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Perfil Dos Principais Componentes Em Bebidas Energéticas


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Joelia Marques de CARVALHO1,Geraldo Arraes MAIA*1, Paulo H.M. de SOUSA2, Sueli RODRIGUES1
* Endereço para correspondência: 1 Universidade Federal do Ceará, Departamento de Tecnologia de Alimentos, Caixa Postal 12168,
CEP 60356-000, Fortaleza, Ceará, fone/fax: (85) 3366-9752.
2 Universidade Federal de Viçosa
Recebido: 17/06/2005 – Aceito para publicação: 20/03/2006
RESUMO
As chamadas bebidas energéticas tiveram um grande crescimento no mercado nacional e internacional, principalmente entre os jovens e praticantes de atividades esportivas, seus maiores consumidores. Este trabalho apresenta uma revisão de literatura sobre os componentes mais comuns presentes nas bebidas energéticas: cafeína, taurina, guaraná e glucoronolactona, dando ênfase à legislação do Brasil, composição, ação sobre o organismo, aspectos toxicológicos e metabólicos. As pesquisas e estudos publicados
demonstram que ainda há muitas divergências em relação às concentrações adequadas para o uso destes componentes na formulação destas bebidas e que se faz necessário maiores estudos sobre a interação destes componentes com outras substâncias como o álcool, uma vez que as bebidas energéticas são freqüentemente consumidas misturadas às bebidas alcoólicas com a finalidade de potencializar o efeito do álcool.
Palavras-Chave. bebida energética, composição, cafeína, taurina, glucoronolactona.
INTRODUÇÃO
As bebidas com adição de componentes estimulantes, muitas vezes designadas como bebidas energéticas, foram lançadas no mercado em 1987 e desde então, seu crescimento em todo mundo tem sido enorme. As substâncias estimulantes inicialmente foram utilizadas por desportistas. Em princípio, foram desenvolvidas para incrementar a resistência física, prover reações mais velozes a quem as consumia, levar a uma maior concentração nas atividades exercidas, evitar o sono, proporcionar sensação de bem-estar, estimular o metabolismo e ajudar a eliminar substâncias nocivas para o corpo. Estas bebidas são geralmente embaladas em latas finas com um visual atrativo e posicionadas entre os principais produtos do mercado de bebidas. Pertencem a nova classe de alimentos conhecidos como ‘alimentos funcionais’. Estes alimentos afetam favoravelmente funções particulares do
corpo3. Segundo Hilliam, o desenvolvimento do mercado de alimentos funcionais está sujeito a influência dos seguintes aspectos: mudança nas atitudes e expectativas dos consumidores, crescente compreensão da ligação entre os constituintes das dietas e dos processos fisiológicos e avanços na ciência e tecnologia de alimentos. Além de água, a maioria dos produtos comercializados como bebidas energéticas contém carboidratos e cafeína como seus principais ingredientes. O carboidrato tem a função de prover o nutriente energético e a cafeína de estimular o sistema nervoso central, além destes eles devem também conter uma ampla variedade de outros ingredientes como aminoácidos e vitaminas. Segundo o Safefood3, as bebidas energéticas são definidas como produtos que contém tipicamente cafeína, taurina e vitaminas, e podem conter uma fonte de energia (carboidratos), ou outras substâncias, comercializadas com propósito específico de fornecer real ou perceptiva melhoria psicológica ou efeitos na performance. Entretanto não há ainda um consenso sobre o nível máximo de cafeína e a funcionalidade dos ingredientes tais como a taurina e a glucoronolactona. Este trabalho apresenta uma revisão de literatura sobre os componentes mais comuns presentes nas bebidas energéticas: cafeína, taurina, guaraná e glucoronolactona, dando ênfase à legislação brasileira, composição, ação sobre o organismo, aspectos toxicológicos e metabólicos.
1. Aspectos da Legislação Brasileira
É muito importante fazer distinção entre bebidas energéticas e as bebidas conhecidas como bebidas para o esporte (sport drinks) ou bebidas isotônicas, que são produtos com diferentes funções e composição, embora os termos sejam usados de forma permutável. As bebidas para o esporte são principalmente designadas para repor fluídos e prover carboidratos e não contém normalmente os principais ingredientes das bebidas energéticas tais como: cafeína, taurina e glucoronolactona. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), vinculada ao Ministério da Saúde, faz distinção entre as bebidas para o praticante de atividade física e as chamadas bebidas energéticas. A Resolução RDC n° 273 de 22-09-05 do Ministério da
Saúde8 (que revogou a Portaria n° 868, de 03-11-98 do Ministério da Saúde9) têm como objetivo fixar requisitos mínimos de características e qualidade para as bebidas denominadas Composto Líquido Pronto para o Consumo, definidas como sendo produtos que contém como ingrediente(s) principal(is): inositol e/ou glucoronolactona, e/ou taurina, e/ ou cafeína, podendo ser adicionada de vitaminas e/ou minerais até 100% da Ingestão Diária Recomendada (IDR) na porção do produto, podendo ser adicionados outros ingredientes desde que não haja descaracterização do produto.
Já o regulamento técnico para praticantes de atividades físicas, descrito na Portaria nº 222, de 24-03-98, do Ministério da Saúde se aplica aos alimentos especialmente formulados e elaborados para praticantes de atividade física. Nesta categoria estão excluídas as bebidas alcoólicas e bebidas gaseificadas; produtos que contenham substâncias farmacológicas estimulantes, como por exemplo, a cafeína; hormônios e outras consideradas como dopping pelo Comitê Olímpico Internacional (COI); produtos que contenham substâncias medicamentosas ou indicações terapêuticas; produtos fitoterápicos; formulações à base de aminoácidos isolados (caso em que se enquadraria a utilização de taurina). Também neste regulamento técnico, encontra-se a definição de repositores energéticos descritos como produtos formulados com nutrientes que permitam o alcance e/ou manutenção do nível apropriado de energia para atletas. Nestes produtos, os carboidratos devem constituir, no mínimo, 90% dos nutrientes energéticos presentes na formulação. Opcionalmente, estes produtos podem conter vitaminas e ou minerais.
No entanto, de acordo com a atual legislação referente ao composto líquido pronto para o consumo o produto pode ser rotulado utilizando expressões como bebida energética ou energy drink, o que pode gerar alguma confusão para os consumidores destes produtos devido à proximidade dos termos.
Mesmo antes da atual legislação, o termo bebida energética já era comum na denominação destes produtos no Brasil, pois dentre os efeitos associados a estas bebidas estão reações como aumento da sensação subjetiva de alerta ou vigor, sensações relacionadas a um estado de “maior energia” e disposição no indivíduo. Segundo Smit e Rogers11, as bebidas energéticas são
um grupo de produtos anunciados como sendo capazes de promover estado de alerta, energia e redução do sono, o que pode não ocorrer, dependendo do indivíduo.
2. Ingredientes para bebidas energéticas
2.1. Cafeína
A cafeína é a droga de maior emprego, maior aceitação social e mais largamente utilizada no mundo. Em suas fontes naturais, a cafeína tem sido consumida pelo homem em todo mundo há séculos. É consumida regularmente por bilhões de pessoas, configurando diversas e variadas práticas culturais, sendo até vital para algumas economias. A cafeína é um alcalóide purínico da classe das metilxantinas (1, 3, 7-trimetilxantina), de ocorrência natural em folhas de mate, café, cacau, noz de cola. O café só contém cafeína, porém o cacau contém também outras metilxantinas, especialmente teofilina e teobromina. As xantinas são substâncias capazes de estimular o sistema nervoso, produzindo certo estado de alerta de curta duração. Desde seu isolamento químico em 1820, a cafeína, além de estimulante, tem sido utilizada terapeuticamente no tratamento da apnéia infantil, no tratamento da acne e outras desordens da pele, sendo também empregada no tratamento de dores de cabeça e enxaquecas. A cafeína também é encontrada em uma variedade de medicamentos usados como analgésicos, diuréticos, controladores de peso e preparações para aliviar alergias.
2.1.1. Ações sobre o organismo
Devido a cafeína ser uma das substâncias mais largamente utilizadas em todo o mundo, os estudos sobre as implicações para a saúde resultantes do consumo desta substância, são de interesse dos consumidores de alimentos, bebidas e medicamentos.
Segundo a legislação o composto líquido pronto para consumo pode conter o limite máximo de 35 mg/100mL de cafeína em sua composição. Para crianças que não consomem normalmente muito café ou chá, e que substituem água por refrigerantes de cola ou
bebidas energéticas, há um aumento na ingestão diária de cafeína, quando comparada com outras fontes. Isso pode resultar em mudanças no comportamento, como um aumento na irritabilidade, nervosismo e ansiedade. Os riscos relacionados ao consumo de cafeína durante a gravidez ainda são muito controversos. Muitas avaliações epidemiológicas sugerem que não há problemas na ingestão de cafeína abaixo de 300 mg/dia. Mais de 99% da dose ingerida é rapidamente absorvida a partir do trato gastrointestinal, elevando sua concentração no plasma sangüíneo entre 15 e 45 minutos. Uma vez na corrente circulatória, a cafeína penetra eficazmente em todos os tecidos corporais. O período de semi-eliminação da cafeína (o tempo requerido para que o corpo metabolize e elimine a metade da concentração no plasma sangüíneo: a meia-vida) oscila entre horas e dias, dependendo da idade, o sexo, a medicação e as condições de saúde, estado hormonal e se o indivíduo é ou não fumante. Para sua eficaz eliminação, a cafeína deve ser convertida em seus metabólitos que são mais rapidamente excretados pela urina. Esta biotransformação ocorre principalmente no fígado. A cafeína também pode ser excretada pelo leite materno. Arnaud et al observaram um aumento da meia-vida da cafeína em mulheres grávidas, no terceiro mês de gestação. O estudo ainda afirma que os níveis de cafeína utilizados, baseados nos hábitos alimentares das gestantes, não apresentam nenhum risco para os fetos, mas recomendam que as gestantes consumam café ou bebidas descafeinadas, a fim de manter os níveis plásmáticos de cafeína mais baixos sem, contudo modificar seus hábitos alimentares. Sabe-se com certeza que a cafeína afeta a função normal celular e tem diversos efeitos fisiológicos. É um estimulante do Sistema Nervoso Central (SNC) e, dependendo em parte da quantidade consumida, pode produzir uma variedade de efeitos em outros órgãos. Dependendo da dose, ela pode aumentar os batimentos cardíacos e a taxa de metabolismo basal, promover secreção ácida no estômago e aumentar a produção de urina. A cafeína também apresentou um efeito broncodilatador em jovens pacientes com asma. No sistema nervoso central, mais precisamente no
sistema nervoso autônomo, o sistema de neurotransmissão baseado no neurotransmissor adenosina age como redutor da freqüência cardíaca, da pressão sangüínea e da temperatura corporal. A cafeína exerce uma ação inibidora sobre os receptores do neurotransmissor adenosina, situados nas células nervosas. Muitas das respostas fisiológicas com a administração de cafeína são opostas às de adenosina, por isso há uma sensação de revigoramento, diminuição do sono e fadiga. A cafeína exerce um efeito sobre a descarga das células nervosas e a liberação de alguns outros neurotrasmissores e hormônios, tais como a adrenalina.
A cafeína aumenta o metabolismo energético em todas as partes do cérebro, mas diminui algumas vezes o fluxo cerebral induzindo uma hipoperfusão relativa do cérebro. Além disso, a droga ativa a noradrenalina aparentemente afeta a liberação da dopamina. Muitos dos efeitos de alerta da cafeína podem estar relacionados à ação das metilxantinas sobre a serotonina. A Tabela 1 apresenta uma comparação entre os efeitos antagônicos da cafeína e adenosina. Ratliff-Crain e Kane24 avaliaram a relação entre o
aumento do consumo de cafeína e situações de estresse entre consumidores. Segundo os autores, a hipótese de que estes
aumentem a quantidade de cafeína consumida, em situações de estresse, devido aos seus efeitos estimulantes não foi
comprovada. Embora alguns consumidores participantes do estudo afirmem que em situações como dor, tensão e depressão
sintam-se mais aliviados consumindo cafeína.
Numerosos estudos investigam a ligação entre a cafeína e as doenças cardiovasculares, esta relação ainda é incerta. O Scientific Committee on Food (SCF)19 na Europa considera que há um aumento no risco de doenças cardiovasculares por efeito da cafeína sozinha ou em combinação com outros constituintes, como a taurina, presente em alguns tipos de bebidas energéticas, particularmente consumidas durante ou depois do exercício intenso. Os estudos com humanos incluíram indivíduos normais descansados, indivíduos submetidos a exercícios intensos e indivíduos com predisposições a arritmias cardíacas.
Os efeitos relacionados ao sistema cardiovascular variam desde aumentos moderados na velocidade dos batimentos cardíacos até arritmias cardíacas sérias. Em alguns casos pode haver sensação de palpitação produzida pela ocorrência de extra-sístoles.
O aumento da pressão sangüínea é um conhecido fator de risco para doenças cardiovasculares e derrames, e os indivíduos com pressão alta são geralmente aconselhados a reduzir o consumo de cafeína. Tem-se sugerido que o consumo de cafeína pode aumentar os riscos relacionados à hipertensão. Noordzid et al.25 afirmam que o consumo regular de cafeína aumenta a pressão arterial, mas quando ingerida através do café, o efeito sobre a pressão arterial é pequeno. O estudo não se refere ao consumo de bebidas energéticas. O uso regular de bebidas contendo cafeína, por um período curto de dois a quatro dias, já muda a resposta do
organismo aos seus efeitos. Desenvolve-se uma tolerância, e o uso prolongado não causa mais qualquer tipo de alteração na pressão sangüínea, freqüência cardíaca, níveis de renina, adrenalina ou fluxo de sangue nos tecidos. A cafeína possui dois efeitos importantes no sistema respiratório. Ela estimula os neurônios do centro respiratório do cérebro proporcionando um aumento discreto da freqüência e a intensidade da respiração, juntamente com um efeito local nos brônquios, produzindo um satisfatório efeito broncodilatador. Essas propriedades evidenciam a utilidade do consumo regular de bebidas que contém cafeína, por
pacientes asmáticos.
Recentemente, observou-se a crescente ingestão de bebidas alcoólicas, principalmente destiladas, com bebidas energéticas. Estas bebidas vêem sendo utilizadas para potencializar os efeitos das bebidas alcoólicas, devido possivelmente a uma redução dos efeitos depressores do álcool pela ação estimulante da cafeína no córtex cerebral. Segundo Ferreira et al a administração de doses equivalentes ao consumo de três latas de 250 mL de bebida energética por um indivíduo de 70 kg (aproximadamente 10,71 mL de bebida energética por kg de peso corpóreo), apresentou ação antagônica aos efeitos depressores do álcool na atividade locomotora de ratos. Segundo Nehlig et al23 as metilxantinas como a cafeína induzem aumentos na dose-resposta da atividade locomotora em animais.
Assumido que as bebidas energéticas podem realçar os efeitos estimulantes do álcool ou atuar como antagônico nos efeitos depressores é necessário determinar quais os ingredientes ou compostos, bem como as doses responsáveis por estes efeitos. Embora haja indicação que estes possam ser devidos à taurina e/ou cafeína. Com relação aos efeitos de alerta da cafeína, Reyner e Horne sugerem que o consumo de 250 mL de bebida energética é benéfico na redução do sono, em estudos avaliando jovens
motoristas. As amostras controle utilizadas para o estudo não continham cafeína, taurina ou glucoronolactona, indicando que
o efeito de alerta é promovido por estes componentes. Os autores ainda sugerem que a quantidade proposta para consumo, que
contém 80 mg de cafeína combinada com taurina e glucoronolactona, é mais efetiva do que a utilização do café, que contém somente cafeína, em quantidade de 200 mg.
Segundo Gyllenhaal et al.30 estudos sobre a administração da [...]
Tabela 1. Comparação entre os efeitos da cafeína e adenosina sobre o organismo humano.
LOCAL DE AÇÃO CAFEÍNA ADENOSINA
Sistema Nervoso Central Estimulação Sedação
Sistema cardiovascular Aumento da freqüência cardíaca Diminuição da freqüência cardíaca e
e da pressão sangüínea da pressão
Metabolismo Aumento da lipólise no tecido adiposo Diminuição da lipólise
Sináptico Aumento da liberação de catecolaminas Diminuição da liberação de catecolaminas

[...] cafeína têm demonstrado que ela afeta a quantidade e a qualidade do sono.
Smit e Rogers encontraram efeitos significativos das bebidas energéticas sobre o humor. Estes efeitos foram relacionados com os termos estado de alerta, revitalizante, maior atenção e melhoria da energia mental, e estavam relacionados com a cafeína.
2.1.2. Mecanismo de Toxicidade
A cafeína é uma substância farmacologicamente ativa e seu consumo é difundido em todo o mundo. Os efeitos, a curto e a longo prazo, da exposição da cafeína têm sido estudados em detalhes. Contudo, mesmo com extensivas pesquisas, os efeitos e conseqüências para a saúde ainda é assunto de interesse. A cafeína figura na lista GRAS (substâncias geralmente consideradas como seguras), é utilizada com freqüência em bebidas refrescantes e em fármacos e também é considerada como estimulante em doses baixas. O consumo de uma xícara de café, em que se supõe a ingestão de 1-2 mg/kg de peso corpóreo, dá uma concentração plasmática máxima de 5 - 10 μM. Um consumo excessivo (concentração plasmática >50 μM) produz sintomas de
cafeinismo (ansiedade, agitação, dificuldades de conciliar o sono, diarréia, tensão muscular, palpitações cardíacas).
A dose letal (DL50) é de 150 - 200 mg/kg de peso corpóreo (concentração no plasma sangüíneo de aproximadamente
750 μM) que equivale ao consumo de uma só vez de 75 xícaras de café forte. Não é aconselhável um consumo elevado de cafeína
durante a gravidez. Pode-se consumir quantidades moderadas de cafeína sem problemas quando é parte de uma dieta saudável
e equilibrada22. O SCF, até o ano de 1999, não verificou nenhum efeito teratogênico em humanos, nem em suas nas funções
reprodutivas, e nenhuma associação entre o consumo de cafeína e adversidades durante a gravidez. Por outro lado, Cristian e Brent31 descrevem estudos epidemiológicos onde o consumo de cafeína por mulheres grávidas está relacionado com a má formação congênita, retardo no crescimento fetal e abortos espontâneos. Contudo os autores reconhecem que avaliar os riscos do consumo de cafeína somente através de estudos epidemiológicos seja difícil devido à concentração de cafeína contida em alimentos e bebidas variar consideravelmente, interferindo nos resultados obtidos em estudos com humanos. Santa-María et al. estudaram a toxicidade in vitro de diferentes marcas de bebidas energéticas. Os resultados demonstraram que, nas condições do teste, as bebidas não apresentam efeitos tóxicos. No entanto os autores afirmam que o consumo destes produtos por períodos prolongados, em altas doses ou em combinação com bebidas alcoólicas pode ser perigoso para saúde de alguns consumidores.
Há poucos casos de intoxicação retratados pela cafeína. As principais manifestações ocorrem no sistema nervoso central e cardiovascular. Insônia, agitação e hiperexcitabilidade são manifestações iniciais.
2.1.3. Uso como agente de sabor
Segundo Lindsay33, a sensação amarga pode ser desejável no sabor dos alimentos. Em algumas bebidas não alcoólicas, esta sensação é um atributo importante do sabor em algumas bebidas consumidas em grandes quantidades, como café e chás. Em bebidas tipo soft drink a cafeína é adicionada como agente modificador de sabor. A cafeína é usada em concentrações de até 200 ppm nas bebidas de cola e grande parte da cafeína empregada para este fim, se obtêm por extração com solventes das sementes
de café verde que são utilizados para o preparo de café descafeinado.
2.1.4. Ação da cafeína no desempenho de atletas
Há pouca informação sobre os efeitos da cafeína relacionados à força, mas por ser a cafeína um estimulante do sistema nervoso central, apesar de efeito temporário, faz o atleta se sentir mais disposto. A cafeína promove uma melhora na performance cognitiva e no alerta. Tem sido associada com a melhora na performance durante os exercícios de alta intensidade. A cafeína contribui para o desempenho nos exercícios ou provas de resistência, aparentemente devido à sua capacidade de aumentar a mobilização de ácidos graxos, conservando as reservas de glicogênio. A cafeína pode agir diretamente sobre a contratibilidade muscular, possivelmente por facilitar o transporte de cálcio. Seu efeito estaria na capacidade de retardar a fadiga, devido à sua influência sobre a sensibilidade das miofibrilas ao íon cálcio. Pode reduzir também a fadiga, através da redução do acúmulo dos íons potássio. Pesquisas não mostram, entretanto, qualquer efeito da cafeína sobre a força muscular máxima ou sobre as contrações musculares
voluntárias. O Comitê Olímpico Internacional (COI) proíbe altas doses de cafeína no organismo. Atletas olímpicos com mais de
12 mg de cafeína por mililitro de urina podem ser desqualificados da competição. A ingestão de cafeína presente no café não é expressiva, quando comparada com o dopping com cafeína pura. O efeito diurético da cafeína pode ser negativo para atletas com excessiva necessidade de água, ou para aqueles que estão desenvolvendo eventos de longa distância que não queiram urinar durante a prova. Há algumas evidências, de que os efeitos na melhora da performance pela ingestão de cafeína ocorrem em níveis modestos de ingestão (1 – 3 mg/kg de peso corpóreo ou aproximadamente 70 – 210 mg de cafeína), quando a cafeína é
tomada antes e/ou durante o exercício físico.
2.2. Taurina
Alguns ingredientes nas bebidas energéticas incluem aminoácidos individuais tais como glutamina, arginina, taurina, e/ou aminoácidos de cadeia ramificada, por exemplo leucina, isoleucina e valina.
A taurina, o ácido 2-amino-etano-sulfônico, é um betaaminoácido sulfurado não proteinogênico. É um dos aminoácidos mais abundantes no corpo humano. O corpo o sintetiza por várias rotas de oxidação da cisteína. Embora a taurina seja sintetizada principalmente no fígado e no cérebro, foram encontrados altos níveis de taurina em tecidos do coração, retina, no músculo esquelético e no sistema nervoso central.
2.2.1. Ações sobre o organismo
Há evidências de que a taurina serve como neurotransmissor (um mensageiro químico para o sistema nervoso), um regulador de sal e do equilíbrio de água dentro das células e um estabilizador das membranas celulares. A taurina participa na desintoxicação de substâncias químicas estranhas e também está envolvida na produção e ação da bilis . Contudo, o papel da taurina nestes processos não é claramente entendido e a influência de altas doses de taurina nestes processos é incerta. Certas enfermidades podem estar relacionadas com deficiências, ou necessidade de aumento da ingestão deste aminoácido. Tem-se demonstrado que a taurina é utilizada no tratamento de várias enfermidades comuns, portanto seu potencial terapêutico merece um estudo mais detalhado.
Com relação à enfermidade cardíaca, podemos dizer que a taurina compreende mais de 50% dos aminoácidos livres no coração. A taurina melhora a força do músculo do coração, prevenindo o desenvolvimento de uma cardiomiopatia (uma enfermidade do músculo cardíaco) em animais. Os baixos níveis de taurina estão relacionados com a hipertensão. Alguns estudos têm mostrado que consumindo suplementos de taurina se consegue baixar a pressão sangüínea. Os estudos com taurina demonstraram uma melhora na contractilidade do coração nos pacientes cardíacos podendo, ser utilizada como antioxidante. Encontram-se altas concentrações de taurina na retina do olho, onde parece que funciona como um buffer celular – protegendo as células da retina dos efeitos danosos da luz ultravioleta e das substâncias tóxicas. A taurina também é necessária para as reações químicas produzidas na visão normal, e sua deficiência está associada à degeneração da retina, além de protegê-la, ajuda a prevenir as cataratas relacionadas com a idade. Outra função deste aminoácido é manter a correta composição da bílis e manter a solubilidade do colesterol. A taurina se liga a certos sais biliares, e por isso melhora sua habilidade de digerir as gorduras. Os estudos com animais têm demonstrado que a complementação com taurina pode inibir a formação de cálculos biliares. Segundo Kingstone et al a taurina também possui propriedades antioxidantes. A ingestão média diária de taurina entre consumidores de bebidas energéticas é de aproximadamente 0,4 g aumentando para cerca de 1,0g entre altos consumidores. A concentração de taurina contida nas bebidas energéticas é mais alta que a quantidade encontrada em outros produtos. No Brasil, a Resolução RDC n° 273 de 22-09-2005, do Ministério da Saúde, estabelece o limite máximo de taurina como ingrediente, para o composto líquido pronto para
consumo em 400 mg/100 mL8. Um outro aspecto importante com relação à taurina presente nas bebidas energéticas é a sua ingestão juntamente com bebidas alcoólicas. Sugere-se que as bebidas energéticas poderiam prolongar os efeitos excitatórios do álcool, possivelmente por uma modulação da neurotransmissão gabaérgica (relacionada ao ácido gama-amino-butírico). O
ácido gama-amino-butírico (GABA) é um neurotransmissor inibitório no Sistema Nervoso Central de mamíferos. Sabe-se que o efeito depressor do álcool está associado a aumento da neurotransmissão mediada pelo GABA, inibindo o SNC. Desta forma, diminuindo a atividade gabaérgica, a taurina reduziria o efeito depressor do álcool. As interações da taurina com o álcool são particularmente pertinentes, visto que há evidências que as bebidas energéticas são regularmente consumidas com [...]
Tabela 2. Resumo das funções fisiológicas da taurina no organismo humano.
SISTEMA AÇÃO
Cardiovascular Modulação da ação do canal de cálcio; Retarda a cardiomiopatia; Propriedades anti-arritmia; Ação hipotensiva
Sistema Nervoso Central Regulação da resposta cardiorespiratória; Alteração na duração do sono;
Propriedades anti-convulsivas; Modulador da excitabilidade neural;
Manutenção da função cerebral; Termoregulação; Ação anti-tremores
Retina Manutenção da estrutura e das funções
Fígado Síntese dos sais biliares
Sistema reprodutivo Motilidade do esperma
Músculos Estabilidade das membranas
Outros Modulador dos neurotransmissores e hormônios; Osmoregulação;
Estimulação da glicólise e glicogênese; Efeitos antioxidantes;
Atenuação da hipercolesterolemia; Proliferação e viabilidade das células
[...]álcool. A Tabela 2 apresenta um quadro com uma síntese das ações da taurina sobre o organismo.
2.2.2. Mecanismo de toxicidade
Pode-se dizer no que se refere a toxicidade, que a taurina é geralmente bem tolerada. Não se têm relatados sérios efeitos colaterais nas doses terapêuticas usuais de 1 – 3 g ao dia. Apesar dos muitos estudos clínicos, a verdade é que a dose ótima de taurina é desconhecida. Os médicos orientados sobre nutrição geralmente prescrevem de 500 a 1000 mg, 2 a 3 vezes ao dia,
para adultos. Há poucos estudos sobre a interação de taurina com outros ingredientes contidos nas bebidas energéticas (como a cafeína e glucoronolactona) ou outras substâncias como o álcool ou drogas.
2.3. Guaraná
O guaraná (Paullinia cupana) é uma planta nativa da América do Sul, encontrada principalmente na Venezuela e Brasil. Seu componente principal é a guaranina, uma substância quimicamente idêntica à cafeína3,40. O guaraná é adicionado às bebidas energéticas em combinação com a cafeína ou sozinho. O Brasil é praticamente o único país a produzir guaraná em escala comercial em cultivos racionais e sistemáticos. Os estados produtores são Acre, Amazonas, Rondônia, Pará, Bahia e Mato Grosso. A semente de guaraná contém entre 5 e 6% de cafeína, apresentando teores bem mais elevados que os do cacau e do café e ligeiramente superiores aos do chá. Estas sementes contêm também fibra vegetal, amido, água, resina, pectinas e ácido tânico, que confere a adstringência característica do guaraná.
No Brasil, o Ministério da Saúde, classifica o extrato de guaraná utilizado no composto líquido pronto para consumo como o extrato obtido da fruta das plantas Paullinia sorbilis ou Paullinia cupanna que contém de 3 a 5 % de cafeína, assim como 1% de teobromina. O controle de qualidade do guaraná é realizado através de análises da quantidade de cafeína presente.
2.3.1. Ações sobre o organismo
O efeito estimulante do guaraná é similar ao da cafeína, sendo que 1 g de guaraná contém o equivalente a 40 mg de cafeína. A fonte natural precisa da atividade estimulante do guaraná não é bem conhecida. Contudo, tem sido relatadoque o guaraná exerce um efeito mais prolongado que o equivalente médio de cafeína. O teor de gordura contida na semente de guaraná e substâncias como o ácido tânico fazem com que a liberação da guaranina seja mais lenta do que a da cafeína, prolongando seus efeitos no organismo.
Há pouca informação na literatura que relata os efeitos do guaraná, embora seja consenso que produtos com altas quantidades de guaraná apresentem efeitos fisiológicos similares à cafeína.
2.4. Glucoronolactona
A glucoronolactona ocorre naturalmente como um metabólito formado a partir da glicose no fígado, sendo também encontrada em um pequeno número de produtos, como o vinho, que é uma boa fonte (acima de 20 mg/L). A glucoronolactona também pode ser encontrada em vegetais que contêm gomas. A goma xantana é um exemplo de goma formada por unidades de manose e ácido glucorônico.
Nem todas as bebidas energéticas contêm glucoronolactona, porém a concentração em algumas delas pode variar de 250 a 2500 mg/L1. No Brasil, a legislação referente às bebidas energéticas estabelece o limite máximo de glucoronolactona em 250 mg/
100 mL8.
2.4.1. Ações sobre o organismo
No pH fisiológico, a glucoronolactona entra em equilíbrio com o ácido glucorônico, seu precursor imediato. O ácido glucorônico é um importante constituinte das fibras e tecidos conjuntivos de animais. A glucoronolactona administrada por via oral em humanos é rapidamente absorvida, metabolizada e excretada como ácido glucarico, xilitol e L – xilulose. Alguns animais como os roedores, utilizados em estudos, podem sintetizar vitamina C endogenosamente a partir do ácido glucorônico. Esta via acontece convertendo
ácido gulônico ou glucoronolactona para gulonolactona e daí para ácido ascórbico. Contudo, primatas, incluindo o homem, não possuem esta rota metabólica. Por esta razão os roedores podem ser um modelo inapropriado para medir os efeitos da glucoronolactona.
2.4.2. Mecanismo de Toxicidade
De acordo com Finnegan1, o metabolismo da glucoronolactona em humanos é desconhecido e não há avaliações que forneçam informações sobre as interações entreglucoronolactona e álcool, por exemplo. De acordo com o Scientific Committee on Food (SCF) é necessário que se conheça a influência de altas doses de glucoronolactona, pois as rotas metabólicas envolvendo glicose
podem ser um relevante fator de risco em relação a crianças e diabéticos.
3. Conclusão
As bebidas energéticas possuem um grande potencial de mercado, dado a grande variedade de componentes em sua formulação, cada um contendo suas características de funcionalidade. Por serem produtos ainda relativamente novos no mercado, existem muitas controvérsias a respeito das concentrações adequadas de uso e a respeito dos reais efeitos destes ingredientes no organismo. São necessárias também mais pesquisas sobre as interações destes componentes com outras substâncias como o álcool, visto que o público alvo destas bebidas são os jovens, que se utilizam muitas vezes da combinação álcool/bebida
estimulante.

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