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Postado

Cara, qualquer produto que seja exposto a concorrentes mais efientes na produção e que ofereçam com maior qualidade/ menor preço, vai consequentemente perder esse mercado, então ou ele procura meios de melhorar a qualidade de seus produtos ou aceitam a inevitável perda de mercado ou mesmo falência

Teorias econômicas são lindas, mas na maioria das vezes falham por não contemplar situações políticas e culturais.

Marketing não é apenas produto preço.

Para Kotler, Eram produto, praça, preço e promoção

Ainda existem variáveis de entrada de mercado, como potencia dos concorrentes e mercado abrangido por eles.

Hoje vejo protecionismo necessário, em APENAS ALGUNS SETORES, para igualar vantagens competitivas fornecidas por governantes anteriores.

Postado

Teorias econômicas são lindas, mas na maioria das vezes falham por não contemplar situações políticas e culturais.

Marketing não é apenas produto preço.

Para Kotler, Eram produto, praça, preço e promoção

Ainda existem variáveis de entrada de mercado, como potencia dos concorrentes e mercado abrangido por eles.

Hoje vejo protecionismo necessário, em APENAS ALGUNS SETORES, para igualar vantagens competitivas fornecidas por governantes anteriores.

Teorias economicas apenas tentam encontrar meios mais eficientes de gerir os meios escassos, agora isso não quer dizer que na prática vai ser tudo lindo... principalmente se alguns metidinhos a "sabe tudo" começarem a interferir no seu curso natural

Não consigo imaginar um setor onde seja necessário protecionismo, tem como citar e discorrer sobre alguns?

Postado

Postei em outro tópico, mas como o foco não estava em discutir essa questão de de protecionismo passou meio desapercebido. Posto novamente:

https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1645

" A regra básica do comportamento humano, ou ninguém troca 10 por 9

O comportamento humano é um ato de vontade. Por ser um ato volitivo escolhemos e adotamos o tipo de comportamento que nos parece ser, nas circunstâncias, o mais conveniente. Todas as formas de comportamento são, em princípio, passíveis de ser escolhidas e adotadas.

Convém, preliminarmente, esclarecer que devemos entender comportamento humano como uma forma de ação que tem condições de ser adotada; uma forma de ação cuja implementação esteja ao nosso alcance. Portanto, apenas escolhemos, entre as formas de comportamento possível, aquele que nos parece ser o mais adequado. Obviamente, de nada nos adiantaria escolher um comportamento impossível. Seria uma contradição. Convém também não confundir comportamento com desejo: comportamento é uma forma de ação que só depende de nós; desejo é algo que, para ser realizado, depende não só de nosso comportamento, mas também de circunstâncias exógenas. Ganhar na loteria é um desejo; comprar um bilhete é um comportamento.

Entre os diversos comportamentos possíveis, existem alguns que provocam consequências que nos são desagradáveis, embora num primeiro e mais rápido juízo possam ter-nos parecido um caminho mais curto e menos penoso para a consecução do objetivo pretendido. Assim sendo, na medida em que sejamos capazes de identificar essas consequências desagradáveis como decorrentes do comportamento adotado, ou seja, na medida em que tenhamos consciência das relações de causa e efeito, reduzimos o espectro de nossas escolhas, pela exclusão daquelas ações cujas consequências desejamos evitar. As primeiras grandes limitações ao exercício de nossa vontade na escolha do comportamento que iremos adotar nos são determinadas pelas leis naturais. Sabemos todos que não devemos sair andando pela janela ou colocar a mão no fogo para apanhar um objeto, embora essa pudesse ser a nossa melhor opção, não fossem as bem conhecidas e desagradáveis consequências que as leis físicas e fisiológicas impõem ao nosso comportamento.

Mais importante ainda que as limitações impostas pelas leis naturais — e de consequências bem mais severas — são as limitações impostas pelas leis praxeológicas, ou seja, pelas leis do comportamento humano. Praxeologia (praxis — ação + logia — ciência) foi a denominação dada por Ludwig von Mises à ciência da ação humana na sua "ópera magna" — Ação Humana, publicada em 1949.

Entretanto, as limitações decorrentes das leis do comportamento humano não têm sido tão respeitadas como deveriam, sobretudo em virtude de suas consequências estarem geralmente distantes das respectivas causas, dificultando a percepção da relação de causa e efeito, o que faz com que soframos as consequências sem saber a que causas atribuí-las, levando-nos, não raro, a apontar falsos culpados para as mazelas que estão nos incomodando.

Valendo-nos de um aforismo criado pela sabedoria popular, podemos enunciar a regra básica do comportamento humano reduzindo-a à sua expressão mais simples, como sendo: "Ninguém troca 10 por 9." Vale dizer: voluntariamente, ou seja, por vontade própria ninguém troca algo a que atribui mais valor por algo a que atribui menos valor.

Obviamente, ninguém troca 10 por 9: ninguém troca 10 dólares por 9 dólares. Quem quiser assim proceder não precisa encontrar um parceiro para efetuar uma troca: basta renunciar ao que tem. Os que assim o desejarem são livres para fazê-lo até o limite de suas propriedades, num primeiro momento, e até o sacrifício de sua própria vida, num caso mais extremo. Convém esclarecer, apenas por uma questão de precisão conceitual, que quem assim agisse, por livre e espontânea vontade, não estaria trocando 10 por 9; estaria preferindo se desfazer daquilo a que atribui menos valor — seus bens e sua própria vida — para receber em troca aquilo a que atribui maior valor — a gratidão dos que beneficiou ou a satisfação íntima de ter feito o que considera ser um bem.

Ninguém, de livre e espontânea vontade, troca 10 por 9. É uma impossibilidade lógica. Ninguém conseguirá apontar uma situação ou uma circunstância em que essa regra possa ser negada. Embora, na vida real, as escolhas que temos que fazer sejam bem mais complexas, por mais complexas que sejam a lógica subjacente é sempre a mesma: ninguém troca aquilo a que atribui mais valor — no sentido mais amplo do termo — por algo a que atribua um valor menor. Ou seja: ninguém age para causar a si próprio uma insatisfação.

Por maior que seja o grau de complexidade de nossas escolhas e das trocas que fazemos no nosso dia-a-dia, envolvendo valores de natureza exclusivamente material ou de natureza sentimental, moral, afetiva ou estética, a lógica subjacente será sempre a mesma. Numa troca voluntária estaremos sempre recebendo algo a que damos mais valor e renunciando àquilo a que damos menos valor. Estaremos sempre trocando 9 por 10. Ninguém troca 10 por 9.

E, se estamos sempre trocando 9 por 10 e se a outra parte também está trocando 9 por 10, temos que após uma troca voluntária ambos ganham. Ambos resultam com algo a que dão mais valor. É, como se diz no jargão econômico, um jogo de soma positiva. Numa troca voluntária há como que uma criação de valor, uma vez que ambos os participantes, pela sua própria avaliação subjetiva, tiveram um aumento de satisfação.

Um produtor de maçãs pode propor ao seu vizinho — produtor de uvas — trocar uma caixa de maçãs por uma caixa de uvas. Como tem muitas maçãs, atribui um valor maior à caixa de uvas que receberá em troca. Para ele a troca é vantajosa, porque estará trocando algo a que atribui menos valor por algo a que atribui mais valor; para o seu vizinho a troca é também vantajosa, porque para ele, pelas mesmas razões, uma caixa de uvas tem menor valor do que uma caixa de maçãs.

Ludwig von Mises, no seu já citado livro Ação Humana, analisa esse conceito de forma bastante completa, mostrando exaustivamente que toda ação humana é um comportamento propositado: visa passar de um estado de menor satisfação para um estado de maior satisfação. Essa definição de ação humana é universal; não comporta exceções: ninguém poderá apontar um vago período da história ou uma tribo da Polinésia onde essa definição não se aplique. É um comportamento intrínseco ao ser humano; faz parte da lógica da vida.

Geralmente associamos estado de maior satisfação com melhoria da situação econômica. Mas é importante assinalar que o aumento de satisfação de natureza essencialmente econômica é apenas um caso particular de um fenômeno muito mais abrangente. A relação com a pessoa amada, o prazer da experiência estética e a busca do conhecimento são comportamentos que habitualmente nos levam a alcançar um estado de maior satisfação. O amor, a beleza e a verdade serão sempre fontes inesgotáveis de aumento de satisfação. Nas transações meramente econômicas o aumento de satisfação propiciado pela ação é denominado lucro; entretanto, lucro, no seu sentido mais abrangente, é o objetivo de toda ação humana. É preciso também se ter em mente que as escolhas feitas pelo homem são sempre escolhas individuais e nunca coletivas; o fato de numa comunidade a maioria das pessoas perseguir objetivos semelhantes usando meios análogos configura apenas a existência de um estágio cultural, ou seja, uma mesma forma de reagir às mesmas circunstâncias, e nunca uma decisão coletiva.

No exame das consequências do comportamento humano é mister distinguir comportamento propositado de comportamento instintivo, que é próprio dos animais e também do homem enquanto animal. As respostas instintivas e automáticas das células, órgãos e nervos de um animal estão impressas no seu código genético; não são um comportamento voluntário, fruto de uma escolha racional. Não são um ato de vontade e, como tal, não são passíveis de erro; são respostas invariáveis, ou melhor, que só variam quando as circunstâncias do acaso assim o provocam; e a necessidade, considerando o acréscimo de coerência e de eficácia trazido ao sistema, fixa essa nova forma de comportamento. Assim têm evoluído as espécies animais. Jacques Monod, ganhador do prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1965, no seu trabalho O Acaso e a Necessidade, desenvolve o tema de forma bastante clara, tornando-o compreensível mesmo para o leitor não especializado no assunto.

Já no caso dos seres humanos, ao comportamento instintivo se sobrepõe o comportamento propositado, fruto do emprego da razão, de que só o homem é dotado. O homem tem assim a capacidade e a possibilidade de influir na sua própria evolução, o que, sendo uma vantagem muito grande, pode também representar um risco desastroso. O processo civilizatório é uma ampla evidência dessa capacidade de o homem influir na sua própria evolução. O processo civilizatório consiste basicamente em tornar possível a existência de bens e serviços para cuja produção seja necessária uma seqüência de atividades intermediárias que se estendem ao longo do tempo e do espaço. Se o homem não tivesse tornado possível a produção de bens e serviços que demandam um alongamento do tempo e do espaço (no sentido de usar materiais e insumos que estão cada vez mais distantes do seu espaço de produção e consumo), estaria até hoje vivendo apenas "da mão para a boca".

O que tornou possível esse alongamento do processo produtivo e, portanto, do aumento da capacidade humana de gerar novas e maiores formas de satisfação foi a adoção de regras de conduta moral que inibissem o uso exclusivo da vontade, fazendo com que o homem considerasse, na escolha de seu comportamento, as consequências desagradáveis que adviriam se essas regras de conduta não fossem respeitadas. De certa forma, podemos dizer que a adoção de regras de conduta constitui um processo de contenção dos instintos pelo uso da razão. O ser humano civilizado, de uma maneira geral, não procura satisfazer os seus apetites tomando pela força o que pertence ao seu vizinho ou atacando uma fêmea que lhe desperte atração sexual, porque já percebeu — graças à razão de que é dotado — que esse comportamento, se generalizado, lhe será prejudicial e lhe acarretará uma diminuição de satisfação. Se o homem não tivesse universalmente adotado as regras do "Não matarás" e "Não roubarás" estaria ainda hoje vivendo praticamente como um animal.

E essas regras não poderiam vir a ser universalmente adotadas se o homem não tivesse também percebido a necessidade de criar um aparato de coerção — geralmente denominado estado — com a finalidade precípua de fazer cumprir essas regras e de punir os seus eventuais transgressores. Que o estado, que é um mero instrumento a serviço do homem, tenha se afastado dessa sua função precípua não deve ser entendido como uma condenação de sua existência, e sim como um mau uso feito pelos homens de um instrumento indispensável à existência do processo civilizatório.

Na escolha e na adoção das regras de conduta que o aparato de coerção do estado fará respeitar é indispensável levar em consideração as leis básicas do comportamento humano. Regras de conduta que nos obriguem a trocar 10 por 9, embora possam parecer benéficas no curto prazo, a longo prazo não serão obedecidas em virtude das consequências desagradáveis — e mesmo catastróficas — que inexoravelmente provocam. Tentaremos mostrar que muitas vezes, geralmente por um ato de coerção, como, por exemplo, uma intervenção do estado, somos levados a tomar decisões que implicam trocar 10 por 9, cujas consequências desastrosas não são percebidas como tendo sido causadas pela infausta intervenção que, freqüentemente, continua a prevalecer simultaneamente com o alarido e a reclamação contra as consequências causadas pela própria intervenção. Ou seja: somos levados a trocar 10 por 9, continuamos a fazê-lo e ao mesmo tempo reclamamos das consequências sem nos apercebermos da causa de nosso infortúnio. É como se continuássemos a colocar a mão no fogo e a reclamar de que a nossa mão está sendo queimada, sem nos darmos conta de que a queimadura decorre de estarmos colocando a mão no fogo.

E é compreensível que assim seja, uma vez que o comportamento propositado, por ser um ato de vontade fruto da análise que o homem faz de suas circunstâncias, é passível de erro. As circunstâncias podem ser enganadoras, a razão pode ser superficial, as informações podem estar deformadas, e a escolha feita pelo homem pode se revelar errada. Errada no sentido de que a ação escolhida não irá proporcionar o aumento de satisfação cuja expectativa havia motivado a ação. A correta compreensão da lei básica do comportamento humano poderá nos ajudar a diminuir os erros que cometemos e, portanto, as consequências deles decorrentes. Sim, porque se erros não tivessem consequências não teriam importância nem precisariam ser evitados. Erro, no caso, significa um comportamento adotado na presunção de que nos propiciará um aumento de satisfação mas que, na realidade, provoca um aumento de desconforto.

O fato de o homem sempre trocar 9 por 10 faz com que exista, entre os seres humanos, o que se chama de progresso. Ao longo de sua história, por ter cometido muito mais acertos do que erros, o homem progrediu. Não se poderá dizer o mesmo dos animais: ninguém poderá falar do progresso das girafas ou das abelhas. O conceito de progresso só se aplica ao ser humano em virtude da razão de que é dotado.

Mas, se cometeu mais acertos do que erros, nada impede que venha a cometer mais erros do que acertos, bastando para tal um mau uso da razão e uma inadequada compreensão de suas circunstâncias. O homem, por isso, se por um lado é capaz de promover o progresso pode, também, diferentemente dos animais, promover o atraso e até mesmo, no limite, provocar a sua própria extinção, em virtude de seus próprios erros. Não se está querendo dizer com isso que o homem esteja correndo o risco, ainda que remoto, de extinção, mas apenas ressaltar que essa não é uma impossibilidade lógica, bastando para tal que passe a trocar 10 por 9 pensando que está trocando 9 por 10. E, se a extinção é uma hipótese meramente conjectural, o possível empobrecimento ou não-enriquecimento é uma circunstância concreta e perfeitamente identificável no nosso dia-a-dia.

Os objetivos que cada um pretende alcançar — e, portanto, o que cada um entende como "progresso" — variam de indivíduo para indivíduo e, no mesmo indivíduo, podem variar de um momento para outro. O que para um indivíduo poderá ser visto como um aumento de satisfação poderá, para outro, ser entendido como um aumento de desconforto. Ninguém, a não ser o próprio indivíduo, pode avaliar as suas circunstâncias. Afinal, o ser humano é a única testemunha de si mesmo. Por isso não é possível a alguém ou ao órgão central de um governo estabelecer os objetivos a serem perseguidos pelos indivíduos e muito menos tentar implementá-los.

Para que o nível de acertos seja o maior possível, é indispensável que se respeitem dois postulados: primeiro, que o homem seja livre para fazer as suas escolhas, porque só ele dispõe das informações que são próprias de suas circunstâncias e ninguém as conhece tão bem quanto ele; e, segundo, que seja respeitado o princípio da responsabilidade individual, para que cada indivíduo se beneficie dos seus acertos e sofra as consequências de seus erros, o que fará com que, num permanente processo de feedback, possa modificar as suas escolhas e alterar o seu comportamento. A tentativa de determinar, invocando razões de natureza política, social ou de qualquer outra natureza, quais devam ser os objetivos individuais só pode ser efetivada pelo uso da coerção e constitui o que Friedrich von Hayek, no seu último livro, qualificou de "Presunção Fatal", por conter subjacente a pretensão de que alguém — seja o rei-filósofo de Platão, ou um déspota esclarecido, ou um comitê central, ainda que eleito democraticamente — possa conhecer as circunstâncias de cada indivíduo. Essa mesma percepção já havia levado Kant a dizer, com propriedade: "Ninguém pode me obrigar a ser feliz à sua maneira."

Se no escopo geral de nossas decisões — a escolha do cônjuge, de nossa profissão, de quem vamos nos tornar amigos — a grande maioria concordará que a decisão deve ser deixada a cargo de cada indivíduo, no caso das decisões de natureza tipicamente econômica um grande número de pessoas, se não mesmo a maioria (ou, pelo menos, a maioria dos que detêm o poder), é propenso a acreditar que deve interferir nas decisões individuais, geralmente sob o pretexto de que se assim não o fizerem os indivíduos que foram capazes de escolher o cônjuge, decidir ter filhos, escolher o presidente da República, etc. não serão capazes de fazer a escolha que melhor convém aos seus interesses. Assim sendo, através do poder de coerção do estado interferem nas decisões econômicas, tentando determinar qual deve ser o salário, a jornada de trabalho, a taxa de juros, a taxa de câmbio, o preço das mercadorias, o nível de competição empresarial e tantas coisas mais.

Esse procedimento, por beneficiar alguns e prejudicar outros — geralmente a grande maioria — e por não dispor de um mecanismo nítido de feedback, como na decisão individual, pode fazer com que se persista no mesmo erro durante décadas sem que se perceba que estamos sendo obrigados a trocar 10 por 9 e, por conseguinte, empobrecendo. Os benefícios, por estarem concentrados em alguns grupos, são bem identificados, enquanto os malefícios, estando dispersos no grande número, não chegam a ser claramente percebidos; formam-se, assim, os grupos de pressão que defendem a intervenção que lhes é benéfica sem encontrar resistência da grande maioria que está sendo prejudicada.

Por isso, tanto no caso das decisões de natureza econômica quanto no caso de decisões de natureza afetiva, política ou de qualquer outra natureza, para que o número de acertos e o aumento de satisfação sejam cada vez maiores, é indispensável, convém repetir, que prevaleça a liberdade individual e que os indivíduos sofram ou usufruam as consequências de suas escolhas. O estado, que detém o monopólio da coerção, tem como função precípua garantir esse direito à liberdade individual não só nos seus aspectos políticos, mas também nos seus aspectos econômicos. Se assim o for, prevalecerá na sociedade uma economia de mercado. A economia de mercado é um fenômeno natural, como o leito de um rio no seu caminho para o mar. O estado não tem como implementá-la; pode apenas obstruí-la. Os indivíduos, desde que lhes seja garantida a liberdade, empregarão o melhor do seu esforço e do seu talento para trocar 9 por 10, numa troca voluntária em que sempre ambas as partes ganham, e a comunidade progride. E assim farão existir uma economia de mercado sem que tenha sido esse o seu desígnio explícito. Foi para descrever esse fenômeno que Adam Smith cunhou a tão famosa expressão "mão invisível", no célebre e notável trecho de seu livro A Riqueza das Nações: "O indivíduo, ao visar apenas alcançar um aumento de sua satisfação, é como que conduzido por uma mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de sua intenção."

A humanidade em geral e as elites intelectuais e políticas em particular ainda não se deram conta da importância de conhecer e respeitar as regularidades da ação humana. Parecem crer, como bem assinalou Ayn Rand, "que a ciência só é aplicável quando lidamos com objetos inanimados; quando se trata de seres humanos o conhecimento deixa de ser necessário, os princípios passam a ser irrelevantes, a causalidade não produz efeitos, as consequências não podem ser previstas, e para que possa existir uma sociedade livre e próspera bastam líderes com boas intenções e bastante poder".

Talvez seja porque imaginam que o avanço do conhecimento no campo das ciências humanas deva ocorrer como ocorreu, com enorme sucesso, no campo das ciências naturais. Talvez não estejam percebendo, como salientou Alberto Benegas Lynch em seu livro El Juício Crítico Como Progreso, que existe uma diferença epistemológica fundamental entre esses dois ramos do conhecimento: as ciências naturais são hipotético-dedutíveis, ou seja, a partir de uma hipótese, confirmada pela experiência ou pela observação da natureza, é possível enunciar uma lei e deduzir as suas consequências. E assim será até que uma nova hipótese e a confirmação dessa nova hipótese venham mostrar que a anterior ou estava errada ou era apenas um caso particular de uma nova teoria mais abrangente. É conhecida a resposta de Einstein, numa entrevista à imprensa em que os jornalistas tentavam depreciar Newton por ter sido a sua teoria superada pela nova teoria gravitacional do contínuo espaço-tempo: "Quão sábio foi Newton que, ao enunciar a sua teoria, não disse que matéria atrai matéria na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado das distâncias, e sim que tudo se passa como se matéria atraísse matéria..."

O sucesso do método experimental das ciências naturais pode ter induzido a que esse mesmo método fosse usado nas ciências humanas. Mas ocorre que as ciências humanas — ou praxeológicas — são axiomático-dedutíveis. Ou seja: a partir de um axioma que não possa ser refutado, são dedutíveis as consequências das regularidades do comportamento humano. Não adianta fazer experiências; não bastam boas intenções: é preciso refutar o axioma original. E o axioma central da ação humana: toda ação humana visa obter um aumento de satisfação — o que aqui enunciamos como sendo ninguém troca 10 por 9 — está aí para ser refutado por quem for capaz de fazê-lo. Mas, se isso não for possível, há que respeitá-lo e compreender que não respeitá-lo produz, inexoravelmente, consequências indesejadas.

E isso é assim porque a lógica do comportamento humano é a mesma de todo ser vivo, seja ele uma simples célula, uma bactéria ou um ser humano. Todos têm o mesmo propósito: o de prover a sua sobrevivência e a sua descendência. Por isso, um ser vivo não efetua qualquer troca que lhe seja química ou fisicamente possível, mas somente aquelas que lhe propiciem um aumento de coerência e de eficiência para a realização de seu propósito. Por isso, o ser vivo não troca 10 por 9. Se assim procedesse estaria contrariando a lógica da vida e terminaria por deixar de existir.

Podemos imaginar um Universo regido por leis físicas completamente diferentes: um Universo em que a gravidade afaste os corpos ou em que a luz seja instantânea. Não há nenhuma impossibilidade lógica nisso. Podemos imaginá-lo de qualquer forma, porque o Universo não tem um propósito. Mas não podemos imaginar um ser vivo que troque 10 por 9; porque o ser vivo tem um propósito: preservar a sua própria vida. Do ser humano à forma mais elementar de vida, "o sonho de cada célula é tornar-se duas", como assinalou o cientista François Jacob, ganhador do prêmio Nobel de Medicina. Trocar 10 por 9 seria negar a própria vida. Seria pretender que a vida pudesse obedecer à lógica da morte. O que seria um paradoxo, e os paradoxos não existem; por definição não podem existir. A vida não é um paradoxo.

As circunstâncias em que somos levados a trocar 10 por 9

Para que uma troca voluntária se realize é condição necessária que as partes envolvidas obtenham, com a troca, um aumento de satisfação. Se assim não for, a troca simplesmente não se realiza, e as coisas continuam inalteradas.

Existem, entretanto, circunstâncias em que somos levados a efetuar trocas que acarretam, pelo menos a uma das partes envolvidas, uma diminuição de satisfação; trocas que, não fora a existência das referidas circunstâncias, certamente não seriam realizadas. Ao realizá-las temos consciência de estar trocando 10 por 9 ou pensamos estar assim agindo por estarmos mal informados. O primeiro caso ocorre quando nos vemos diante de uma situação de coerção, hipótese em que ao nosso ganho somos forçados a acrescentar o benefício de não sofrer a violência decorrente da coerção, seja ela legal ou ilegal. No segundo caso embora pensando estar trocando 10 por 9, estamos sendo levados a agir contra o nosso interesse, contra, portanto, o nosso aumento de satisfação, por fraude ou por ignorância.

No caso da coerção somos levados a fazer uma troca que nos é insatisfatória; e só aceitamos fazê-la para evitar uma possível represália, em virtude da existência de um poder de coerção. Diante da arma de fogo de um assaltante, que nos obriga a escolher entre "a bolsa ou a vida", a grande maioria dos indivíduos preferirá entregar a carteira para poder permanecer vivo. Se nos abstrairmos dos aspectos éticos e psicológicos de uma situação como essa, podemos dizer que a troca assim efetuada representou, em termos estritamente econômicos, um jogo de soma zero: o que um tinha na carteira passou a pertencer a outro.

Mas a troca forçada pela coerção pode assumir formas bem mais complexas, bem mais freqüentes e bem mais nocivas por resultar, em termos estritamente econômicos, num jogo de soma negativa, no qual as partes envolvidas ou têm uma diminuição de satisfação ou pelo menos não têm o aumento de satisfação que poderiam ter. Por exemplo: se o estado determina que um determinado produto de uso corrente e de difícil substituição deva ser objeto de um monopólio — pouco importa se estatal ou privado — e se o detentor do monopólio, cuja existência se deve exclusivamente ao poder de coerção do estado, for pouco eficiente, tiver custos altos e grande margem de desperdício, como inevitavelmente sói acontecer, as trocas que vierem a ser efetuadas constituirão um jogo de soma negativa, porque o comprador é compelido a receber um produto mais caro e de pior qualidade sem que isso represente um maior ganho para o vendedor. Não tivessem ocorrido a coerção e o correspondente monopólio, se prevalecesse uma situação de liberdade e, portanto, de competição, o comprador teria acesso a um produto melhor e mais barato, e o vendedor ainda teria um lucro maior, devido à sua maior eficiência, criatividade e eliminação de desperdícios.

São exemplos nítidos dessa deformação, na nossa história recente, os monopólios do petróleo, das telecomunicações e da energia elétrica, que nos obrigaram a pagar mais por produtos de pior qualidade enquanto as empresas, no caso estatais, não conseguiram gerar resultados compatíveis com a insatisfação que estava sendo imposta à população brasileira. São também bons exemplos dos malefícios da interferência estatal o protecionismo concedido a setores industriais — notadamente à indústria automobilística —, que nos obrigou, durante muito tempo, a comprar verdadeiras "carroças" piores e mais caras por estarem protegidas da competição. Os bancos estatais, que "conseguiram" ter prejuízo embora estivessem atuando numa área, durante muito tempo, extremamente lucrativa, bem como a lei de informática, proibindo o consumidor brasileiro de ter acesso aos enormes avanços tecnológicos, ilustram também essa ocorrência do jogo de soma negativa gerado pela interferência do estado nas relações de troca, que, se tivessem sido livres, teriam provocado um jogo de soma positiva e um aumento de satisfação para a grande maioria do povo brasileiro.

Mas, certamente, em nenhum outro caso os inconvenientes da presença de coerção nas trocas voluntárias foram mais desastrosos e mais duradouros do que os ocorridos no grande período da inflação brasileira. A inflação brasileira, com seus enormes malefícios sobre os mais necessitados, só pôde ter tido a dimensão e a extensão catastrófica que teve porque o estado brasileiro nos obrigou, coercitivamente, a usar as suas diversas moedas de curso legal — seja o cruzeiro, o cruzado ou o real. Tivesse-nos sido possível recorrer a outras moedas nas nossas transações particulares, a moeda podre de curso legal teria ficado restrita ao uso do estado e, como tal, teria tido vida curta, encurtando correspondentemente os danos causados aos cidadãos que foram forçados a usá-la por tanto tempo.

Um regime que nos permita escolher livremente a moeda a ser usada nas nossas transações é, sem dúvida, o que maiores benefícios traria a todos, sobretudo por evitar que, por falta de alternativa, tivéssemos que sofrer as consequências de um estado irresponsável. Se um país é capaz de gerar uma moeda de curso legal decente e estável, a questão da livre competição entre moedas perde muito de sua relevância. Um país como a Suíça, a Alemanha ou os estados Unidos, onde é livre a circulação de capitais e onde há uma tradição de zelar pela consistência de sua moeda, pode, sem grandes consequências, adotar uma moeda de curso legal; mas, se suas autoridades políticas vierem a cometer os desatinos que as nossas cometeram, aqui como lá será muito melhor abolir a moeda de curso legal e permitir a livre competição entre moedas.

De consequências mais amenas e menos duradouras são aquelas em que a troca é influenciada por algum tipo de fraude. O uso de meios fraudulentos para obter vantagens não consegue mais do que resultados efêmeros e pouco importantes. Afinal, como ressaltou Lincoln, num célebre discurso, "é possível enganar alguns durante todo o tempo e enganar todos durante algum tempo, mas não é possível enganar todos durante todo o tempo". Nos tempos modernos, o recurso à fraude ocorre com mais freqüência através da publicidade enganosa; seus mentores geralmente só conseguem ser bem-sucedidos por um prazo curto, até que a farsa seja desmascarada. Onde há liberdade e vigora uma economia de mercado isso não chega a assumir uma dimensão que provoque maiores apreensões.

A terceira hipótese em que as trocas voluntárias podem resultar numa diminuição de satisfação ocorre quando prevalece um razoável grau de ignorância. Ignorância, naturalmente, em relação ao nível de conhecimento já existente, que, portanto, poderia ter sido superada. As consequências da ignorância que ultrapassa o conhecimento existente não têm como ser evitadas. São apenas um dado de nossas circunstâncias. Ao efetuar uma troca, uma das partes — ou ambas —, por ignorância das consequências que advirão, pensa estar fazendo uma transação que lhes proporcionará um aumento de satisfação e só mais tarde, às vezes bem mais tarde, percebe que cometeu um equívoco e, se pudesse voltar atrás, não faria de novo a mesma opção. Essas circunstâncias estão presentes e têm mais importância em escolhas de natureza pessoal, como a escolha do cônjuge ou do sócio, ou, ainda, na escolha de nossos representantes no processo político e do consequente sistema de organização da sociedade — mais ou menos autoritário e/ou intervencionista — que deverá prevalecer. No plano econômico, sua ocorrência é geralmente identificada como tendo sido um "mau negócio".

Em qualquer dessas circunstâncias que provocam indesejadamente um aumento de desconforto, em vez de um aumento de satisfação, a melhor alternativa para diminuir a sua ocorrência ou minimizar-lhes as consequências é fazer prevalecerem a liberdade e a responsabilidade individual, o que implica, como consequência, a prevalência da democracia representativa no plano político e da economia de mercado no plano econômico. Se assim for, através do feedback negativo (que é, reconhecidamente, entre os diversos métodos que podem ser utilizados pela humanidade para reduzir a ignorância, o mais eficaz e o mais utilizado) as pessoas sofrerão as consequências de seus atos e, tendo liberdade, adotarão um novo comportamento mais compatível com o objetivo intrínseco de toda ação humana, que é obter um aumento de satisfação.

As consequências de sermos levados a trocar 10 por 9

As consequências mais graves de sermos levados a trocar 10 por 9 ocorrem em virtude do uso prolongado do poder de coerção do estado com o propósito de impor relações de troca diferentes daquelas que prevaleceriam num ambiente institucional em que as trocas fossem voluntariamente pactuadas. Em situações dessa natureza, as consequências transcendem de muito os prejuízos individuais das partes envolvidas e assumem uma dimensão verdadeiramente desastrosa, geralmente por impedir ou inviabilizar a realização de trocas individuais que, não fora a malsinada intervenção do estado, poderiam estar ocorrendo e, portanto, propiciando um aumento de satisfação. O mal maior não decorre das transações feitas, e sim das transações que poderiam estar sendo feitas e que deixam de ser feitas.

E, se num primeiro momento essa intervenção aparentemente favorece uma das partes — a parte tida como mais "fraca", em detrimento da parte mais "forte" — e por esse motivo geralmente receba um razoável apoio popular e, por conseguinte, da classe política, num segundo momento os grandes prejudicados são invariavelmente os da classe que se pretendia amparar.

Duas situações bastante conhecidas da realidade brasileira serão suficientes para ilustrar esse verdadeiro "tiro pela culatra" da intervenção estatal, quando medidas que restringem a liberdade de troca, tomadas com razoável, se não amplo, apoio popular resultaram numa verdadeira tragédia para os menos favorecidos. E, como sempre, por estarem os efeitos distantes das causas, passam desapercebidas as relações de causa e efeito, fazendo com que essas intervenções sejam mantidas e até mesmo louvadas, apesar de suas desastrosas consequências.

A primeira é a que decorre da promulgação da "lei do inquilinato", há mais de 50 anos. Naqueles idos o investimento em apartamentos ou casas — geralmente casas de vila ou casas de cômodos — com o propósito de auferir uma renda através do aluguel era uma forma de poupança bastante simples e disseminada, bem de acordo com as nossas origens portuguesas. Quem dispunha de recursos fazia logo umas casinhas ou comprava uns apartamentos para garantir uma renda na velhice. Estatísticas indicam que mais de 50% das unidades construídas àquele tempo o eram para aluguel.

Sendo muito difícil para quem está começando a vida adquirir uma casa, a solução de alugar a sua moradia apresentava-se como uma alternativa viável, até que a ascensão social permitisse o passo maior da aquisição da casa própria, livrando-se do aluguel e até mesmo gastando com a prestação de um possível financiamento o valor até então pago a título de aluguel.

As condições de locação eram livremente pactuadas; e o mercado e a lei da oferta e da procura se encarregavam de adequar o tipo e a localização das unidades em função da capacidade de pagamento de cada um, como ocorre em qualquer segmento da atividade econômica em que prevalecem a liberdade econômica e a livre interação dos indivíduos na busca incessante do seu aumento de satisfação. Raramente, àquele tempo, a taxa de retorno sobre o investimento feito em imóveis para aluguel ultrapassava 10% ao ano.

Foi então promulgada a lei do inquilinato, que, com o propósito de proteger os inquilinos da "ganância" dos proprietários, determinava que os valores do aluguel pactuado não poderiam ser modificados no tempo. Tal provisão, prevalecendo ao mesmo tempo em que o fenômeno inflacionário assumia proporções alarmantes, fez com que a renda dos aluguéis se tornasse verdadeiramente ridícula diante do investimento que havia sido feito. Para os proprietários dos imóveis já construídos não havia alternativa; mas ninguém mais poderia se dispor a fazer investimentos dessa natureza, e o número de imóveis construídos para aluguel reduziu-se a ínfimos 3% do total de habitações construídas.

Só uma minoria pode dispor de recursos para comprar ou construir sua própria casa; a grande maioria, não dispondo de recursos, não existindo sistema de financiamento a longo prazo e tendo deixado de haver uma oferta de imóveis para aluguel, ficou completamente sem alternativa. Isso num quadro de população urbana crescendo explosivamente. A consequência natural foram as favelas: não podendo construir sua casa própria e não havendo oferta de imóveis para locação, a única alternativa para esses mais desfavorecidos foi invadir terrenos e construir barracos — inicialmente, de tábuas e caixotes; hoje, as favelas têm edifícios de cinco andares em concreto armado, construídos de forma totalmente ilegal. É importante notar que nas favelas sempre existiram "barracos" ou quartos para aluguel cuja rentabilidade econômica é bastante satisfatória. Isso só é possível porque nas favelas, construídas ilegalmente, convém reafirmar, nunca prevaleceu a lei do inquilinato; os aluguéis são estabelecidos em dólares — e ai daqueles que não pagá-los.

Não era isso o que se pretendia com a promulgação da lei do inquilinato, mas foi essa a inexorável consequência de se interferir em relações livremente pactuadas com o propósito de obrigar uma das partes a trocar 10 por 9. A consequência foi muito mais danosa aos menos favorecidos, já que os detentores de recursos deixaram de investir em imóveis e passavam a fazer novos tipos de investimentos. No caso brasileiro, uma boa parte desses investimentos foi absorvida pelo estado e está representada pela enorme dívida pública estatal contraída para cobrir os gastos no mais das vezes suntuosos, eivados de desperdícios e não raro acrescidos pelo fenômeno da corrupção.

É importante ressaltar que a população favelada, na sua maioria, tem poder aquisitivo para pagar um aluguel suficiente para remunerar o investidor; a oferta de imóveis de aluguel é que foi gradualmente desaparecendo, devido à desastrada intervenção do estado. Não fora isso, a nossa geografia urbana seria hoje bastante diferente, porque não nos faltariam recursos, capital e tecnologia para que fossem construídos imóveis de aluguel, legais, economicamente rentáveis, que pudessem abrigar a grande maioria da população favelada.

O segundo caso, também de consequências trágicas, refere-se à nossa legislação trabalhista. A relação de troca entre empregador e empregado é das mais antigas do mundo e também a que envolve o maior número de variáveis: jornada de trabalho, dias de férias (remunerados ou não), assiduidade, condições de rescisão, periculosidade, esforço físico — condições estas que, quando não estão explicitadas, obviamente se refletem no valor do salário. A tentativa de padronizar essas variáveis, determinando como devem ser as condições do contrato de trabalho, ao invés de permitir que as pessoas pudessem livremente pactuar as suas relações de troca, conduziu a resultados que são o oposto do que pretendiam os seus mentores quando introduziram a legislação trabalhista nas relações entre empregadores e empregados.

Convém notar que a introdução da legislação trabalhista resultou num jogo de soma negativa. Ou seja: os empregadores são obrigados a pagar mais pelo serviço contratado, e os empregados recebem menos pelo serviço prestado. Ambos foram obrigados a trocar 10 por 9.

Devemos ter em mente que a legislação trabalhista representa, de uma maneira geral, de um ponto de vista estritamente econômico, uma poupança compulsória que o empregado, queira ou não queira, seja-lhe vantajosa ou não, é obrigado a fazer. Uma parte dessa poupança — férias, 13º salário, aviso-prévio — fica em poder do empregador para ser devolvida ao empregado depois de um ano ou mais. A parte maior, entretanto, é entregue ao estado para ser devolvida 35 anos depois sob a forma de aposentadoria ou ao longo de sua vida, sob a forma de assistência de saúde.

Por que um empregado deve receber um 13º salário no mês de dezembro, em vez de receber essa importância todos os meses e fazer ele mesmo, se assim julgar mais importante e mais conveniente, uma poupança para ser utilizada durante o Natal? Por que não receber o valor das férias todos os meses, dando a esses recursos outras destinações mais urgentes, cabendo-lhe apenas o direito de se ausentar do trabalho durante um certo período, sem receber nada, pois já o recebeu junto com o salário? Ou mesmo não tirar férias e receber mais, o que, para inúmeras pessoas, sobretudo as que estão iniciando sua vida laboral, é uma alternativa bem mais conveniente?

Se no caso da poupança compulsória, deixada à disposição do empregador por pelo menos um ano, a situação já é um absurdo, no caso da poupança entregue ao estado o resultado é calamitoso. Obrigar o trabalhador a poupar cerca de 35% do seu salário durante 35 anos de vida para, ao final, ter direito a uma aposentadoria do INSS é inqualificável. Deve ser a isso que chamam de "justiça social"!

Se considerarmos que não fosse a compulsoriedade do sistema estatal as pessoas poderiam comprar o seu próprio plano de aposentadoria e de saúde e que 10% do salário seriam suficientes para garantir, após 35 anos, uma aposentadoria bem melhor do que à que hoje os trabalhadores brasileiros têm direito; se acrescentarmos 3% a título de seguro para que, em caso de morte antes dos 35 anos, a família possa receber a aposentadoria como se a contribuição houvesse sido feita integralmente e ainda 4% para atender a um seguro saúde, temos que com 17% do salário o trabalhador obteria muito mais do que obtém hoje "poupando" 35% do seu salário! E se, além disso, considerarmos que esse trabalhador não raro veio do Nordeste, trabalhou em diversos empregos, alguns sem carteira assinada, ficou algum tempo desempregado, quando consegue reunir toda a papelada para obter sua aposentadoria já está no limite de sua expectativa de vida — malnutrido que foi e sem acesso a uma assistência médica eficiente — podemos aquilatar a dimensão do disparate que estamos cometendo há mais de 50 anos. É, podemos assim qualificar, um caso de sadismo explícito.

A consequência natural dessa intervenção tão prolongadamente mantida graças ao poder de coerção do estado, impedindo que pudesse prevalecer uma livre negociação entre as partes, consiste no fato de que mais da metade da população brasileira economicamente ativa trabalha na economia informal. E isso por quê? Porque o empregador gasta menos e o empregado ganha mais. A economia informal foi a forma que empregador e empregado encontraram para não ter que trocar 10 por 9 e para poder estabelecer uma relação de troca que lhes seja mutuamente mais vantajosa.

Implementada sob o galardão de ser a "legislação trabalhista mais avançada do mundo", conseguiu a façanha de colocar metade da força de trabalho na economia informal. É o preço que estamos pagando por não levar em consideração a regra básica do comportamento humano.

A solução para essas mazelas, assim como para inúmeras outras que poderiam ser apontadas, consiste exatamente em não obstruir a liberdade que as pessoas devem ter para, na sua interação com outras pessoas, buscar o que consideram ser um aumento de satisfação — aumento de satisfação esse que só pode ser avaliado pelo próprio indivíduo, uma vez que só ele conhece as suas circunstâncias e o valor que atribui a cada uma delas. E, além disso, fazer valer o princípio da responsabilidade individual para que cada um possa se beneficiar ou sofrer as consequências de suas decisões e, dessa forma, modificá-las e aprimorá-las ao longo da vida nesse processo permanente de remoção da ignorância. Para que o princípio da responsabilidade individual seja efetivo, cabe ao estado zelar pelo cumprimento dos contratos, fazendo com que efetivamente as pessoas sofram as consequências de seus atos; para isso foi-lhe atribuído o monopólio da coerção, e não para determinar quais devam ser as nossas decisões.

A humanidade tem boa consciência das consequências de um comportamento que desrespeite as leis naturais; infelizmente, o mesmo não pode ser dito em relação às leis praxeológicas, ou seja, as leis da ação humana. Seria preciso que a humanidade e, sobretudo, as suas elites intelectuais compreendessem que o desrespeito às leis do comportamento humano provoca consequências que podem ser desastrosas e que poderiam ser evitadas. Mas, se não forem capazes de compreendê-lo, não estarão invalidando as leis do comportamento humano. Estarão apenas empobrecendo a sociedade humana ou impedindo que ela enriqueça tanto quanto poderia, diminuindo-se o grau de satisfação dos indivíduos que a compõem. "

Postado

Teorias economicas apenas tentam encontrar meios mais eficientes de gerir os meios escassos, agora isso não quer dizer que na prática vai ser tudo lindo... principalmente se alguns metidinhos a "sabe tudo" começarem a interferir no seu curso natural

Não consigo imaginar um setor onde seja necessário protecionismo, tem como citar e discorrer sobre alguns?

Tecnologia. Vou usar veiculos como exemplo

Não temos a tecnologia, não temos as patentes, mas temos as montadores que "aceitaram" mediante incentivos fiscais.

A tecnologia automobilistica brasileira não tem nível pra competir com a internacional.

Vide o Gurgel, unico brasileirinho 100%, descontinuado.

Ja postaram aqui que mais montadoras foram barradas, sabe-se que o tempo de contrato para incentivos fiscais está acabando e algumas já tem planos para sair do país.

A questão é será que a cultura brasileira tornaria "bonito,legal" ter um carro 100% brasileiro?

é so ver a manézada aqui, "Só tomo whey importado"

Marca de roupa é lacoste, tommy, roupa nacional é pijama

Bebida é red label, cachaça é coisa de bebado

Não sei se o que estou falando da parte cultural é complexo de curitibano, pq aqui é 99% do povo assim.

E o brasileiro queima dinheiro com juros pra comprar status. Essa é a "praça" aqui.

Postado

Não muito a ver com o tópico mas já que vocês citaram sobre carros x protecionismo...

Bom, protecionismo é sempre prejudicial e injusto, porque impede uma troca voluntária entre consumidor e empresa multinacional/estrangeira. E porque obriga o consumidor a escolher o produto mais caro e menos sofisticado, o que também gera maior desperdício de recursos e poluição devido a menor concorrência. Porém no caso dos carros isto é um problema AINDA MAIS grave, porque escolher um carro menos sofisticado significa escolher um carro MENOS SEGURO, sem freio ABS, air bag e os caralho todo. E num país com estradas horríveis, e alto número de acidentes se torna algo ainda mais grave.

Postado (editado)

se não consegue competir com o comércio internacional, então vaza... nosso país é gigante e tem potencial tranquilo para ser de primeiro mundo, então nunca vai faltar mão-de-obra e com certeza dominaremos alguns mercados

Cara, se não me engano aqui é aonde as montadoras mais lucras por carro, inclusive foi o que ajudou muitas em épocas de crise.

O Brasileiro tem realmente esse mentalidade de que "se é caro é bom", mas isso é porque muitos produtos importados são de fato de boa qualidade e são caros por causa do protecionismo, mas no momento que isso é retirado e seus preços "reais" chegam para nós, daí passa a popularizar e então perde todo esse status

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Lí hoje mais cedo esse artigo que o Danilo postou, mto bom, recomendo a leitura... Lembra um pouco tbm daquilo que o Frederic Bastiat fala "do que se vê e o que não se vê"

Editado por manel007
Postado

Teorias econômicas são lindas, mas na maioria das vezes falham por não contemplar situações políticas e culturais.

Marketing não é apenas produto preço.

Para Kotler, Eram produto, praça, preço e promoção

Ainda existem variáveis de entrada de mercado, como potencia dos concorrentes e mercado abrangido por eles.

Hoje vejo protecionismo necessário, em APENAS ALGUNS SETORES, para igualar vantagens competitivas fornecidas por governantes anteriores.

Essa é uma questão que me faz pensar bastante.. Como garantir um mercado livre das mãos do governo com tantas empresas que já foram beneficiadas pelo estado? Seria uma concorrência desleal e os pequenos negócios simplesmente quebrariam.

Postado

falando em economia, me lembrei desta imagem. Phoda!

economicos.jpg

Capitalismo "Neoliberal" Brasileiro:

Você tem duas vacas. O estado estatiza as duas, elas emagrecem e param de dar leite. O estado privatiza meia vaca para você pelo preço de duas vacas. Você se esforça e a vaca volta a produzir leite. O estado fica com 50% (+ impostos) do leite da vaca. Ninguém pode ter uma vaca. Um balde de leite é o preço de uma vaca. O estado te culpa por isso e todo mundo acredita. Você se acha esperto por ter meia vaca...

Postado

Essa é uma questão que me faz pensar bastante.. Como garantir um mercado livre das mãos do governo com tantas empresas que já foram beneficiadas pelo estado? Seria uma concorrência desleal e os pequenos negócios simplesmente quebrariam.

É injusto, essas empresas deveriam devolver esse dinheiro, mas isso dificilmente aconteceria...

O que poderia acontecer é o seguinte: Essas empresas começariam a oferecer produtos/ serviços de boa qualidade a um preço mais baixo, e assim ocorreria um "monopolismo bom", caso contrário, e considerando um ambiente de livre mercado, claro, os concorrentes passariam a oferecer seus produtos/ serviços de mais qualidade/ mais barato, e assim ganhariam mercado aos poucos

Postado

se não consegue competir com o comércio internacional, então vaza... nosso país é gigante e tem potencial tranquilo para ser de primeiro mundo, então nunca vai faltar mão-de-obra e com certeza dominaremos alguns mercados

Concordo, mas uma vez beneficiadas as estrangeiras, o protecionismo é necessário para igualar competitividade.

https://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/05/140519_produtividade_porque_ru.shtml

Produtividade do trabalhador brasileiro 10,8 obama/hora, saiu as pesquisas e gerou a maior discussão não sei se tu acompanhou;

Mão de obra pode não faltar, mas é isso o que os de 1º mundo detém? Operários fazem um país de 1º mundo?

Ensino de qualidade, incentivo ao empreendedor não conta?

Cara, se não me engano aqui é aonde as montadoras mais lucras por carro, inclusive foi o que ajudou muitas em épocas de crise.

55%, e ainda tem mané que ganhar 1500 por mês e compra carro novo.

TAbela FIPE maior farsa, ta comprada descaradamente.

O Brasileiro tem realmente esse mentalidade de que "se é caro é bom", mas isso é porque muitos produtos importados são de fato de boa qualidade e são caros por causa do protecionismo, mas no momento que isso é retirado e seus preços "reais" chegam para nós, daí passa a popularizar e então perde todo esse status

Então o negócio é operacionalizar nosso pais e deixar as multinacionais dominarem? Dá incentivos fiscais, e vamos trabalhar pra eles?

Os EUA estão muito na frente, produzem quase que toda a própria tecnologia, fazem guerra pra conseguir grande quantidade de insumos, aproveitam bem a extensão territorial, importam aquilo que o mundo tem de melhor na agropecuária, detem infinitas patentes.

Como fazer algo parecido com o brasil?

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Lí hoje mais cedo esse artigo que o Danilo postou, mto bom, recomendo a leitura... Lembra um pouco tbm daquilo que o Frederic Bastiat fala "do que se vê e o que não se vê"

Essa é uma questão que me faz pensar bastante.. Como garantir um mercado livre das mãos do governo com tantas empresas que já foram beneficiadas pelo estado? Seria uma concorrência desleal e os pequenos negócios simplesmente quebrariam.

Isso que eu quis dizer. Aqui no escritório, TODAS as empresas abertas ano passado faliram. TODAS.

Postado

Isso que eu quis dizer. Aqui no escritório, TODAS as empresas abertas ano passado faliram. TODAS.

Será que elas faliram justamente por causa de todos esse intervencionismo estatal ou não?

"A palavra "capitalismo" é utilizada de duas maneiras contraditórias. Em algumas ocasiões, ela é utilizada com o intuito de denotar um mercado livre e desimpedido, ou laissez-faire. Em outras ocasiões, ela é utilizada para denotar exatamente o arranjo atual em que vive o mundo, uma economia mista em que o governo intervém para privilegiar grandes empresas, criando monopólios e oligopólios.

Logicamente, "capitalismo" não pode ser ambas as coisas. Ou os mercados são totalmente livres, ou o governo os controla. Não é possível ter os dois arranjos ao mesmo tempo.

Mas a verdade é que não há um mercado genuinamente livre em nenhum país do mundo. As regulamentações governamentais, as tarifas, os subsídios, os decretos e as intromissões são generalizados, variando apenas o grau de intensidade com que ocorrem em cada país. Sendo assim, o termo "capitalismo" denotando mercados livres não pode ser aplicado nos dias de hoje.

O que existe é um capitalismo mercantilista, um capitalismo de compadrio, um capitalismo regulado em prol dos regulados e dos reguladores, e contra os consumidores.

O que seria esse capitalismo mercantilista? Trata-se de um sistema econômico no qual o mercado é artificialmente moldado por uma relação de conluio entre o governo, as grandes empresas e os grandes sindicatos. Neste arranjo, o governo concede a seus empresários favoritos uma ampla variedade de privilégios que seriam simplesmente inalcançáveis em um genuíno livre mercado, como restrições de importação, subsídios diretos, tarifas protecionistas, empréstimos subsidiados feitos por bancos estatais, e agências reguladoras criadas com o intuito de cartelizar o mercado e impedir a entrada de concorrentes estrangeiros. Em troca, as empresas beneficiadas lotam os cofres de políticos e reguladores com amplas doações de campanha e propinas.

O capitalismo mercantilista é tão antigo, que Adam Smith já o criticava — e combatia — no século XVIII. Atualmente, não é necessário procurar muito para se encontrar exemplos deste tipo de capitalismo. Basta olhar para o seu próprio país. Todos os cartéis, oligopólios e monopólios que você conhece estão em setores altamente regulados pelo governo, como o setor bancário, o setor aéreo, o setor de transportes terrestres, o setor de transportes aquaviários, o setor de telecomunicações, o setor elétrico, o setor energético (petróleo, postos de gasolina), o setor minerador, o setor farmacêutico etc.

Quem cria cartéis, oligopólios e monopólios é e sempre foi o estado, seja por meio de regulamentações que impõem barreiras à entrada da concorrência no mercado (agências reguladoras), seja por meio de altos tributos que impedem que novas empresas surjam e cresçam, seja por meio da burocracia que desestimula todo o processo de formalização de empresas, seja por meio da imposição de altas tarifas de importação que encarecem artificialmente a aquisição de produtos importados (pense nas fabricantes de automóveis).

Um capitalismo de livre mercado é um sistema em que os lucros e os prejuízos são privados. Já um capitalismo mercantilista é um arranjo em que os lucros são privados, mas os prejuízos são socializados. Quando são bem-sucedidas, as empresas mantêm seus lucros; quando sofrem prejuízos, recorrem ao governo em busca ou de pacotes de ajuda ou de novas medidas que restrinjam a concorrência. No extremo, pedem ao governo para jogar a fatura do prejuízo sobre os pagadores de impostos.

O papel das regulamentações em um capitalismo mercantilista não é corretamente entendido pelos intervencionistas. Eles genuinamente acreditam que as regulamentações são uma forma de o governo subjugar e domar as grandes corporações. Só que, historicamente, as regulamentações sempre foram uma maneira tida como lícita de determinadas empresas (geralmente as grandes e bem-conectadas politicamente) ganharem vantagens à custa de outras, geralmente menos influentes.

Por exemplo, em teoria, agências reguladoras existem para proteger o consumidor. Na prática, elas protegem as empresas dos consumidores. Por um lado, as agências reguladoras estipulam preços e especificam os serviços que as empresas reguladas devem ofertar. Por outro, elas protegem as empresas reguladas ao restringir a entrada de novas empresas neste mercado. No final, agências reguladoras nada mais são do que um aparato burocrático que tem a missão de cartelizar os setores regulados — formados pelas empresas favoritas do governo —, determinando quem pode e quem não pode entrar no mercado, e especificando quais serviços as empresas escolhidas podem ou não ofertar, impedindo desta maneira que haja qualquer "perigo" de livre concorrência.

Em seu cerne, a regulação é anti-livre iniciativa, anti-livre mercado e anti-concorrência. A regulação não se baseia nas preferências dos consumidores e nem nos valores subjetivos dos consumidores em relação aos bens e serviços ofertados. Ao contrário, ela faz com que as empresas ajam como se fossem ofertantes monopolistas, de modo que os preços passam a ser determinados pelos custos de produção das empresas e não pela preferência dos consumidores.

Mas isso é apenas o primeiro passo: uma empresa regulada pode encontrar várias maneiras de fazer as regulações funcionarem em proveito próprio e contra os interesses dos consumidores.

Por exemplo, não é incomum que grandes empresas façam lobby para criar regulamentações complicadas e onerosas sobre seu próprio setor. Por que elas fazem isso? Para dificultar uma potencial concorrência de empresas novas, pequenas e com pouco capital. Empresas grandes e já estabelecidas têm mais capacidade e mais recursos para atender regulações minuciosas e onerosas. Empresas pequenas, que querem entrar naquele mercado mas que ainda não possuem muitos recursos financeiros, não têm essa capacidade. Empresas grandes podem contratar lobistas (ou podem simplesmente subornar políticos) para elaborar padrões de regulação que elas já atendem ou que podem facilmente atender, mas que são impossíveis de serem atendidos por empresas pequenas e recém-criadas.

O livro "The Big Ripoff: How Big Business and Big Government Steal Your Money", de Timothy Carney, explica em detalhes como a própria Phillip Morris estimulou a "guerra contra o tabaco" para se beneficiar, como a própria General Motors agitou pela aprovação de rígidas legislações ambientalistas nos EUA (cujas restrições mais rígidas afetariam a concorrência), e como a poderosa megacorporação Archer Daniels Midland se beneficia dos subsídios para o etanol (algo adorado pelos ambientalistas).

O apoio das grandes empresas às regulamentações criadas pelos governos não apenas não é algo raro, como, na realidade, sempre foi a norma.

Caso ainda não esteja convencido, apenas faça a si mesmo a seguinte pergunta: Qual destas tem uma maior probabilidade de ser afetada por vigorosas regulamentações: grandes corporações com boas conexões políticas e com enormes departamentos jurídicos e contábeis, ou micro e pequenas empresas ainda incipientes e em processo de formalização?

Regulamentações aniquilam a concorrência — e as empresas já estabelecidas adoram que seja assim.

Este arranjo de economia mista é também, como já explicado, ótimo para os governos. Políticos e burocratas adquirem poderes sobre as empresas e, com tais poderes, garantem que seus cofres estejam sempre cheios. Políticos ganham generosas doações de campanha e reguladores ganham fartas propinas. Ambas essas contribuições são feitas pelas grandes empresas e pelos grandes sindicatos em troca da promessa de novas regulamentações que irão lhes favorecer e afetar a concorrência.

Trata-se de uma mistura de socialismo em um arranjo basicamente capitalista, uma mistura suficiente para manter fluidas as receitas do governo e garantir a continuidade dos assistencialismos sociais e corporativos. A porção capitalista dessa economia mista possibilita um confortável estilo de vida para políticos e para milhões de funcionários públicos.

Defensores das regulações não percebem que elas são essencialmente uma forma de controle estatal. É por isso que todos os partidos políticos atuais endossam agências reguladoras e todo o seu aparato burocrático. Afinal, qual político não gostaria de comandar amplos setores da economia?

Em vez de proteger os inocentes e incautos, regulações estimulam os escroques e incentivam as grandes empresas a manipular o sistema com o intuito de aumentar sua própria fatia de mercado e seus lucros. Como sempre ocorre com todas as interferências governamentais nas questões econômicas e sociais, a regulação gera o efeito exatamente oposto do seu proclamado objetivo. E o pior: em um esforço para se tentar corrigir as inevitáveis consequências desastrosas das regulações, mais e mais regulações vão sendo criadas, levando a um controle estatal da economia cada vez mais paralisante.

Já passou da hora de a população entender a diferença entre livre mercado, que se baseia na liberdade e na concorrência, e capitalismo mercantilista, que se baseia em privilégios concedidos pelo estado.

A conclusão é que os socialistas se reinventaram, trocaram seu rótulo para social-democratas, deixaram de lado sua ânsia de estatizar diretamente os meios de produção e optaram por um mais suave modelo fascista, no qual estado e grandes empresas atuam em conluio para se beneficiar mutuamente e prejudicar o cidadão, que tem de aceitar serviços ruins e caros, pois não há mais livre mercado. Exatamente o intuito original dos socialistas."

https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1876

Postado

Sim, a mão-de-obra do Brasil ainda não é boa, e eu não vejo como protecionismo pode ajudar a melhorar isso, na verdade ele é uma das causas disso (querendo ou não, quando não se tem concorrente, vc não precisa se preocupar em fazer o melhor produto).

Na verdade eliminar o protecionismo não nos tornaria automaticamente desenvolvidos, é uma série de medidas. Eu defendo o Liberalismo, então seria uma série de mudanças que aconteceriam, a responsabilidade individual e a meritocracia prevaleceriam, o parasitismo diminuiria, e acredito que com o tempo nós seríamos muito mais produtivos que somos hoje, logo não teria por que temer esse domínio de multinacionais, já que nesse cenário estariamos competindo de igual com o resto do mundo. Esse texto que o danilo postou explica bem isso...

Postado

Será que elas faliram justamente por causa de todos esse intervencionismo estatal ou não?

"A palavra "capitalismo" é utilizada de duas maneiras contraditórias. Em algumas ocasiões, ela é utilizada com o intuito de denotar um mercado livre e desimpedido, ou laissez-faire. Em outras ocasiões, ela é utilizada para denotar exatamente o arranjo atual em que vive o mundo, uma economia mista em que o governo intervém para privilegiar grandes empresas, criando monopólios e oligopólios.

Logicamente, "capitalismo" não pode ser ambas as coisas. Ou os mercados são totalmente livres, ou o governo os controla. Não é possível ter os dois arranjos ao mesmo tempo.

Mas a verdade é que não há um mercado genuinamente livre em nenhum país do mundo. As regulamentações governamentais, as tarifas, os subsídios, os decretos e as intromissões são generalizados, variando apenas o grau de intensidade com que ocorrem em cada país. Sendo assim, o termo "capitalismo" denotando mercados livres não pode ser aplicado nos dias de hoje.

O que existe é um capitalismo mercantilista, um capitalismo de compadrio, um capitalismo regulado em prol dos regulados e dos reguladores, e contra os consumidores.

O que seria esse capitalismo mercantilista? Trata-se de um sistema econômico no qual o mercado é artificialmente moldado por uma relação de conluio entre o governo, as grandes empresas e os grandes sindicatos. Neste arranjo, o governo concede a seus empresários favoritos uma ampla variedade de privilégios que seriam simplesmente inalcançáveis em um genuíno livre mercado, como restrições de importação, subsídios diretos, tarifas protecionistas, empréstimos subsidiados feitos por bancos estatais, e agências reguladoras criadas com o intuito de cartelizar o mercado e impedir a entrada de concorrentes estrangeiros. Em troca, as empresas beneficiadas lotam os cofres de políticos e reguladores com amplas doações de campanha e propinas.

O capitalismo mercantilista é tão antigo, que Adam Smith já o criticava — e combatia — no século XVIII. Atualmente, não é necessário procurar muito para se encontrar exemplos deste tipo de capitalismo. Basta olhar para o seu próprio país. Todos os cartéis, oligopólios e monopólios que você conhece estão em setores altamente regulados pelo governo, como o setor bancário, o setor aéreo, o setor de transportes terrestres, o setor de transportes aquaviários, o setor de telecomunicações, o setor elétrico, o setor energético (petróleo, postos de gasolina), o setor minerador, o setor farmacêutico etc.

Quem cria cartéis, oligopólios e monopólios é e sempre foi o estado, seja por meio de regulamentações que impõem barreiras à entrada da concorrência no mercado (agências reguladoras), seja por meio de altos tributos que impedem que novas empresas surjam e cresçam, seja por meio da burocracia que desestimula todo o processo de formalização de empresas, seja por meio da imposição de altas tarifas de importação que encarecem artificialmente a aquisição de produtos importados (pense nas fabricantes de automóveis).

Um capitalismo de livre mercado é um sistema em que os lucros e os prejuízos são privados. Já um capitalismo mercantilista é um arranjo em que os lucros são privados, mas os prejuízos são socializados. Quando são bem-sucedidas, as empresas mantêm seus lucros; quando sofrem prejuízos, recorrem ao governo em busca ou de pacotes de ajuda ou de novas medidas que restrinjam a concorrência. No extremo, pedem ao governo para jogar a fatura do prejuízo sobre os pagadores de impostos.

O papel das regulamentações em um capitalismo mercantilista não é corretamente entendido pelos intervencionistas. Eles genuinamente acreditam que as regulamentações são uma forma de o governo subjugar e domar as grandes corporações. Só que, historicamente, as regulamentações sempre foram uma maneira tida como lícita de determinadas empresas (geralmente as grandes e bem-conectadas politicamente) ganharem vantagens à custa de outras, geralmente menos influentes.

Por exemplo, em teoria, agências reguladoras existem para proteger o consumidor. Na prática, elas protegem as empresas dos consumidores. Por um lado, as agências reguladoras estipulam preços e especificam os serviços que as empresas reguladas devem ofertar. Por outro, elas protegem as empresas reguladas ao restringir a entrada de novas empresas neste mercado. No final, agências reguladoras nada mais são do que um aparato burocrático que tem a missão de cartelizar os setores regulados — formados pelas empresas favoritas do governo —, determinando quem pode e quem não pode entrar no mercado, e especificando quais serviços as empresas escolhidas podem ou não ofertar, impedindo desta maneira que haja qualquer "perigo" de livre concorrência.

Em seu cerne, a regulação é anti-livre iniciativa, anti-livre mercado e anti-concorrência. A regulação não se baseia nas preferências dos consumidores e nem nos valores subjetivos dos consumidores em relação aos bens e serviços ofertados. Ao contrário, ela faz com que as empresas ajam como se fossem ofertantes monopolistas, de modo que os preços passam a ser determinados pelos custos de produção das empresas e não pela preferência dos consumidores.

Mas isso é apenas o primeiro passo: uma empresa regulada pode encontrar várias maneiras de fazer as regulações funcionarem em proveito próprio e contra os interesses dos consumidores.

Por exemplo, não é incomum que grandes empresas façam lobby para criar regulamentações complicadas e onerosas sobre seu próprio setor. Por que elas fazem isso? Para dificultar uma potencial concorrência de empresas novas, pequenas e com pouco capital. Empresas grandes e já estabelecidas têm mais capacidade e mais recursos para atender regulações minuciosas e onerosas. Empresas pequenas, que querem entrar naquele mercado mas que ainda não possuem muitos recursos financeiros, não têm essa capacidade. Empresas grandes podem contratar lobistas (ou podem simplesmente subornar políticos) para elaborar padrões de regulação que elas já atendem ou que podem facilmente atender, mas que são impossíveis de serem atendidos por empresas pequenas e recém-criadas.

O livro "The Big Ripoff: How Big Business and Big Government Steal Your Money", de Timothy Carney, explica em detalhes como a própria Phillip Morris estimulou a "guerra contra o tabaco" para se beneficiar, como a própria General Motors agitou pela aprovação de rígidas legislações ambientalistas nos EUA (cujas restrições mais rígidas afetariam a concorrência), e como a poderosa megacorporação Archer Daniels Midland se beneficia dos subsídios para o etanol (algo adorado pelos ambientalistas).

O apoio das grandes empresas às regulamentações criadas pelos governos não apenas não é algo raro, como, na realidade, sempre foi a norma.

Caso ainda não esteja convencido, apenas faça a si mesmo a seguinte pergunta: Qual destas tem uma maior probabilidade de ser afetada por vigorosas regulamentações: grandes corporações com boas conexões políticas e com enormes departamentos jurídicos e contábeis, ou micro e pequenas empresas ainda incipientes e em processo de formalização?

Regulamentações aniquilam a concorrência — e as empresas já estabelecidas adoram que seja assim.

Este arranjo de economia mista é também, como já explicado, ótimo para os governos. Políticos e burocratas adquirem poderes sobre as empresas e, com tais poderes, garantem que seus cofres estejam sempre cheios. Políticos ganham generosas doações de campanha e reguladores ganham fartas propinas. Ambas essas contribuições são feitas pelas grandes empresas e pelos grandes sindicatos em troca da promessa de novas regulamentações que irão lhes favorecer e afetar a concorrência.

Trata-se de uma mistura de socialismo em um arranjo basicamente capitalista, uma mistura suficiente para manter fluidas as receitas do governo e garantir a continuidade dos assistencialismos sociais e corporativos. A porção capitalista dessa economia mista possibilita um confortável estilo de vida para políticos e para milhões de funcionários públicos.

Defensores das regulações não percebem que elas são essencialmente uma forma de controle estatal. É por isso que todos os partidos políticos atuais endossam agências reguladoras e todo o seu aparato burocrático. Afinal, qual político não gostaria de comandar amplos setores da economia?

Em vez de proteger os inocentes e incautos, regulações estimulam os escroques e incentivam as grandes empresas a manipular o sistema com o intuito de aumentar sua própria fatia de mercado e seus lucros. Como sempre ocorre com todas as interferências governamentais nas questões econômicas e sociais, a regulação gera o efeito exatamente oposto do seu proclamado objetivo. E o pior: em um esforço para se tentar corrigir as inevitáveis consequências desastrosas das regulações, mais e mais regulações vão sendo criadas, levando a um controle estatal da economia cada vez mais paralisante.

Já passou da hora de a população entender a diferença entre livre mercado, que se baseia na liberdade e na concorrência, e capitalismo mercantilista, que se baseia em privilégios concedidos pelo estado.

A conclusão é que os socialistas se reinventaram, trocaram seu rótulo para social-democratas, deixaram de lado sua ânsia de estatizar diretamente os meios de produção e optaram por um mais suave modelo fascista, no qual estado e grandes empresas atuam em conluio para se beneficiar mutuamente e prejudicar o cidadão, que tem de aceitar serviços ruins e caros, pois não há mais livre mercado. Exatamente o intuito original dos socialistas."

https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1876

Eu entendo. Sou a favor do livre mercado, mas como garantir uma economia livre depois de tanto intervencionismo?

Como o pequeno negócio vai competir com a empresa que antes era beneficiada pelo estado e agora produz mais, melhor e com menor preço?

Postado (editado)

Meu voto é para tirar o PT, se o Aécio for o mais, é nele que vou.

"Uma jornada de mil milhas começa com um passo na direção certa"

Penso igual, parceiro.

Editado por MrCrowley
Postado

Eu entendo. Sou a favor do livre mercado, mas como garantir uma economia livre depois de tanto intervencionismo?

Como o pequeno negócio vai competir com a empresa que antes era beneficiada pelo estado e agora produz mais, melhor e com menor preço?

Seu raciocínio não faz sentindo... A sua solução para os males do intervencionismo é gerar mais intervencionismo a fim de promover uma "justiça social" com o pequeno empresário?

Você partiu do pressuposto de que o que realmente atrapalha o pequeno negócio a se alavancar é a existência de uma grande empresa com grande parte do mercado e que se houvesse o livre mercado, esse pequeno negócio não conseguiria achar meios de se desenvolver, uma vez que essa empresa já estaria em vantagem sobre o pequeno comércio.

Porém, o que na verdade dificulta o desenvolvimento de novas empresa é justamente esse intervencionismo e não o fato de existirem empresas já instaladas em um determinado local. Você falha em perceber, que as informações dispersas na economia acerca de oportunidades de lucro, tecnologia, e etc., está em constante mudança e não são dados eternos e imutáveis que sempre existiram e sempre vão permanecer no mesmo estado.

Talvez os pequenos empreendedores se reunirão e conseguirão algum meio de competir com a grande empresa... Talvez outras empresas de outros países virão ao país e fornecerão serviços melhores e com mais qualidade, uma vez que não haveria agências reguladoras controlando quem entra no mercado ou não.

Enfim, obstáculos não haveriam, e isso que faz a economia prosperar.

Outro artigo interessante sobre livre mercado e como ele afeta as economias de maneira positiva:

Por vinte anos consecutivos, o Índice de Liberdade Econômica, compilado pelo The Wall Street Journal e pela Heritage Foundation, classifica Hong Kong como a economia mais livre do mundo. Este último ranking da Heritage confirma o que o Fraser Institute, do Canadá, também afirmou em seu último Índice, o qual também classificou a economia de Hong Kong como a mais livre do mundo. O Banco Mundial, por sua vez, classifica a "facilidade de se fazer negócios" em Hong Kong como a melhor do planeta.

Embora faça parte da China desde que a Grã-Bretanha cedeu seu controle em 1997, Hong Kong é governado em termos estritamente locais. Até o momento, o governo chinês tem se mantido razoavelmente fiel à sua promessa de deixar a economia de Hong Kong em paz.

O que torna a economia de Hong Kong tão livre são aqueles detalhes que soam como música aos ouvidos de qualquer indivíduo que ama a liberdade: corrupção relativamente baixa; um judiciário eficiente e independente; respeito pleno aos direitos de propriedade; império das leis; um sistema tributário extremamente simples e com baixas alíquotas tanto para pessoas físicas quanto para jurídicas, e uma carga tributária total de apenas 14% do PIB; ausência de impostos sobre ganhos de capital, de renda de juros e até mesmo de renda obtida no exterior; ausência de impostos sobre vendas e sobre valor agregado; um aparato regulatório quase invisível; um orçamento governamental equilibrado, sem déficits, e com uma dívida pública praticamente inexistente. Ah, e tarifas de importação em praticamente zero. Isso mesmo, zero!

Dizer que uma economia é a "mais livre" é o mesmo que dizer que ela é "a mais capitalista". Capitalismo é o que ocorre naturalmente quando você permite que pessoas pacíficas cuidem de suas próprias vidas. Não é necessário elaborar nenhum mecanismo artificial comandado por burocratas de carreira confortavelmente instalados em suas torres de marfim. Não é necessário inventar nenhum esquema mirabolante e aparentemente sofisticado. Basta apenas deixar as pessoas em paz.

Se formos acreditar naquilo que dizem os críticos do capitalismo, então Hong Kong tem necessariamente de ser um inferno repleto de pobreza, exploração e desespero.

Mas não. Muito pelo contrário, aliás.

Talvez seja por isso que os socialistas não gostam de falar sobre Hong Kong: não apenas é a economia mais livre do mundo, como também é uma das mais ricas. Sua renda per capita, 2,64 vezes maior do que a média mundial, mais do que duplicou nos últimos 15 anos. As pessoas não fogem de Hong Kong; elas correm para Hong Kong. Ao final da Segunda Guerra Mundial, a população de Hong Kong era de 750.000. Hoje é quase dez vezes maior: 7,1 milhões.

A colônia

Hong Kong é um ótimo exemplo do que acontece com a economia de um local que não é explorado por políticos. Hong Kong é produto do abandono político. Isso mesmo: Hong Kong jamais teria se tornado a potência econômica que é hoje caso os políticos britânicos ou chineses tivessem demonstrado algum interesse pelo local no século XIX.

A Grã-Bretanha adquiriu a ilha de Hong Kong em 1842 (territórios adicionais viriam depois) por meio de um acordo entre um representante britânico — o capitão Charles Elliot — e um negociador chinês — o marques Ch'i-ying — como forma de solucionar um pequeno conflito que havia se iniciado em decorrência de contendas comerciais. (Uma das contendas envolvia uma compensação por causa de um confisco chinês do ópio britânico, mas a pendenga era mais ampla do que essa questão do ópio, e pesquisas recentes questionam a acurácia de se rotular toda essa questão como sendo uma mera "guerra do ópio").

O acordo resultante foi impopular tanto para a Corte Imperial chinesa quanto para o governo britânico. As autoridades chinesas não gostaram de ter de ceder um pedaço de terra para os britânicos e se preocuparam com o impacto sobre suas receitas tarifárias em decorrência da criação de um porto controlado pelos britânicos. Adicionalmente, os chineses tinham desprezo pela obsessão dos britânicos com o comércio. Já o governo britânico enxergava Hong Kong como uma localização ruim e pouco promissora em relação às possíveis alternativas, como a ilha de Formosa.

No entanto, a precária comunicação vigente no século XIX acabou forçando os dois governos a delegar a autoridade da resolução da contenda aos seus representantes locais. O resultado foi aquilo que o excelente livro de Frank Welsh, A History of Hong Kong, rotulou de "uma fonte de constrangimento e aborrecimento para seus progenitores desde seu surgimento no cenário internacional". (Doravante, todas as citações serão do livro de Welsh).

Os primórdios

As primeiras avaliações do potencial de Hong Kong foram pessimistas. O então futuro primeiro-ministro britânicoLord Palmerston, naquela que talvez seja a pior previsão já feita por um diplomata britânico, concluiu que se tratava de "uma ilha estéril e inaproveitável, a qual jamais será um pólo para o comércio". O então tesoureiro lotado em Hong Kong, Robert Montgomery Martin, que também escrevia prolificamente sobre as possessões estrangeiras britânicas, fez eco à análise de Palmerston em 1844, afirmando que "não há nenhum comércio visível em Hong Kong. . . . É difícil encontrar uma empresa na ilha. As poucas pessoas aqui se aventuraram estariam felizes se conseguissem recuperar metade do dinheiro que gastaram na ilha e fossem embora. . . . Não parece haver a mais mínima probabilidade de que, algum dia, sob quaisquer circunstâncias, Hong Kong venha a se tornar um local propício ao comércio".

No entanto, algum comércio começou a surgir em decorrência do estabelecimento de armazéns de mercadores britânicos. Mas as políticas adotadas inicialmente pela Grã-Bretanha em relação ao seu novo território quase nada fizeram para promover o crescimento econômico. Com efeito, uma investigação parlamentar de 1847 sobre a situação econômica de Hong Kong descobriu que o domínio britânico havia inicialmente levado consigo um governo empenhado em usar a ilha para coletar o "máximo possível de receitas", o que afetou severamente o comércio. E concluiu que "pode se datar desta época os reveses sofridos por Hong Kong".

Após isso, a Grã-Bretanha fez relativamente muito pouco com sua nova colônia, se concentrando apenas em manter a ordem pública e ampliar o império das leis. O resultado foi essencialmente um Porto de Tratado, muito semelhante àqueles que as potências europeias estabeleceram na China sob o Tratado de Nanquim em 1842-43. Um dos motivos para esta política relativamente sem interferências da Grã-Bretanha foi a persistência da visão adquirida pelos primeiros oficiais coloniais britânicos de que os chineses residentes em Hong Kong não queriam ou não apreciavam as legislações britânicas. Esta atitude foi ilustrada de maneira bem clara no depoimento prestado pelo Coronel John Malcolm, que estava lotado em Hong Kong, para um comitê do Parlamento britânico em meados do século XIX. Malcolm relatou que "os chineses são um povo peculiar e não gostam de sofrer interferências. Eles não nos entendem; eles não conseguem entender nossos métodos; e quando são recomendados a fazer primeiro uma coisa e só depois outra, eles se assustam e não mais nos procuram".

Se era ou não uma característica "peculiar" dos chineses não gostar de governos arbitrários, o fato é que a Grã-Bretanha parou de expedir ordens conflitantes e incompatíveis, e a tendência geral passou a ser a de deixar as pessoas em paz. Ambas estas políticas foram adotadas com o intuito de estimular. Como consequência, deram à colônia o benefício de regras claras e simples desde seus primórdios.

Um centro comercial natural?

O que a Grã-Bretanha criou em Hong Kong? A combinação entre o excelente porto e o primado das leis fez de Hong Kong um centro comercial natural. Mas Hong Kong não era o melhor local para se comercializar na China. Já no início do século XX, Xangai vinha crescendo em importância e, consequentemente, abocanhando uma fatia do comércio que até então passava por Hong Kong. Xangai possuía uma população mais educada e mais preparada, estava em uma localização mais conveniente, desfrutava uma proteção europeia por causa de tratados de concessões feitos pelo governo chinês, e sofria relativamente pouca interferência do governo chinês devido ao declínio do poder imperial.

Por volta de 1910, Xangai já havia se tornado um centro comercial significativamente mais importante do que Hong Kong. Com os britânicos optando por Cingapura — que era mais fácil de ser defendida — como centro do poder naval britânico na região, Hong Kong acabou perdendo o que restava de sua já pequena importância para o governo britânico. Como resultado, a colônia definhou e foi para o esquecimento, tornando-se mais conhecida como um centro de prostituição e de jogatina.

Mas houve algo que a Grã-Bretanha não criou em Hong Kong: um governo democrático. Ao contrário do que ocorreu na maioria das outras colônias britânicas, em Hong Kong não se permitiu que nenhuma instituição democrática local se desenvolvesse, pois os britânicos não estavam dispostos a dar à maioria chinesa uma voz na administração. Como resultado, concluiu Welsh, "Hong Kong continuaria tendo uma administração tão antidemocrática quanto qualquer governo chinês, mas com a importante diferença de que a autoridade final seria a lei, e não os caprichos de algum ditador".

O governo central imperial chinês nunca defendeu a liberdade econômica ao longo de sua história, e o período compreendido entre o final do século XIX e início do século XX não foi nenhuma exceção. À medida que o poder do governo central foi se esvanecendo, déspotas e chefes militares regionais começaram a estabelecer centros de poder rivais, mas igualmente predatórios. Os poderios europeu, americano e japonês também se expandiram na China, tentando ampliar o acesso de suas respectivas empresas ao mercado chinês. Mas tais poderios não criaram nenhuma liberdade econômica para a população chinesa dentro de suas esferas de influência.

Neste cenário, a estabilidade política de Hong Kong começou a atrair cada vez mais emigrantes que saíam da China. A população da colônia cresceu de 600.000 em 1920 para mais de um milhão em 1938. À medida que as condições foram se deteriorando na China com a invasão japonesa e com os conflitos entre os déspotas regionais, o Kuomitang (nacionalistas) e os comunistas, uma média de 5.000 migrantes por dia passou a aportar em Hong Kong.

Quando a ocupação japonesa terminou, em 1945, a economia de Hong Kong estava devastada. O golpe comunista na China, em 1949, acelerou a fuga de migrantes para Hong Kong. Em março de 1950, a cidade já tinha 2,3 milhões de pessoas.

Para piorar, embargos ao comércio com a China em 1951, durante a Guerra da Coréia, afetaram severamente a condição de entreposto comercial de Hong Kong, justamente a atividade sobre a qual se baseava uma grande fatia da economia local.

No entanto, havia um aspecto positivo: o golpe comunista na China e a consequente fuga de chineses para Hong Kong forneceu à colônia não apenas um número significativo de mão-de-obra, como também um grande capital humano, formado por empreendedores que conseguiram fugir do exército de Mao. Adicionalmente, a vitória dos comunistas na China fez com que Xangai deixasse de ser um concorrente para Hong Kong.

Superpovoada, refém de embargos comerciais, e com um contínuo influxo de refugiados, o que praticamente estrangulou a infraestrutura da colônia, Hong Kong teve de se reinventar.

A ilha passaria por uma transformação radical no início da década de 1960, com a adoção de políticas econômicas que criaram a potência econômica que Hong Kong hoje. Os detalhes desta transformação serão abordados no próximo artigo.

- https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1803

Com milhões de refugiados chineses, sofrendo com um embargo comercial e com sua infraestrutura estrangulada, a Hong Kong do início da década de 1950 parecia confirmar os prognósticos pessimistas feitos no século XIX.

No entanto, esta enxurrada de refugiados era composta por milhões de indivíduos que, embora completamente pobres, fugiram para Hong Kong em busca de liberdade. E embora Hong Kong não possuísse a infraestrutura adequada para recebê-los, ela fornecia ampla liberdade para qualquer indivíduo que quisesse colocar seus talentos empreendedoriais em ação.

Não havia na ilha as mesmas restrições cambiais vigentes no Reino Unido e em grande parte da Europa — o que significava que o dólar de Hong Kong, que era ancorado à libra esterlina, era livremente conversível em outras moedas —, e a quantidade de regulamentações sobre a economia era desprezível.

A combinação entre mão-de-obra à procura de trabalho e empreendedores com conhecimento e algum capital oriundos de Xangai — até então a grande cidade capitalista chinesa — forneceu a matéria-prima para o crescimento industrial iniciado na década de 1950. A economia começou a prosperar.

Os empreendedores de Hong Kong criaram rapidamente um número impressionante de pequenas e médias empresas durante este período, especialmente no setor têxtil. Estes empreendimentos, os quais acabaram se diversificando e se ramificando para setores como vestuário, plásticos e eletrônicos, produziam principalmente para atender a crescente demanda da Europa e dos EUA por bens manufaturados e baratos.

Essa rápida industrialização da década de 1950 foi possível porque ocorreu em condições nas quais 1) os direitos de propriedade eram respeitados, 2) o poder judiciário era independente e os tribunais, imparciais, e 3) a interferência econômica das autoridades coloniais era mínima.

Como o último governador britânico de Hong Kong, Christopher Patten, escreveu em seu livro de memórias, East and West, os refugiados do comunismo que correram para Hong Kong chegaram à única cidade livre da China; era de fato "a única sociedade chinesa que, por um breve período de 100 anos, viveu um ideal jamais vivenciado em nenhum outro momento da história da sociedade chinesa — um ideal em que nenhum homem tinha de viver com medo de uma batida à porta da sua casa à meia-noite".

Hong Kong tinha um governo limitado e competente, que se restringia a manter a lei e a ordem, e a permitir o funcionamento da economia de mercado. Era um governo que honrava completamente a filosofia confuciana: "Deixe as pessoas locais serem felizes e atraia migrantes longínquos."

Mais impressionante ainda foi o fato de que, enquanto o Reino Unido estava criando um estado altamente intervencionista e assistencialista em casa, sua colônia desfrutava uma política econômica fundamentalmente de livre mercado.

No entanto, houve um responsável pela prolongada existência desta política de livre mercado. Houve uma pessoa que seguidamente contrariou ordens do governo britânico e, com isso, permitiu a prosperidade de Hong Kong.

Sir John Cowperthwaite, o homem que permitiu a prosperidade de Hong Kong

O nome de Sir John James Cowperthwaite (1915—2006) deveria ocupar para sempre o topo do panteão dos grandes libertários. Enquanto vários de nós apenas escrevemos sobre ideias libertárias, este cidadão de fato as transformou em política pública para milhões de cidadãos.

Cowperthwaite foi nomeado secretário das finanças de Hong Kong para o período de 1961 a 1971. Escocês e discípulo fiel de Adam Smith, ele era assumidamente um economista na tradição da Escola de Manchester, ardorosa defensora do livre comércio.

Na época, com a Grã-Bretanha indo a passos firmes rumo ao socialismo e ao assistencialismo, Cowperthwaite permaneceu inflexível: Hong Kong deveria se manter fiel aos princípios do laissez-faire. Tendo praticamente controle completo sobre as finanças do governo de Hong Kong, ele se recusou a impor qualquer tipo de tarifa de importação e sempre insistiu em manter os impostos no nível mais baixo possível.

Ele era um liberal-clássico, bem ao estilo dos liberais do século XIX. Era fiel adepto da ideia de que os países deveriam se abrir unilateralmente para o comércio, sem esperar contrapartidas. Ele já estava em Hong Kong desde 1941, fazendo parte do Serviço Administrativo Colonial. Com a invasão japonesa, ele foi enviado para Serra Leoa. Ao voltar para Hong Kong, em 1946, os britânicos lhe pediram para elaborar planos e programas para que o governo pudesse estimular o crescimento econômico. Cowperthwaite apenas respondeu dizendo que a economia já estava se recuperando sem nenhuma ordem do governo.

Mais tarde, ao ser efetivamente nomeado secretário das finanças, em 1961, ele se tornou um defensor inflexível daquilo que passou a rotular de "não-intervencionismo positivo" e passou a pessoalmente controlar a política econômica da colônia.

Cowperthwaite transformou Hong Kong na economia mais livre do mundo. Durante o seu mandato, o livre comércio foi instituído plenamente, pois Cowperthwaite se recusava a obrigar os cidadãos a comprar bens caros produzidos localmente se eles podiam simplesmente importar produtos mais baratos de outros países. O imposto de renda sempre teve uma alíquota única, de 15%. A total escassez de recursos naturais em Hong Kong — havia apenas a enseada onde está o porto — e o fato de que a ilha tinha de importar até mesmo toda a sua comida tornam o sucesso de Hong Kong ainda mais fascinante.

"Para toda a nossa economia, é preferível confiarmos na 'mão invisível' do século XIX a aceitarmos que as canhestras mãos de burocratas manipulem os delicados mecanismos do mercado", declarou Cowperthwaite em 1962. "Em específico, não podemos deixar que burocratas danifiquem os principais mecanismos da economia, que são a livre iniciativa e a livre concorrência".

Ele não aceitava protecionismo nem para as chamadas "indústrias infantes": "Uma indústria infante, quando protegida e mimada, tende a permanecer infante, e jamais irá crescer e se tornar eficiente". Também acreditava firmemente que, "no longo prazo, o agregado das decisões individuais dos empreendedores, exercitando seu juízo individual em uma economia livre, mesmo cometendo erros, tende a ser bem menos danoso do que as decisões centralizadas de um governo; e certamente o eventual dano tende a ser contrabalançado mais rapidamente."

Desde os dias de John Maynard Keynes, a ciência econômica vem sendo atormentada pela ideia de que a ação humana deve ser destilada em números, os quais se transformam em uma "pretensão ao conhecimento" para aspirantes a planejadores centrais. Nas várias faculdades de economia atuais é difícil saber quando acaba a matemática e quando começa o real conhecimento econômico. Para Cowperthwaite, no entanto, a compilação de estatísticas para planejamento econômico era um anátema. Ele simplesmente se recusou a coletá-las. Quando Milton Friedman lhe questionou, em 1963, a respeito da "escassez de estatísticas", Cowperthwaite respondeu: "Se eu deixá-los coletar estatísticas, irão querer utilizá-las para planejar a economia".

Perguntado qual era a coisa mais premente que os países pobres deveriam fazer, Cowperthwaite respondeu: "Eles deveriam abolir seus institutos de estatísticas econômicas". Ele acreditava que, se estatísticas fossem coletadas em Hong Kong, elas estimulariam o governo britânico a implantar políticas supostamente corretivas, o que inevitavelmente afetaria a capacidade da economia de mercado funcionar corretamente. Isso gerou consternação no governo britânico. Uma delegação de burocratas foi enviada a Hong Kong para descobrir por que as estatísticas não estavam sendo coletadas. Cowperthwaite literalmente mandou-os de volta a Londres no primeiro avião.

O desprezo de Cowperthwaite pela teoria econômica em voga (keynesianismo) e sua abordagem não-intervencionista eram garantia de conflitos diários tanto com o governo britânico quanto com empresários. Os britânicos haviam elevado a alíquota do imposto de renda em Cingapura; quando ordenaram a Hong Kong que fizesse o mesmo, Cowperthwaite recusou. Ele era contrário a dar subsídios e a conceder benefícios especiais para empresas. Quando um grupo de empresários pediu a ele que providenciasse fundos para a construção de um túnel através da enseada de Hong Kong, ele respondeu dizendo que, se o túnel fosse economicamente sensato, o setor privado iria construí-lo. O túnel foi construído privadamente.

O legado de Cowperthwaite

Não obstante sua postura contrária, há estatísticas sobre a Hong Kong daquela época. Durante sua década como secretário das finanças, os salários reais subiram 50%, e a fatia da população vivenda na pobreza extrema caiu de 50 para 15%. O mais impressionante é que Hong Kong fez tudo isso sem contar com nenhum outro recurso que não fosse sua população. A colônia não possuía nenhuma terra agrícola e nenhum recurso natural. E até mesmo o único recurso que ela possuía — as pessoas — não era exatamente muito culto. Com efeito, a maior parte da massa de refugiados que chegou a Hong Kong na década de 1950 seria vista apenas como um fardo para o estado.

Também digno de menção é todo o contexto mundial vigente à época. A transformação de Hong Kong ocorreu exatamente quando os social-democratas controlavam a Europa e quando o democrata Lyndon Johnson e seu programa da Grande Sociedade dominava a política americana, o que refletia o consenso entre as elites políticas da Europa e dos EUA de que assistencialismo e políticas econômicas intervencionistas eram a única direção sensata para as sociedades avançadas. Mesmo nos países em desenvolvimento, políticas econômicas intervencionistas, como a industrialização por meio da substituição de importações — que se baseava na imposição de altas tarifas de importação para proteger as indústrias domésticas — eram a norma.

A pequena Hong Kong, portanto, conseguiu adotar e manter políticas de livre mercado e de livre comércio que iam totalmente contra as políticas dos governos britânico, europeus e americanos, e contra o consenso de economistas desenvolvimentistas em todo o mundo. E fez tudo isso enquanto ainda era pobre e estava perigosamente ao lado de uma poderosa e imperialista ditadura comunista.

É difícil argumentar contra o sucesso. Após a aposentadoria de Cowperthwaite, em 1971, sucessores menos adeptos aos seus princípios se mostraram mais propensos a aumentar os gastos assistencialistas, mas todos os aumentos foram financiados por meio da venda de terras, e não de aumento de impostos. As alíquotas tributárias estão hoje exatamente no mesmo valor em que Sir John James Cowperthwaite as deixou.

O avanço

As políticas de livre comércio, de não-intervenção do estado na economia, de orçamentos governamentais rigidamente equilibrados, de imposto de renda de pessoa física com alíquota única (15%), de mercado de trabalho bastante flexível, de livre fluxo de capitais, de não-restrição a investimentos estrangeiros (estrangeiros podem investir livremente em empresas locais e também deterem 100% do capital) se mantiveram inalteradas após a saída de Cowperthwaite.

Esta política econômica, a qual promoveu a concorrência e o espírito empreendedorial, criou as condições para o acelerado crescimento econômico vivenciado por Hong Kong nas décadas seguintes. Entre 1961 e 2012, o PIB real per capita de Hong Kong foi multiplicado por um fator 9. Hoje, o PIB per capita de Hong Kong, em termos de paridade do poder de compra, é o 7º maior do mundo.

Ou seja, em apenas algumas décadas, Hong Kong, sem recursos naturais, sofrendo dos mesmos problemas enfrentados por todos os outros países em desenvolvimento, e cuja renda média per capita era de apenas 28% da dos residentes do Reino Unido, deixou de ser uma favela a céu aberto e se tornou uma das economias mais ricas do mundo, superando em muito a renda média per capita de sua metrópole.

De economia industrial a uma economia de serviços

O primeiro estágio do desenvolvimento de Hong Kong baseou-se na indústria manufatureira. No entanto, as reformas econômicas feitas na China e a política de abertura ao investimento estrangeiro adotada por Deng Xiaoping a partir de 1978 alteraram profundamente a natureza da economia de Hong Kong nas décadas seguintes.

O setor manufatureiro começou a declinar e a perder peso na economia no final de década de 1970 em decorrência de aumentos nos preços da terra — uma inevitabilidade para um local tão pequeno e povoado — e nos salários. No entanto, a crescente integração econômica entre Hong Kong e China permitiu à ilha realocar sua produção para as zonas econômicas especiais na província adjacente de Guangdong, na China.

Estas zonas, que foram criadas no início de 1980, ofereceram aos investidores de Hong Kong a oportunidade de aumentar sua competitividade ao recorrerem a uma mão-de-obra barata e abundante (chinesa) ao mesmo tempo em que ainda usufruíam as mesmas condições não-intervencionistas do governo chinês quanto recebiam em Hong Kong. De 1978 a 1997, o comércio entre Hong Kong e China cresceu a uma taxa média anual de 28%. Ao final de 1997, o investimento direto feito por Hong Kong representava 80% de todo o investimento estrangeiro direto em Guangdong.

Estes novos desenvolvimentos alteraram significativamente a economia de Hong Kong. A participação da indústria na economia declinou de 31% em 1980 para 14% em 1997 e 8% em 2008; o setor de serviços, por outro lado, aumentou sua participação consideravelmente, de 68% em 1980 para 86% em 1997 e 92% em 2008.

Desde 1997, a economia de Hong Kong se tornou um pólo para serviços de alto valor agregado (finanças, administração, logística, consultoria empresarial, comércio etc.). Atualmente ela atrai tanto empresas chinesas que querem entrar no mercado internacional quanto empresas de todo o mundo que querem ter acesso aos mercados da China e do resto da Ásia.

A manutenção das instituições de livre mercado

Já no início da década de 1980, a perspectiva de uma iminente devolução de Hong Kong à soberania chinesa produziu grande incerteza com relação à manutenção das instituições que tornaram o território uma região rica e próspera. Esta preocupação, no entanto, foi rapidamente abrandada.

Na Declaração Conjunta Sino-Britânica, assinada no dia 9 de dezembro de 1984, foi estabelecido que Hong Kong deixaria de ser um território sob controle britânico no dia 1º de julho de 1997. O princípio do "um país, dois sistemas" também foi acordado nesta data. Com a exceção das relações exteriores e da defesa nacional, o acordo concedeu ampla autonomia ao território e permitiu a Hong Kong manter seu sistema capitalista e seu estilo de vida por um período de 50 anos, até 2047.

Hong Kong hoje é uma Região Administrativa Especial da República Popular da China. Ela preservou o grosso do seu sistema político, judicial, econômico e financeiro que caracterizou a colônia quando estava sob controle britânico. O poder judiciário é independente do poder político e continua a operar sob o sistema do direito consuetudinário herdado dos britânicos. Os direitos de propriedade são garantidos na Constituição da Região Administrativa Especial de Hong Kong. Seus cidadãos desfrutam amplas e fundamentais liberdades individuais.

Conclusão

Em 1960, a renda média per capita de Hong Kong era de apenas 28% da renda média per capita da Grã-Bretanha. Atualmente, é de 140%. Ou seja, de 1960 a 2012, a renda per capita de Hong Kong deixou de ser de aproximadamente um quarto da da Grã-Bretanha e passou a ser mais de um terço maior. É fácil falar destes números. Muito mais difícil é se dar conta de sua significância.

Compare a Grã-Bretanha — o berço da Revolução Industrial, a potência econômica do século XIX em cujo império o sol jamais se punha — a Hong Kong, uma mera restinga de terra, superpovoada, sem nenhum recurso natural, exceto uma enseada. No entanto, em menos de quatro décadas, os residentes desta restinga de terra alcançaram um nível de renda um terço maior do que aquele desfrutado pelos residentes de sua metrópole.

O retorno de Hong Kong à China era inevitável, assim como era inevitável a determinação do governo chinês em preservar o capitalismo de Hong Kong. O interesse da China em preservar sua galinha dos ovos de ouro era claro: a China sempre utilizou Hong Kong — a qual ela podia atacar e tomar à força a qualquer momento — como um meio de acesso aos mercados estrangeiros e também como fonte de capital. Houve épocas em que 80% das receitas externas da China entrava através de Hong Kong. A China também queria demonstrar a Taiwan que uma reunificação pacífica era possível.

O perigo sempre foi o de a liderança chinesa não entender a relação entre o hardware de Hong Kong (a economia capitalista) e o seu software (uma sociedade pluralista). É o seu software que permite que seu hardware funcione tão bem. Até o momento, os novos governantes de Hong Kong vêm se comprovando notavelmente aptos a dar continuidade ao funcionamento harmônico entre o hardware e o software. A grande questão é se isso permanecerá assim no futuro.

Não foram apenas os britânicos que fizeram de Hong Kong um sucesso. Foi principalmente a população de Hong Kong, de operários de fábricas a empreendedores, quem transformou uma ilha estéril em potência econômica. Essas pessoas foram capazes de fazer isso porque o governo de Hong Kong, na maior parte do tempo, as deixou em paz. Hong Kong está longe de ser perfeita, e longe de ser um paraíso libertário. Mas permanece sendo um dramático exemplo de como a genialidade humana e o talento empreendedorial podem trazer prosperidade a uma sociedade originalmente pobre.

Por que Hong Kong sempre foi tão livre? Em parte, Hong Kong teve a sorte de ser governada por homens que entendiam que sua função era bastante limitada. Não era exatamente o ideal liberal-clássico, mesmo sob Cowperthwaite, mas ainda assim foi a sociedade que mais significativamente se aproximou deste ideal no século XX. E a combinação entre a incapacidade do governo britânico em fornecer instituições democráticas e sua falta de interesse em Hong Kong permitiu àqueles homens manter suas políticas econômicas, mesmo enquanto sua própria Grã-Bretanha natal experimentava o desastre econômico do socialismo light dos anos 1950-70. Hong Kong também se beneficiou do exemplo das desastrosas políticas econômicas da China na década de 1960. Com tantos residentes chineses fugindo do comunismo e se refugiando em Hong Kong, a demanda por liberdade era alta.

Hong Kong é um dos mais formidáveis e conclusivos exemplos de uma sociedade que teve grande êxito em fugir do subdesenvolvimento e enriquecer recorrendo à liberdade econômica. Hong Kong teve sorte em ter tido essa liberdade. E a sua população provou que a liberdade funciona.

-https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1804

Postado (editado)

falando em economia, me lembrei desta imagem. Phoda!

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Cara, essa piada é engraçada com exceção às menções ao Socialismo e ao Comunismo (o que faz quase parecer uma piada feita por alguém afeito à Esquerda).

O mais correto seria : "Socialismo: você tem duas vacas. O governo taxa a sua produção de leite em 60%, cria doze estatais para cuidar de vacas e leites e precisa captar dinheiro no mercado internacional para financiar seu crescente deficit fiscal. Em alguns anos, o país quebra e você não tem mais pra quem vender seu leite. Você e o resto do país morrem pobre." "Comunismo: você tem duas vacas. O governo toma as suas vacas e obriga você a comprar apenas 02 copos de leite por semana, através de cupons de consumo. O governo também estatiza todos os meios de comunicação e acaba com a instituções. Em alguns anos, diversos campos de concentração aglomeram-se pelo país lotados de "combatentes do regime". Você provavelmente fugirá em uma jangada para um país do outro lado do golfo, estará preso em um dos campos ou terá se convertido ao partido e estará gordo e corrupto bebendo Jack Daniels com seus camaradas."

Capitalismo "Neoliberal" Brasileiro:

Você tem duas vacas. O estado estatiza as duas, elas emagrecem e param de dar leite. O estado privatiza meia vaca para você pelo preço de duas vacas. Você se esforça e a vaca volta a produzir leite. O estado fica com 50% (+ impostos) do leite da vaca. Ninguém pode ter uma vaca. Um balde de leite é o preço de uma vaca. O estado te culpa por isso e todo mundo acredita. Você se acha esperto por ter meia vaca...

De onde você tirou a palavra "neoliberal"? Se existe alguma coisa que o país não é há décadas é neoliberal.

Seu raciocínio não faz sentindo... A sua solução para os males do intervencionismo é gerar mais intervencionismo a fim de promover uma "justiça social" com o pequeno empresário?

Você partiu do pressuposto de que o que realmente atrapalha o pequeno negócio a se alavancar é a existência de uma grande empresa com grande parte do mercado e que se houvesse o livre mercado, esse pequeno negócio não conseguiria achar meios de se desenvolver, uma vez que essa empresa já estaria em vantagem sobre o pequeno comércio.

Porém, o que na verdade dificulta o desenvolvimento de novas empresa é justamente esse intervencionismo e não o fato de existirem empresas já instaladas em um determinado local. Você falha em perceber, que as informações dispersas na economia acerca de oportunidades de lucro, tecnologia, e etc., está em constante mudança e não são dados eternos e imutáveis que sempre existiram e sempre vão permanecer no mesmo estado.

Talvez os pequenos empreendedores se reunirão e conseguirão algum meio de competir com a grande empresa... Talvez outras empresas de outros países virão ao país e fornecerão serviços melhores e com mais qualidade, uma vez que não haveria agências reguladoras controlando quem entra no mercado ou não.

Enfim, obstáculos não haveriam, e isso que faz a economia prosperar.

Outro artigo interessante sobre livre mercado e como ele afeta as economias de maneira positiva:

Por vinte anos consecutivos, o Índice de Liberdade Econômica, compilado pelo The Wall Street Journal e pela Heritage Foundation, classifica Hong Kong como a economia mais livre do mundo. Este último ranking da Heritage confirma o que o Fraser Institute, do Canadá, também afirmou em seu último Índice, o qual também classificou a economia de Hong Kong como a mais livre do mundo. O Banco Mundial, por sua vez, classifica a "facilidade de se fazer negócios" em Hong Kong como a melhor do planeta.

Embora faça parte da China desde que a Grã-Bretanha cedeu seu controle em 1997, Hong Kong é governado em termos estritamente locais. Até o momento, o governo chinês tem se mantido razoavelmente fiel à sua promessa de deixar a economia de Hong Kong em paz.

O que torna a economia de Hong Kong tão livre são aqueles detalhes que soam como música aos ouvidos de qualquer indivíduo que ama a liberdade: corrupção relativamente baixa; um judiciário eficiente e independente; respeito pleno aos direitos de propriedade; império das leis; um sistema tributário extremamente simples e com baixas alíquotas tanto para pessoas físicas quanto para jurídicas, e uma carga tributária total de apenas 14% do PIB; ausência de impostos sobre ganhos de capital, de renda de juros e até mesmo de renda obtida no exterior; ausência de impostos sobre vendas e sobre valor agregado; um aparato regulatório quase invisível; um orçamento governamental equilibrado, sem déficits, e com uma dívida pública praticamente inexistente. Ah, e tarifas de importação em praticamente zero. Isso mesmo, zero!

Dizer que uma economia é a "mais livre" é o mesmo que dizer que ela é "a mais capitalista". Capitalismo é o que ocorre naturalmente quando você permite que pessoas pacíficas cuidem de suas próprias vidas. Não é necessário elaborar nenhum mecanismo artificial comandado por burocratas de carreira confortavelmente instalados em suas torres de marfim. Não é necessário inventar nenhum esquema mirabolante e aparentemente sofisticado. Basta apenas deixar as pessoas em paz.

Se formos acreditar naquilo que dizem os críticos do capitalismo, então Hong Kong tem necessariamente de ser um inferno repleto de pobreza, exploração e desespero.

Mas não. Muito pelo contrário, aliás.

Talvez seja por isso que os socialistas não gostam de falar sobre Hong Kong: não apenas é a economia mais livre do mundo, como também é uma das mais ricas. Sua renda per capita, 2,64 vezes maior do que a média mundial, mais do que duplicou nos últimos 15 anos. As pessoas não fogem de Hong Kong; elas correm para Hong Kong. Ao final da Segunda Guerra Mundial, a população de Hong Kong era de 750.000. Hoje é quase dez vezes maior: 7,1 milhões.

A colônia

Hong Kong é um ótimo exemplo do que acontece com a economia de um local que não é explorado por políticos. Hong Kong é produto do abandono político. Isso mesmo: Hong Kong jamais teria se tornado a potência econômica que é hoje caso os políticos britânicos ou chineses tivessem demonstrado algum interesse pelo local no século XIX.

A Grã-Bretanha adquiriu a ilha de Hong Kong em 1842 (territórios adicionais viriam depois) por meio de um acordo entre um representante britânico — o capitão Charles Elliot — e um negociador chinês — o marques Ch'i-ying — como forma de solucionar um pequeno conflito que havia se iniciado em decorrência de contendas comerciais. (Uma das contendas envolvia uma compensação por causa de um confisco chinês do ópio britânico, mas a pendenga era mais ampla do que essa questão do ópio, e pesquisas recentes questionam a acurácia de se rotular toda essa questão como sendo uma mera "guerra do ópio").

O acordo resultante foi impopular tanto para a Corte Imperial chinesa quanto para o governo britânico. As autoridades chinesas não gostaram de ter de ceder um pedaço de terra para os britânicos e se preocuparam com o impacto sobre suas receitas tarifárias em decorrência da criação de um porto controlado pelos britânicos. Adicionalmente, os chineses tinham desprezo pela obsessão dos britânicos com o comércio. Já o governo britânico enxergava Hong Kong como uma localização ruim e pouco promissora em relação às possíveis alternativas, como a ilha de Formosa.

No entanto, a precária comunicação vigente no século XIX acabou forçando os dois governos a delegar a autoridade da resolução da contenda aos seus representantes locais. O resultado foi aquilo que o excelente livro de Frank Welsh, A History of Hong Kong, rotulou de "uma fonte de constrangimento e aborrecimento para seus progenitores desde seu surgimento no cenário internacional". (Doravante, todas as citações serão do livro de Welsh).

Os primórdios

As primeiras avaliações do potencial de Hong Kong foram pessimistas. O então futuro primeiro-ministro britânicoLord Palmerston, naquela que talvez seja a pior previsão já feita por um diplomata britânico, concluiu que se tratava de "uma ilha estéril e inaproveitável, a qual jamais será um pólo para o comércio". O então tesoureiro lotado em Hong Kong, Robert Montgomery Martin, que também escrevia prolificamente sobre as possessões estrangeiras britânicas, fez eco à análise de Palmerston em 1844, afirmando que "não há nenhum comércio visível em Hong Kong. . . . É difícil encontrar uma empresa na ilha. As poucas pessoas aqui se aventuraram estariam felizes se conseguissem recuperar metade do dinheiro que gastaram na ilha e fossem embora. . . . Não parece haver a mais mínima probabilidade de que, algum dia, sob quaisquer circunstâncias, Hong Kong venha a se tornar um local propício ao comércio".

No entanto, algum comércio começou a surgir em decorrência do estabelecimento de armazéns de mercadores britânicos. Mas as políticas adotadas inicialmente pela Grã-Bretanha em relação ao seu novo território quase nada fizeram para promover o crescimento econômico. Com efeito, uma investigação parlamentar de 1847 sobre a situação econômica de Hong Kong descobriu que o domínio britânico havia inicialmente levado consigo um governo empenhado em usar a ilha para coletar o "máximo possível de receitas", o que afetou severamente o comércio. E concluiu que "pode se datar desta época os reveses sofridos por Hong Kong".

Após isso, a Grã-Bretanha fez relativamente muito pouco com sua nova colônia, se concentrando apenas em manter a ordem pública e ampliar o império das leis. O resultado foi essencialmente um Porto de Tratado, muito semelhante àqueles que as potências europeias estabeleceram na China sob o Tratado de Nanquim em 1842-43. Um dos motivos para esta política relativamente sem interferências da Grã-Bretanha foi a persistência da visão adquirida pelos primeiros oficiais coloniais britânicos de que os chineses residentes em Hong Kong não queriam ou não apreciavam as legislações britânicas. Esta atitude foi ilustrada de maneira bem clara no depoimento prestado pelo Coronel John Malcolm, que estava lotado em Hong Kong, para um comitê do Parlamento britânico em meados do século XIX. Malcolm relatou que "os chineses são um povo peculiar e não gostam de sofrer interferências. Eles não nos entendem; eles não conseguem entender nossos métodos; e quando são recomendados a fazer primeiro uma coisa e só depois outra, eles se assustam e não mais nos procuram".

Se era ou não uma característica "peculiar" dos chineses não gostar de governos arbitrários, o fato é que a Grã-Bretanha parou de expedir ordens conflitantes e incompatíveis, e a tendência geral passou a ser a de deixar as pessoas em paz. Ambas estas políticas foram adotadas com o intuito de estimular. Como consequência, deram à colônia o benefício de regras claras e simples desde seus primórdios.

Um centro comercial natural?

O que a Grã-Bretanha criou em Hong Kong? A combinação entre o excelente porto e o primado das leis fez de Hong Kong um centro comercial natural. Mas Hong Kong não era o melhor local para se comercializar na China. Já no início do século XX, Xangai vinha crescendo em importância e, consequentemente, abocanhando uma fatia do comércio que até então passava por Hong Kong. Xangai possuía uma população mais educada e mais preparada, estava em uma localização mais conveniente, desfrutava uma proteção europeia por causa de tratados de concessões feitos pelo governo chinês, e sofria relativamente pouca interferência do governo chinês devido ao declínio do poder imperial.

Por volta de 1910, Xangai já havia se tornado um centro comercial significativamente mais importante do que Hong Kong. Com os britânicos optando por Cingapura — que era mais fácil de ser defendida — como centro do poder naval britânico na região, Hong Kong acabou perdendo o que restava de sua já pequena importância para o governo britânico. Como resultado, a colônia definhou e foi para o esquecimento, tornando-se mais conhecida como um centro de prostituição e de jogatina.

Mas houve algo que a Grã-Bretanha não criou em Hong Kong: um governo democrático. Ao contrário do que ocorreu na maioria das outras colônias britânicas, em Hong Kong não se permitiu que nenhuma instituição democrática local se desenvolvesse, pois os britânicos não estavam dispostos a dar à maioria chinesa uma voz na administração. Como resultado, concluiu Welsh, "Hong Kong continuaria tendo uma administração tão antidemocrática quanto qualquer governo chinês, mas com a importante diferença de que a autoridade final seria a lei, e não os caprichos de algum ditador".

O governo central imperial chinês nunca defendeu a liberdade econômica ao longo de sua história, e o período compreendido entre o final do século XIX e início do século XX não foi nenhuma exceção. À medida que o poder do governo central foi se esvanecendo, déspotas e chefes militares regionais começaram a estabelecer centros de poder rivais, mas igualmente predatórios. Os poderios europeu, americano e japonês também se expandiram na China, tentando ampliar o acesso de suas respectivas empresas ao mercado chinês. Mas tais poderios não criaram nenhuma liberdade econômica para a população chinesa dentro de suas esferas de influência.

Neste cenário, a estabilidade política de Hong Kong começou a atrair cada vez mais emigrantes que saíam da China. A população da colônia cresceu de 600.000 em 1920 para mais de um milhão em 1938. À medida que as condições foram se deteriorando na China com a invasão japonesa e com os conflitos entre os déspotas regionais, o Kuomitang (nacionalistas) e os comunistas, uma média de 5.000 migrantes por dia passou a aportar em Hong Kong.

Quando a ocupação japonesa terminou, em 1945, a economia de Hong Kong estava devastada. O golpe comunista na China, em 1949, acelerou a fuga de migrantes para Hong Kong. Em março de 1950, a cidade já tinha 2,3 milhões de pessoas.

Para piorar, embargos ao comércio com a China em 1951, durante a Guerra da Coréia, afetaram severamente a condição de entreposto comercial de Hong Kong, justamente a atividade sobre a qual se baseava uma grande fatia da economia local.

No entanto, havia um aspecto positivo: o golpe comunista na China e a consequente fuga de chineses para Hong Kong forneceu à colônia não apenas um número significativo de mão-de-obra, como também um grande capital humano, formado por empreendedores que conseguiram fugir do exército de Mao. Adicionalmente, a vitória dos comunistas na China fez com que Xangai deixasse de ser um concorrente para Hong Kong.

Superpovoada, refém de embargos comerciais, e com um contínuo influxo de refugiados, o que praticamente estrangulou a infraestrutura da colônia, Hong Kong teve de se reinventar.

A ilha passaria por uma transformação radical no início da década de 1960, com a adoção de políticas econômicas que criaram a potência econômica que Hong Kong hoje. Os detalhes desta transformação serão abordados no próximo artigo.

- https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1803

Com milhões de refugiados chineses, sofrendo com um embargo comercial e com sua infraestrutura estrangulada, a Hong Kong do início da década de 1950 parecia confirmar os prognósticos pessimistas feitos no século XIX.

No entanto, esta enxurrada de refugiados era composta por milhões de indivíduos que, embora completamente pobres, fugiram para Hong Kong em busca de liberdade. E embora Hong Kong não possuísse a infraestrutura adequada para recebê-los, ela fornecia ampla liberdade para qualquer indivíduo que quisesse colocar seus talentos empreendedoriais em ação.

Não havia na ilha as mesmas restrições cambiais vigentes no Reino Unido e em grande parte da Europa — o que significava que o dólar de Hong Kong, que era ancorado à libra esterlina, era livremente conversível em outras moedas —, e a quantidade de regulamentações sobre a economia era desprezível.

A combinação entre mão-de-obra à procura de trabalho e empreendedores com conhecimento e algum capital oriundos de Xangai — até então a grande cidade capitalista chinesa — forneceu a matéria-prima para o crescimento industrial iniciado na década de 1950. A economia começou a prosperar.

Os empreendedores de Hong Kong criaram rapidamente um número impressionante de pequenas e médias empresas durante este período, especialmente no setor têxtil. Estes empreendimentos, os quais acabaram se diversificando e se ramificando para setores como vestuário, plásticos e eletrônicos, produziam principalmente para atender a crescente demanda da Europa e dos EUA por bens manufaturados e baratos.

Essa rápida industrialização da década de 1950 foi possível porque ocorreu em condições nas quais 1) os direitos de propriedade eram respeitados, 2) o poder judiciário era independente e os tribunais, imparciais, e 3) a interferência econômica das autoridades coloniais era mínima.

Como o último governador britânico de Hong Kong, Christopher Patten, escreveu em seu livro de memórias, East and West, os refugiados do comunismo que correram para Hong Kong chegaram à única cidade livre da China; era de fato "a única sociedade chinesa que, por um breve período de 100 anos, viveu um ideal jamais vivenciado em nenhum outro momento da história da sociedade chinesa — um ideal em que nenhum homem tinha de viver com medo de uma batida à porta da sua casa à meia-noite".

Hong Kong tinha um governo limitado e competente, que se restringia a manter a lei e a ordem, e a permitir o funcionamento da economia de mercado. Era um governo que honrava completamente a filosofia confuciana: "Deixe as pessoas locais serem felizes e atraia migrantes longínquos."

Mais impressionante ainda foi o fato de que, enquanto o Reino Unido estava criando um estado altamente intervencionista e assistencialista em casa, sua colônia desfrutava uma política econômica fundamentalmente de livre mercado.

No entanto, houve um responsável pela prolongada existência desta política de livre mercado. Houve uma pessoa que seguidamente contrariou ordens do governo britânico e, com isso, permitiu a prosperidade de Hong Kong.

Sir John Cowperthwaite, o homem que permitiu a prosperidade de Hong Kong

O nome de Sir John James Cowperthwaite (1915—2006) deveria ocupar para sempre o topo do panteão dos grandes libertários. Enquanto vários de nós apenas escrevemos sobre ideias libertárias, este cidadão de fato as transformou em política pública para milhões de cidadãos.

Cowperthwaite foi nomeado secretário das finanças de Hong Kong para o período de 1961 a 1971. Escocês e discípulo fiel de Adam Smith, ele era assumidamente um economista na tradição da Escola de Manchester, ardorosa defensora do livre comércio.

Na época, com a Grã-Bretanha indo a passos firmes rumo ao socialismo e ao assistencialismo, Cowperthwaite permaneceu inflexível: Hong Kong deveria se manter fiel aos princípios do laissez-faire. Tendo praticamente controle completo sobre as finanças do governo de Hong Kong, ele se recusou a impor qualquer tipo de tarifa de importação e sempre insistiu em manter os impostos no nível mais baixo possível.

Ele era um liberal-clássico, bem ao estilo dos liberais do século XIX. Era fiel adepto da ideia de que os países deveriam se abrir unilateralmente para o comércio, sem esperar contrapartidas. Ele já estava em Hong Kong desde 1941, fazendo parte do Serviço Administrativo Colonial. Com a invasão japonesa, ele foi enviado para Serra Leoa. Ao voltar para Hong Kong, em 1946, os britânicos lhe pediram para elaborar planos e programas para que o governo pudesse estimular o crescimento econômico. Cowperthwaite apenas respondeu dizendo que a economia já estava se recuperando sem nenhuma ordem do governo.

Mais tarde, ao ser efetivamente nomeado secretário das finanças, em 1961, ele se tornou um defensor inflexível daquilo que passou a rotular de "não-intervencionismo positivo" e passou a pessoalmente controlar a política econômica da colônia.

Cowperthwaite transformou Hong Kong na economia mais livre do mundo. Durante o seu mandato, o livre comércio foi instituído plenamente, pois Cowperthwaite se recusava a obrigar os cidadãos a comprar bens caros produzidos localmente se eles podiam simplesmente importar produtos mais baratos de outros países. O imposto de renda sempre teve uma alíquota única, de 15%. A total escassez de recursos naturais em Hong Kong — havia apenas a enseada onde está o porto — e o fato de que a ilha tinha de importar até mesmo toda a sua comida tornam o sucesso de Hong Kong ainda mais fascinante.

"Para toda a nossa economia, é preferível confiarmos na 'mão invisível' do século XIX a aceitarmos que as canhestras mãos de burocratas manipulem os delicados mecanismos do mercado", declarou Cowperthwaite em 1962. "Em específico, não podemos deixar que burocratas danifiquem os principais mecanismos da economia, que são a livre iniciativa e a livre concorrência".

Ele não aceitava protecionismo nem para as chamadas "indústrias infantes": "Uma indústria infante, quando protegida e mimada, tende a permanecer infante, e jamais irá crescer e se tornar eficiente". Também acreditava firmemente que, "no longo prazo, o agregado das decisões individuais dos empreendedores, exercitando seu juízo individual em uma economia livre, mesmo cometendo erros, tende a ser bem menos danoso do que as decisões centralizadas de um governo; e certamente o eventual dano tende a ser contrabalançado mais rapidamente."

Desde os dias de John Maynard Keynes, a ciência econômica vem sendo atormentada pela ideia de que a ação humana deve ser destilada em números, os quais se transformam em uma "pretensão ao conhecimento" para aspirantes a planejadores centrais. Nas várias faculdades de economia atuais é difícil saber quando acaba a matemática e quando começa o real conhecimento econômico. Para Cowperthwaite, no entanto, a compilação de estatísticas para planejamento econômico era um anátema. Ele simplesmente se recusou a coletá-las. Quando Milton Friedman lhe questionou, em 1963, a respeito da "escassez de estatísticas", Cowperthwaite respondeu: "Se eu deixá-los coletar estatísticas, irão querer utilizá-las para planejar a economia".

Perguntado qual era a coisa mais premente que os países pobres deveriam fazer, Cowperthwaite respondeu: "Eles deveriam abolir seus institutos de estatísticas econômicas". Ele acreditava que, se estatísticas fossem coletadas em Hong Kong, elas estimulariam o governo britânico a implantar políticas supostamente corretivas, o que inevitavelmente afetaria a capacidade da economia de mercado funcionar corretamente. Isso gerou consternação no governo britânico. Uma delegação de burocratas foi enviada a Hong Kong para descobrir por que as estatísticas não estavam sendo coletadas. Cowperthwaite literalmente mandou-os de volta a Londres no primeiro avião.

O desprezo de Cowperthwaite pela teoria econômica em voga (keynesianismo) e sua abordagem não-intervencionista eram garantia de conflitos diários tanto com o governo britânico quanto com empresários. Os britânicos haviam elevado a alíquota do imposto de renda em Cingapura; quando ordenaram a Hong Kong que fizesse o mesmo, Cowperthwaite recusou. Ele era contrário a dar subsídios e a conceder benefícios especiais para empresas. Quando um grupo de empresários pediu a ele que providenciasse fundos para a construção de um túnel através da enseada de Hong Kong, ele respondeu dizendo que, se o túnel fosse economicamente sensato, o setor privado iria construí-lo. O túnel foi construído privadamente.

O legado de Cowperthwaite

Não obstante sua postura contrária, há estatísticas sobre a Hong Kong daquela época. Durante sua década como secretário das finanças, os salários reais subiram 50%, e a fatia da população vivenda na pobreza extrema caiu de 50 para 15%. O mais impressionante é que Hong Kong fez tudo isso sem contar com nenhum outro recurso que não fosse sua população. A colônia não possuía nenhuma terra agrícola e nenhum recurso natural. E até mesmo o único recurso que ela possuía — as pessoas — não era exatamente muito culto. Com efeito, a maior parte da massa de refugiados que chegou a Hong Kong na década de 1950 seria vista apenas como um fardo para o estado.

Também digno de menção é todo o contexto mundial vigente à época. A transformação de Hong Kong ocorreu exatamente quando os social-democratas controlavam a Europa e quando o democrata Lyndon Johnson e seu programa da Grande Sociedade dominava a política americana, o que refletia o consenso entre as elites políticas da Europa e dos EUA de que assistencialismo e políticas econômicas intervencionistas eram a única direção sensata para as sociedades avançadas. Mesmo nos países em desenvolvimento, políticas econômicas intervencionistas, como a industrialização por meio da substituição de importações — que se baseava na imposição de altas tarifas de importação para proteger as indústrias domésticas — eram a norma.

A pequena Hong Kong, portanto, conseguiu adotar e manter políticas de livre mercado e de livre comércio que iam totalmente contra as políticas dos governos britânico, europeus e americanos, e contra o consenso de economistas desenvolvimentistas em todo o mundo. E fez tudo isso enquanto ainda era pobre e estava perigosamente ao lado de uma poderosa e imperialista ditadura comunista.

É difícil argumentar contra o sucesso. Após a aposentadoria de Cowperthwaite, em 1971, sucessores menos adeptos aos seus princípios se mostraram mais propensos a aumentar os gastos assistencialistas, mas todos os aumentos foram financiados por meio da venda de terras, e não de aumento de impostos. As alíquotas tributárias estão hoje exatamente no mesmo valor em que Sir John James Cowperthwaite as deixou.

O avanço

As políticas de livre comércio, de não-intervenção do estado na economia, de orçamentos governamentais rigidamente equilibrados, de imposto de renda de pessoa física com alíquota única (15%), de mercado de trabalho bastante flexível, de livre fluxo de capitais, de não-restrição a investimentos estrangeiros (estrangeiros podem investir livremente em empresas locais e também deterem 100% do capital) se mantiveram inalteradas após a saída de Cowperthwaite.

Esta política econômica, a qual promoveu a concorrência e o espírito empreendedorial, criou as condições para o acelerado crescimento econômico vivenciado por Hong Kong nas décadas seguintes. Entre 1961 e 2012, o PIB real per capita de Hong Kong foi multiplicado por um fator 9. Hoje, o PIB per capita de Hong Kong, em termos de paridade do poder de compra, é o 7º maior do mundo.

Ou seja, em apenas algumas décadas, Hong Kong, sem recursos naturais, sofrendo dos mesmos problemas enfrentados por todos os outros países em desenvolvimento, e cuja renda média per capita era de apenas 28% da dos residentes do Reino Unido, deixou de ser uma favela a céu aberto e se tornou uma das economias mais ricas do mundo, superando em muito a renda média per capita de sua metrópole.

De economia industrial a uma economia de serviços

O primeiro estágio do desenvolvimento de Hong Kong baseou-se na indústria manufatureira. No entanto, as reformas econômicas feitas na China e a política de abertura ao investimento estrangeiro adotada por Deng Xiaoping a partir de 1978 alteraram profundamente a natureza da economia de Hong Kong nas décadas seguintes.

O setor manufatureiro começou a declinar e a perder peso na economia no final de década de 1970 em decorrência de aumentos nos preços da terra — uma inevitabilidade para um local tão pequeno e povoado — e nos salários. No entanto, a crescente integração econômica entre Hong Kong e China permitiu à ilha realocar sua produção para as zonas econômicas especiais na província adjacente de Guangdong, na China.

Estas zonas, que foram criadas no início de 1980, ofereceram aos investidores de Hong Kong a oportunidade de aumentar sua competitividade ao recorrerem a uma mão-de-obra barata e abundante (chinesa) ao mesmo tempo em que ainda usufruíam as mesmas condições não-intervencionistas do governo chinês quanto recebiam em Hong Kong. De 1978 a 1997, o comércio entre Hong Kong e China cresceu a uma taxa média anual de 28%. Ao final de 1997, o investimento direto feito por Hong Kong representava 80% de todo o investimento estrangeiro direto em Guangdong.

Estes novos desenvolvimentos alteraram significativamente a economia de Hong Kong. A participação da indústria na economia declinou de 31% em 1980 para 14% em 1997 e 8% em 2008; o setor de serviços, por outro lado, aumentou sua participação consideravelmente, de 68% em 1980 para 86% em 1997 e 92% em 2008.

Desde 1997, a economia de Hong Kong se tornou um pólo para serviços de alto valor agregado (finanças, administração, logística, consultoria empresarial, comércio etc.). Atualmente ela atrai tanto empresas chinesas que querem entrar no mercado internacional quanto empresas de todo o mundo que querem ter acesso aos mercados da China e do resto da Ásia.

A manutenção das instituições de livre mercado

Já no início da década de 1980, a perspectiva de uma iminente devolução de Hong Kong à soberania chinesa produziu grande incerteza com relação à manutenção das instituições que tornaram o território uma região rica e próspera. Esta preocupação, no entanto, foi rapidamente abrandada.

Na Declaração Conjunta Sino-Britânica, assinada no dia 9 de dezembro de 1984, foi estabelecido que Hong Kong deixaria de ser um território sob controle britânico no dia 1º de julho de 1997. O princípio do "um país, dois sistemas" também foi acordado nesta data. Com a exceção das relações exteriores e da defesa nacional, o acordo concedeu ampla autonomia ao território e permitiu a Hong Kong manter seu sistema capitalista e seu estilo de vida por um período de 50 anos, até 2047.

Hong Kong hoje é uma Região Administrativa Especial da República Popular da China. Ela preservou o grosso do seu sistema político, judicial, econômico e financeiro que caracterizou a colônia quando estava sob controle britânico. O poder judiciário é independente do poder político e continua a operar sob o sistema do direito consuetudinário herdado dos britânicos. Os direitos de propriedade são garantidos na Constituição da Região Administrativa Especial de Hong Kong. Seus cidadãos desfrutam amplas e fundamentais liberdades individuais.

Conclusão

Em 1960, a renda média per capita de Hong Kong era de apenas 28% da renda média per capita da Grã-Bretanha. Atualmente, é de 140%. Ou seja, de 1960 a 2012, a renda per capita de Hong Kong deixou de ser de aproximadamente um quarto da da Grã-Bretanha e passou a ser mais de um terço maior. É fácil falar destes números. Muito mais difícil é se dar conta de sua significância.

Compare a Grã-Bretanha — o berço da Revolução Industrial, a potência econômica do século XIX em cujo império o sol jamais se punha — a Hong Kong, uma mera restinga de terra, superpovoada, sem nenhum recurso natural, exceto uma enseada. No entanto, em menos de quatro décadas, os residentes desta restinga de terra alcançaram um nível de renda um terço maior do que aquele desfrutado pelos residentes de sua metrópole.

O retorno de Hong Kong à China era inevitável, assim como era inevitável a determinação do governo chinês em preservar o capitalismo de Hong Kong. O interesse da China em preservar sua galinha dos ovos de ouro era claro: a China sempre utilizou Hong Kong — a qual ela podia atacar e tomar à força a qualquer momento — como um meio de acesso aos mercados estrangeiros e também como fonte de capital. Houve épocas em que 80% das receitas externas da China entrava através de Hong Kong. A China também queria demonstrar a Taiwan que uma reunificação pacífica era possível.

O perigo sempre foi o de a liderança chinesa não entender a relação entre o hardware de Hong Kong (a economia capitalista) e o seu software (uma sociedade pluralista). É o seu software que permite que seu hardware funcione tão bem. Até o momento, os novos governantes de Hong Kong vêm se comprovando notavelmente aptos a dar continuidade ao funcionamento harmônico entre o hardware e o software. A grande questão é se isso permanecerá assim no futuro.

Não foram apenas os britânicos que fizeram de Hong Kong um sucesso. Foi principalmente a população de Hong Kong, de operários de fábricas a empreendedores, quem transformou uma ilha estéril em potência econômica. Essas pessoas foram capazes de fazer isso porque o governo de Hong Kong, na maior parte do tempo, as deixou em paz. Hong Kong está longe de ser perfeita, e longe de ser um paraíso libertário. Mas permanece sendo um dramático exemplo de como a genialidade humana e o talento empreendedorial podem trazer prosperidade a uma sociedade originalmente pobre.

Por que Hong Kong sempre foi tão livre? Em parte, Hong Kong teve a sorte de ser governada por homens que entendiam que sua função era bastante limitada. Não era exatamente o ideal liberal-clássico, mesmo sob Cowperthwaite, mas ainda assim foi a sociedade que mais significativamente se aproximou deste ideal no século XX. E a combinação entre a incapacidade do governo britânico em fornecer instituições democráticas e sua falta de interesse em Hong Kong permitiu àqueles homens manter suas políticas econômicas, mesmo enquanto sua própria Grã-Bretanha natal experimentava o desastre econômico do socialismo light dos anos 1950-70. Hong Kong também se beneficiou do exemplo das desastrosas políticas econômicas da China na década de 1960. Com tantos residentes chineses fugindo do comunismo e se refugiando em Hong Kong, a demanda por liberdade era alta.

Hong Kong é um dos mais formidáveis e conclusivos exemplos de uma sociedade que teve grande êxito em fugir do subdesenvolvimento e enriquecer recorrendo à liberdade econômica. Hong Kong teve sorte em ter tido essa liberdade. E a sua população provou que a liberdade funciona.

-https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1804

Danilo, esses textos que vc vem compartilhando do IM acertam em quase tudo. Porém, devemos ser cautelosos. A idéia do livre mercado é muito bonita na teoria mas vejo que o Estado tem sim uma participação importante. Sem duvida, nao do jeito que é (e muito menos criando "intervencionismo para ajudar o pequeno empresário", como você muito bem colocou). Não podemos nos esquecer que o objetivo da empresa é gerar valor para seus acionistas.Ao conhecer um pouco de microeconomia e mercado, sabemos que os direcionadores do valor das empresas muitas vezes fomentam piora do quadro social. Um Estado eficaz (nem grande, nem pequeno demais) que corrija essas distorções, fomente a concorrencia leal atraves de regulamentações corretas e invista na diminuição da desigualdade de partida das pessoas é, a meu ver, um agente muito bem-vindo.

Editado por Arex
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Como a busca por lucro ocasiona a piora no quadro social (considerando que se respeite as leis)? Busca por lucro implica em mais produtividade, inovação, queda de preços e consequentemente aumento de poder de consumo da população.
Desigualdade é essencial pra uma economia/sociedade saudável... Vê o Brasil hoje a merda que está e que vai ficar pior, gente com 2 diplomas na mão e desempregado ou trabalhando em emprego comum e trabalhador braçal em falta ganhando mais que alguns diplomados.

Distribuir renda é destruí-la, concentração de renda = investimento = expansão econômica.

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Sim, a mão-de-obra do Brasil ainda não é boa, e eu não vejo como protecionismo pode ajudar a melhorar isso, na verdade ele é uma das causas disso (querendo ou não, quando não se tem concorrente, vc não precisa se preocupar em fazer o melhor produto).

Na verdade eliminar o protecionismo não nos tornaria automaticamente desenvolvidos, é uma série de medidas. Eu defendo o Liberalismo, então seria uma série de mudanças que aconteceriam, a responsabilidade individual e a meritocracia prevaleceriam, o parasitismo diminuiria, e acredito que com o tempo nós seríamos muito mais produtivos que somos hoje, logo não teria por que temer esse domínio de multinacionais, já que nesse cenário estariamos competindo de igual com o resto do mundo. Esse texto que o danilo postou explica bem isso...

Me lembro de uma máxima, acho que é de Ford:

Faça seu produto com a melhor qualidade possível e o menor custo possível. Remunere bem seus empregados para que eles possam comprar seus próprios produtos.

Hoje fiquei sabendo que a Volvo proíbe caminhão de qualquer outra marca entrar no seu pátio...

Segundo os critérios apresentados pelo texto do Danilorf nosso capitalismo é extremamente mercantilista.

Defendo um protecionismo ao empreendedor brasileiro, o suficiente para igualar os incentivos recebidos pelas multinacionais e criar brechas para poderem entrar no mercado..

Assim elas seriam obrigadas a diminuir sua margem para competir no preço e todos sairiam ganhando.

Sou conta o protecionismo de mão de obra realizado pelos sindicatos, justiça do trabalho e seguro desemprego.

Apesar de acreditar que salário maiores e menor disponibilidade de crédito poderiam mudar a situação econômica atual.

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Apesar de acreditar que salário maiores e menor disponibilidade de crédito poderiam mudar a situação econômica atual.

Pode até ser... Deveria incluir na lista o fim do pagamento mínimo disponível em algumas faturas tbm.. heheh

Uma pá de gente se atola nisso...

Quero só ver quando as empresas de crédito começarem a quebrar... vai todo mundo junto! a demanda de crédito é infinita...

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Pode até ser... Deveria incluir na lista o fim do pagamento mínimo disponível em algumas faturas tbm.. heheh

Uma pá de gente se atola nisso...

Quero só ver quando as empresas de crédito começarem a quebrar... vai todo mundo junto! a demanda de crédito é infinita...

Nossa muito boa essa. Minha mulher fez essa cagada logo que conheci ela. Casei com separação total...

Empresas de crédito quebram apenas se os julgamentos para "trocar" os bens pelas dívidas forem lentos.

Isso que ocorreu nos EUA.

Postado

Eu entendo. Sou a favor do livre mercado, mas como garantir uma economia livre depois de tanto intervencionismo?

Como o pequeno negócio vai competir com a empresa que antes era beneficiada pelo estado e agora produz mais, melhor e com menor preço?

Na verdade empresas beneficiadas pelo estado dificilmente aproveitam os benefícios de forma inteligente e realmente melhoram sua competitividade... quando os benefícios cessam essas empresas ou encolhem e se adaptam a nova realidade de mercado ou quebram... e isso abre espaço para as outras empresas.

Mas realmente é um problema beneficiar uma ou outra empresa ou setor da economia "aleatoriamente", coisa q os petistas estão fazendo há anos transformando o BNDES em um banco de fomento de monopólios. O objetivo desses caras realmente é impedir a livre competição, concentrar mercado em empresas gigantes ineficientes q depois acabarão quebrando e serão compradas a preço de banana pelos amigos do rei... a China por exemplo já está comprando usinas de cana, setor este q está sendo desmontado de propósito pelos petistas. Quanto será q o partidão está levando por fora?

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Me lembro de uma máxima, acho que é de Ford:

Faça seu produto com a melhor qualidade possível e o menor custo possível. Remunere bem seus empregados para que eles possam comprar seus próprios produtos.

Hoje fiquei sabendo que a Volvo proíbe caminhão de qualquer outra marca entrar no seu pátio...

Segundo os critérios apresentados pelo texto do Danilorf nosso capitalismo é extremamente mercantilista.

Defendo um protecionismo ao empreendedor brasileiro, o suficiente para igualar os incentivos recebidos pelas multinacionais e criar brechas para poderem entrar no mercado..

Assim elas seriam obrigadas a diminuir sua margem para competir no preço e todos sairiam ganhando.

Sou conta o protecionismo de mão de obra realizado pelos sindicatos, justiça do trabalho e seguro desemprego.

Apesar de acreditar que salário maiores e menor disponibilidade de crédito poderiam mudar a situação econômica atual.

Mas como vc defende esse protecionismo? Como funcionaria na prática? Se for no sentido de diminuir a carga tributária, eu concordo. Agora se for por concessão de crédito ou coisa do tipo, eu acho uma má ideia, o caso do BNDES é um exemplo claro...

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Quer ajudar o empreendedor brasileiro? Diminua a carga tributária e trabalhista e a burocracia estatal... Por que você acham que é tão difícil manter uma pequena empresa hoje em dia? Por que é tão difícil uma pequena empresa competir com uma empresa grande? Porque a grande já tem todo o aparato burocrático e um mercado que consolidado que permite bancar esses custos elevadíssimos que o estado cria.

Postado

Poderia ser algo do tipo, isentar o inss patronal nos 2 primeiros anos de empresas no simples,

Melhorar as faixas do simples e do lucro presumido,

Ver o que é possível em termos de ICMS,

Aumentar crédito não é protecionismo, e sacanear o empreendedor;

MEI foi uma sacada para os informais se formalizarem e pagarem o INSS, mas o SEBRAE não ensina isso.

Pra fechar uma bosta dessas só quitando tudo...

Pra quem não sabe o acumulado do Inss foi usado pra construir brasilia...

https://www.sudarcyadvocacia.com.br/pdf/DE_ONDE_SAIU_O_DINHEIRO_PARA_CONSTRUIR_BRASILIA_E_A_PONTE_RIO_NITEROI_ETC.pdf

https://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=795

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Quer ajudar o empreendedor brasileiro? Diminua a carga tributária e trabalhista e a burocracia estatal... Por que você acham que é tão difícil manter uma pequena empresa hoje em dia? Por que é tão difícil uma pequena empresa competir com uma empresa grande? Porque a grande já tem todo o aparato burocrático e um mercado que consolidado que permite bancar esses custos elevadíssimos que o estado cria.

Falar em diminuir carga tributária,trabalhista e a burocracia estatal num país sem direita é quase que utopia. Realmente lamentável.. Pelo menos se a dilminha furacão perder as eleições já é um avanço

E o que vocês dizem em relaçao à China? os produtos chineses acabam com a industria nacional, protecionismo nesse caso seria uma boa ideia? ... mais tributação nos importados chineses protegeria o empresário brasileiro?

Só um exemplo : A Alemanha investiu por mais de 40 anos na pesquisa de células fotovoltaicas, a China 'roubou' a ideia e tá vendendo a peça pro restante do mundo por um preço muito abaixo das peças alemãs..

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