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Artigo-O Leite Faz Mal


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Parte 1-Leite materno vs. Leite de vaca

Alguns de vocês poderão neste momento estar a questionar-se: “Será que não se enganaram no título?”. Depois de todos os anos de estudo dos efeitos do leite, que sentido faz perguntar se o leite faz mal? Mas a pergunta que devolvemos é esta: será que conheces mesmo todos os estudos realizados em torno do leite?

Consumimos leite desde que nos lembramos de existir. Leite é sinónimo de saúde e crescimento. É o alimento mais saudável que podemos encontrar na natureza, essencial para o crescimento. Bem, pelo menos isto é o que ouvimos desde que nos lembramos de ser crianças. Mas será que é mesmo assim?

A verdade é que nos últimos 20 anos vários estudos científicos têm demonstrado que o leite de vaca não é bem o alimento perfeito publicitado na televisão, revistas e, inclusive, por alguns nutricionistas.

Leite de vaca é óptimo para os bezerros

O leite de vaca é, de facto, bastante nutritivo para a cria da vaca. O leite vai ajudar a cria a desenvolver-se saudavelmente. Mas, uma vez desmamada, ela nunca mais voltará a consumir o leite da progenitora. Isto aplica-se a todos os mamíferos… exceptuando o ser humano.

Da mesma forma, o leite materno é óptimo para os recém-nascidos

Não apenas óptimo, como essencial. Mas convém lembrar que o leite do peito da mulher é muito diferente do leite da vaca. Por exemplo, o leite materno contém um ingrediente chamado de inibidor da secreção da tripsina pancreática. Este inibidor é uma molécula normalmente encontrada no pâncreas e protege as paredes do intestino do recém-nascido de sofrer danos pelas enzimas digestivas que ele produz.

As paredes do intestino de um recém-nascido são muito vulneráveis a danos, já que nunca foram expostas a comida ou bebidas e, por essa razão, este ingrediente encontrado no leite materno é essencial para o seu desenvolvimento sadio [*1].

Outros dois ingredientes bastante importantes para o bebé e que se encontram em grandes quantidades no colostro (o primeiro leite materno nos primeiros dias após o parto) são os nitritos e os nitratos. O nitrato, encontrado em muitos vegetais, é convertido em nitrito pelas bactérias presentes na boca e no estômago. O nitrito ajuda à produção de óxido nítrico, uma substância que relaxa os vasos sanguíneos, favorecendo a vasodilatação e o fluxo sanguíneo. Desta forma, o corpo está mais apto a combater infecções e a melhorar a fluidez do sistema nervoso.

O colostro possui quantidades superiores de nitrito em relação ao nitrato. Isso é fundamental pois o sistema digestivo do recém-nascido ainda não colonizou as bactérias benignas necessárias para converter o nitrato em nitrito [*2].

O leite materno contém também uma proteína que impede o desenvolvimento de alguns tipos de cancro mais susceptíveis de se desenvolverem durante a idade infantil com, por exemplo, leucemia linfoide aguda e neuroblastoma [*3].

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Quem disse que é bom continuar a consumir leite depois do desmame?

Como vários estudos demonstraram que o leite materno é bom para o desenvolvimento da criança, há quem ache que é boa ideia continuar a dar leite às crianças após o desmame. A indústria de lacticínios tem-se agarrado muito a esta ideia para a promoção do leite. Mas a discussão que vamos apresentar nas subsequentes partes deste artigo vai mostrar que isto pode não ser, de facto, boa ideia.

Costuma-se dizer que o ser humano é a única espécie que em idade adulta continua a consumir leite. Apesar de não ser mentira, isto por si só não constitui um argumento razoável. Também somos a única espécie que assa e frita a sua comida e que consome substâncias estranhas ao nosso organismo para curar certas doenças e isso não é necessariamente mau. Os bons argumentos devem ser construídos a partir da investigação científica.

Na Parte 2 do artigo vamos aprofundar a questão da intolerância à lactose e a resposta insulínica do consumo de leite.

Parte2-Intolerância à lactose e resposta insulínica

Na Parte 1 discutimos os benefícios do leite materno, muito diferente do leite de vaca, essencial para o desenvolvimento sadio do recém-nascido.

No que toca ao leite, podemos ter em conta três grupos de pessoas: as que são a favor do seu consumo, as que não são muito adeptas mas que consomem de vez em quando e as que abominam completamente a bebida.

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Para alguns nutricionistas, a ingestão de leite traz problemas como alergias, flatulência, acne e processos inflamatórios. No caso da acne, um estudo de três anos realizado com 6094 raparigas com idades compreendidas entre os 9 e os 15 anos mostrou uma relação positiva entre o consumo de leite e a proliferação de acne [*1].

Mas a que se devem estes problemas?

Intolerância à lactose

A lactose é o principal açúcar do leite e da maioria das fórmulas para crianças feitas à base de leite. Sabe-se que, a nível mundial, cerca de 65% das pessoas não têm capacidade para digerir convenientemente a lactose. Quando isto acontece, diz-se que a pessoa é intolerante à lactose.

Esta intolerância decorre da ausência da lactase, uma enzima intestinal que permite decompor o açúcar do leite em hidratos de carbono mais simples, logo mais bem absorvidos pelo organismo. Na maior parte das vezes, a deficiência da lactase aparece gradualmente a partir dos dois anos, mantendo-se ao longo da vida. Na idade adulta, o comum é sermos intolerantes à lactose.

É por isso que muitos adultos, após a ingestão de leite e seus derivados, são incapazes de digerir a lactose, podendo desenvolver dores abdominais, distensão e/ou diarreia ou qualquer outro dos efeitos secundários acima referidos.

Mas o problema do consumo de leite não fica por aqui.

Resposta insulínica do leite

O índice glicémico (IG) representa a velocidade com que um alimento aumenta os níveis de glicose no sangue. Quanto menor o IG de um alimento, mais lenta será a sua absorção. Alimentos de elevado IG provocam um pico insulínico, reduzindo rapidamente a concentração de glicose no sangue.

Devido ao tipo de proteínas que contém, muito diferentes das da carne, o leite é capaz de induzir uma forte produção de insulina (tem um índice insulínico comparável ao dos hidratos de carbono refinados). Sabe-se que a existência recorrente de níveis de insulina no sangue acima do normal é um factor de risco para diabetes, doenças cardiovasculares, cancro, entre outras. Além disso, a insulina estimula a acumulação de gordura.

Na Parte 3 vamos discutir alguns dados científicos que sustentam a teoria aqui apresentada.

Parte3-O leite pode provocar cancro?

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Na Parte 2, vimos que o leite é capaz de induzir uma forte produção de insulina o que, por sua vez, constitui um factor de risco para várias doenças cancerígenas e cardíacas.

Por muito incómoda que esta informação possa ser, a verdade é que há estudos que sugerem uma associação entre o consumo de leite a alguns tipos de cancro.

Leite provoca cancro dos ovários?

Este tipo de tumor afecta maioritariamente mulheres com idade superior a 50 anos. Mas manifesta-se também em mulheres jovens.

Um estudo publicado em 2004 no American Journal of Clinical Nutrition avaliou os hábitos de consumo de leite e derivados de 61084 mulheres com idades compreendidas entre os 38 e os 76 anos. O período total considerado foi de 13 anos e meio.

Os cientistas verificaram que as mulheres que consumiram 4 ou mais doses de produtos lácteos por dia apresentaram maior risco de desenvolver cancro dos ovários do que aquelas que consumiram duas ou menos doses. De todos os produtos lácteos, o leite foi o alimento com a associação mais forte com o cancro dos ovários [*1].

Um outro estudo publicado em 2006 no International Journal of Cancer fez uma revisão de 18 estudos de caso [*2] e 3 estudos de grupo [*3] que se debruçaram sobre o consumo de leite e a incidência de cancro dos ovários.

Os investigadores concluíram que nos estudos de caso não há evidências de que a ingestão de leite e seus derivados tenha alguma influência no cancro dos ovários. Já os estudos de grupo suportam a hipótese de que o consumo de produtos lácteos aumentam o risco de desenvolver este tipo de cancro [*4].

Ou seja, os estudos de correlação (estudos onde se encontra uma associação entre duas ou mais variáveis) indicam que o leite e seus derivados são responsáveis pelo aumento do cancro dos ovários. Apesar de correlação não significar necessariamente causalidade, são dados sugestivos.

Leite e cancro da próstata

O cancro da próstata é uma das doenças mais malignas em todo o mundo, registando cerca de 400 mil novos casos a cada ano. Alguns estudos de correlação já associaram a sua incidência e desenvolvimento ao consumo de leite ou outros produtos lácteos.

Uma revisão de vários estudos, quer de controlo quer de grupo, conduzida no âmbito do The Cancer Project concluiu que seis dos 12 estudos de caso e cinco dos 11 estudos de grupo revistos mostraram uma associação entre o risco de desenvolver cancro da próstata e o consumo diário de produtos lácteos [*5].

Os investigadores adiantam que esta associação pode dever-se às seguintes razões: o efeito nocivo dos alimentos ricos em cálcio no balanço da vitamina D, a tendência que os produtos lácteos têm para aumentar a resposta insulínica e alterar as concentrações ou a actividade da testosterona.

Leite provoca cancro da mama?

A partir da segunda metade dos anos 80 até início dos anos 90, a China foi alvo de interesse no campo do cancro da mama. Os dados mostravam que a incidência de cancros da mama era menor entre a população chinesa do que nos países ocidentais industrializados (como, por exemplo, no Reino Unido e nos Estados Unidos da América). De facto, a incidência de cancros de mama em alguns destes países chegava a ser 70 vezes maior do que na China. Qual a razão?

Até início dos anos 90, a China apresentava um dos menores índices de consumo de leite per capita. Um habitante do meio urbano consumia, em média, apenas 4,8kg de leite por ano. Nos habitantes do meio rural o consumo era praticamente inexistente: 0,6kg por pessoa [*6].

Sabe-se que a grande maioria da população chinesa não tolera o leite e, portanto, não o consomem. Nem na fase adulta nem na fase infanto-juvenil. Em 2007, a msnbc.com informava que a incidência de cancros da mama na China tinha vindo a disparar desde 1997 [*7]. É interessante notar que este aumento no número de cancros da mama coincide com o período em que o consumo de leite no meio urbano também disparou, conforme mostra a seguinte tabela:

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Em todo o caso, se é verdade que existem estudos que relacionam o consumo de leite à maior incidência de cancro da mama, também existem dados que não encontram qualquer associação entre estas duas variáveis.

É o caso de um estudo publicado em 2002 que reuniu dados de 8 estudos de grupo, num total de 351.041 mulheres (7379 das quais diagnosticadas com cancro da mama durante os 15 anos do estudo). Os investigadores não encontraram uma associação significativa entre o consumo de carne e produtos lácteos e o risco de desenvolver cancro da mama [*8].

Conclusão

Depois de termos analisado estes estudos, talvez o mais correcto seja concluir que os dados científicos disponíveis sobre a relação do consumo de leite com a incidência de certos tipos de cancro são, no mínimo, inconclusivos. No entanto, o caso chinês é especialmente interessante e merece a nossa atenção.

Na Parte 4 vamos analisar os efeitos do consumo de leite noutras áreas da saúde.

Parte 4-A ligação do leite a outros problemas de saúde

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Na Parte 3 discutimos a possível ligação entre o consumo diário de leite e o risco de desenvolver certos tipos de cancro. Neste artigo vamos abordar outros problemas de saúde e a sua ligação com o consumo de leite.

Leite provoca diabetes?

O consumo de leite já foi associado à prevalência da diabetes. Um estudo publicado em 1994 levou em consideração hábitos alimentares de indivíduos pertencentes a nove regiões italianas, nomeadamente o consumo de lacticínios. Os investigadores identificaram o leite de vaca como um factor que despoleta o desenvolvimento da diabetes [*1].

Alguns anos mais tarde, em 2000, o Journal of the American College of Nutrition publicou uma discussão sobre esta temática, tendo em conta vários estudos realizados até ao momento.

Nesta publicação, os investigadores apresentam o exemplo dos índios Pima, um povo nativo dos Estados Unidos da América que apresenta uma grande prevalência da diabetes tipo 2. Entre os índios Pima, a diabetes manifestam-se em menor percentagem naqueles que consomem apenas o leite materno.

Contudo, estudos feitos em lacto-vegetarianos sugerem que o consumo de produtos lácteos está associado a um menor risco de desenvolver diabetes e de ter pressão arterial elevada. Em contraste,
dietas com grande teor de gorduras provenientes de carne animal ou produtos lácteos podem constituir um risco [*2].

A associação do leite com a doença de Parkinson

Um estudo publicado em 2007 avaliou a associação entre o consumo de produtos lácteos e o risco de desenvolver doença de parkinson. Os investigadores reuniram dados de 57.689 homens e 73.175 mulheres. Durante o tempo do estudo (1992-2001), 250 homens e 138 mulheres desenvolveram a doença.

Os investigadores encontraram uma associação positiva entre o consumo de lacticínios e a incidência de doença de parkinson, especialmente no sexo masculino [*3].

Leite como protector cardiovascular

Em 1996, a Stroke apresentou um estudo que sugeria que o consumo diário de de leite, aliado a uma dieta equilibrada, poderia ajudar a minimizar o risco de AVC. Durante um período de 22 anos, os investigadores seguiram 3150 homens com idades entre os 55 e os 68 anos. Segundo os investigadores, os que não consumiram leite registaram o dobro das incidências de AVC’s do que aqueles que consumiram pelo menos 0,470 litros diários da bebida [*4].

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O leite aumenta a esperança média de vida?

As conclusões do estudo publicado na Stroke receberam mais força em 2009, após uma nova publicação no Journal of the American College of Nutrition [*5]. Esta publicação consistiu numa revisão de 324 estudos que se haviam debruçado no consumo de leite como preditor de doença arterial coronariana, AVC’s, diabetes e cancro. Segundo Ian Givens, coordenador do estudo:

A nossa investigação mostra claramente que, se considerarmos o número de mortes provenientes da doença arterial coronariana, AVC e cancro colo-rectal, existe uma forte evidência de que o consumo de leite diminui o risco de morrer de alguma destas condições. Não encontrámos qualquer evidência de que o leite possa aumentar o risco de desenvolver algum problema de saúde, com a excepção de cancro da próstata. Levando todos os dados em consideração, existe uma forte evidência de que o consumo de leite está associado a um aumento dos anos de vida nos países ocidentais[*6].

Relativamente a este estudo, convém salientar que o investigador Ian Givens é o director do Centre for Dairy Research, um instituto pró-lacticínios cujo financiamento provém na sua grande maioria da indústria de lacticínios.

É verdade que este argumento por si só pode não querer dizer nada e, inclusive, ser falacioso, mas é nosso dever alertar para a possibilidade de conflitos de interesse. Lembramos que o nosso propósito com esta série de artigos sobre o leite e o seu impacto na saúde é o de apenas apresentar as evidências e os estudos conhecidos, deixando o leitor tirar as suas próprias conclusões.

Ainda não falamos de um dos principais benefícios associados ao consumo de leite: a alta disponibilidade de cálcio. Vamos abordar este tópico na Parte 5.

Parte5-Leite e a disponibilidade de cálcio

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Na Parte 4 abordámos a ligação do leite com alguns problemas de saúde.

A osteoporose é uma condição de porosidade anormal dos ossos, que resulta na perda gradual de massa óssea. Esta condição pode provocar fratura dos ossos, dor de costas e curvatura da coluna. Uma vez que a osteoporose é uma doença dos ossos e uma vez que 99% do cálcio se encontra nos ossos, parece lógico que quanto mais cálcio a pessoa consumir, menor será o risco de desenvolver osteoporose. A indústria dos laticínios agarra-se a esta ideia para nos lembrar constantemente que o leite é uma fonte muito rica em cálcio.

Como funciona o cálcio no organismo

O cálcio desempenha um papel importante na regulação do equilíbrio delicado do ácido-base no sangue. Quando o sangue começa a tornar-se ligeiramente ácido, o cálcio – que é alcalino – é libertado dos ossos para a corrente sanguínea para neutralizar os ácidos. O senão deste processo é que pode conduzir à redução da densidade mineral óssea.

A dieta também pode afectar a disponibilidade do cálcio. Os peixes, carnes vermelha e branca, ovos e laticínios são quebrados em ácidos sulfúricos e orgânicos que aumentam o pH do sangue. Como consequência, o mesmo cálcio que os nossos ossos precisam para permanecerem fortes é utilizado para neutralizar o efeito acidificante do leite. Uma vez libertado dos ossos, o cálcio é posteriormente expelido através da urina.

Há estudos que mostram que a proteína animal e os produtos lácteos podem originar perda de cálcio (devido ao processo descrito acima) [*1]. A quantidade diária de cálcio necessária varia de indivíduo para indivíduo, dependendo do consumo de carne de cada pessoa [*2].

Em 1986, um investigador de Harvard publicou um trabalho que mostrava uma associação directa entre o consumo de cálcio e a incidência de fracturas da anca, ou seja, quanto maior era o consumo de cálcio maior o risco de fractura [*3]:

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Estes dados não suportam a teoria que diz que o consumo de leite torna os ossos mais fortes.

O leite ajuda a reduzir a prevalência de osteoporose e fracturas da anca?

A teoria é que, como o leite fornece uma quantidade razoável de cálcio, este alimento torna os ossos mais fortes e diminui o risco de sofrer alguma fractura ou desenvolver osteoporose.

Os estudos que dizem que não

Durante 18 meses, crianças de sete anos de idade consumiram diariamente suplementos de cálcio de forma a ingerirem 800mg deste mineral. Ao longo dos 18 meses, não foram observados aumentos na densidade óssea dos braços e das pernas das crianças que tomaram os suplementos de cálcio superiores aos observados naquelas que não se suplementaram. Contudo, houve um ligeiro aumento na densidade óssea da espinha dorsal [*4].

Um estudo de 1987 realizado com 106 mulheres adultas também não encontrou melhorias a nível da densidade mineral óssea, apesar de as mulheres terem consumido diariamente entre 500 a 1400 mg de cálcio [*5].

Num estudo conduzido por investigadores italianos, as voluntárias consumiram entre 440 e 1025 mg de cálcio diariamente. Eles observaram que quanto maior era o consumo de cálcio, maior o risco de sofrer fractura da anca [*6].

Um estudo publicado em 1997 levou em consideração os hábitos alimentares de quase 78 mil mulheres com idades compreendidas entre os 34 e os 59 anos, durante 12 anos. Os investigadores observaram que as mulheres que consumiram mais do que um copo de leite por dia apresentaram 45% maior probabilidade de sofrer fracturas da anca, ao contrário do que seria de esperar [*7].

Outros estudos publicados também não encontraram associação inversa entre o consumo de leite e o risco de sofrer alguma fractura [*8], [*9], [*10], [*11].

Os estudos que dizem que sim

Um destes estudos foi publicado no British Medical Journal. As voluntárias foram divididas em três grupos: as que acrescentaram um copo de leite diário à sua dieta, as que acrescentaram meio copo e as que mantiveram a sua dieta igual. Antes desta alteração à dieta, o consumo diário total de cálcio destas jovens era de 750mg. Com a alteração, a quantidade de cálcio estabeleceu-se até aos 1100mg.

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No final do estudo, os investigadores verificaram um aumento de cerca de 10% na taxa de crescimento ósseo nas raparigas que consumiram o leite extra [*12].

Um estudo avaliou os efeitos da suplementação com 1000mg de citrato de cálcio na densidade mineral óssea em 70 pares de gémeos, durante 3 anos. Apenas um dos gémeos foi suplementado com o citrato de cálcio, o outro serviu como grupo de controlo. Apenas 45 pares de gémeos completaram o estudo.

Os investigadores observaram melhorias substanciais na densidade mineral óssea dos gémeos suplementados com cálcio. No entanto, estas melhorias deixaram de se registar quando os gémeos entravam no período de puberdade [*13].

Um estudo publicado no The American Journal of Clinical Nutrition observou que as mulheres que consumiram pouco leite durante a fase infanto-juvenil apresentaram menos massa óssea e um risco maior de fracturas na idade adulta [*14].

Apesar disto, o mesmo jornal científico publicou no mesmo ano um estudo em que concluía que o consumo de leite na fase infanto-juvenil é importante para o desenvolvimento saudável dos ossos [*15].

CONCLUSÃO

Mediante o que vimos neste artigo, torna-se muito difícil tirar uma conclusão objectiva sobre esta temática. Uma das razões pelo qual isso é difícil prende-se com os interesses instalados nesta indústria (falaremos disto na última parte desta série de artigos).

A outra razão é que existem muitas variáveis em jogo, que não podem simplesmente ser isoladas e devidamente controladas. Um estudo pode concluir que o grupo de pessoas que bebeu leite registou um aumento na densidade mineral óssea mas isso pode não dever-se, de facto, ao consumo de leite mas a outra qualquer variável não observada (por exemplo, nível de actividade desportiva, consumo de carne, etc).

Na Parte 6 vamos discutir se o leite tem algum efeito a nível da perda ou ganho de peso.

Parte 6-O leite faz emagrecer ou perder peso?

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Na Parte 5 analisámos um dos benefícios normalmente atribuídos ao consumo de leite: a alta disponibilidade de cálcio.

Neste artigo vamos mencionar alguns estudos que ajudem a responder à pergunta: o leite ajuda a emagrecer ou a aumentar de peso?

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Um estudo publicado no Journal of the American College of Nutrition encontrou ligação entre o consumo de leite e a perda de peso. Segundo este estudo, as pessoas que consomem mais leite são mais magras e menos predispostas a sofrer de obesidade.

A explicação dada pela investigadora foi a seguinte: “O leite participa do metabolismo das células, que para queimar gordura usam o cálcio como fonte de energia. Se falta cálcio na dieta, a pessoa torna-se mais predisposta a armazenar gordura[*1].

Outro estudo juntou mais de 300 homens e mulheres (com idades compreendidas entre os 40 e os 65 anos) que tinham excesso de peso. Os resultados do estudo demonstraram que, ao fim de dois anos, os indivíduos que consumiram maiores quantidades de lacticínios por dia – cerca de 340 gramas de leite ou 580 miligramas de cálcio proveniente dos produtos lácteos – perderam cerca de 5,4 quilos [*2].

Por sua vez, as pessoas que consumiram uma quantidade menor de cálcio – cerca de 150 miligramas de cálcio proveniente dos lácteos ou metade de um copo de leite por dia – perderam 3,17 quilos após o período de dois anos.

Também se verificaram alterações na quantidade de vitamina D disponível. Quando o estudo começou, os participantes com excesso de peso tinham menores níveis sanguíneos de vitamina D. Ao longo do estudo, os níveis de vitamina D aumentaram entre aqueles que perderam mais peso. Este estudo sugere que quanto maior forem os níveis sanguíneos de vitamina D, maior será também a perda de peso.

Leite faz ganhar peso?

No reverso da medalha, temos um estudo que indica que as crianças que bebem mais do que três copos de leite por dia são mais propensas a ficarem com excesso de peso.

Este estudo recolheu dados de mais de 12 mil crianças de todo o mundo e descobriu que quanto maior a quantidade de leite consumido, maior o aumento de peso registado nas crianças. As crianças que consumiram mais do que três copos de leite por dia tiveram 35% maior probabilidade de ficar com excesso de peso do que as crianças que apenas consumiram um ou dois copos [*3].

Na 7ª e última parte desta série de artigos vamos discutir tudo o que vimos até agora e apontar novas possíveis razões pelas quais o leite pode ser visto como um alimento não muito saudável, apesar de publicidades noutro sentido.

Parte 7-Algumas considerações sobre o leite

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Ao longo desta série de artigos sobre o leite, pudemos analisar algumas das suas potenciais implicações para a saúde, recorrendo a estudos científicos publicados sobre o tema. Nesta última parte vamos apresentar algumas das possíveis razões pelas quais o leite não é um alimento tão saudável como muitos querem crer.

O leite actual é um alimento processado milk-body-good.jpg

Até ao final do século XIX na Europa e inícios do século XX nos Estados Unidos da América, o leite era consumido não pasteurizado. Mais tarde, a homogeneização tornou-se norma. Este processo modifica a química do leite e aumenta os seus efeitos acidificantes, prejudicais à saúde.

Os defensores do leite de vaca “puro” afirmam que se ele não sofrer qualquer tipo de processo, pode ser considerado uma bebida saudável e nutritiva. Eles têm uma certa razão, na medida em que o leite não pasteurizado ou não homogeneizado é menos ácido que o leite processado. Além do mais, os processos de pasteurização e homogeneização aumentam a lista de potenciais problemas digestivos.

Ainda assim, mesmo o leite de vaca “puro” não é recomendado. Actualmente, a criação de vacas leiteiras implica dar-lhes antibióticos, muitas vezes acima das quantidades permitidas por lei [*1], e em alguns países também injectar-lhes uma forma geneticamente modificada da hormona de crescimento bovina – somatropina bovina (BST). O propósito desta hormona sintética modificada pelo homem é aumentar a produção de leite das vacas.

Tem o efeito secundário de aumentar os níveis sanguíneos do factor de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1), uma proteína que está associada a vários tipos de cancro, quando presente em quantidades elevadas [*2]. A respeito deste assunto e com base num estudo publicado no The Lancet [*3], Samuel Epstein, investigador e docente da Escola de Saúde Pública da Universidade de Illinois, escreveu:

Beber leite com BST pode aumentar os níveis de IGF-1 no sangue e, consequentemente, aumentar os ricos de desenvolver cancro da mama e promover a sua proliferação.[*4]

O problema dos interesses comerciais

Na parte 3, 4 e 5 desta série de artigos, apresentamos vários estudos que associaram o leite a diferentes problemas de saúde. Porém, para muitos destes problemas, também existem estudos que mostram o contrário. Qual a razão de estudos tão antagónicos?

A indústria dos lacticínios é das indústrias que mais factura anualmente. Fala-se muito das pressões e dos interesses dos grandes grupos económicos no sentido de tentarem vender a todo o custo os seus produtos. Na indústria dos lacticínios, a história não é diferente.

Procurar informação em organizações como a Associação Dietética Americana (ADA) pode não ser tão fiável quanto pensamos. Grande parte do financiamento destas associações provém de grandes empresas, como a Coca-Cola, Pepsi, Mars, ConAgra e a Associação Nacional de Pecuária. É só consultar o relatório anual da ADA para ter acesso a estas informações.

Muitos dos estudos científicos que envolvem produtos lácteos são financiados por grupos pró-lacticínios, com interesses óbvios nas conclusões dos mesmos. É verdade que isto, por si só, pode não significar absolutamente nada, mas é nosso dever alertar para a possibilidade de conflitos de interesse. Afinal de contas, não é novidade que há investigadores que adulteram os resultados a favor dos patrocinadores do estudo [*5], [*6], [*7].

Como é que se justifica que, na roda dos alimentos, os produtos lácteos tenham uma fatia tão grossa quanto a dos frutos, a não ser potenciais interesses económicos?

Os melhores substitutos do leite

Todos aqueles que querem evitar o leite podem optar por alguns bons substitutos no mercado. Um bom exemplo é o leite de amêndoas sem açúcar, não só por ser alcalina (como as amêndoas são) mas também por ser delicioso e ter um sabor muito semelhante ao leite.

Outra alternativa ao leite é o leite de soja ou leite de arroz. Consuma leite de soja orgânico, de modo a assegurar que o leite não possui soja geneticamente modificada.

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AUTOR DO ARTIGO:PROZIS

Achei bem interssante o artigo, espero que gostem

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