou Hong Kong — a qual ela podia atacar e tomar à força a qualquer momento — como um meio de acesso aos mercados estrangeiros e também como fonte de capital. Houve épocas em que 80% das receitas externas da China entrava através de Hong Kong. A China também queria demonstrar a Taiwan que uma reunificação pacífica era possível.

O perigo sempre foi o de a liderança chinesa não entender a relação entre o hardware de Hong Kong (a economia capitalista) e o seu software (uma sociedade pluralista). É o seu software que permite que seu hardware funcione tão bem. Até o momento, os novos governantes de Hong Kong vêm se comprovando notavelmente aptos a dar continuidade ao funcionamento harmônico entre o hardware e o software. A grande questão é se isso permanecerá assim no futuro.

Não foram apenas os britânicos que fizeram de Hong Kong um sucesso. Foi principalmente a população de Hong Kong, de operários de fábricas a empreendedores, quem transformou uma ilha estéril em potência econômica. Essas pessoas foram capazes de fazer isso porque o governo de Hong Kong, na maior parte do tempo, as deixou em paz. Hong Kong está longe de ser perfeita, e longe de ser um paraíso libertário. Mas permanece sendo um dramático exemplo de como a genialidade humana e o talento empreendedorial podem trazer prosperidade a uma sociedade originalmente pobre.

Por que Hong Kong sempre foi tão livre? Em parte, Hong Kong teve a sorte de ser governada por homens que entendiam que sua função era bastante limitada. Não era exatamente o ideal liberal-clássico, mesmo sob Cowperthwaite, mas ainda assim foi a sociedade que mais significativamente se aproximou deste ideal no século XX. E a combinação entre a incapacidade do governo britânico em fornecer instituições democráticas e sua falta de interesse em Hong Kong permitiu àqueles homens manter suas políticas econômicas, mesmo enquanto sua própria Grã-Bretanha natal experimentava o desastre econômico do socialismo light dos anos 1950-70. Hong Kong também se beneficiou do exemplo das desastrosas políticas econômicas da China na década de 1960. Com tantos residentes chineses fugindo do comunismo e se refugiando em Hong Kong, a demanda por liberdade era alta.

Hong Kong é um dos mais formidáveis e conclusivos exemplos de uma sociedade que teve grande êxito em fugir do subdesenvolvimento e enriquecer recorrendo à liberdade econômica. Hong Kong teve sorte em ter tido essa liberdade. E a sua população provou que a liberdade funciona.

-http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1804

Danilo, esses textos que vc vem compartilhando do IM acertam em quase tudo. Porém, devemos ser cautelosos. A idéia do livre mercado é muito bonita na teoria mas vejo que o Estado tem sim uma participação importante. Sem duvida, nao do jeito que é (e muito menos criando "intervencionismo para ajudar o pequeno empresário", como você muito bem colocou). Não podemos nos esquecer que o objetivo da empresa é gerar valor para seus acionistas.Ao conhecer um pouco de microeconomia e mercado, sabemos que os direcionadores do valor das empresas muitas vezes fomentam piora do quadro social. Um Estado eficaz (nem grande, nem pequeno demais) que corrija essas distorções, fomente a concorrencia leal atraves de regulamentações corretas e invista na diminuição da desigualdade de partida das pessoas é, a meu ver, um agente muito bem-vindo.

Editado por Arex
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Como a busca por lucro ocasiona a piora no quadro social (considerando que se respeite as leis)? Busca por lucro implica em mais produtividade, inovação, queda de preços e consequentemente aumento de poder de consumo da população.
Desigualdade é essencial pra uma economia/sociedade saudável... Vê o Brasil hoje a merda que está e que vai ficar pior, gente com 2 diplomas na mão e desempregado ou trabalhando em emprego comum e trabalhador braçal em falta ganhando mais que alguns diplomados.

Distribuir renda é destruí-la, concentração de renda = investimento = expansão econômica.

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