Eu vejo que muitos frequentadores do fórum tem uma ideia bastante relutante a respeito do colesterol e das gorduras animais, então resolvi escrever esse tópico para tentar esclarecer alguns "fatos" que parecem inevitavelmente corretos na mente de muitas pessoas. Eu gostaria de deixar na seção "Artigos sobre Nutrição", mas não posso criar um tópico lá, então criei aqui mesmo...
Começo dizendo que HDL e LDL são, na verdade, lipoproteínas que transportam colesterol, ou seja, não existe colesterol HDL nem colesterol LDL, mas sim lipoproteínas de densidades diferentes - HDL (alta densidade) e LDL (baixa densidade). Mas por que colesterol HDL é "bom" e colesterol LDL é "ruim"?
Para explicar esta questão, usarei o exemplo de uma pessoa cujo endotélio (revestimento interno das artérias) foi atacado por uma substância nociva; nesse instante, o endotélio envia uma mensagem ao fígado, que por sua vez envia colesterol para o local da infecção na forma de LDL (lembrando que o colesterol é uma substância reparadora do organismo); assim que o dano é reparado e o colesterol não é mais necessário, ele retorna ao fígado na forma de HDL. Então, pelo simples fato de o colesterol se mover do fígado para o local do estrago, ele é chamado de "ruim" e vice-versa. Realmente, não há muita lógica...
Agora que eu já expliquei algumas diferenças entre colesterol HDL e LDL, falarei um pouco sobre doença cardíaca, ressaltando alguns pontos importantes e depois fazendo algumas observações:
1) há grandes diferenças entre colesterol LDL (partículas pequenas e partículas grandes), o que é importante salientar;
2) gordura saturada e colesterol dietéticos não promovem doença cardíaca, na verdade são protetores;
3) as recomendações nutricionais das organizações de saúde contribuem com as doenças cardíacas.
1) Há diferenças importantes quando se trata de colesterol LDL. Partículas pequenas e densas são mais propensas a danificar as paredes arteriais e induzir uma resposta inflamatória, portanto estas sim estão relacionadas com doença cardíaca; partículas grandes e fofas não têm essa capacidade e são na verdade protetoras. As partículas pequenas e densas também são muito mais propensas a se oxidar, produzindo LDL oxidado; LDL oxidado é um fator de risco muito importante (se não for o mais importante, nesse contexto) para doença cardíaca.
2) Para esclarecer completamente, colesterol dietético não tem atuação relevante sobre os níveis de colesterol sanguíneo na maioria das pessoas, ou seja, comer 10 ovos diários não aumentarão seus níveis de colesterol. Na verdade, comer colesterol (de ovos, por exemplo), diminui a proporção de partículas LDL pequenas e densas. Ótimo, não? A adição na dieta de gordura saturada (presente principalmente em alimentos de origem animal) também diminui a proporção de partículas LDL pequenas e densas, aumenta os níveis de colesterol HDL e diminui os níveis de triglicerídeos, ou seja, as gorduras animais são altamente protetoras contra doenças cardíacas.
Outro fator importante para oxidação de LDL (fator dominante na aterosclerose) diz respeito ao açúcar no sangue e frutose. Níveis prolongados de altos níveis de açúcar sanguíneo aumentam a oxidação de LDL; a frutose também aumenta a oxidação de LDL em relação à glicose. Aliás, substituir gorduras animais por carboidratos* aumenta a proporção de partículas LDL pequenas e densas, diminui os níveis de colesterol HDL e aumenta os níveis de triglicerídeos, o que não é benéfico.
3) Sim, isso que você leu é verdade. Substituir gorduras animais por gorduras poli-insaturadas (principalmente derivadas de óleos vegetais, como de soja e milho) é altamente maléfico para a saúde. As gorduras poli-insaturadas ômega 6 encontradas em grande escala nos óleos vegetais são responsáveis por câncer, doenças cardíacas e outras várias doenças; a propósito, elas também são mais suscetíveis à oxidação do que gorduras saturadas ou mono-insaturadas.
*Com a questão dos carboidratos, eu sou um pouco mais cético, pois há muitas culturas perfeitamente saudáveis que ingerem grande quantidade de carboidratos; na minha visão (tal como pensa Stephan Guyenet), o mais importante talvez seja a qualidade do alimento: as principais fontes de carbos de culturas saudáveis são tubérculos e raízes; frutas; legumes e verduras, grãos e leguminosas devidamente preparados. Provavelmente o consumo de grãos (principalmente refinados) e alimentos processados ricos em açúcar ou xarope de milho de alta frutose (HFCS) são carboidratos a serem evitados, devido à sua comprovada ação danosa à saúde.
Com base no que foi escrito, algumas conclusões possíveis:
- priorize gorduras saturadas e mono-insaturadas em vez de gorduras poli-insaturadas;
- consuma alimentos reais, evitando comida processada e industrializada (se vier numa embalagem, não coma... hehe);
- não tenha medo das gorduras certas, pois elas somente trarão benefícios à sua saúde.
É isso, galera... Eu sei que ficou um pouco extenso, mas tenho certeza que esse tópico servirá para muitas pessoas que pensam que estão cuidando bem da saúde, mas na realidade não estão; não à toa as recomendações de saúde que recebemos não estão alterando a trágica situação da saúde mundial, principalmente nos países industrializados. É frustrante ver a ignorância em que se encontra a população mundial e a total conivência da mídia quanto a isso. A propósito, ainda há muito mais sobre esse assunto que talvez eu escreva futuramente, mas por enquanto ficarei somente com as informações acima.
Espero que todos possam aproveitar as informações e espero que todos gostem, pois foi um trabalho muito grande escrever esse tópico... rsrs
Qualquer dúvida, crítica, sugestão e colaboração que enriqueça o tópico será totalmente bem vinda.
Referências (na verdade eu li muito mais sites do que os que estão nas referências, mas basicamente para criar este texto eu recorri aos seguintes endereços);
- Stephan Guyenet
- Chris Kresser
- José Carlos Brasil Peixoto