Mesmo tomando todas as precauções possíveis, efeitos colaterais fazem parte do uso de esteroides anabolizantes.
Embora os efeitos adversos sejam, em sua maioria, dose-dependentes — quanto maior a dose e tempo de exposição, maiores serão os problemas — não há uso 100% seguro de esteroides, independente de resiliência individual, forma de uso ou ter acompanhamento médico.
Com isso dito, abaixo mostraremos quais são esses efeitos colaterais e por que eles ocorrem.
1. Supressão da produção natural de testosterona
O uso de qualquer esteroide anabolizante exógeno interrompe a produção natural de testosterona devido a um mecanismo de controle do corpo chamado eixo hipotálamo-hipófise-gônadas (ou gonadal).
Ao introduzir mais hormônios anabólicos no organismo, o cérebro entende que há excesso circulando e, como resposta, na tentativa de resolver o problema, desliga a própria produção para manter o equilíbrio.
Essa supressão do eixo é um efeito colateral inevitável do uso de esteroides anabolizantes, pois a razão para usá-los é justamente atingir níveis de hormônios anabólicos que o corpo naturalmente não conseguiria obter.
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2. Aumento da pressão arterial
O uso de esteroides pode aumentar a pressão arterial por múltiplas causas, e isso ainda depende diretamente da predisposição do usuário.
Alguns esteroides podem alterar como o organismo retém sódio e água no sangue, o que pode aumentar o seu volume total.
Enquanto outros podem elevar a produção de glóbulos vermelhos, o que torna o sangue mais espesso e viscoso.
Esse sangue, em maior volume e/ou mais grosso, exige que o coração trabalhe com muito mais força para bombeá-lo, aumentando a pressão sanguínea.
3. Alterações nos níveis de colesterol
O uso de qualquer esteroide anabolizante tem o potencial de alterar o metabolismo das gorduras no fígado.
Na prática, a presença de hormônios em doses suprafisiológicas estimula a atividade de enzimas hepáticas que degradam o HDL (o colesterol “bom”), enquanto elevam o LDL (o colesterol “ruim”).
Essa alteração cria um ambiente que favorece a formação de placas de gordura nas artérias.
A incidência desse efeito colateral pode variar dependendo do tipo de esteroide, da dose e da duração do uso.
Contudo, esteroides orais, especialmente os 17-alfa-alquilados (17aa), são notórios por causarem um impacto mais severo no colesterol devido ao estresse adicional que impõem ao fígado.
4. Aumento do coração
Um efeito colateral pouco conhecido (ou ignorado) pela maioria dos usuários é o potencial para hipertrofia do coração.
Esse efeito ocorre porque o coração, sendo um músculo, também possui receptores para hormônios.
Os esteroides se ligam a esses receptores, estimulando o crescimento das células musculares cardíacas (cardiomiócitos) de forma semelhante ao que acontece com a musculatura esquelética, mas isso não é algo desejável em órgãos vitais.
O crescimento do coração por conta de esteroides faz com que o órgão torne-se mais espesso e rígido internamente, o que compromete sua capacidade de bombear sangue de maneira eficiente para o corpo.
Vale lembrar que isso é algo totalmente diferente de “coração de atleta”, onde o coração pode se adaptar e crescer em resposta ao exercício para se tornar mais eficiente.
5. Alteração na produção de glóbulos vermelhos (aumento do hematócrito)
Outro efeito adverso pouco conhecido e que não recebe a devida atenção é o aumento da porcentagem de hematócrito no sangue.
Hormônios esteroides estimulam a eritropoiese, ou seja, a produção de glóbulos vermelhos (hemácias) na medula óssea.
Isso ocorre tanto por um estímulo direto na medula óssea quanto pelo aumento da produção do hormônio eritropoietina (EPO) pelos rins.
O hematócrito é, basicamente, a porcentagem de glóbulos vermelhos no volume total do sangue.
Quando os esteroides anabolizantes aumentam a produção dessas células, a concentração delas no sangue pode subir, elevando o valor do hematócrito.
A principal consequência de um hematócrito elevado é o aumento da viscosidade sanguínea.
Se o sangue está mais “grosso” e denso, isso força o coração a trabalhar mais para conseguir bombeá-lo através dos vasos sanguíneos.
Esse aumento na viscosidade do sangue eleva consideravelmente o risco de eventos trombóticos.
Com o sangue mais espesso, a formação de coágulos se torna mais fácil, podendo levar a complicações graves como trombose venosa profunda, embolia pulmonar, acidente vascular cerebral (AVC) e infarto do miocárdio.
Além do risco de trombose, o esforço extra exigido do coração para bombear o sangue mais viscoso pode levar ao aumento da pressão arterial (hipertensão).
A longo prazo, essa sobrecarga contínua sobre o sistema cardiovascular pode contribuir para o desenvolvimento de uma gama variada de doenças cardíacas.
7. Mudanças de comportamento e aumento na incidência de problemas psicológicos
Hormônios podem atravessar a barreira hematoencefálica e exercer uma forte influência sobre o sistema nervoso central, o que, por sua vez, pode alterar a ação de neurotransmissores-chave que regulam o humor e as emoções, como a serotonina, a dopamina e o GABA.
Por exemplo, os esteroides anabolizantes podem diminuir a atividade do sistema serotoninérgico, que está intimamente ligado à regulação da impulsividade, agressividade e depressão.
Ao mesmo tempo, o uso de esteroides pode afetar o sistema de recompensa do cérebro, influenciado pela dopamina, o que pode levar a sentimentos de euforia e bem-estar durante o uso.
Contudo, na ausência da substância, pode ocorrer o efeito rebote, com sintomas de disforia, apatia e até mesmo depressão, criando um ciclo de dependência.
Em indivíduos com predisposição a transtornos psiquiátricos, os esteroides podem atuar como um gatilho, piorando os sintomas.
8. Oscilações na libido e qualidade de ereções
Embora um aumento inicial na libido seja comum no início do uso, o desequilíbrio criado pela supressão da produção natural e seu controle pelo organismo tende a causar mais problemas do que benefícios a médio e longo prazo.
Quando estamos “naturais”, o corpo tem total controle sobre o sistema endócrino, incluindo processos que influenciam a libido e a ereção.
Quando inserimos hormônios externos, de forma simplista, tudo isso é jogado pela janela, e agora o controle passa para o usuário. Nem todo usuário tem o conhecimento para usar hormônios sem afetar a libido.
9. Danos ao fígado
Alguns esteroides anabolizantes, especialmente os orais, são quimicamente modificados para sobreviver à metabolização hepática. Essa alteração estrutural pode sobrecarregar as células do fígado.
O problema é mais acentuado com os esteroides orais que são modificados quimicamente para não serem eliminados pelo fígado durante a metabolização, permitindo que cheguem intactos à corrente sanguínea e exerçam seus efeitos anabólicos.
Apesar de ser uma forma mais prática de usar esteroides, no caso dos orais, o fígado precisa trabalhar mais, o que, por sua vez, eleva os níveis de enzimas hepáticas (TGO/AST e TGP/ALT), indicando estresse e danos em potencial.
10. Atrofia testicular e infertilidade
Um dos efeitos colaterais do uso de esteroides anabolizantes é a atrofia testicular, com ou sem infertilidade, devido à supressão da própria produção natural de testosterona.
O cérebro, através da hipófise, produz dois hormônios essenciais para os testículos: o Hormônio Luteinizante (LH) e o Hormônio Folículo-Estimulante (FSH).
O LH sinaliza para as células de Leydig nos testículos produzirem testosterona, enquanto o FSH sinaliza para as células de Sertoli iniciarem a espermatogênese, ou seja, a produção de espermatozoides.
Ao administrar esteroides anabolizantes em doses suprafisiológicas, o cérebro interpreta que não há mais necessidade de produzir seus próprios andrógenos.
Como consequência, a hipófise cessa ou reduz drasticamente a liberação de LH e FSH. Sem esses sinais hormonais, os testículos perdem sua principal função e entram em um estado de dormência.
Essa inatividade pode causar atrofia testicular e espermatogênese que, em alguns casos, pode levar à infertilidade.
11. Virilização (surgimento de características masculinas)
Um dos efeitos colaterais mais conhecidos do uso de esteroides anabolizantes, especialmente em mulheres, é a virilização, que é o desenvolvimento de características sexuais secundárias masculinas.
Isso ocorre porque esses compostos são derivados sintéticos da testosterona, o principal hormônio sexual masculino, e ativam os receptores androgênicos por todo o corpo.
O corpo feminino produz naturalmente pequenas quantidades de andrógenos, mas opera em um delicado equilíbrio hormonal dominado pelo estrogênio.
A introdução de esteroides anabolizantes em doses suprafisiológicas quebra abruptamente esse equilíbrio, expondo os tecidos femininos a níveis de atividade androgênica para os quais não estão preparados, resultando no desenvolvimento de traços masculinos.
Os sintomas de virilização incluem uma gama de alterações físicas.
Um dos primeiros sinais costuma ser o aprofundamento da voz, que ocorre devido ao espessamento irreversível das cordas vocais.
Outras mudanças incluem o crescimento de pelos em padrão masculino (hirsutismo), como no rosto, peito e costas, além do afinamento do cabelo no couro cabeludo, podendo levar à calvície.
Outra alteração significativa é a hipertrofia do clitóris, também conhecida como clitoromegalia, que é o aumento do tamanho do clitóris.
Além disso, pode ocorrer uma masculinização das feições faciais, com o maxilar tornando-se mais proeminente e a pele mais oleosa e propensa à acne, além de uma redistribuição da gordura corporal para um padrão mais androgênico.
12. Interrompimento do crescimento em estatura
Usar hormônios acelera o processo de maturação óssea, levando ao fechamento prematuro das placas de crescimento, também conhecidas como epífises.
Isso é um problema gigantesco para pessoas em fase de crescimento.
Durante a puberdade, os ossos longos, como os das pernas e braços, crescem em comprimento a partir de áreas de cartilagem especializadas localizadas em suas extremidades, as chamadas placas epifisárias.
O crescimento continua enquanto essas placas permanecem abertas e ativas, permitindo que o osso se alongue.
O processo natural de crescimento é regulado por um complexo equilíbrio hormonal, incluindo os hormônios sexuais como a testosterona e o estrogênio.
No final da puberdade, o aumento natural desses hormônios sinaliza gradualmente para que as placas de crescimento se ossifiquem e se fechem.
A introdução de esteroides anabolizantes em um corpo que ainda está em desenvolvimento acelera drasticamente esse processo.
Os níveis suprafisiológicos de andrógenos, e sua conversão em estrogênio, enviam um sinal potente e prematuro para as placas epifisárias se calcificarem e se fundirem ao resto do osso.
Uma vez que as placas de crescimento se fecham, o crescimento em altura cessa permanentemente. Não há como reverter esse processo.
O adolescente pode até experimentar um rápido aumento na massa muscular, mas isso ocorrerá ao custo de sacrificar seu potencial máximo de altura, resultando em uma estatura adulta inferior à que teria alcançado naturalmente.
13. Estresse e danos aos rins
Esteroides anabolizantes podem afetar negativamente o funcionamento dos rins de várias formas.
Um dos principais mecanismos indiretos de dano é a hipertensão arterial.
A pressão alta crônica força os pequenos e delicados vasos sanguíneos dos rins a trabalharem sob estresse constante, o que pode causar lesões nos glomérulos, as unidades de filtração do rim.
Alguns esteroides também podem danificar as células renais diretamente, embora o mecanismo exato ainda não seja bem estabelecido pela ciência.
Acredita-se que a metabolização desses compostos sintéticos possa gerar estresse oxidativo e inflamação no tecido renal, contribuindo para a deterioração de sua estrutura e função.
Esse efeito colateral é frequentemente subestimado, pois os sintomas podem não aparecer até que a função do órgão já esteja significativamente comprometida.
14. Ginecomastia
O desenvolvimento de tecido mamário em homens, ou ginecomastia, é um dos efeitos colaterais mais comuns do uso de esteroides anabolizantes.
Isso ocorre principalmente por duas vias hormonais distintas: o desequilíbrio entre andrógenos e estrogênios, e a ação de hormônios com atividade progestênica, que podem influenciar os níveis de prolactina.
A via mais conhecida é a estrogênica, que acontece através de um processo chamado aromatização.
Muitos esteroides anabolizantes, como testosterona e seus derivados, podem ser convertidos em estradiol (uma forma de estrogênio) pela enzima aromatase.
Quando os níveis de estradiol se elevam drasticamente, eles estimulam os receptores de estrogênio no tecido mamário, estimulando o seu crescimento.
A segunda via, menos compreendida, envolve esteroides que possuem atividade progestênica. Esses compostos podem se ligar e ativar os receptores de progesterona, o que, por si só, pode contribuir para o desenvolvimento do tecido mamário.
A progesterona pode sensibilizar o tecido mamário aos efeitos do estrogênio, mesmo que os níveis deste não estejam excessivamente altos.
Além disso, essa atividade progestênica pode levar ao aumento dos níveis de outro hormônio, a prolactina, que também pode causar ginecomastia.
15. Acne (surgimento de espinhas)
Esteroides anabolizantes, especialmente os que podem ser convertidos em DHT ou são derivados diretos, exercem um forte estímulo sobre as glândulas sebáceas da pele.
As glândulas sebáceas são responsáveis pela produção de sebo, um óleo natural que lubrifica e protege a pele.
Quando expostas a níveis suprafisiológicos de andrógenos, como os encontrados durante um ciclo de esteroides, essas glândulas entram em um estado de hiperatividade, produzindo uma quantidade excessiva de sebo e tornando a pele muito mais oleosa.
Esse excesso de óleo cria o ambiente perfeito para a proliferação de bactérias que vivem na pele, o que, de maneira simplista, pode desencadear uma cascata de reações que facilitam o surgimento de acne.
16. Aceleração da calvície (perda de cabelo)
Um dos efeitos colaterais do uso de esteroides anabolizantes é a aceleração da calvície, conhecida como alopecia androgenética ou simplesmente como perda definitiva de cabelo.
Hormônios anabólicos também podem interagir com os folículos capilares e, se houver predisposição genética para perder cabelo, o processo será acelerado.
Os folículos capilares no topo da cabeça contêm uma grande quantidade de receptores hormonais.
Quando eles se ligam a esses receptores, um processo chamado miniaturização folicular é desencadeado.
Na prática, isso significa que o folículo capilar encolhe progressivamente a cada ciclo de crescimento.
Com o tempo, a fase de crescimento do cabelo torna-se mais curta, e o cabelo produzido pelo folículo miniaturizado fica mais fino, mais curto e mais fraco.
Eventualmente, o folículo se torna tão pequeno que não consegue mais produzir um fio de cabelo visível, finalmente causando a perda definitiva do folículo.
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