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Tudo que a gente consome causa câncer?


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"Dá câncer" (ad infinitum).

Seguinte, viver: dá câncer. 
Nesse review de 2013, do American Society for Nutrition, os pesquisadores (sendo um autor de várias artigos sobre câncer), verificaram qual é a moral por trás dos estudos que acusam que tal alimento tem relações com o câncer. Para isso, eles primeiro selecionaram randomicamente alimentos de um livro de receitas de 1911 (''the boston cooking-school cook book''), e começaram a jogar os ingredientes com o termo "ingrediente X 'And cancer'" no PubMed. O trabalho mesmo da coisa foi analisar a estatística usada nos estudos. Sendo que, brincar com números pode fazer de qualquer artigo uma bomba-relógio, os caras compararam os resultados com as interpretações dos autores e, muito frequentemente, o que consta no abstrac pode não ser visto no full text (como eu mesmo mostrei aqui no artigo sobre absorção proteica com whey concentrado, lembram?).

"Pelo menos um estudo, dentre os 216 analisados, foi identificado em 80% (n = 40) dos ingredientes selecionados a partir de receitas aleatórias que investigaram a relação com o risco de câncer: vitela, sal, pimenta, farinha, ovo, pão, carne de porco, manteiga, tomate, limão, pato, cebola, aipo, cenoura, salsa, maça, xerez, azeitona, cogumelo, tripe, leite, queijo, café, bacon, açúcar, lagosta, batata, carne bovina, cordeiro, mostarda, castanhas, vinho, ervilhas, milho, canela, cayenne, laranja, chá, rum e passas. Estes ingredientes estudados incluem muitas das fontes mais comuns de vitaminas e nutrientes na dieta dos Estados Unidos; on the other hand, os 10 ingredientes para os quais não foi identificado num estudo do risco relevante de câncer eram geralmente mais obscuros: a folha de louro, cravo, tomilho, baunilha, nogueira, melaço, amêndoas, bicarbonato de sódio, o gengibre, e tartaruga de água doce. Dos 40 ingredientes para o qual foi identificado pelo menos um estudo, 50% (n = 20) tinham ≥10 estudos, 15% (n = 6) tinham 6-10 estudos, e 35% (n = 14) tinham 1-5 estudos."

A Literatura é, de certa forma... vasta, mas não o suficiente para praticamente nenhum dos ingredientes. Tanto que o suporte estatístico dos efeitos é fraco em 80% dos estudos, mesmo que em 75% sejam ditos fortes/relevantes ou em 76%, que se dizem reduzir o risco. Ou, quando doses extremas do alimento são comparadas, e não condizem, necessariamente, com a dose habitualmente consumida. Afinal, comparar 43 doses/semana contra 0 doses/semana não parece lá, sabe... muito confiável. Outra coisa é que em estudos piloto e meta-análises com frequência não batem nos resultados, tanto que as vezes o efeito chega a ser nulo. Como se não bastasse, parte dos estudos eram em animais.

No Review dos Reviews, a porcentagem de artigos contendo significância estatística (com menos de 5% de chance do resultado ser um tiro na lua) é de 57% das meta-análises, e de 44% dos estudos isolados (embora essa mesma diferença não foi estatisticamente significante). Aí quando os caras mudaram a visão para "quais estudos prospectivos tem resultado duvidável" a resposta foi de 73% deles.

Os autores concluem que, quanto mais resultados são acumulados, mais os efeitos tendem a ficar mais pertos do nulo. Isso não quer dizer que comer não dá câncer... mas correlação é não é causa (e muitas vezes publicado que é).

Um ponto de vista, é a vista a partir de um ponto. Na bioestatística, basta mudar o ponto e os resultados podem mudar de vista. 

Metodologia é uma das coisas mais difíceis de analisar, ou você pára pra ler todos os nomes de todos os aparelhos e siglas utilizadas em determinado estudo? Junta essa bagunça com as diferentes formas de cada estudo analisar seus dados estatísticos e você terá um emaranhado de informações pra fazer sentido em sua cabeça. A analogia mais simples que pensei foi a de juntar algumas línguas diferentes (metodologias), misturar suas gramáticas (resultados) e formar uma língua nova (interpretações) e dar para alguém aprender ela do zero. 

Não quero dizer que você não deve se preocupar com sua alimentação e que câncer é um evento aleatório. O que eu quero dizer é que a Matemática não mente, matemáticos, sim.1796468_593879167416699_1687589751598743

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  • 2 meses depois...

isso me fez lembra de vários estudos na área de nutrição ( inclusive alguns nutricionistas seguem essa linha) que praticamente todos que fazem musculação e fazem uso de suplemento proteico estão aumentando o risco de terem câncer, doenças renais, hepáticas e cardíacas. Esses estudos apontam que a dose máxima de proteína por dia seria  a quantidade de 1,4 a 1,8 g/kg/dia  . eles estão certos? existe algum estudo serio que derrube isso. Já ouvi falar que abaixo de 2g\kg\dia o desenvolvimento muscular fica prejudicado. alguém poderia me informar e se possível referencias cientificas.

Editado por carlosinoid
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6 horas atrás, carlosinoid disse:

isso me fez lembra de vários estudos na área de nutrição ( inclusive alguns nutricionistas seguem essa linha) que praticamente todos que fazem musculação e fazem uso de suplemento proteico estão aumentando o risco de terem câncer, doenças renais, hepáticas e cardíacas. Esses estudos apontam que a dose máxima de proteína por dia seria  a quantidade de 1,4 a 1,8 g/kg/dia  . eles estão certos? existe algum estudo serio que derrube isso. Já ouvi falar que abaixo de 2g\kg\dia o desenvolvimento muscular fica prejudicado. alguém poderia me informar e se possível referencias cientificas.

Poderia mostrar algum desses vários estudos?

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