Ir para conteúdo
  • Cadastre-se

Alimentação Paleolítica


Μarcos

Posts Recomendados

Para poderem entender melhor, poderão clicar no item abaixo, onde irão encontrar os diversos quadros comparativos mencionados ao longo do artigo.

Os 20 mil anos que precederam o aparecimento da agricultura e da criação correspondem ao período do Paleolítico Superior, no qual existia Homo Sapiens Sapiens, dito homem de Cro-Magnon. Este viveu na Europa, na América, na África do Sul, na Austrália e nas ilhas do Pacifico, durante um período que vai de 30 mil anos a cerca de 7 mil anos antes da nossa era (figura 1). No entanto, algumas povoações estado pré-agricolas existiam ainda a algumas dezenas de anos, em regiões pouco acessíveis.

Numerosos estudos mostraram que os homens de Cro-Magnon eram idênticos, no plano morfológico e genético, aos homens da actualidade. Eram de grande estatura (1,80m em média), maiores que os homens que os precederam (1m no Paleolítico Inferior), mas também maiores que aqueles que os sucederam a partir do período Neolítico (exceptuando os homens ocidentais actuais que praticamente reencontraram o tamanho dos homens do Paleolítico Superior).

O estado do esqueleto e dos dentes é, obviamente, insuficiente para avaliar completamente o estado nutricional destes homens, mas fornecem-nos, de qualquer forma, muitas informações sobre o seu estado de saúde: o homem do Paleolítico tinha uma esperança media de vida reduzida essencialmente pelo facto de se confrontar com uma forte mortalidade pré-natal e infantil, e com inúmeras doenças infecciosas, bem como acidentes. No entanto, e curiosamente, os ossos encontrados foram considerados imunes à tuberculose, a cancros primitivos ou secundários, à osteoporose e à osteomalacia, e os esqueletos de crianças não apresentavam rachas. Os raros “velhos” encontrados (com cerca de 50 anos), mostram lesões banais de artrose. Os dentes tinham, ocasionalmente, algumas cáries.

Os excessos pontuais, pelo menos os que apresentam consequências patológicas, ou seja, as obesidades ginóides, não deviam ser frequentes. Obviamente, as representações humanas permitiram encontrar situações de excessos: no fundo, trata-se praticamente sempre de pequena estatuas de “Vénus”, ou seja, com depósitos lipídicos acentuados do tipo ginóides (figura 2). Muito excepcionais são as representações de obesidade andróides. Aliás, tendo em conta o que sabemos da actividade física dos homens de Cro-Magnon, é pouco provável que tenham apresentado obesidades andróides e diabetes. Aparentemente, os nossos antepassados do Paleolítico Superior eram homens adolescentes ou jovens adultos, sãos, robustos, capazes de actividade física intensa, como indicam as inserções musculares nos ossos e o estado das articulações. Deviam, então, possuir uma nutrição rica, equilibrada, adaptada às suas condições de vida, e permitindo-lhes evitar as carências em oligo-elementos e em vitaminas.

Obviamente, esta alimentação tinha como característica principal a sua variedade:

segundo o período, já que os períodos glaciares e os períodos mais quentes sucederam-se durante todo o paleolítico superior, até ao inicio do Neolítico; segundo a região, aí mais uma vez devido às condições climáticas diferentes em função da latitude e da altitude; e por fim, consoante a estação do ano. Parece que, apesar de tudo, durante o último período do Paleolítico Superior, o clima, a vegetação e a fauna da Europa central e do oeste, eram muito próximos daquele que conhecemos actualmente.

Hábitos alimentares:

Os pré-agricolas eram omnívoros. Como testemunhos deste facto temos os estudos aprofundados do estado dos dentes, o material de caça e de pesca, o material para esmagar as sementes, os detritos alimentares, as caixas para a sua conservação e, por fim, a impossibilidade fisiológica para a espécie Homo Sapiens Sapiens de ser carnívoro exclusivo. Vários modelos de alimentação foram estabelecidos em função da repartição em produtos animais e produtos vegetais (Eaton). Estas repartições correspondem a alimentações de regiões em climas diferentes e podem distinguir-se segundo quatro modelos:

nos países muito quentes, 20% produtos animais e 80% produtos vegetais; nos países temperados, as proporções situam-se entre 40% produtos animais, e 60% a 40% de produtos vegetais; nas regiões muito frias, 80% produtos animais e 20% produtos vegetais.

Estas repartições puderam ser validadas em caçadores-recolectores de época recente (esquimós, algumas tribos do meridiano, aborígenes da Austrália). Estes diferentes modelos fornecem, naturalmente, uma repartição diferente dos principais nutrientes (quadro 1).

Podemos ver que a relação em lípidos varia pouco quantitativamente, mas é muito diferente qualitativamente. Proporcionalmente, as relações em glúcidos e prótidos variam muito. O modelo proposto por Eaton em 97 de uma alimentação “média” Paleolítica, disponível para os habitantes das regiões temperadas, está indicado no quadro 2. Este modelo é baseado na análise do exame de 85 espécies animais e de 236 espécies vegetais. Pode ser comparado com outros 3 modelos de alimentação moderna: alimentação ocidental segundo o modelo dos Estados Unidos, alimentação recomendada pelos experts (“dieta prudente”), e alimentação mediterrânea tradicional (quadro 2). Podemos observar que a alimentação do Paleolítico Superior é muito mais rica em prótidos e em fibra e muito mais pobre em lípidos e sódio.

Verificamos, igualmente, uma relação P\S muito elevada no regime Paleolítico. Isto deve-se, por um lado, a uma relação importante de lípidos vegetais (quadro 4) e, por outro, ao consumo de peixe gordo.

Esta preponderância dos lípidos vegetais em relação aos lípidos animais devia-se ao carácter muito magro das carnes de caça animal. É interessante comparar o índice de gorduras dos animais consumidos pelos caçadores do Paleolítico com o dos animais que comemos actualmente (quadro 5).

Os alimentos de origem vegetal eram ricos em glúcidos complexos, mas alguns eram igualmente ricos em lípidos (quadro 6).

A relação vitaminas-minerais foi avaliada pela equipa de B. Eaton e comparada às relações médias actuais (quadro 7). A alimentação dos homens do Paleolítico Superior pode definir-se da seguinte forma:

uma ração calórica média permitindo cobrir as necessidades; uma ração em glúcidos um pouco inferior à actual, com base quase exclusivamente de glúcidos complexos; uma ração em proteínas muito mais elevada que actualmente, (mas sendo, apesar de tudo, tolerada pelo organismo humano), constituída por 26% de proteínas animais e por 9% de proteínas vegetais (quadro 8); uma ração fraca em lípidos, com uma ligeira predominância em lípidos vegetais (pelo menos nos países temperados), com uma maioria de lípidos insaturados e uma relação em colesterol bastante elevada; uma ração elevada em fibras, muito mais elevada que hoje em dia; uma ração correcta em vitaminas e minerais, e notoriamente uma quantidade muito fraca de sódio. A partir do Neolítico, isto é, há cerca de 10 mil anos, as necessidades alimentares mudam com o aumento da população, e o homem começa a desenvolver a criação de gado e a agricultura.

É o início do sedentarismo, acompanhado de uma profunda transformação da alimentação humana. A carne diminui, sendo substituída pelos cereais, o que intensifica o nível dos glúcidos complexos. A carne conheceu, também, várias transformações, uma vez que o gado tem uma carne mais gorda do que a caça. Os produtos lácteos são agora consumidos, aumentando a contribuição de gorduras saturadas. O sal aparece na conservação dos alimentos, e o seu uso é também ditado pela progressiva sofisticação do paladar. Esta revolução nutricional é acompanhada por uma diminuição de estatura (10cm em média).

O séc. XIX e a era industrial vão acentuar este fenómenos, aumentando a quantidade de gorduras saturadas, de açúcares complexos e, sobretudo, de açúcares simples, reduzindo as fibras.

Estas modificações nutricionais, em conjunto com o sedentarismo acrescido e o consumo do álcool, desenvolvem as obesidades andróides, com todas as suas consequências metabólicas e patológicas bem conhecidas: os diabetes, as dislipidemias e, finalmente, este flagelo dos tempos modernos que é a arteriosclerose.

Os homens de hoje não são geneticamente diferentes dos homens de Cro-Magnon e, como indica muito bem B. Eaton, ainda somos praticamente grandes caçadores-recolectores submetidos a uma alimentação de produtores sedentários.

pdf-dist.png

Publicação original:

http://www.thalassa-lisboa.com/article.php3?id_article=65

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Publicidade

Crie uma conta ou entre para comentar

Você precisar ser um membro para fazer um comentário

Criar uma conta

Crie uma nova conta em nossa comunidade. É fácil!

Crie uma nova conta

Entrar

Já tem uma conta? Faça o login.

Entrar Agora
  • Quem Está Navegando   0 membros estão online

    • Nenhum usuário registrado visualizando esta página.
×
×
  • Criar Novo...