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Endorfina E Exercícios


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b - Endorfinas e Exercício

Ricardo Dantas de Lucas

Quem nunca experimentou a sensação de bem estar, euforia ou relaxamento proporcionada após o término de um treino ?

Neste artigo serão discutidos alguns aspectos relacionados a estas alterações no comportamento e as alterações da b-endorfina durante e após o exercício.

Dentre as várias substâncias que são diariamente secretadas em nosso organismo a fim de manter sempre um funcionamento orgânico equilibrado (homeostase), os hormônios são as que desempenham o papel principal. Os hormônios são substancias que são produzidas em glândulas especificas do corpo (célula hospedeira) e atuam sobre outros tecidos ou órgãos do corpo (células alvos).

Em situações de desequilíbrio orgânico qualquer, os hormônios entram em cena a fim de amenizar ou restabelecer a homeostase (psicofisiológica). Podemos considerar o exercício físico como sendo uma situação de estresse ao organismo, já que diversas funções e necessidades orgânicas (principalmente energéticas) são alteradas. Dentre os diversos hormônios que são liberados constantemente no organismo, os opióides endógenos, sendo as mais conhecidas a b-endorfina, e também a encefalina e a dinorfina, parecem desempenhar um papel bastante importante no controle do estresse.

Na década de setenta, enquanto um grupo de cientistas estudavam os efeitos analgésicos dos peptídios opiáceos (como a morfina) sobre a função cerebral, descobriram que nosso cérebro apresenta áreas receptoras que reconhecem estas substâncias como neurotransmissores ou neuromoduladores, concluindo que nosso próprio cérebro produzia substâncias semelhantes aos opiáceos, capazes de realizar alterações comportamentais.

Atualmente sabemos que a b-endorfina é responsável por diversas alterações psicofisiológicas, que vão desde o controle da dor até a sensação de bem estar proporcionada pela prática da atividade física (Harber & Sutton, 1984), embora alguns autores ainda discordem (McGowan et al., 1993). A b-endorfina pode ser encontrada basicamente em regiões específicas do sistema nervoso central (SNC), ou mesmo na circulação sangüínea (plasmática). Assim sendo, Thorén et al. (1990) apontam que a b-endorfina pode ter tanto um efeito sobre áreas cerebrais responsáveis pela modulação da dor, do humor, depressão, ansiedade como pela inibição do sistema nervoso simpático (responsável pela modulação de diversos órgãos como coração, intestino etc...). Desta forma muitos estudos tem tentando verificar o efeito do exercício físico sobre as concentrações de endorfinas no SNC (cérebro) ou no plasma. Estudos que tentam identificar estes opióides no SNC são bastante invasivos e consequentemente restritos a animais. Shyiu et al. (1982) encontrou um aumento significativo nas concentrações cerebrais de b-endorfina e consequentemente um aumento no limiar da dor após um exercício prolongado de intensidade moderada, em ratos. Hoffmann et al. (1990) encontrou que estes níveis elevados de b-endorfina no SNC permanecem elevados até 48 horas após exercício, retornando aos valores normais em 96 horas após o exercício, também em ratos. Desta forma estes estudos demonstram que o exercício prolongado altera as concentrações b-endorfina no SNC, sendo possivelmente responsáveis pelas alterações comportamentos. Entretanto devemos analisar estes resultados com cuidado, pois são estudos que utilizam um modelo experimental animal e podem se diferir significantemente das respostas em humanos. Em humanos, muitos estudos tem verificado as respostas da b-endorfina plasmática (sangüínea) durante o exercício e suas possíveis conseqüências. Atualmente sabemos que a b-endorfina é secretada para o sangue, pela glândula pituitária (também conhecida como hipófise), que é responsável pela liberação de diversos outros hormônios, entre eles o hormônio de crescimento (GH). Heitkamp et al. (1993) verificaram um aumento plasmático significante das b-endorfina e também do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) (hormônio hipofisiário que irá estimular a produção de adrenalina e cortisol, hormônios típicos do estresse), após uma corrida de maratona. O aumento dos dois hormônios ocorreu de forma bastante similar, atingindo os valores mais altos ao término da corrida (~ 5 vezes maior que em repouso) e retornando aos valores de repouso após 24 horas. Desta forma a b-endorfina é liberada em situações de estresse do organismo e parece estar envolvida na promoção de um efeito analgésico, e também na melhora dos aspectos emocionais. Por outro lado alguns estudos não tem verificado aumento da b-endorfina após exercícios de intensidade leve a moderada (< 60% VO2max) (Langenfeld et al., 1987). O exercício de musculação (resistência) também parece não ser capaz de alterar a concentração plasmática de b-endorfina, como demonstrado recentemente por Kraemer et al. (1996). Desta forma a intensidade e a duração do exercício parece ser responsável pela potencial alteração destas substâncias no sangue. A fim de verificar as respostas da b-endorfina e outros hormônios durante um exercício predominantemente aeróbio e anaeróbio, Schwarz & Kindermann (1990) compararam em uma bicicleta ergométrica, um exercício contínuo com cagas incrementais (aeróbio) e um exercício máximo de 1 minuto de duração (anaeróbio). Estes autores encontraram aumentos similares ao término dos dois tipos de exercício, embora durante o teste incremental o aumento significante da b-endorfina ocorreu somente após o limiar anaeróbio (~75 % VO2max). Estes autores encontraram ainda uma forte relação entre a b-endorfina e outros hormônios relacionados ao exercício (ACTH, Adrenalina).

Outros estudos demonstraram não existir diferenças na concentrações de b-endorfina entre os sexos (Rahkila et al., 1987), embora muitos autores associam o aumento da secreção desta substância à alguns distúrbios no ciclo menstrual da mulher. Isto provavelmente ocorre pelo efeito da b-endorfina em inibir a liberação do hormônio estimulador da gonadotrofina, que também é liberado pela hipófise e irá estimular a produção dos hormônios sexuais (McArthur & Simmons, 1985).

Embora muitos estudos tem sido realizados a fim de melhor compreender as respostas dos opióides endógenos durante o exercício, muitas dúvidas ainda permanecem e devem ser melhor investigadas, embora existam um consenso de que de que exista uma grande variação interindividual, nas respostas dos opióides endógenos ao exercício. Grande parte da alterações do estado de humor e bem estar que seguem um prática de atividade física, pode ser atribuída aos efeitos no SNC que a b-endorfina proporciona (Harber & Sutton, 1984).

Uma possível dependência causada pelo exercício físico também vem sendo alvo de estudos recentes. Muitos de nós já experimentou a sensação de desconforto, irritabilidade, ansiedade, alteração no estado do humor e depressão causada pela deprivação de um ou alguns dias de treino. Estas sensações desagradáveis parecem ser similares a síndrome de abstinência que grande parte das drogas causa, e possivelmente estão relacionadas a produção e dependência dos opióides endógenos.

Thorén et al. (1990) aponta que o álcool estimula a produção dos opióides endógenos em certas áreas do SNC, sendo um dos fatores que causa dependência desta substância. Desta forma estes autores propõem que o exercício físico regular juntamente com um tratamento psiquiátrico e uma intervenção psicossocial podem favorecer uma conversão da fonte exógena da dependência dos opióides (alcoolismo) para uma dependência endógena proporcionada pelo exercício.

Embora exista muitas publicações científicas nesta área, algumas dúvidas ainda permanecem, como por exemplo:

Qual a quantidade mínima de exercício, para causar este efeito de "dependência" e abstinência ?

Será que com o treinamento, o organismo necessita de menores concentrações destes opióides endógenos para causar os mesmos efeitos?

Qual a intensidade e duração mínima capaz de causar aumentos significativos na produção destes substâncias ?

Será que exercícios que utilizem grupos musculares maiores, proporcionam maior estímulo para a produção deste opióides ?

Mesmo ainda existindo muitas duvidas e incertezas em relação aos mecanismos exatos da relação dos opióides endógenos e o exercício, podemos afirmar com certeza que a atividade física regular constitui em uma das melhores maneiras de atingir um equilíbrio total do organismo (saúde física e mental).

Referencias Bibliográficas

Langenfeld, M.E.; Hart, L.S.; Kao, P.C. Plasma b - endorfina response to one-hour bicycling and running at 60% VO2max. Med Sci Sports Exerc. V. 19, pp.83-86, 1987.

Harber VJ; Sutton JR Endorphins and exercise. Sports Med v.1(2), pp. 154-71, 1984.

Heitkamp, H-Ch.; Schmid, K.; Scheib, K. b - endorfina and adrenocorticotropic hormone production during marathon and incremental exercise. Eur. J. Appl Physiol. v. 66, pp. 269-274, 1993.

Hoffmann, P.; Terenius, L.; Thorén, P. Cerebrospinal fluid immunoreactive beta-endorphin concentration is increase by long-lasting voluntary exercise in the spontaneously hypertensive rat. Regulatory Peptides, v. 28, pp. 233-239, 1990.

McArthur, J.W. Endorphins and exercise in females: possible connection with reproductive dysfunction. Med Sci Sports Exerc. V. 17, pp. 82-88, 1985.

McGowan RW; Pierce EF; Eastman N; Tripathi HL; Dewey T; Olson K. Beta-endorphins and mood state during resistance exercise. Percept Mot Skills v. 76(2), pp. 376-8, 1993.

Mondin GW; Morgan WP; Piering PN; Stegner AJ; Stotesbery CL; Trine MR; Wu MY. Psychological consequences of exercise deprivation in habitual exercisers. Med Sci Sports Exerc. V. 28(9), pp.1199-1203, 1996.

Rahkila, P..; Hakala, E.; Salminen, K.; Laatikainen, T. Response of plasma endorphins to running exercise in male and female endurance athletes. Med Sci Sports Exerc. V. 19, pp. 451-455, 1987.

Schwarz, L ; Kindermann, W. b - Endorfina, adrenocorticotropic, cortisol and catecholamines during aerobic and anaerobic exercise. Eur. J. Appl Physiol. V. 61, pp. 165-171, 1990.

Shyu, B-C.; Andersson, A; Thorén, P. Endorphin mediated increase in pain thresold induced by long-lasting exercise in rats. Life Sci. V. 30, pp. 833-840, 1982.

Thorén, P.; Floras, J.S.; Hoffmann, P.; Seals, D.R. Endorphins and exercise: physiological mechanisms and clinical implications. Med. Sci. Sports Exerc. V. 22 (4), pp. 417-428, 1990.

Site: totalsport

Postado

Excelente texto...muito ainda se tem a descobrir sobre este "doce prazer" de treinar.

Dependência do treino? xiiii, faz pensar, eu com esta idade pensava que estava no caminho de me livrar de todas as dependencias! posso-vos dizer que já tive dependencia de muitas coisas, assim por alto posso-vos dizer que durante 13 anos fui um viciado em heroína (parente proximo da morfina)

Mas tem algo de dependencia sim, quando não vou treinar fico tipo de "ressaca", fico mesmo mal, claro que não é nenhum "sindrome de abstinência" puro e duro. Actividade física eatá provado que liberta as tais endorfinas (morfina endógena, do interior), eu depois do treino tenho um timing em que sinto perfeitamente seu efeito: cerca de 2horas, nas quais me sinto cansado fisicamente é verdade, mas muito bem psicológicamente! além dos efeitos a longo prazo na aparencia física, na saúde, auto-estima e por aí adiante.

Desculpem esta minha "confissão", mas este é um tema no qual penso muitas vezes, este do prazer pós-treino.Falei-vos um pouco do meu passado, sei que não tem nada a ver com musculação, não o faço para me armar em bom ou vencedor, não sou nada disso, sou uma pessoa que teve muitos problemas, que tem algúns ainda, que descobriu o lado bom e salutar da vida com 30 e muitos anos através do desporto.

...então que seja um viciado em musculação!

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Excelente texto...muito ainda se tem a descobrir sobre este "doce prazer" de treinar.

Dependência do treino? xiiii, faz pensar, eu com esta idade pensava que estava no caminho de me livrar de todas as dependencias! posso-vos dizer que já tive dependencia de muitas coisas, assim por alto posso-vos dizer que durante 13 anos fui um viciado em heroína (parente proximo da morfina)

Mas tem algo de dependencia sim, quando não vou treinar fico tipo de "ressaca", fico mesmo mal, claro que não é nenhum "sindrome de abstinência" puro e duro. Actividade física eatá provado que liberta as tais endorfinas (morfina endógena, do interior), eu depois do treino tenho um timing em que sinto perfeitamente seu efeito: cerca de 2horas, nas quais me sinto cansado fisicamente é verdade, mas muito bem psicológicamente! além dos efeitos a longo prazo na aparencia física, na saúde, auto-estima e por aí adiante.

Desculpem esta minha "confissão", mas este é um tema no qual penso muitas vezes, este do prazer pós-treino.Falei-vos um pouco do meu passado, sei que não tem nada a ver com musculação, não o faço para me armar em bom ou vencedor, não sou nada disso, sou uma pessoa que teve muitos problemas, que tem algúns ainda, que descobriu o lado bom e salutar da vida com 30 e muitos anos através do desporto.

...então que seja um viciado em musculação!

Putz, é muito bom mesmo a sensação, caramba eu fico no máximo 1hr sentindo o efeito analgésico da endorfina, e vc consegue 2h bom pra vc hein, hahahaha!

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