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Religião.


Paradoxo1996

Qual sua religião?  

280 votos

  1. 1. Votem aí, galera. Só por curiosidade das crenças ou descrenças marombas.



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33 minutos atrás, danilorf disse:

 

Não entendi o final desse vídeo. 

Ele afirma que o fato de estarmos assistindo ao vídeo comprova que o Deus que criou o Universo também está ativo nesse mesmo Universo, pois sem as Leis da Natureza (as quais são criações de Deus, pelo o que entendi) não chegaríamos ao momento no qual assistimos ao vídeo que demonstra que Deus existe e está ativo no Universo. Não entendi como a premissa chegou na conclusão.

 

Além disso, se foram as Leis da Natureza que nos levaram a esse momento, e não nossa vontade ou liberdade de agir e pensar, então a Bíblia estaria errada quando diz que somos feitos à imagem e semelhança de Deus e que somos dotados de lívre arbítrio? Como posso ser livre se tudo que aconteceu, acontece e acontecerá na minha vida ocorre independentemente da minha escolha, já que Deus "planejou" tudo antes?

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1 hora atrás, vizerdrix disse:

 

 

Eu explicaria isso com um exemplo que me foi dado no COF do Olavo:

 

- Pense no universo como o sistema fechado estudado pela física.

 

- Existem várias leis físicas observáveis e que são um tanto quanto "permanentes" na natureza. "Permanentes" pois, se a lei da termodinâmica estiver certa, a circulação de energia no universo, tal como estudado pela física, está decaindo, logo, as outras leis naturais, por mais permanentes que sejam, também não são eternas. Isso Aristóteles já dizia, segundo o Olavo, e é também uma linha bem parecida com a da física quântica.

 

Mas tem o seguinte: se a termodinâmica é verdadeira, o universo está entrando em colapso, correto? Dentro do conjunto da possibilidade universal dada num primeiro momento, no momento da criação do universo, isso seria inescapável. Mas o universo na verdade está se expandindo. Isso significa que há alguma outra coisa que está por cima e além do universo e que injeta continuamente novas possibilidades - e que não contradizem o que já estava dado previamente - e que permite que ele continue se expandindo. 

 

Dentro do contexto do cristianismo, essa coisa que está por cima e além do universo, e que precedeu a existência dele, o "Logos", ele não só atua de maneira impessoal como o que eu disse aí em cima, mas ele encarna em uma virgem, e esteve presente na Terra operando milagres - o milagre é um fato que não estava dado previamente no conjunto da possibilidade universal, e que não contradiz o que já estava dado previamente. Você veja nas outras religiões isso não acontece. No cristianismo você tem o Logos universal encarnada na terra, você tem ele explicando o porquê das coisas, você tem ele operando milagres desde o nascimento e até hoje depois da morte dele. 

 

Mas algum agnóstico imbecil pode dizer que esse negócio de milagres é balela, e que é só um fato que a ciência não explica. Mas como os antigos, que não possuíam ciência, sabiam distinguir um fato que não estava dado previamente no conjunto da possibilidade universal (ou milagre) de um fato comum? Na época de Jesus havia milhares de pregadores religiosos iguais a ele. Por que ele conseguiu arrastar multidões e incomodar o império mais poderoso da Terra?

 

Isso é a atuação divina no universo.

 

- Quanto a questão do livre-arbítrio e do determinismo você pode analisar a questão tanto do ponto de vista teológico quanto do psicológico. Do ponto de vista teológico, nós não somos nem 100% determinados e não temos também 100% de livre-arbítrio. Eu não sei explicar muito bem, e creio que St. Tomas de Aquino deve ter explicado isso com muito mais profundidade, mas o que acontece é que, se você fosse 100% livre, você conseguiria determinar o resto do universo, e só Deus pode fazer isso. Mas nós também não somos 100% determinados por fatores externos a nós, porque se não isso ia gerar uma cadeia infinita de causas retroativas que nunca ia explicar o porque de tomarmos certas decisões, a não ser que você diga que essa causa última fosse Deus. Porém Deus disse que não faria isso, e disse que temos livre-arbítrio, logo, o que nós temos é um poder de escolha limitado pelo ambiente em que vivemos. Mas muitas dessas escolhas que nós fazemos alteram o ambiente em torno (muitas vezes de maneira que não esperamos), e essas alterações nos colocam em situações diferentes em que tomamos outras escolhas, que geram outras situações e assim indefinidamente.

 

Do ponto de vista psicológico, a escolha só se explica por ela mesma, pois a psique é individual. Mas mesmo a psique sendo individual, desde o momento em que nascemos nós recebemos a língua pronta da humanidade, nós recebemos carinho da mãe, etc., e vamos formando a nossa psique a partir desses elementos externos a nós, que são elementos estruturantes da nossa personalidade, do nosso ego, e que se misturam com àquilo que já veio conosco, e que, com o passar do tempo, também pode ser alterado por nós mesmos - isso nada mais é do que a psiquiatria, recontar a história do eu. Mas naquele momento decisivo em que você deve escolher entre duas situações, não há nenhuma causa retroativa que te force a fazer a escolha. Você pode dizer que ela é uma força que influencia. Por exemplo, você está com fome e tem uma maçã na sua frente. Você tem a opção de roubá-la ou não. A fome não é uma força irresistível que te impele a roubar a maça e que te tolhe a liberdade de escolha. Tanto é assim que muita gente faz jejuns de semanas, e tem gente que escolhe até morrer de fome. Isso poderíamos aplicar a todos os condicionantes da escola behaviorista também.

 

Enfim, a questão determinismo x livre-arbítrio está posta de maneira errada, e isso em grande parte a muitos teólogos protestantes que só causam confusão nessas questões. A liberdade de escolha existe, mas há sempre uma tensão entre o ambiente que você está, as escolhas que você toma, como isso altera o ambiente, e como essa alteração vai te colocar em outras situações em que você terá que tomar novas decisões.

 

Deu pra entender?

Editado por danilorf
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1 minuto atrás, Faabs disse:

Se a bíblia prova a existência de Deus,então o livro do Senhor do Anéis prova a existência de Elfos.

 

A bíblia não prova nada. A bíblia só repete aquilo que pode ser provado por uma simples análise metafísica, e que já foi provado por todas as civilizações que existiram no mundo em todas as épocas. Que existe algo que possibilita a existência de tudo o mais. Nada sai do nada. O nada é não-ser, não-sendo, dele nada sai. O ser humano nem mesmo consegue pensar o nada absoluto. Faz a experiência você mesmo. No máximo que você vai conseguir pensar é numa escuridão, talvez uma branquidão, um espaço sem coisas dentro, etc. Mas isso já É algo. A sua própria existência já é uma prova de que há algo que possibilitou a sua existência. Porque você não saiu do nada.

 

-

 

Aproveito pra deixar esse trecho do livro do Mário Ferreira aqui embaixo:

 

Se o Faaps conseguir provar que o MFS está errado, eu dou o toba:

 

"[...] — Ora, Josias, você não negou ao homem um conhecimentodo mundo exterior? Não reduziu todo o seu saber a um ficcionalismo geral, afirmando que o mundo exterior nada mais é que uma imagem torpe de si mesmo, como a imagem desfalecida que as águas paradas dão do rosto de Narciso?

 

— Foi.

 

— Pois então? Temos aí um tema bem interessante, e que pode servir também de pento-de-partida para muitas análises futuras. Trata-se de saber qual o valor do nosso conhecimento. Você estabeleceu uma tese bem dogmática...

 

— Dogmática? — Perguntou Josias com veemência.

 

— Sim, bem dogmática. E' sempre difícil, Josias, que não caiamos no dogmatismo, por mais receio que haja de fazer afirmações decisivas. Mas você cometeu o erro de que acusa os outros: o dogmatismo.

 

— Que dogmatismo, Pitágoras... qual nada!

 

— Suas afirmações foram dogmáticas, Josias. Você deu um dogma, porque você sabe que todo nosso conhecimento é ficcional. Você sabe, sem a menor dúvida, sem vacilações, que o que conhecemos do mundo exterior é apenas uma imagem desfalecida de nós mesmos. O nosso mundo exterior é apenas um reflexo imperfeito de nós mesmos. Foi isso que você disse. E disse com convicção, com veemência, com certeza, como um dogma, como uma verdade pura você indiscutível, e sobre a qual não paira nenhuma dúvida.


Josias resmungava alguma coisa. Olhou para todos, e notou que havia na maioria uma aprovação muda às palavras de Pitágoras, embora em Paulsen e Kicardo se notasse um desejo de que respondesse, de modo a evitar a maneira como Pitágoras havia colocado as suas palavras. A pausa de Pitágoras era uma atitude de combatente digno e nobre. Êle dava oportunidade ao adversário para realizar também o seu golpe. Esperava as palavras de Josias:

 

— Já sei o que você quer. Quer colocar-me na posição de haver afirmado uma verdade, de que há alguma coisa que não é ficcional para mim, que seria, nesse caso, a afirmação pura e simples de que tudo quanto o homem constrói é ficcional.

 

— Mas foi você que afirmou isso dogmàticamente. . .

 

— Afirmei de certo modo, apenas. Essa verdade — e sublinhou com asco essa palavra — é apenas uma convicção minha. Eu estou convencido, eu, de que tudo quanto sabemos é ficcional, eu... Não afirmei que fora de mim tudo é ficcional, mas para mim e para o homem geral, o que êle constrói é ficcional.

 

— Mas, caro Josias, por favor, sigamos a linha prometida, e responda-me apenas dentro das nossas normas. Tudo quanto o homem intelectualmente constrói é ficcional ou não?

 

— É.

 

— Então, a sua afirmação de que tudo é ficcional também o é, porque é uma realização intelectual do homem?

 

— Sim, é ficcional também.

 

— Quer, então, afirmar que no mundo exterior ao homem não há ficções, ou que as há?

 

— Deve havê-las, porque não é o homem o único ser inteligente. Os animais também constroem ficções. O mundo do cão é outro que o nosso, é uma coisa feita por êle...

 

— ... uma res ficta...


— Seja. E fui bem claro, e todos podem afirmar que não quis fugir ao sentido de minhas palavras: o mundo do homem é o mundo feito pelo homem. E' uma res ficta, para usar suas palavras, o mundo. Quando afirmamos que tudo quanto construímos intelectualmente é uma res ficta, essa nossa afirmação não se exclui da ficcionalidade de nossa mente.

 

— Mas isso então é uma verdade para você.

 

— E' relativamente a mim mesmo. Se é em si mesma, fora de mim, não sei.

 

— Nesse caso, admite que pode haver um erro em sua afirmação dogmática.

 

— Admito.

 

— Que, por exemplo, tudo poderia ser diferente. E esse ficcionalismo ser apenas um erro seu.

 

— Pode ser...

 

— Mas nós gostaríamos de buscar certezas e evidências. E nessa situação em que você se coloca, nada adiantamos. Não seria preferível que nós dois, como bons amigos, e bem fundados em nossas regras, procurássemos juntos uma solução?

 

— Estou pronto a fazer o que me pede.

 

— Aceita que eu tome o papel de interrogante, e garante que me responderá, seguindo fielmente as perguntas?

 

— Pode começar.

 

— Estamos, pois, ante um dilema; ou tudo quanto o homem constrói intelectualmente é ficção, ou nem tudo é ficção. Não é isso?

 

— É.

 

— Se tudo é ficção, todas as suas verdades são apenas ficções.

 

— São ficções.

 

— E a correspondência que tenham com a realidade exterior pode ser de duas maneiras: ou há uma correspondência que tem um fundamento na realidade fora do homem, ou, então, não há nenhuma correspondência.


Josias nada respondeu. Aguardava as palavras de Pitágoras, que prosseguiu:


— Se tudo quanto o homem constrói intelectualmente fosse puramente ficcional, e não tivesse correspondência em nenhum fundamento exterior à mente humana, essa mente seria, então, alguma coisa absolutamente outra que o mundo exterior. E, nesse caso, como poderíamos saber que o que a mente constrói intelectualmente é absolutamente outra coisa que o que há no meio exterior, sem poder surgir dessa comparação o divórcio total, o abismo entre os dois? Esse abismo afirmaria a impossibilidade da comparação, porque se o mundo exterior ao homem é absolutamente outro que ô que constrói em sua mente, não haveria jamais possibilidade de comparação e, consequentemente, seria também impossível afirmar que há esse absoluto divórcio.
Josias meditava. Como Pitágoras fizera uma pausa, viu--se na contingência de falar:

 

— Está certo. Seria impossível.

 

— Naturalmente que o seria. Pois, poderíamos saber que o outro é absolutamente outro, se todo o nosso conhecer é dependente da estruetura e do funcionar de nossa mente, e tudo quanto ela produz é ficcional? Nada podemos nesse sentido afirmar, então. Portanto, a afirmação de que tudo é absolutamente ficcional em nossa mente é uma afirmação dogmática...

 

— Bem, pensando desse modo há certo dogmatismo. — Concedeu Josias.

 

— Mas, o pior é que sabemos que isso não pode ser assim.

 

— Como sabemos?

 

— Sabemos, Josias. E permita que lhe mostre. A nossa afirmação do divórcio absoluto não tem fundamento nenhum, e não poderia haver esse divórcio absoluto, mas apenas poderíamos nos colocar numa posição relativista aqui; ou seja, que as construções mentais nossas são certamente ficcionais de certo modo, mas absolutamente ficcionais não podemos afirmar.

 

— Não podemos afirmar, porque nos é impossível fazer a comparação com a realidade em si das coisas, pois não podemos alcançá-las, uma vez que estamos prisioneiros da estruetura de nossa mente e do seu funcionar.


— Muito bem, Josias. Gostei da sua coerência. Você quer evitar a pecha de dogmático, e prefere cair num dualismo anti-nônico e abissal. Há, assim, dois mundos irredutíveis para você: o da nossa mente e o mundo fora da nossa mente. Há duas realidades: a nossa, e a que nos escapa. A que .construímos do que está fora de nós é, pelo menos, relativamente ficcional. Não podemos afirmar que é absolutamente ficcional, porque, para tal afirmarmos, precisaríamos poder compará-las, o que nos é impossível, como disse você.

 

— Mas admito que pode dar-se esse divórcio absoluto, esse abissal de que. você fala. Só que não podemos saber com absoluta certeza.

 

— E bem fundadamente também não. E' o que você aceita.

 

— E' isso. Mas, voltando ao que disse, onde está o meu dualismo de que você falou?

 

— Sem dúvida, há esse dualismo. E podaríamos caracterizá-lo melhor, se você quiser. Vamos examinar bem este ponto. Acompanhe-me, pois, nos seguintes raciocínios: nossos conhecimentos — ficcionais para você — revelam que há uma ordem, uma coerência entre eles, pois, foi-nos possível construir um saber culto, uma ciência, uma matemática. Não é?

 

— Sem dúvida.

 

— E verificamos, ademais, que os factos, que captamos, suecedem com certa obediência a constantes, e a fórmulas gerais, que chamamos comumente de leis.

 

— Sim, leis que construímos.

 

— Sem dúvida, mas que correspondem a invariantes desses factos, que constituem o objeto de nossos conhecimentos. Há regularidades pasmosas, repetições que não podemos negar, e que nos permitem classificar e dar uma ordem ao conjunto dos acontecimentos.

 

— Mas uma ordem também ficcional.

 

— Não tanto ficcional assim, Josias, afirmou, com um sorriso, Pitágoras. Note que aqui já há alguma coisa que se distingue. O conjunto dos factos é caótico; desses factos ficcionais que constituem a matéria bruta do nosso conhecimento e das nossas experiências. Estas se dão numa heterogeneidade fascinante. Mas nós observamos que, em nosso conjunto de ficções, há normas que presidem como invariantes dos mesmos, que nos permitem ordená-los em classificações que são inerentes a outras, e que nos permitem, afinal, dar uma ordem unitária desse mundo ficcional, ordem que constitui a base de toda a nossa ciência, facilitando o fortalecimento do nosso saber culto. Você não pode negar isso.

 

— Não nego.

 

— No meio dessas ficções há uma regularidade impressionante. As ficções-laranj eiras geram sempre ficções-laran-jas, as ficções-sêres-humanos geram ficções-sêres-humanos, as ficções-químicas dão combinações ficcionais-químicas regulares, e assim na física, na matemática, em tudo. . . Não concorda?

 

— Concordo.

 

— Há, assim, uma ordem no mundo ficcional do homem. E o que o homem considera fora de si também oferece a mesma ordem. Quer dizer, as ficções, que constituem os conceitos e juízos do homem, correspondem às ficções que constituem o que parece ser o mundo exterior do homem. Está de acordo?

 

— Estou.

 

— Verifica-se, ademais, que o que constitui o corpo humano é composto de elementos ficcionais-químicos, que correspondem aos elementos ficcionais-químicos que encontramos nas pedras, na terra, nas plantas, no ar. Está de acordo?

 

— Estou. — E acrescentou: — neste ponto, e dentro desse âmbito, estou.

 

— Nesse mundo de ficções, o homem não é um outro absolutamente outro.

 

— Não é.

 

— Desse modo, o seu conhecimento do mundo exterior ficcional não é total e absolutamente divorciado do mundo ficcional mental do homem. Há um parentesco tão grande que se pode afirmar que a natureza ficcional do homem corresponde à natureza ficcional do que lhe parece ser o mundo exterior a êle.


— Está certo.

 

— Resta, então, apenas, saber se há um mundo exterior real ao mundo exterior que você afirma ser ficcional. Se não há nenhuma correspondência entre ambos, esse mundo exterior real, e fora da ficcionalidade, é absolutamente outro que o mundo da ficcionalidade do homem.
Josias não respondeu. Mas Pitágoras vendo a sua vacilação, prosseguiu:

 

— Como então? Se correspondem, há entre o mundo exterior ficcional e o mundo exterior real uma correspondência e, consequentemente, uma parte que se repete; ou seja, uma parte do mundo ficcional humano é o mesmo que o mundo exterior real. Há, então, alguma verdade no mundo ficcional humano que corresponde à verdade do mundo exterior real. Do contrário, há o divórcio absoluto.
Teríamos, nesse caso, duas realidades: a do homem e a que não é o homem. E entre essas duas realidades, nada haveria em comum. Um seria absolutamente outro que o seu oposto. Estaríamos no dualismo. E toda a nossa discussão se deslocaria para saber se realmente é possível tal dualismo. Se é possível haver duas afirmações, duas positividades, duas realidades, sendo cada uma absolutamente diferente da outra.

 

— Está certo. Prossiga. Quero ver até onde vai, para responder depois.

 

— Não concorda você que no mundo ficcional do homem se verifica que todas as coisas têm entre si algo em comum? O homem e o animal ficcionais têm em comum algo na anima-lidade-ficcional, e os animais com as plantas em serem ficcionais seres vivos, e assim por diante. Não encontramos um dualismo absoluto aí. Todas as coisas ficcionais em seu último fundamento, revelam que têm uma origem comum em um ser que pode ser chamado com o nome que quiserem por enquanto, como matéria, ou energia, e a que prefiro dar, por ora, o nome comum de ser. Não vemos nesse mundo ficcional divórcios absolutos. Concorda?

 

— Concordo.

 

— No entanto, no mundo exterior real poder-se-ia dar o mesmo, ou não. Ou seja: que tudo quanto é realmente, também tem algo em comum. Nesse caso, o mundo exterior real teria um ser fundamental, certamente real em si mesmo.

 

— Está certo.

 

— O dualismo, portanto, estaria apenas entre o mundo ficcional do homem e o mundo real, pelo menos.

 

— Pelo menos esse é possível.

 

— Sim, porque se não há esse dualismo absoluto, então o nosso mundo ficcional não seria absolutamente ficcional. Nele haveria alguma coisa que corresponderia fielmente ao outro, não é?

 

— É.

 

— Nesse caso, nós nos encontramos já numa situação bem clara, sem dúvida. Resta-nos saber agora se há realmente esse dualismo, ou não.

 

[...]

 

— Perdoem-me que entre no diálogo. Na verdade, sou apenas um ouvinte. Mas, como tenho a certeza de que a minha opinião é semelhante à de todos os que nos cercam, creio que o tema ficou bem colocado, e o diálogo agora poderia manter-se em base mais segura. Compreendi, assim, o estado da questão: há uma realidade ficcional do homem, e outra realidade fora do homem. Ou são essas duas realidades absolutamente estanques, ou não. Resta saber, pois, se entre elas há uma comunicação, um ponto comum de identificação, ou se são duas paralelas, isto é, se são linhas que jamais se encontram.


— Isso mesmo, acquiesceu Pitágoras, com o assentimento de Josias. E' nesse caminho que devem prosseguir agora as nossas buscas. Vou, portanto, tomar outra vez a palavra, seguindo essa ordem, e Josias me responderá.

 

— Prossigamos — aprovou Josias.

 

— Esse mundo ficcional do homem não pode ser um puro nada. E' uma ficção, está certo, mas é alguma coisa e não absolutamente nada, não é?

 

— E'. Mas é uma ficção.

 

— Sim, mas uma ficção é ficção de alguma coisa, é produzida por alguma coisa e não pelo nada.

 

— E' produzida por nós.

 

— Mas nós não seremos, então, puramente nada, mas alguma coisa.


— Sim, mas poderíamos ser uma ficção de outra coisa.

 

— Neste caso, essa outra coisa seria alguma coisa e não nada, e a sua ficção, se é nada, é nada de ficção. Ela é alguma coisa de qualquer modo. A ficção é, assim, alguma coisa, uma presença, e não uma absoluta ausência. Concorda?

 

— Não poderia deixar de concordar.

 

— Não sendo a ficção pura e absolutamente nada, é de certo modo um ser. Não sabemos como seja esse ser, mas sabemos que não é um puro nada.

 

— Está certo.

 

— Ora, sabemos em nosso mundo ficcional què o homem nem sempre existiu. Houve uma época em que o homem não era ainda.

 

— E' uma das nossas ficções.

 

— Sem dúvida, dentro da maneira em que nos colocamos, podemos partir dessa afirmativa, a qual nos impede de atribuir o puro nada à ficção. Nosso mundo pode ser ficcional, e nós, outras tantas ficções, mas não puros e absolutos nada e, portanto, ficção de alguma coisa que não é um puro nada. De qualquer forma, já sabemos que há alguma coisa que é, que nos antecede, e que não pode ser mera ficção, porque a ficção é ficção de alguma coisa. Se predicássemos à ficção o ser absolutamente ficção, nós a transformaríamos num puro nada. Concorda?

 

— Não posso deixar de concordar.

 

— Nesse caso, a ficção está a denunciar-nos que há alguma coisa que a sustenta, e que não pode ser mera ficção.
Josias respirou fundo e com certa dificuldade. Não respondeu logo. Procurava, sem dúvida, o que responder. Depois de certo esforço, pronunciou estas palavras:

 

— Sim, deve haver uma realidade, mas nós não a conhecemos.

 

— Não a conhecemos frontalmente, concordo. Terá, contudo, de admitir que de certo modo a conhecemos.


— Não temos dela uma visão realmente total.

 

— Aceito. Mas sabemos que há, que há realmente, embora não possamos discriminar ainda como ela é em sua realidade, mas sabemos que ela existe realmente, pelo menos.

 

— Sabemos... — essas sílabas saíram como que balbuciadas.

 

— Neste caso, há certamente uma realidade que não é ficcional, e que é absolutamente real. E essa realidade é que sustenta a realidade ficcional do homem e das suas ficções. Discorda do que afirmo?


— Bem. .., em última análise, deve haver uma realidade, assim como você diz. Senão, eu teria de afirmar a absoluta ficcionalidade de tudo.

 

— E esse outro mundo exterior real, será ficcional também ?

 

— Talvez seja a ficção de um outro ser.

 

— Então teríamos que admitir que a realidade desse mundo exterior, que é outra que a nossa realidade ficcional, também se fundamenta em alguma coisa que tem de ser real, porque se todas as ficções fossem ficções, toda a série seria absolutamente nada, o que seria absurdo. Portanto, temos de admitir que todos os mundos ficcionais, que podemos admitir como possíveis, têm de se fundamentar, em última análise, em alguma coisa que é, e que é realmente, e não ficcionalmente.

 

— Tenho de concordar.

 

— E tem de concordar ainda mais que esse sustentáculo de todos os universos ficcionais possíveis é absolutamente real, e sem mescla de ficcionalidade nenhuma, porque qualquer ficcionalidade que haja, sustenta-se numa realidade última. Não concorda ?

 

Josias não respondeu logo. Temia responder, e meditava. Pitágoras, com energia, prosseguiu:

 

E' nosso dever, sem dúvida — acrescentou Pitágoras, corroborando as palavras de Ricardo —, e nosso dever ainda procurar esse elo comum. E, depois de achá-lo, poderemos cimentar um conjunto de normas, que nos favorecerão uma análise mais longa. Não acham?


Todos concordaram. E Pitágoras, então, disse:

 

— Pois, ponhamo-nos a caminho para buscar esse elo co-cum, e veremos o que vai surgir disso tudo.

 

— Vamos, exclamaram Paulsen e Ricardo, com o apoio de todos, menos de Josias, que permanecia calado, aparentando indiferença, mas que, na verdade, reconhecia haver razão em tudo aquilo; senão, segundo seu temperamento, teria manifestado uma oposição decidida."

 

Fonte: DOS SANTOS, Mário Ferreira. Filosofias da afirmação e da negação. Págs. 25 - 38.

 

 

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14 minutos atrás, danilorf disse:

 

Deu pra entender?

Entendi o argumento, ficou muito bem escrito.

De qualquer modo, se Deus é onisciente e sabe tudo do passado, presente e futuro, então ele sabe quais escolhas tomaremos, sabendo inclusive se iremos para o Céu ou para o Inferno, ou isso seria um enigma até para Ele? Isso não contradiz o princípio do livre arbítrio, no sentido de que nossa condenação ou salvação já estava prevista pelo próprio Ser que supostamente disse que seriamos livres para nos condenarmos ou nos salvarmos?? 

 

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55 minutos atrás, danilorf disse:

 

 

Concordo,nada acontece por acaso,existe sempre algum processo por trás de cada coisa que acontece.Mas essa série de processos teve início com algum Deus?
Pode ser que sim,que exista um Deus por trás de tudo isso...mas então quem criou Deus? Afirmar que existe um criador só vai levar a mais perguntas,e infelizmente ninguém tem essa resposta (ainda).
Quando alguém encontrar evidências científicas de que existe um Deus,um criador,então eu acredito nele.
Vou utilizar a mesma frase que Carl Sagan disse quando estava morrendo: "Eu não quero acreditar,eu quero saber."

-----------------------------------------


Se realmente existe um "criador",ele é um péssimo engenheiro.

 

Editado por Faabs
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25 minutos atrás, Faabs disse:

 

 

Galera que está lendo esse tópico, não levem este jovem a sério. Esse corrente cética não é coisa nova. E se ele é tão cético assim, é capaz de duvidar que ele mesmo existe. Ele quer ignorar os fundamentos apriorísticos que possibilitam a própria existência das ciências de que ele afirma ser um estudioso, e, no entanto, usar essa mesma ciência como argumento pra duvidar de algo. Se você ignora os fundamentos a priori das ciências, você não pode usar o método científico pra provar ou não a existência de nenhum fenômeno, você usa outra coisa.

 

-

 

Agora, só pra descontrair, vejam que piada é quando um desses céticos tentam debater esse assunto com alguém que entende:

 

 

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK, reparem no golada "turn down for what" do padre no final.

 

Essa galera que lê o CS, RD e etc., acha que Deus é tipo um ET que está dentro do universo, e que ele fica jogando bolinha gude pra determinar a sorte de todo mundo. Deus existe antes do tempo, antes do espaço e antes do universo. O nada absoluto não existe, e o Universo não poderia ter surgido do nada. Isso é IMPOSSÍVEL. E é também uma premissa básica de qualquer campo do conhecimento humano. QUALQUER UM. Se alguém duvida disso simplesmente porque, pelo método científico, não dá explicar o surgimento, a origem e o porquê dessa coisa, simplesmente essa pessoa não está qualificada pra entrar em NENHUMA discussão de qualquer tipo que for. Aristóteles já dizia que você só pode discutir com alguém que aceita a verdade como prova. E a verdade é que, se nós existimos, alguma coisa possibilitou não só a nossa existência, como a de tudo o mais.

 

55 minutos atrás, vizerdrix disse:

Entendi o argumento, ficou muito bem escrito.

De qualquer modo, se Deus é onisciente e sabe tudo do passado, presente e futuro, então ele sabe quais escolhas tomaremos, sabendo inclusive se iremos para o Céu ou para o Inferno, ou isso seria um enigma até para Ele? Isso não contradiz o princípio do livre arbítrio, no sentido de que nossa condenação ou salvação já estava prevista pelo próprio Ser que supostamente disse que seriamos livres para nos condenarmos ou nos salvarmos?? 

 

 

Cara, pra isso eu teria que explicar o conceito de eternidade e os conceitos relacionados à essa questão, e eu não sei fazer isso muito bem ainda. Vou pedir pro Frango te explicar.

 

Abs.

Editado por danilorf
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